Who are you?



As férias de natal acabaram para tristeza geral e num piscar de olhos os garotos estavam sob o teto enfeitiçado do Salão Principal.

Na Sala Particular Rose e Alvo mostraram os jogos que ganharam.

–        Como conseguiram trazer tantas coisas? Seus pais não perceberam? – perguntou Escórpio impressionado.

–        Tio Jorge. – disseram Rose e Alvo juntos.

–        Trouxe uma coisa muito interessante que achei na casa da amiga da minha mãe.

–        A mãe da sua namorada? – perguntou Rose.

–        É, a mãe de Agnetha... – respondeu Escórpio sem graça. – Vejam! É o grupo de fantasmas antes de serem fantasmas, é claro.

Escórpio mostrou uma revista com fotos de “Mama” Cass, e o grupo vocal de fantasmas. Segundo a matéria eles eram mesmo muito populares. Escórpio passou sua varinha para a mão de Rose e a fez tocar na figura.

–        Dá pra escutar uma música se você a encostar nas fotos.

–        É bem bonita. – disse Rose.

–        Música para garotas! – disseram Alvo e Escórpio rindo.

–        Será que os fantasmas gostariam de ver? – perguntou Escórpio. – Durante a sessão que vimos nem todos parecem à vontade com sua situação, não é?

–        Não deve ser muito fácil estar morto – concluiu Rose – mas vamos perguntar a Goliad se ele acha apropriado.

–        Se um dia eles voltarem. – disse Alvo em dúvida.

–        Ah, eles voltarão! – disse Rose.

–        Como você pode ter certeza?

–        Não sei, intuição eu acho.

Escórpio mostrou a foto da vassoura que gostaria de trazer para o teste de batedor do time da Sonserina.

–        Segundo o anuncio ela muda de direção só com um toque no cabo; vai ser muito bom para eu poder controlá-la e segurar o bastão.

–        Pra falar a verdade prefiro a que usamos todo esse tempo, parece que tem vontade própria, mas eu gosto dela. É um graveto comparada a dos outros apanhadores eu sei.

–        A diferença é você! Sua técnica e intuição primo! – disse Rose rindo.

–        Não se esqueça a coragem. – Escórpio acrescentou.

–        E uma insuperável capacidade de lidar com a dor!

–        Entendi, vocês estão me gozando!

O jogo contra Sonserina foi o mais cheio de provocações. Alvo não estava disposto a perder tempo ouvindo Neff, sua turma idiota e até de colegas da Grifinória; então preferiu ignorar a todos. Seu desempenho era discutido entre os colegas mais velhos assim como sua vassoura. Tiago pediu emprestada a vassoura de um dos amigos, mas Alvo se recusou a montá-la.

Os dois começaram a discutir.

–        Você faz isso de propósito? Pare me fazer de bobo na frente dos meus amigos?

–        É também, mas principalmente porque eu escolho com o que vou jogar!

–        Preste atenção! O apanhador da Sonserina é muito bom; você terá que pegar o pomo...

–        Antes dele talvez?

–        Você está em total desvantagem, então tente atrapalhá-lo; isso você consegue fazer. Não precisa se preocupar com o placar; localize e pegue o pomo... antes do apanhador da Sonserina.

–        Tem mais alguma coisa que queria me dizer?

–        Só uma pergunta: o seu amigo sonserino pra quem vai torcer?

–        Pra Casa dele óbvio, mas ele quer que eu me saia bem.

–        Certo. – respondeu Tiago com desdém.

–        Só isso?

–        Só, pode ir.

O time da Grifinória se reuniu no centro do campo.

–        Ele não vai treinar com a gente? – perguntou o capitão.

–        Não ele só tem uma coisa a fazer no jogo todo. Que segredo pode ter pegar uma bolinha dourada que corre a trezentos quilômetros por hora?

–        Não ligue para ele. – disse Camile sentada na arquibancada. Alvo quase nem a viu tão rápido estava andando.

–        Ele não é menos idiota aqui do que é em casa. Teve um bom natal?

–        Sim, e você?

–        Eu moro com ele... – Alvo apontou Tiago – tire suas conclusões.

–        Você tenta ser maldoso, mas não consegue Alvo.

–        Quer dar uma volta? – Alvo disse de repente.

–        Claro, está muito frio aqui mesmo. Onde estão Rose e Escórpio?

–        Por aí conversando.

Foram caminhando até o castelo. Alvo não sabia o que dizer; sua cabeça estava vazia a boca seca então se lembrou de perguntar sobre a visita de Camile a sua casa anos atrás.

–        Eu me lembro de você chorando no colo da sua mãe. Era tão bonitinho, quero dizer você ainda é.

–        Obrigado. – respondeu Alvo meio sem jeito. Parecia que Camile o achava uma criança. Teve de se conter para não contar sobre a Floresta Proibida e a criatura que enfrentaram; talvez isso a impressionasse.

No Salão Principal encontraram Rose e Escórpio rindo muito; a garota estava contando sobre o que o irmão e o avô aprontaram no dia de natal.

