Incomodo



 


                                   Capítulo 6
                        Incomodo







A pequena Weasley não sabia o que esperar daquela semana. Mas, afinal, ela não havia sequer entendido o que tinha acontecido dias atrás na Sala Precisa, com o Malfoy. Depois daquele dia, ele não a procurou mais. Durante o fim de semana, sumiu. Ninguém viu, ou ouviu falar dele. Simplesmente evaporou. Ela achava que era por isso que estava tão ansiosa. Queria saber o que ele iria lhe dizer. Mas acabou se decepcionando. Ele apareceu, sim, mas mal a olhou. E quando a olhou, não disse nem uma palavra. Nem ao menos um sorriso. Rose teve um forte impulso a ir atrás dele, perguntar se estava tudo bem. Mas não teve coragem.

- Sinceramente, não sei como você foi parar na grifinoria. Nem coragem de ir falar com um garoto tem... - murmurou a ruiva, dividida entre raiva de si mesma e vergonha.


Mas ela resolveu esperar. Tinha certeza de que, mais cedo ou mais tarde, ele acabaria indo falar com ela. Mas isso não aconteceu. E a semana, tão rápida como chegou, acabou. A garota, então, resolveu que era hora de pedir ajuda. Encontrou as amigas sentadas nas poltronas perto da lareira, conversando, e juntou-se a elas.
- Hey - começou, duvidosa - posso falar com vocês? 
- Que pergunta, Rose. Claro que pode. Aconteceu alguma coisa?- perguntou Audrey,  curiosa.
- Hum, aconteceu. Mas não foi nada grave! - Esclareceu quando viu a cara das amigas- Foi só que,  alguns dia atras, o Scorpius veio atras de mim. Me pedir ajuda.  
- Rose, você 'tá falando sério? Porque, bem Scropius Malfoy não é alguém que costuma pedir ajuda. Muito menos a uma Weasley. - Anne falou, olhando para Rose com cara de quem olhava para uma doida. A ruiva revirou os olhos. Anne não acreditou.
- Claro que eu tenho certeza,Anne! Eu não sou doida. Mas, enfim, ele veio me pedir ajuda. Disse que não queria mais ser visto como um filhinho de papai idiota e blá-blá-blá. Disse que queria minha ajuda para ignorar as pessoas que ficam enchendo ele por causa da Birch. E eu ri. Disse que aquilo era ridículo, que ele não precisava da minha ajuda. Então eu comecei a ir embora, mas ele me segurou. E... e me beijou.
- Ele fez o que ?! - gritaram as duas garotas ao mesmo tempo. Por sorte, o Salão estava barulhento, e quase ninguém ouviu.
- Será que da pra fazer menos barulho, por favor ? - Rosnou uma exasperada Rose- Eu ainda não quero que o mundo todo saiba, ouviram ? 
Envergonhadas, as duas assentiram. Mas logo estava enchendo a garota de perguntas, que ela não conseguia entender. 
- Uma de cada vez, por favor.
- Como foi isso Rose? Ele simplesmente veio, te puxou e te beijou? Isso não faz sentido... E depois, você fez o que?
- O que eu podia fazer? Só fui embora. Eu tinha a esperança de que ele iria me procurar depois, mas ele mal me olhou... 
-Ele falou alguma coisa? Antes de te beijar? -Pediu Audrey, com ar de investigadora.
- Disse. Ele falou: " Eu sabia que era perda de tempo. Mas tive que tentar". Ele ia falar alguma coisa depois, mas eu meio que fugi. Não tive coragem de encará-lo.
- Rosinha, minha amiguinha, você é muito burra. Não teve ao menos a curiosidade de saber o que ele queria? - indagou Anne.
- Bem, tive... Mas não tive a coragem. Mas deixa isso pra lá. O que eu quero saber  é porque ele mal me olha na cara.
- Rosie, você fugiu.
- Mas isso não é motivo para me ignorar. É?
-Talvez seja... Ou não. Mas se você quer tanto assim falar com ele, vai atras.
- Mulher ir atras de homem é muito... Estranho. E eu não acho que conseguiria, Audrey.
-Então não há nada pra se fazer. Se ele resolver vir falar com bem, se não...
-Rose, não se preocupe. - começou Anne- Vocês vão se resolver. Mais cedo do que você pensa.
Rose não entendeu o que Anne quis dizer. Mas não quis nem tentar. Era melhor ir dormir e esquecer o Malfoy. 







