O Começo - by Ling

O Começo - by Ling



A jovem japonesa desembrulhava algumas caixas. Ela já havia feito isso tantas e tantas vezes que já tinha perdido a conta de quantas vezes havia se mudado. Ela tinha uma vida e muita experiencia para contar apesar de ter apenas 10 anos. Ela teve que amadurecer cedo, teve que aprender a se virar cedo e principalmente aprender a cuidar de seu pai. Ela levantou da cama que ainda estava sem colchão e deixou as caixas um pouco de lado. A menina foi até a janela. Era o primeiro dia de setembro, um domingo, e mais uma vez ela teria que recomeçar. Ela se apoiou no batente da janela olhando a vista... mas uma rua normal de Nova York. Mas como os historiadores dizem, entenda o passado para poder olhar o futuro...

Um casal havia se conhecido 15 anos atrás. E havia sido paixão a primeira vista o que fez o casamento não demorar. Quatro anos depois de muitas tentativas a jovem engravidou, mas o que era pra ser apenas felicidades se transformou num pequeno pesadelo. Depois de uma gravidez muito complicada a jovem morreu na sala de parto pois pediu aos médicos para salvarem sua filha. E Ling Su Yamasay II nasceu com o nome em homenagem a mãe que ela nunca iria conhecer. O começo foi difícil, seu pai a principio a renunciou e ela foi cuidada pela avó, mas quando ele viu que ela era a única coisa capaz de fazê-lo lembrar, ele se agarrou a filha com todas as forças, arrastando-a pelo mundo por causa do seu trabalho.

Lin havia morado em grande parte do mundo. Índia, Brasil, Rússia... todas casas passageiras e mutáveis. Nenhum lugar em que ela pudesse criar raízes. Ela estava cansada de fugir, ela se sentia culpada pela morte da mãe, ela queria desesperadamente mudar essa situação, mas ela ainda tinha que cuidar de seu pai. “O velho Yukito não era mais o mesmo”, dizia sua avó. As vezes Ling comparava o pai aqueles cientistas malucos de filmes. Roupas desalinhadas, cabelos rebeldes e começando a ficar grisalhos, um óculos quadrado que vivia escorregando pelo seu nariz, só não era pior pois Ling fazia questão de cuidar do pai, O senhor de mente brilhante era totalmente dependente de sua pequena filha de apenas 10 anos.

Mas a japonesa precisava de um pouco de espaço. Ela finalmente convenceu o pai a colocá-la numa escola ao invés daqueles professores particulares ultra aborrecidos que ela estava acostumada. Sacudindo levemente a cabeça a menina voltou a abrir caixas e arrumar seu novo quarto com o pensamento de quanto tempo isso duraria desta vez. E em algumas horas seu quarto estava novamente montado. Ela se deitou na cama quando o sol estava começando a se por. Amanhã seria o primeiro dia em que ela pisaria em uma escola de verdade! Mas a jovem estava cansada... tanta coisa para fazer... seu pai ainda iria demorar... ela tinha que terminar a janta... Os olhos da menina foram fechando... e dando espaço ao sonho de ficar ali para sempre.

Ling pulou da cama olhando imediatamente o despertador na mesa ao lado. Sete e dez! Será que seu pai havia comido algo desde ontem? Ela não podia ter se dado ao luxo de dormir. Colocou o uniforme escolar sentindo uma estranha excitação apesar da culpa por ter dormido. Descendo as escadas aos pulos a menina dribla as caixas que ainda não foram desempacotadas a caminho da cozinha, onde encontra seu pai com a roupa “de festa”, que consiste em uma camisa havaiana e uma calça de rapper, fazendo o café da manhã enrolado em um avental rosa choque com os dizeres: “Eu sou fera na cozinha!”. Com um sorriso no rosto a menina sentou a mesa.

- Adorei a roupa pai. - disse rindo – e a proposito, desculpa por não ter feito o jantar pra você ontem – terminou corando

- Imagina amor – disse ele enquanto colocava algumas panquecas, a única coisa que ele realmente sabia fazer na cozinha, na frente da menina e se sentando – Não se esqueça que eu ainda sei usar muito bem o telefone! E alem de tudo você precisava descansar, minha princesa. Hoje é seu grande dia! Você vai a escola! - disse ele tentando esconder a insatisfação –
Mas meu amor... você não acha que estudar for a de casa é muito perigoso?

-
Pai... - a menina sabia o que o pai temia. Temia perdê-la assim como tinha perdido sua mãe, colocando a mão em cima das mãos calejadas do pai ela disse –
eu vou ficar bem... prometo. Mas quero que o senhor prometa que também vai se cuidar e não vai se encher de besteiras.

- Tá, tá... - disse ele virando os olhos e levantando para pegar mais calda –
Mas você sabe muito bem como eu me sinto sobre essas suas ideias “moderninhas”

A menina terminou de comer rindo. Como alguém nascido no século 21 pode agir como se escola fosse “moderninho? A menina deu um abraço no pai e ganhou um beijo na testa. E, apos dizer que amava o pai, ela saiu de casa para seu primeiro dia na escola. Seus cabelos negros voavam em cima dos seus olhos com a brisa da manhã. Ela chegou ao ponto de ônibus e se sentou. Após alguns minutos o veículo parou perto do meio fio e dezenas de estudantes entraram. Ela preferiu ficar por ultimo. Ela odiava aquele bate-bate na entrada do ônibus. Mas assim que ela estava com um dos pés ja dentro do veículos uma figura chamou sua atenção. Um garoto corria pela rua e, a julgar pelas roupas da escola, ele estava atrasado para o mesmo ônibus! O instinto de “garota modelo” falou mais alto e apesar da cara feia do motorista ela continuou apenas com um dos pés dentro do ônibus, impedindo que ele fechasse a porta e saísse.

O garoto corria. Ao longe a menina olhava. Cabelos loiros, óculos redondos, um garoto um tanto magro e da idade dela. E quanto mais perto ele chegava, era como se o tempo passasse mais devagar... em câmera lenta. O menino passou por ela e ela via cada detalhe... como se o tempo estivesse congelado. Como se os olhos espetacularmente azuis do menino a tivessem hipnotizando. Seu coração pulava. Ao subir no ônibus ele disse um “obrigada” e a voz dele serviu apenas para aumentar o estado de choque. O garoto se dirigiu rapidamente para os bancos e Ling continuava em transe.

- Oh guria... tu vai ficar parada ai me impedindo de sair? Vai entrar ou não? - gritou o motorista.

- Não, obrigada. - disse ela

Ela não conseguia pensar direito. Em ação automática ela tirou o pé do ônibus. Sua garganta tinha um nó. O motorista fechou a porta e partiu enquanto xingava. A menina viu o ônibus se distanciar ao longe...

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