–        Pelo menos isso fez minha mãe esquecer o broche! Ah, descobrimos uma coisa interessante: o tio do Neffasto, dono da loja de ingredientes para poções, mora na nossa rua. O filho dele é asqueroso e, pra variar, intimida outras crianças.

–        Eu soube que Madame Rosmerta já expulsou Don Lancey do Três Vassouras algumas vezes. – disse Camile. – Andei perguntando se alguém já o viu acompanhado de Slughorn, mas se alguém viu fez que não.

Rose e os garotos trocaram olhares; Camile era uma das poucas pessoas que confiavam em Hogwarts, mas chegaram a um acordo subentendido de ainda não mencionar suas suspeitas.

Ficaram conversando um bom tempo e Camile contou sobre a aula de Astronomia que teriam juntos; de repente Alvo começou a achar astronomia muito interessante. Tudo ia muito bem até Tiago a interromper e ela seguir com ele para a torre da Grifinória.

Alvo foi se deitar pensando no jogo de Quadribol dali alguns dias; pela primeira vez queria muito vencer. Achava que isso o deixaria mais interessante; as garotas o seguiam por toda parte quando passou no teste para apanhador. Seria muito bom se graças a ele Grifinória derrotasse a Sonserina. Melhor ainda se alguém derrubasse Tiago da vassoura ele só aparecesse no final com o rabo entre as pernas pra lhe pedir desculpas por ser um babaca e chamar Camile no meio de uma conversa tão interessante.

Durante a aula de poções do dia seguinte o prof. Slughorn se sentou várias vezes para tomar fôlego; os garotos cogitaram levá-lo pra a enfermaria, mas ele se recusou.

–        É apenas a idade meus caros. – respondeu o professor educadamente.

–        Acho que não é idade. – disse Rose para os amigos e o grupo na bancada.

–        Como sabe Weasley? – perguntou Cinthia acrescentando pó de losna ao caldeirão borbulhante que cozinhava a poção para curar acne.

–        Intuição. – Rose respondeu ainda com os olhos no professor que enxugava a testa com um lenço.

–        Então não quer dizer nada. – disse Cinthia dando de ombros.

Rose não respondeu; não queria criar caso com Cinthia já que as duas ainda tinham um bom tempo juntas na sala de Kassin pela frente.

À noite Escórpio e Rose acompanharam Alvo até o campo de Quadribol. O time da Sonserina estava saindo após o treino e Alvo pode ver o apanhador sonserino cumprimentando os colegas do time antes de seguir para o castelo.  Um cara muito alto, magro, negro e sorridente; Alvo nas pontas dos pés não batia nem em seus ombros.

O time da Grifinória se preparava para começar o treino.

–        O que faz aqui? – perguntou Tiago surpreso ao irmão.

–        Vim treinar, isto é, se você não começar a me encher!

–        Tudo bem então, vou enfeitiçar alguma coisa para você poder capturar – disse Tiago olhando em volta – espere aqui.

Rose viu quando Tiago alcançou o capitão da Sonserina e conversaram por alguns minutos.  O rapaz olhou para arquibancada concordou com a cabeça e veio na direção deles.

–        Você é Escórpio Malfoy certo?

–        Sou.

–        Eu sou Randall Duk.

–        Eu sei.

–        Você pretende fazer teste para entrar no time ano que vem?

–        Sim, para batedor.

–        Olha, eu estou livre no momento e ano que vem vai ser uma correria para essa posição. Quer rebater alguns balaços para facilitar as coisas pra mim?

–        Claro. – respondeu Escórpio animado.

–        Boa sorte. – disse Rose quando o garoto saltou para o campo.

–        Esquerda ou direita? – perguntou Randall.

–        Sou destro.

–        Isso é bom, que vassoura você tem?

–        Pretendo comprar uma vassoura Voyage.

–        É uma ótima vassoura para batedores, você conhece bem a posição?

–        Jogo com amigos no verão.

–        Ótimo. Acerte os balaços na minha direção. Pronto?

Escórpio levantou vôo numa vassoura emprestada e acertou todos os balaços com força e precisão.

–        Então? – perguntou Rose ao seu lado.

–        Ele é bom. É ágil e também parece ser bem calmo. Acho que vai se dar bem.

–        Você e meu primo Tiago são amigos?

–        Desde nosso primeiro ano. – Randall respondeu simpático.

Escórpio desceu e Randall o cumprimentou.

–        Acho que tem boas chances Malfoy! – disse o capitão.

–        Parabéns! – disse Rose.

–        Acha que devo escrever para papai?

–        Você disse pare eu contar para minha mãe sobre o teste para auxiliar do prof. Kassin.

–        É...

No final do treino Alvo e Escórpio só falavam de quadribol; Rose os deixou para conversar com o primo.

–        Não entendo você Tiago.

–        Por quê?

–        Você tem amigos na Sonserina.

–        Nunca disse que não tinha. Meu problema é com Malfoy.

–        Acabei de vê-lo conversando com o capitão! Você indicou Escórpio...

–        Não sei do que está falando.

–        Certo... Você deu o Mapa do Maroto para Camile e...