Rose estava na biblioteca terminando um trabalho enorme de herbologia quando ouviu um barulho vindo da prateleira mais próxima. Olhou, esperando ver alguém colocando livros no lugar, mas o que viu foi um garoto loiro de olhos cinzentos sentado no chão, escrevendo em um pergaminho longo, e percebeu que ele também escrevia a redação pedida pelo Prof. Neville. Mas porquê ele estava no chão ela não sabia dizer. Resolveu, então, perguntar.
-Psiu.
-Hã? Ah, é você.
-Porque você está no chão?
-Todas as mesas estão ocupadas- respondeu o loiro, como quem não quer falar.
- Tenho certeza que pelo menos uma mesa tinha uma cadeira vazia... Aqui mesmo, tem várias.
- As pessoas que estão aqui não gostam de mim. Para que incomodá-las com a minha presença? - respondeu o loiro, com desdém.
Rose olhou para o garoto com pena, e antes que pudesse se conter, falou:
- Você não me incomoda.
Ele se surpreendeu. E ela também. Ele a olhou com cara de duvida,  como se quisesse ter certeza do que ouviu.
-Não? - perguntou o garoto.
-Não. Pode se sentar aqui.-  Ele ainda hesitava quando levantou-se e foi em direção a cadeira ao lado da ruiva.
- Trabalho de herbologia, não é?- perguntou Rose, apontando para o pergaminho de Malfoy. Ele respondeu com um aceno, que ela entendeu como um "não incomode". Deixou-o quieto, mas não agüentou por muito tempo, ao vê-lo tendo problemas com o trabalho.
- Quer ajuda? - perguntou, numa voz de quem tem medo de estar incomodando.
Ele ficou em silencio por alguns segundos, apenas olhando-a. E então finalmente respondeu, sarcástico. 
- Agora você quer me ajudar, Rose ? Acho que não preciso mais da sua ajuda.
Ela não soube o que responder. Na verdade, aquilo não tinha resposta. Ela se calou, terminou de escrever sua redação em alguns minutos e estava guardando suas coisas para ir embora, quando teve uma idéia. Apesar de ter ficado magoada com o que Scorpius disse, não podia negar que ele estava tendo uma dor de cabeça terrível com aquele trabalho. Tirou de sua bolsa um pergaminho com anotações sobre a matéria e escreveu "desculpe-me" no final. Levantou-se e deixou o pergaminho sobre a mesa, saindo do campo de visão do garoto sem olhar para trás. Escondeu-se em uma das prateleiras e viu o loiro pegar o pergaminho, e ler o pedido de desculpa. Foi algo estranho de se ver. Logo que leu o pedido, teve a intenção de rasgar o pergaminho, mas não conseguiu. Leu e releu o pergaminho, e depois procurou a garota pela biblioteca, mas quando não a encontrou, voltou a fazer seu trabalho.
Rose deixou a biblioteca, sem saber ao certo o que o garoto fez com o pergaminho e seu pedido escrito de desculpas, mas não quis saber. Foi em direção ao seu salão comunal sem falar com ninguém no caminho, nem mesmo quando chegou lá. Apenas foi em direção aos seu dormitório e se preparou para dormir. Quando já estava deitada, pensou no que Scorpius havia lhe falado.
-Ele estava com raiva, afinal. Acho que ele precisava mesmo de ajuda, Rose... - ela estava falando sozinha, outra vez. - E agora, ele te odeia. Que garota inteligente, hein Weasley ?
Era isso mesmo que ela pensava. Que ela a odiava. E que a culpa era dela. Mas ela também tinha a certeza de que não queria ficar sem o Malfoy. Mas isso não se resolveria se ela ficasse esperando algum movimento dele. Já tinha feito isso tempo demais. 
- Está decidido Weasley. Amanhã mesmo você vai falar com ele. Eu prometo.






