O plano



O Natal foi agitado e barulhento, como sempre. Angelina e Fred chegaram primeiro e logo após eles, Molly e Arthur. Molly ajudou Gina na cozinha, ou melhor, atrapalhou-a, porque Harry não parava de escutar Gina falar para a mãe que já estava grandinha e que não precisava mais de ajuda total. Molly, por sua vez, trouxe o cd natalino com que Gina teve que obrigá-la a colocar de volta na bolsa sem ouvir nenhum ruído alto de mais uma estrofe de “O Caldeirão do Amor Esquenta Meu Coração”. Luna foi a última a chegar com os braços cheios de plantas e animais pequenos que nenhum deles nunca viram na vida, algo como Jubaias e Kendreites que o faziam gritar todas as vezes que esquecia de algo. Neville não apareceu, mas isso parecia ter sido um alívio para a loira que mirava seu marido nos olhos, tentando sorrir.


Hermione e Rony conversavam no canto; Gui e Fleur trocavam carinhos enquanto via Dominique correr atrás do irmão e Arthur ria da cena. Passando um momento, Harry suspirou diante daquela visão. Olhou para Gina que se esgueirava na cozinha tentando fazer o peru perfeito e depois, voltou o olhar para a sala. Talvez, apenas um talvez, aquele seria uma última reunião. Só Merlin sabia se teria alguém faltando ali, no próximo ano ou anos depois.


Harry olhou pela sala mais uma vez, desconfiado. Faltavam apenas três pessoas na bagunça sem fim: Tiago, Teddy e Victoire. Franziu o cenho e foi se sentar com Gina, que descansava na cadeira da cozinha ofegante.


— Por que não usa magia? — perguntou ele, afagando o ombro da ruiva.


— Apostei com Hermione que não usaria esse Natal... Ela riu de mim e depois foi embora, para mim, isso é quase como uma dúvida fatal, Harry. — ela respondeu, agora sorrindo.


 


— Tiago, isso é loucura! — disse Teddy, enquanto se mexia tão inconfortável embaixo da capa da invisibilidade. — Mal sabemos sobre o passado de seu pai, como vamos derrotar um bruxo que não sabemos o quão poderoso era¿!


— Era poderoso e perigoso o bastante para matar seu pai, Teddy, isso já devia ter percebido. — Tiago falava com frieza, ignorando tudo que não concordasse com ele. Victoire estava em dúvida sobre a situação, ele tinha certeza, mas não importava a ele agora.


— Mas não sabemos o que é... Não sabemos nada que seu pai sabia quando lhe foi necessário! — exasperou-se Victoire.


— Meu pai também sabia de pouca coisa, mas isso não o impediu, impediu? Não! E outra coisa, somos perfeitamente capazes de achar essa... Horcrux, ou seja lá o que for e acabar com ela antes que os fios de cabelo branco dele caiam. — Ele olhou para Teddy, que parecia perturbado e depois para Victoire, que parecia assustada.


Um minuto de silencio que Tiago desejou que fosse perfeitamente preenchido com nada menos que informações. Faltava pouco para voltarem a Hogwarts agora e lá, teriam a liberdade de pesquisa e vigilância que precisarão.


— Olhem, — ele disse baixinho, atraindo a atenção dos dois — até Hogwarts, posso infernizar meu pai ou até pedir para Alvo infernizar o meu pai até nos contar a história toda... Tudo o que sabe e tudo o que viu quando a cicatriz dele ardeu... — eles arregalaram os olhos, prontos para protestar, mas Tiago os interrompeu — Eu sei que não vai ser fácil arrancar isso dele. Por isso vamos pedir emprestadas as Orelhas Extensíveis de Jorge... Eles vão conversar sobre isso, ah, se vão. E acredito que ainda vão conversar com seus pais, Victoire. De qualquer maneira, vamos conseguir, não vamos? — ele olhou para os outros. Teddy parecia estático e Victoire captava o olhar determinado de Tiago. Por um momento, o viu concordar antes de hesitar, olhando para Teddy. Ele levantou a cabeça e deu um sinal que estava vivo com um sorriso maroto e a partir daquela hora, eles estavam em ação.


 


Já era mais de meia noite. O relógio que Gina ganhara de presente da mãe mudara as posições dos ponteiros com aparência de colheres de aço. Era Tiago quem se mexia. E junto com ele, Alvo Potter.

O mais velho desceu as escadas nas pontas dos pés, não passara no exame de aparatação. Já era acostumado. O patrono já parecia mais desengonçado com o passar do tempo.