–        Ela te contou?

–        Não, eu descobri! O que importa é que você...

–        Ela falou alguma coisa sobre mim?

–        Não.

–        Acho que não há mesmo o que falar.

–        Tiago, por que você magoa as pessoas que se importam com você? – perguntou Rose antes de deixá-lo.

O barulho das torcidas da Grifinória e Sonserina tomou conta do campo no sábado de manha; Hagrid convidou Rose e Escórpio para assistirem o jogo ao seu lado arquibancadas; Hagrid os espremeu no canto; Escórpio colocou o braço direito ao redor dos ombros de Rose para lhe dar mais espaço.

O dia estava gelado para voar. Os dois times fizeram a formação e Madame Hooch autorizou o inicio da partida. Alvo achou que se ficasse parado congelaria então deu uma longa volta para ver o campo. O jogo prosseguiu com três gols seguidos da Sonserina.

De cima a paisagem em volta de Hogwarts tinha contornos únicos. A lateral do castelo, suas janelas e os telhados. Até a Floresta Proibida parecia, vista daquela altura, um lugar calmo e bonito. Alvo desceu para escapar do vento cortante. O apanhador da Sonserina achou que pela sua movimentação Alvo tivesse visto o pomo e o seguiu. Quando Alvo parou o apanhador sonserino o ultrapassou e foi acertado por um balaço bem no ombro. Alvo correu e conseguiu ajudá-lo a se equilibrar na vassoura.

–        Você está bem?

–        Sim estou. – respondeu o rapaz surpreso.

A artilheira da Grifinória parou do lado de Alvo muito zangada.

–        O que está fazendo?

Alvo nem a ouviu; viu o pomo de ouro; apontou a vassoura e o seguia de perto até a vassoura começar a perde velocidade. O apanhador da Sonserina passou zunindo por ele, mas o pomo mudou de direção e desceu muito rápido. Os dois apanhadores desceram fazendo uma curva aberta para pegarem o pomo pela frente e acabaram batendo de frente com muita violência. Foram direto ao chão. Madame Hooch paralisou o jogo, mas os dois apanhadores não pararam. O sonserino insistia em fazer a vassoura levantar vôo; Alvo saiu correndo a pé mesmo atrás do pomo. Sua vassoura veio em sua direção como se lesse seus pensamentos; Alvo a montou na corrida e conseguiu alcançar e pegar o pomo. As duas torcidas aplaudiram de pé a captura. Apesar de não valer; pois os jogadores tocaram o chão. O pomo voltou ao ar e foi capturado pelo apanhador da Sonserina logo em seguida; a vassoura de Alvo nem conseguiu ganhar altura. Quando o restante do time pousou olhavam para ele com raiva, mas Tiago o cumprimentou.

–        É foi uma pena; mas ano que vem... – disse Tiago batendo no ombro do irmão.

O jovem apanhador sonserino também veio apertar a mão de Alvo.

–        Cara, você é muito bom! E obrigado por tentar me ajudar Potter.

–        Tem certeza que não vai reconsiderar e continuar sendo apanhador mano? – Tiago perguntou ao irmão que procurava pela prima e Escórpio.

–        Parabéns Alvo! – disse Camile se aproximando – Você está sangrando. Deixe-me ajudá-lo.

Alvo não conseguiu se mexer; sentia as mãos de Camile pelo seu rosto afastando o cabelo e examinado sua cabeça. A garota de alguma maneira fez o sangue desaparecer.

–        Você está bem? – perguntou Rose ao seu lado.

Alvo segurou as mãos de Camile.

–        Obrigado. Tenho que ir.

–        Ir? Por quê?

Por um instante eles se olharam e Alvo deu impulso na vassoura mais feliz do que podia imaginar que ficaria em perder um jogo.  Voltou para o castelo; começou a subir as escadas quase correndo seguido por Escórpio e Rose. Foram parar no quarto andar

–        Pra onde estamos indo Alvo? – perguntou Escórpio. – Por que não ficou para falar com Camile?

–        Não sei! Não sei! – respondeu Alvo abrindo os braços.

–        Nunca estivemos aqui; nesse lado do quarto andar... – comentou Rose.

–        Você acha que minha saída foi... ela ficou olhando quando sai?

–        Ficou. Todo mundo ficou.

–        Ótimo. – disse Alvo encostando num quadro na parede. A sala onde estavam tinha tanto quadros que quase não havia espaço entre eles. – Estou sentindo a parede vibrar – disse Alvo.

Os quadros da parede se juntaram formando uma moldura única; as imagens ficaram opacas como se emprestassem todas suas cores para formar as figuras dos professores Neville Longbottom e Flitwick.  Os três se esconderam atrás de um sofá. As imagens saltaram do quadro e a parede voltou a ser como era.

–        Os aposentos dos professores! – disse Rose saindo de trás do sofá. – Olhem! É um quadro Madame Nor-r-ra!

–        Ela vai avisar Filch! Vamos embora. – disse Escórpio.

–        Não se mexam! – disse Filch aparecendo sabe-se lá de onde; seu rosto iluminado de alegria de pegá-los num lugar proibido.