Bem que a ruiva tentou manter sua promessa, mas não estava sendo fácil. Por mais que procurasse, não conseguia achar o garoto em nenhum lugar do castelo. Ele sumiu. Parecia que o loiro estava se adaptando bem a rotina de sumir por horas e sem explicação. Ela acabou por vê-lo apenas na hora do almoço e, mesmo assim, rapidamente enquanto ele saia as pressas esbarrando na garota. Não conseguiu falar com ele pelo resto do dia. Nem pelo resto da semana. Procurou por ele loucamente e no domingo finalmente a encontrou. Na verdade, nem estava o procurando. Só vagava pelos jardins, sem ter o que fazer e o encontrou fazendo o mesmo. Foi em sua direção e lhe sorriu quando ele a olhou. Ele respondeu com um aceno. Sentou no banco em que ele também havia sentado, e tentou puxar conversa.
-Oi.
-Hum, oi.
-Tudo bem? 
-Tudo.
Ele não perguntou se ela estava bem. Ela ignorou.
-Te procurei que nem louca essa semana. Você sumiu...
- Não sumi. Eu só não faço mais questão de estar na presença de quem não me quer por perto.
- Acho que você levou pro lado pessoal o fato de ter virado piada da escola...
- É, acho que sim... Mas não foi isso que me fez "sumir". Foi porque, depois do fora da Birch,  parece que as pessoas tiveram coragem de dizer o que acham de mim. E, bem, foi o que fizeram. Começaram a dizer que eu era idiota,filhinho de papai, nojento, burro e coisa muito pior. Então eu cheguei a conclusão de que ninguém precisa me aturar se não quiser.
- Você não precisa ficar assim, sabe, sumido. Tem gente que não te odeia.
- Tipo...? 
-Eu. Eu não te odeio. 
- Jura? - ele parecia mesmo surpreso- pensei que você seria a que mais me odiaria. Pelo beijo...
- Nah, se eu te odiasse não seria por isso.
Só depois a ruiva percebeu o que falou, mas não pode fazer nada além de rir. Afinal, ela queria mesmo falar com ele sobre isso. Ele também riu. Não sabiam o que dizer um ao outro. Mas ela precisava descobrir. 
- Hum, você ainda está com o tal do Arnie ? - perguntou o garoto, levemente curioso.
Rose parou. Não pensava no Arnie desde o beijo. O evitara, clamando que precisava muito estudar. E ele, sempre compreensivo, não desconfiou. Mas agora que Scorpius tocou no assunto, percebeu que precisava conversar-terminar- com ele.
-Sim. E não. Não falo com ele de verdade desde do dia em que você... Me beijou.
- Ele não sabe?
-Não tive coragem de contar.
Silêncio. Scorpius a olhou, perguntou se ela pretendia terminar com o Arnie. Ela acenou em resposta. E então, ele a beijou de novo. Dessa vez, o beijo foi melhor. E eles não pararam na primeira necessidade de respirar. Na verdade, só pararam quando ouviram passos. Rose olhou em direção ao som, e viu Arnie parado, estupefato, olhando para os dois. Rose não sabia o que fazer. Quem lhe disse o que fazer foi Scorpius, que a empurrou levemente em direção ao outro garoto, dizendo que ela precisava se resolver.
Ela andou em direção a o garoto, sem saber o que dizer. Não foi preciso dizer nada. Ele a olhou, e com dor no olhar falou:
- Não pensei que pudesse esperar isso de você. Muito menos com ele.
O garoto virou-se e foi embora. A ruiva ficou. Ela sentiu uma mão em seu ombro, e virou-se para abraçar Scorpius. Não chorou. Só ficou abraçada com o Malfoy. Não tinha o que fazer agora. 
Não sabia o que fazer.

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