Ele dirigiu-se a escrivaninha de madeira do pai, e, abriu-a sem o uso da varinha. Torceu os cantos da boca pra cima, formando um quase-sorriso.

— Tia Hermione. — Sussurou, lembrando-se da aposta que o pai fizera á tia alguns dias atrás. — Excepcional como sempre.

Tirou de lá um papel amassado, e lacrado em um envelope branco. E, colocou-o espremendo o mesmo no bolso do roupão. Esgueirou-se até a cozinha e...

— Tiago? — Era Alvo. Os olhinhos castanhos penetrantes do pequeno o encaravam com precisão afiada. Tiago retribuiu o olhar na mesma ferocidade.

— Sim? — Respondera, apreensivo do olhar confiante e muito preto que puxara da mãe.

— O que está fazendo aqui? — Decretou Alvo. Era um jogo de perguntas e mais perguntas, um interrogatório que duraria a noite toda, pelo menos até que Tiago o contasse a verdade.

— O rádio. — Afirmou, sem preocupações. — Vim desligá-lo, sabe? São rádios trouxas e... Se danificam facilmente.

Alvo ainda o fuzilava com o olhar feroz. Com uma das mãos no suporte da varinha da mãe; Tiago também sacara a varinha, que guardara á alguns minutos na gaveta do balcão da cozinha.

— Lorcan. — A resposta do pequeno fora estranha, tanto que Tiago largou a varinha. — Ele está com pesadelos, pediu que eu não o contasse. Poderia ler algo pra gente... Quer dizer, ele?

— Sonhou com a floresta de novo, não é?

— Qual o problema?

— Nenhum.

— Caldeirão Saltitante?

— Pode ser.


 


— Então, no final aparece o misterioso sapato que se encaixa perfeitamente no seu pé. Assim que o mago o põe, os dois caminham (e pulam) até um novo amanhecer. — Ele já podia ouvir os roncos grossos do irmão na última frase.

Esgueirou-se novamente até a porta do quarto. Que rangeu. Teddy deu um pulo, segurando na mão que Victóire no meio do sono delicadamente esticara até a cômoda, ao lado da cama.

— Merlim! — Resmungou Teddy, levando os punhos ao peito. — Por que demorou? Victórie chegou a dormir. E Victóire não dorme.

— Precisamos fazer isso rápido. — Respondeu Tiago, acendendo a varinha e sentando-se na cama.

— Como é? 

— As crianças. Se elas descobrirem, nós estamos ferrados. — Disse, novamente, enquanto tirava o roupão e bebia a caneca de leite morno que Victóire havia buscado para Louis.

— Isso é... É perigoso! — Despertou Victóire, tirando o edredom das pernas. — E isso é meu.

— Mas... O que é a horcrux? — Disse Teddy, ignorando a presença de Victóire.

— Eu não sei. Ao menos sei o que é uma horcrux. Mas, nosso plano já tenho. — O casal aproximou-se da cama de Tiago. — Visitas á Hogsmeade. Ou feriados prolongados. Vamos até lá, e fugimos pelo Noitibus, o que acham?

— Pefeito!

— Eu não o diria, Teddy! Vão dar por nossa falta! — Retrucou a loira, cruzando os braços. — É melhor que eu faça o esquema.

— Acho melhor... — Tentou continuar Tiago, sem forças pelo hipnismo veela que a loira ali praticava.

— T-tudo bem. — Assentiu Teddy.


 


— Quando formos à Hogwarts a biblioteca pode nos ajudar. Mas... Vamos precisar do Mapa dos Marotos. — disse Tiago, dando um sorriso brincalhão.


— E como espera que seja isso¿ Vai pedir a seu pai o mapa¿ Imagina só, “Hey, pai, preciso do seu Mapa dos Marotos para poder ir a Seção Reservada da biblioteca e ver as passagens secretas para Hogsmeade? Ah, desculpa! Quer uma explicação¿ Estamos tentando fugir da escola para achar horcruxes e derrotar o Tio Voldy! — disse Teddy, com a voz em falsete.


Victoire riu, mas Tiago permaneceu calado — Primeiro: — ele disse erguendo o dedo — eu não falo assim, e segundo: Tio Voldy foi demais, nunca mais fale isso.  


— Bom, pretendo, mas... Como vamos conseguir o mapa então?! — ele exclamou, já nervoso.


— Vamos pegá-lo, é claro. Não pode estar muito escondido, por causa dos últimos acontecimentos Harry com certeza pegou o Mapa. Ele está ocupado planejando a mesma coisa que nós, Gina está ocupada cuidando para que nós não descobrirmos nada e Rony está ocupado tentando acalmar Hermione... Estamos completamente livres, é só despistar a Gina.