–        Vocês não podem estar aqui! Garoto está pingando lama e neve no chão.

–        Já estávamos de saída.

–        Não vão sair assim; pode deixar essa vassoura comigo.

Filch estendeu a mão para tomar a vassoura, mas Alvo a puxou.

–        Não! – protestou.

A imagem da profª Duggan se formou na parede e Filch apontou para os garotos.

–        Ele tem que me entregar a vassoura!

–        Já disse que não!

–        Sr. Filch, a diretora McGonagall e sua convidada vão até a Torre de Astronomia. por favor, verifique se a sala esta condições de recebê-las. Eu cuido dessa situação.

–        A senhorita quer dizer verificar se algum aluno está dando uns amassos por lá? É pra já!

Filch saiu bem depressa; parecia que a idéia de pegar algum aluno fazendo o que não devia na Torre de Astronomia era mais interessante do que tomar a vassoura de Alvo.

–        Filch espalhou quadros de Madame Nor-r-ra por aí; mesmo depois de morta essa gata continua a perturbar. Mas ele tem razão crianças; aqui é a área norte do quarto andar; proibida aos alunos. Existem lugares em Hogwarts que vocês não podem e não devem entrar.

–        Estávamos explorando o castelo. – disse Escórpio.

Novamente se formou imagens na parede. Desta vez era a diretora McGonagall acompanhada de uma bruxa de cabelos vermelhos presos a um coque e usando um tailleur roxo e sapatos laranja. A diretora, mais simpática que o normal, os apresentou rapidamente.

–        Crianças esta é Ferdinanda Twitch uma grande amiga. A conhecem certamente.

–        Sim! – Rose se apressou em dizer – A senhora é avó de um amigo nosso; Alastor e dá aulas ao meu irmão Hugo.

–       
Estão gostando de Hogwarts?! – perguntou a Sra. Twitch simpática.

–        Sim, claro – respondeu Rose.

–        Tanto que não se cansam de explorar o castelo... – disse a profª Duggan.

–        Elizabeth cuide disso, por favor, e juntem-se a nós em seguida. – disse a diretora se afastando com a amiga.

Das mãos da profª Duggan surgiram três envelopes que ela entregou para cada um.

–        Suas detenções. Sábado às nove horas estejam no Salão Principal.

Escórpio abriu o envelope e olhando o pergaminho na mão de Rose viu que o da garota também estava em branco.

–        Sábado de manha vocês saberão. Agora vão e não voltem mais aqui! Não vão querer dar a Filch a satisfação de puni-los. Vão?

Os três concordaram e desceram em direção ao o Salão Principal. Foram alcançados por Victorie acompanhada de mais duas garotas.

–        Estava te procurando Alvo! Vamos fazer uma festinha no Salão Comunal para o time de quadribol.

–        Mas nós perdemos.

–        Mas jogo foi incrível! Vamos lá! Tem um monte de gente querendo falar com você.

Alvo imediatamente pensou em Camile, mas também sentiu um certo medo.

–        Ah, não sei.

Uma das garotas o puxou sorrindo. Alvo olhou para Rose e Escórpio, mas Victorie insistiu para o primo acompanhá-las.

–        Vai lá aproveita! – disse Escórpio.

–        Talvez eu fique um pouco.

–        Assim que se fala senhor apanhador! – disse uma das garotas ao abraçá-lo.

–        Vamos Rose – chamou Victorie – você precisa se...

–        Vou ficar com Escórpio! – respondeu Rose.

–        Todo o pessoal da Grifinória está esperando por nós. Alvo vai com a gente; você tem que ir também. Não vai ficar sozinha com ele por ai! – disse Victorie puxando Rose para um canto.

–        Você parece McGonagall. – disse Rose começando a rir.  – Desculpe prima, mas vou ficar com Escórpio.

–        Não precisa... – respondeu o garoto sem jeito.

As garotas olharam Escórpio como se ele tivesse lançado uma maldição em Rose.

–        Não seja bobo! – disse Rose a Escórpio.

Victorie desistiu e saiu puxando Alvo com medo que o primo também desistisse.

Por um momento Escórpio observou Rose o carregando pelo corredor. A garota acabara de dispensar uma festa com a família e amigos para lhe fazer companhia. No começo ficou desconfiado que Rose sentisse pena dele, mas ela sorria. Era um belo sorriso, pensou Escórpio. Rose era a única garota da sua idade que ele gostava e, desde que voltou das férias de natal, tinha um cheiro muito bom que não vinha do cabelo longo castanho de mechas vermelhas como ele estava acostumado a sentir; Escórpio se distraiu por alguns segundos até descobrir que vinha do pescoço da garota e mesmo sob o cachecol vermelho e amarelo podia senti-lo.

–        O que? – perguntou Rose.

–        Só estava pensando.

–        Em que?

–        Não sei... coisas...

–        Que coisas?

–        Não tenho muita certeza.

–        Como não tem certeza do que está pensando Escórpio? Ou você está pensando em alguma coisa ou não.

