Capítulo I



CAPÍTULO I


Fazia uma manhã agradável em Hogwarts, mas não era assim que Hermione se sentia enquanto observava seu próprio rosto no espelho. Havia olheiras em sua face, antes tão delicada. Os olhos estavam vermelhos e ela se sentia gorda e descuidada. Mas nada daquilo importava mais... Não sem ele.


Ela deu uma última olhada na carta que recebera há pouco de sua amiga Gina Weasley. “Ex-amiga” – pensou, corrigindo seu subconsciente. Então, irritada, ela amassou o pergaminho, atirando-o na lixeira. Estava na hora de deixar tudo aquilo para trás... A própria Hermione Granger, que um dia ela fora, não existia mais... Muitas coisas haviam mudado. Para pior, é claro, mas haviam mudado.


Ela deixou a sala comunal da Grifinória, onde apenas ela ficava agora, e partiu em direção ao Salão Principal. Ao chegar lá, havia uma única mesa curta e solitária no meio da imensa sala. Sobre ela, o almoço havia sido servido exclusivamente para ela.


Hermione aproximou-se da mesinha e serviu-se do banquete. Cada ruído que emitia expandia-se em eco pelo salão em restauração. Tudo estava mudado por ali. A guerra destruíra Hogwarts, no entanto, a nova diretora da escola, a professora McGonagall, tomara as medidas necessárias para que o ano letivo não fosse afetado e para que a legendária escola onde trabalhava há tanto tempo não fosse comprometida. E por falar em McGonagall...


- Srta. Granger...


Hermione virou-se assustada para a porta do Salão Principal e viu a antiga professora de Transfiguração se aproximando.


- Ah... Bom dia, professora McGonagall!


- Bom dia, Srta. Granger... Quase boa tarde, eu diria.


Hermione sentiu-se corar sem emoção.


- Percebi que você tem acordado tarde ultimamente, Hermione...


- Lamento, professora, mas não me sinto motivada a acordar cedo... Não com tantas coisas terríveis a pensar...


- Compreendo. No entanto não foi para isso que vim até aqui.


- Então? – indagou Hermione, indiferente.


- Bem... Sei que você não havia gostado da idéia, mas... Bem... Eu enviei uma carta ao St. Mungus...


- NÃO! – trovejou Hermione.


- Minha querida... Eu consegui arranjar ótimas instalações para você no St. Mungus. Será muito mais seguro para você e para a criança...


- Professora McGonagall... Eu quero ficar aqui!


Minerva soltou um suspiro infeliz. Olhou para aquela frágil e delicada garota... Um orgulho para qualquer professora, para qualquer escola. Uma beleza desperdiçada. Mas de repente, outra coisa chamou sua atenção, ali na mesa, ao lado de uma das mãos pálidas da menina.


- Ainda não o esqueceu, não é mesmo? – disse Minerva, encarando o pergaminho amassado que, agora, Hermione fazia questão de ocultar, envergonhada.


- Não precisa ter vergonha, minha querida. Você não pode ocultar seus sentimentos.


Lágrimas começaram a escorregar pelo rosto de Hermione e, como que não agüentando mais, ela começou a soluçar, agarrando-se aos próprios cabelos encaracolados. Sensibilizada, McGonagall sentou-se ao lado da ex-aluna, abraçando-a com força.


- Droga... O... O que é que ele quis dizer com isso? – indagou Hermione, enquanto abria o pergaminho amassado e o mostrava a Minerva.


Tudo será exatamente igual... Mas eu não estarei aqui!


McGonagall fitou com cuidado aquela carta. Não era a primeira vez que a via, é claro... No entanto, apesar de estar se tratando, tão claramente, da morte, a mensagem ainda deixava um certo mistério no ar... E Minerva suspeitava seriamente de que havia mais a ser compreendido naquela carta.


Tudo será exatamente igual? Ah... Como ele pôde dizer uma coisa dessas... – exclamou Hermione, furiosa. – Não é ele quem está carregando uma criança órfã no ventre, idiota!


- Minha querida... Por favor, fique calma.


- Ficar calma? Professora... A senhora não entende, não é mesmo? Ele destruiu a minha vida! Eu o amava... Eu ainda o amo! Ele não podia me abandonar assim... Por quê??


- Hermione... por favor, controle-se. – disse a professora McGonagall a uma aluna desesperada. – Eu sei que você ainda o ama. E tenho certeza de que ele também a amava muito. Mas sua vida continua!


- Como assim, minha vida continua? Como assim? Que vida eu terei com isso aqui? – indagou a garota, apontando para a própria barriga.


- Eu sei que você está sofrendo por tudo o que aconteceu, mas você ainda é jovem e não pode desistir tão fácil. Eu estou aqui para apoiá-la, querida!


Hermione olhou irritada para a professora.


- Eu não preciso de apoio!


E saiu, rispidamente, salão afora.

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