Tiago gemeu, já descobrindo o jeito de fazê-lo.


— O que foi? — eles perguntaram juntos.


— Vamos ter que negociar com o monstrinho. — ele disse e os dois arregalaram os olhos — Me escutem! Vai ser muito suspeito que os três desapareçam. Vamos ter que repetir o que aconteceu na noite de Natal, Teddy e Victoire, vocês podem ficar com o Alvo e irritar a Lilian. Lilian tem que chorar, se ela não chorar, eu não ganho tempo. Alvo tem que ficar a par de algumas coisas, nada muito importante.


— E então? — Victoire perguntou.


— E então nós conseguimos.


 


— Dormiram bem? — Era a voz grossa do pai de Tiago, que ecoava pela sala.
— Melhor do que nunca. — Respondeu Victóire, bufando.
— Qual foi o problema?

Eles se entreolharam nervosos e Tiago lançou á Victóire um olhar eu-lhe-disse-pra-fechar-a-boca. Teddy cortou a tensão puxando o pote de geléia pra perto.

— Foi o Alvo.
— Pois é, ele roncou a noite toda. — Complementou Victóire, bocejando convincentemente e mordiscando uma tortinha de abóbora.
— Vocês tem certeza? Eu abafei o som do quarto de Alvo ontem a noite... — Harry cruzou os braços. — Inclusive — Ele aproximou-se de Tiago, com a roupa social. —, achei meu Mapa da escola caído no chão. Tem algo á dizer, Tiago?
— N-não.

A mulher ruiva com o semblante irritado, usando o roupão verde oliva, aproximou-se da discussão. Ela franziu o cenho.

— O que está acontecendo?
— Meu Mapa do Marot--
— Harry! — Disse Gina, arregalando os olhos. — Eu lhe disse pra não contar-lhes sobre isso! Eu lhe disse e... T-tudo bem, me desculpem crianças. Vamos tomar o café, e depois falamos sobre isso.

Os cinco assentiram e puseram-se a comer. Três minutos depois as crianças apareceram sorridentes e saltitantes até a mesa de mármore da cozinha. Harry as deu bom dia, servindo quatro copos de leite. Ele levantou-se e beijou a testa da esposa.

— Estou indo trabalhar. Volto as seis para falarmos sobre... Aquilo.


 


 


— Ah, vocês estão tão ferrados! — exclamou Alvo ao aparecer na sola da porta do quarto de Tiago. Quase pegos de surpresa, os três afastaram suas cabeças e pararam de sussurrar. As orelhas de Tiago ficaram vermelhas enquanto Lupin dava um sorriso cínico.


— Por que estamos ferrados, pirralho? — perguntou Lupin sem tirar o sorriso do rosto. Victoire enrijeceu um pouco, o bastante para Alvo achar estranho.


— Vocês estão tramando alguma coisa, sem dúvidas... Primeiro aquela distração fajuta para arrancar o Mapa do Maroto do papai... Sim, Tiago, eu sei o que é — ele interrompeu quando viu o que o irmão —, mas isso não interessa agora. — ele sorriu maquiavelicamente.


— Não vamos te contar nada, nem te colocar no esquema — Tiago disse estreitando os olhos.


AHA! — ele exclamou, apontando o dedo indicador para cima — Então tem uma coisa para me contar, não é?!


Victoire riu em deboche — Aff, Tiago fracassado! — ela disse, ajeitando os cabelos loiros. Tiago olhou de relance a prima e revirou os olhos, admitindo a derrota.


— Tá bom, pestinha — disse Lupin, ficando de joelhos, o nariz bem perto do de Alvo — O que você quer?


— Disponibilidade ao Mapa do Maroto.


— E se não conseguirmos?


— Calma, eu quero mais que isso... — ele disse, dando um risinho. Teddy se sentou lentamente no chão ao lado dos primos mais velhos e fixou seus olhos em Alvo.


— O que mais?


— A Capa da Invisibilidade... Quero usá-la também.


SEM CHANCE! — exclamou Tiago, se levantando.


— Sem Capa, sem acordo... Você sabe que vou contar para mamãe ou se não, não estaríamos aqui, né, meus amigos?


— Todas as Gemialidades Weasley que ganharmos? — encarou Victoire.


— Todas elas.


— Feito. — Victoire apertou a mão de Alvo e depois o menino olhou para seu irmão e Teddy, admirado.


— Viram, rapazes? Ela sabe o que são negócios! — e saiu com a cabeça erguida para fora do quarto. 

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