–        Então não estava pensando em nada Rose.

–        Você está pensando em alguma coisa.

–        Você é especialista em Legilimência agora?

–        Sou, você não sabia?

–        O que estou pensando?

Rose se aproximou e colocou a mão na testa de Escórpio; fechou os olhos e disse numa voz engraçada:

–        “Rose Weasley, a maior e melhor jogadora de xadrez de todos os tempos! Meu Deus eu nunca a derrotarei!”.

–        Era exatamente o que estava pensando! Incrível!

–        Eu sei. Obrigada. – disse Rose sorrindo. – Você me acha boba?

–        O que? Você não pode descobrir o que eu acho? Não pode ler a minha mente.

–        Gostaria de poder de verdade.

–        Por quê?

–        Não sei...

–        É importante para você saber o que eu penso sobre você?

–        Não realmente...

–        Ok. – respondeu Escórpio encolhendo os ombros.

–        Não vai me dizer?

–        Não. Você terá que descobrir!

–        Descobrirei algum dia...

Em sua sala a diretora McGonagall analisava o pedido de Ferdinanda Twitch para uma vaga no quadro de professores de Hogwarts. O quadro do ex-diretor Severo Snape sentado mal acomodado na cadeira a observava.

–        Dumbledore a convidou por anos e ela nunca aceitou. O que disse a ela sobre os acontecimentos da escola?

–        Disse que tudo está bem. Quando ela for sincera comigo serei com ela.

–        A lista de coisas desaparecidas que guarda na segunda gaveta só tem aumentado.

–        Sempre aconteceram coisas nessa escola... é uma escola de magia Severo! Estamos rodeados de magia boa e ruim.

–        Você não tem idéia de como esses objetos tem desaparecido!

–        Acabam sendo devolvidos sem nenhum dano exatos quinze dias depois; eu mesma verifiquei alguns e não há vestígio de magia das Trevas. É uma brincadeira de mau gosto só isso!

Na manha de sábado os garotos se encontraram com as professoras Duggan e Grubbly-Plank no Salão Principal. Esperaram quinze minutos até Neville e a namorada conversarem.

A profª Grubbly-Plank consultava o relógio impaciente e os interrompeu:

–        Neville tem razão Elizabeth! É muito perigoso entrar na floresta e ainda mais acompanhadas de crianças!

–        Hagrid estará conosco! E já que as crianças viram o Thuru; nada mais justo que participem da coleta de provas! – respondeu a profª Duggan.

–        Eles são sua responsabilidade!

Sem dizer mais nada a profª Duggan deixou Neville e mandou que os garotos a seguissem. Com Hagrid e entraram na floresta.

–        Vamos colher material do Thuru; vocês vão ajudar. Seguiremos com Hagrid até a parte da floresta que o vimos.

–        E quase foram mortos por ele... – interrompeu a profª Grubbly-Plank.

–        Encontraram o corpo dele? – perguntou Alvo animado.

–        Ainda não Sr. Potter, mas Hagrid está trabalhando nisso.

–        Dei um alerta aos centauros – disse Hagrid aos garotos – se ele não foi devorado; eles o encontrarão.

A professora conjurou três pares de luvas e entregou aos garotos.

–        Não toquem em nada sem luvas; se virem alguma coisa estranha ao nosso redor avisem. Lembrem-se: é uma detenção e não uma excursão! – disse a profª Duggan.

Caminharam até um ponto na floresta.

–        Rose, você me ajuda aqui; vocês dois ajudam a profª Grubbly-Plank.

–        O que temos que recolher? – pergunto Escórpio.

–        Vocês vão ver! – respondeu Hagrid rindo.

Rose e a professora examinaram algumas árvores. A professora retirou garras de um tronco com uma pinça. Rose prestava muita atenção.

–        Abra um desses frascos, por favor. – disse a professora.

–        A senhora vai mandar para algum lugar?

–        Para o Ministério. Eles precisam de provas que o Thuru esteve aqui.

–        Vai escrever sobre o que vimos e o que aconteceu aquele dia aqui na floresta?

–        Também. Apesar do perigo, não podemos negar que foi emocionante, não é? Por isso quis que vocês viessem; a profª Grubbly-Plank não tem a veia aventureira de vocês três.

–        Acho que está no sangue deles! – disse Hagrid atrás delas.

A professora colocou vários frascos enfileirados no chão.

–        Por que não faz isso com magia Elizabeth?

–        Prefiro assim Hagrid e Rose é bem cuidadosa. – respondeu a professora concentrada numa lasca de árvore.

–        Como a mãe dela. A bruxa mais inteligente de sua geração.

Rose fechou mais um frasco e colocou sobre a toalha no chão.

–        Minha mãe não sabe cozinhar. – Rose disse de repente.

–        Olhe, os dentes do Thuru nunca param de crescer por isso ele rói o tronco das árvores. – disse a professora mostrando um pedaço de dente a Rose.

–        A senhora conhece criaturas da America do sul?

–        Sei uma coisa ou outra.

–        Elizabeth foi uma das melhore alunas de Hogwarts. Imagino que só tenha ficado atrás de sua mãe, Rose. Ela é uma professora nível três; pode ensinar todas as matérias. Exceto Astronomia. – disse Hagrid.

–        Também sou péssima cozinheira. – disse a professora recuperando outro pedaço de dente preso num tronco. – Ninguém pode saber tudo.

Rose riu e seguiu a professora recolhendo restos de animais e fotografando pegadas. A professora apontou a varinha para uma das pegadas e as encheu de gesso; depois recolheu um molde perfeito.

–        Vamos fazer uma pausa e ver como seus amigos estão se saindo com Grubbly-Plank.

Não estavam muito bem; Grubbly-Plank fez Alvo e Escórpio realizarem todo o trabalho por ela. Quando Rose e a profª chegaram perto deles taparam o nariz.

–        No que vocês andaram mexendo? – perguntou Rose.

–        Advinha! – disse Hagrid rindo. – Tudo que entra tem que sair!

–        Bem, vocês poderão se lavar no Três Vassouras. Só falta lá para terminarmos. Vão na frente! – mandou a professora.

Escórpio e Alvo olharam para trás; Hagrid e Rose o seguiam rindo.

–        Pode rir! – disse Alvo mordido.

No Três Vassouras os dois puderam usar o banheiro. Tiraram as luvas fedorentas e começaram a se lavar.

–        Você não disse nada sobre a festa Alvo. – pergunto Escórpio abrindo uma torneira de água gelada.

–        Não tem o que dizer...

–        Mas e as garotas? Você beijou alguma?

–        Elas me beijaram! Não saíam de cima de mim. Nem pude falar com Camile! Ela saiu logo em seguida.

–        Que chato cara.

–        Tudo bem, eu não sei o que esperava mesmo. Ela é uma garota mais velha e monitora. Deve ter muitos caras querendo sair com ela.

–        Acho que você tem uma chance, por que não teria?

–        Não posso convidá-la para sair. Nem quando estiver no terceiro ano! E mesmo que pudesse nem saberia o que dizer; não sou como você.

–        Como eu?

–        Você sabe conversar com garotas.

–        Nunca convidei uma garota pra sair! E nem sei como faria isso.

–        E aquela garota da foto? Agnetha? Vocês são amigos, não?

–        Ela nem conversa comigo quase, me acha criança demais. Fica só mandando corujas às amigas. A única garota com quem converso é Rose.

–        Tudo pronto ai? – disse Hagrid do lado de fora do banheiro.

–        Já estamos terminando! – respondeu Alvo.

Hagrid entrou espremido pela porta.

–        Vejam só quem eu encontrei!

Para surpresa de Alvo; Teddy Lupin veio lhes entregar toalhas.

–        Estou trabalhando aqui agora. – Teddy explicou.

–        Este é meu amigo Escórpio. Teddy é amigo de nossa família.

–        Que nome maneiro!

–        Obrigado. Legal seu cabelo! – disse Escórpio olhando o cabelo e as costeletas azuis de Teddy.

–        Onde está Rose?

–        Ajudando uma professora; a Srta Duggan.

–        Ah, eu a conheço ela vem muito aqui.

–        Teddy, eu e Escórpio estávamos conversando sobre garotas. Teddy namora minha prima Victorie.

–        Namorava – respondeu Teddy – pelo menos até seu tio se acalmar. Ele não quer me ver nem foliado a ouro.

–        O que aconteceu? – perguntou Escórpio.

–        Ele descobriu que Victorie veio sozinha me ver aqui.

–        Meu tio pensou o pior...

–        Pelo menos Tiago me ajudou desta vez; pra compensar ter me dedurado para os seus pais. Diga a ele quando vier aqui vou colocar pimenta na cerveja amanteigada dele.

Ouviram a voz de Rose do lado de fora do banheiro.

–        Saiam logo daí!

Os rapazes saíram e Teddy deu um longo abraço em Rose.

–        Olhe pra você! Já destruindo corações aposto!

–        Alguns... – Alvo respondeu sorrindo.

–        Não de atenção pra ele! Sentimos sua falta no natal.

–        Eu também e senti principalmente fome. Não me digam que a avó de vocês fez pudim de pão com calda de vinho.

–        Não, ela sabe que é seu prato favorito. Só vai voltar a fazer quando você voltar a Toca! Tem algum recado para Victorie? Eu levo.

–        Você é a melhor, me da um minuto para escrever?

–        Claro, vamos demorar um tempo por aqui.

Alvo continuou a perguntar para Teddy sobre garotas.

Madame Rosmerta os avisou que a refeição para o grupo seria servida na cozinha da pousada para não chamarem atenção dos hóspedes.

Alvo e Teddy ainda conversavam; Rose e Escórpio tomaram a frente com Hagrid.

–        Você é amigo do Malfoy então? – perguntou Teddy a Alvo.

–        Ele é um cara legal.

–        É parece mesmo. Seus pais já sabem?

–        Não, não tive oportunidade de contar, mas logo Escórpio ira passar o verão com a gente na Toca.

–        Ele é meio que meu primo, mas pelo jeito não deve saber.

–        Com certeza não sabe.

Teddy observava Rose e Escórpio conversando animados. Bateu no ombro de Alvo.

–        Você é um cara muito legal Alvo; continue assim está bem?

–        Ah, vou tentar! – respondeu Alvo sorrindo.

O almoço foi animado com Teddy contando o que ele e Tiago já tinham aprontando na Toca.

–        Que pena seu amigo não poder mais voltar lá. – disse Escórpio à Rose.

–        Quem mandou tentarem fazer... aquilo. Victorie chorou o Natal todo, foi muito chato. Ela disse que quando eu me apaixonar saberei o que ela estava passando.

–        Tomara que não.

–        Não mesmo! Não espero me apaixonar.

–        Nem eu!

–        Você não está apaixonado?

–        Como assim?

–        Sua namorada!

–        Ah, namorar a distancia é difícil...

–        Imagino que sim...

Na mesa ao lado Rose reparou que profª Duggan fazia anotações ainda ouvindo reclamações da profª Grubbly-Plank.

–        Elizabeth, tudo que encontramos prova que essa criatura esteve aqui. Temos a palavra de várias pessoas e três professores nível três; acho que já basta.

–        Ainda quero dar uma busca na floresta. – respondeu a profª Duggan

–        Elizabeth, isso é perigoso!

–        Farei o que for preciso para provar que estivemos frente a frente com uma criatura peruana aqui! E não há melhor prova que um corpo. Hagrid está tentando localizá-lo para mim, mas eu mesma quero coordenar a busca.

–        Espero que reflita sobre sua decisão de se embrenhar na floresta para encontrar essa criatura. – disse profª Grubbly-Plank aborrecida.

–        Quem sabe posso dar a sorte de boa parte do Thuru estar no estômago de um lobisomem.

–        Ah, Elizabeth...

–        Odeio lobisomens. – disse o prof. Kassin entrando na cozinha acompanhado de Neville.

Teddy Lupin ouviu e ficou agitado.

–        Deixa pra lá. – disse Rose segurando a mão dele.

–        Vejo muito esse professor por aqui também. – disse Teddy.

–        Você costuma encontrar com alguém da família Lancey? – perguntou Alvo.

–        Infelizmente sim; eles estão sempre por aqui. Vendendo tranqueiras para turistas, coisas que roubaram de outros turistas.

–        Já viu algum professor de Hogwarts conversando com Neff Lancey?

–        O Neffasto?  Não nunca vi. Escute vocês três: fiquem longe da família do Neffasto não se metam com eles, ninguém ali presta.

No final da tarde todos retornaram ao castelo; no Salão principal a profª Duggan agradeceu aos meninos a ajuda.

–        Espero que tenham aprendido alguma coisa; não gosto de detenções cujo único objetivo seja castigar.

–        Professora eu gostaria de poder acompanhar seu progresso no livro – disse Rose ansiosa – sei que a senhora tem um assistente, mas eu gostaria de ajudar.

–        Kassin pode precisar de você.

–        O prof. Kassin conta também com Cinthia Oleson para auxiliá-lo. E são só duas noites por semana.

–        Nesse caso eu aceito sua ajuda Rose! Obrigada.

–        Que idéia Rose! Passar mais tempo que o necessário com um professor deveria ser proibido! – disse Alvo.

–        Eu gostei de trabalhar com ela!

–        Isso é porque você não recolheu bosta de Thuru e sabe-se lá mais de que bicho. – respondeu Escórpio.

Durante a semana aconteceria a primeira aula de astronomia. E seria para todos os anos; embora opcional para o quinto ano em diante a Torre de Astronomia estava lotada.

–        Não dá para separar o céu em turmas. – disse profª Sinistra ao grupo. – Prestem atenção! Há uma razão por tantas coisas acontecerem sob a luz da lua. A luz da Lua ou luar...

–        Muita coisa aconteceu comigo sob a luz da Lua. – disse Tiago cutucando o irmão. – Garotas adoram olhar para o céu.

Alvo não disse nada, mas reparou que o irmão tinha razão. A maioria das garotas nem olhava pelo telescópio, Rose era uma delas, olhava para o céu de braços cruzados. Ao lado de Tiago, Camile fazia a mesma coisa.

–        No que será que elas estão pensando? – perguntou Alvo mais para si mesmo do que para o irmão.

–        Não sei, mas essa é uma boa hora para isso.

Fingindo se espreguiçar Tiago levantou os braços e colocou a mão levemente nas costas de Camile. A garota olhou pra ele e sorriu depois tornou a observar o céu. Tiago deu uma piscada para o irmão. Naquele momento o céu podia desabar que Alvo nem notaria. Olhou para Rose que tirou os olhos do céu por um instante e viu Tiago e Camile; seu olhar cruzou com o de Alvo e ela corou ligeiramente.

Alvo parou atrás dela e de Escórpio.

–        Você sabia? Vocês dois?

–        Escórpio não sabia! Não aconteceu nada segundo Camile; não fique zangado, ela nem sabe que você gosta dela. Quando souber...

–        Ela vai largar Tiago e ficar comigo? Você acha isso mesmo?

–        Por que está dizendo isso? Você é até mais legal que Tiago!

–        Rose tem razão! – concordou Escórpio.

–        Alvo, eles não sabem...

–        É minha culpa... – respondeu Alvo se afastando dos amigos. Sentia-se humilhado e infeliz.

–        Alvo... – disse Rose tentando ir atrás dele. Escórpio a segurou pela mão.

–        Deixe-o pensar por um minuto.

A profª Sinistra continuava a explicação; dizia que tiveram sorte por ser uma noite clara de inverno.

–        Uma noite clara nessa época do ano é muito rara.

Não era só por causa de Camile que Alvo se sentia infeliz; era por todo o resto.  Tinha certeza que o pai já teria chegado a uma conclusão sobre o sumiço das coisas e Slughorn. Nunca gostara de ser comparado a ele mas, naquele momento sentia que a verdade era que não chegava aos pés de Harry Potter e sua história em Hogwarts. Lembrou-se do sonho do lobisomem levando Lily; a família o levando para ser criado pelos Dursley. Viu Rose e Escórpio esticando o pescoço para verificar se estava bem. Sentiu-se mais fracassado ainda; os arrastara em suas idéias; os colocara em perigo gratuitamente.  Fora idiota em se colocar na posição de líder.  Quem achava que era? Era um moleque que chegou a Hogwarts morrendo de medo de encontrar testrálios e nem teve coragem de contar aos pais sobre a amizade com Escórpio. Não passava de um covarde.

Escórpio veio até ele.

–        Está deixando Rose preocupada com essa cara.

–        Desculpe. Vou ficar bem.

Rose se aproximou e ficou aliviada ao ver o primo sorrindo para ela.

–        Silêncio ai atrás! – gritou a profª Sinistra assustando alguns alunos.

Os garotos passaram por uma turma do terceiro ano e foram mais para o fundo para poderem conversar. Encontram com Neff e seu grupo.

–        Ora, ora faz tempo eu não nos encontramos Srta. Weasley.

–        Ora, ora – respondeu Rose – pensamos que tínhamos nos livrado de você!

–        Gosto quando você fala assim; gosto de garotas difíceis.

–        Difícil não! Impossível! – retrucou Rose.

–        Onde vocês estão indo? Não estão pensando em cabular aula, estão? Você Malfoy! Está encrencado comigo! Vai passar uns dias cumprindo detenção. Não se preocupem não vou falar de vocês; quero Malfoy sozinho refletindo em como é ser um fracassado.

–        Fracassado? Você corre atrás de garotas de onze anos...

–        Quase doze! – corrigiu Rose.

–        Ah sim... você corre atrás de garotas de doze anos e eu que sou um fracassado?

–        E as fraldas? Não esqueça as fraldas na ala hospitalar! – disse Alvo.

Rose e Escórpio começaram a rir.

–        Não gosto da sua família Malfoy – continuou Neff – sempre se achando superior aos outros. Tínhamos o mesmo propósito uma época. Seu pai deve ter comentado com você.

–        Seja o que for que você achou que tínhamos em comum já passou; e vocês voltaram a ser o que sempre foram. – disse Escórpio com desprezo.

Pela primeira vez Rose o ouviu falar daquele jeito. Como um verdadeiro Malfoy pensou.

–        Uau... – deixou escapar.

Neff olhou para Alvo. O garoto estava com a varinha em punho.

–        Nossa conversa não acaba aqui Malfoy; vou recomendar a Slughorn que você seja punido por cabular aula.

–        Vai se danar!

A profª Sinistra chegou perto do grupo.

–        O que está acontecendo aqui?

–        Eles estão cabulando aula!

–        Não saímos da sala! – respondeu Alvo.

–        Façam silêncio! – mandou a professora.

Um garoto chegou timidamente perto de Neff e lhe entregou uma pasta. Neff olhou por cima das cabeças a posição da professora; tomou a pasta com violência sem dizer nada e saiu empurrando vários alunos até o centro da sala.

O garoto pareceu extremamente aliviado em ver Neff longe e estendeu a mão para Rose.

–        Sou Marc Dublin, assistente da profª Duggan! Acho que vamos trabalhar juntos por um tempo.

–        Ah, sim vamos! – Rose respondeu.

–        O que você entregou ao Neffasto? – perguntou Escórpio?

–        Dever de casa de poções. Ele me obrigou a fazer.

–        Não entendo... Slughorn sempre gostou de alunos no mínimo brilhantes e nomeou esse paspalho como monitor! Ele tortura os alunos mais novos desde o começo do ano letivo. – disse Escórpio.

–        Ele já machucou você? – Rose perguntou. – E você não me contou?

–        Não, eu sou muito rápido e tenho sono leve. Não se preocupe. – respondeu o garoto sem graça.

A professora Sinistra liberou os alunos mais de meia noite. Marc os acompanhava conversando com Rose.

–        Estou ansioso para trabalharmos juntos; Srta. Duggan disse que você é muito inteligente.

–        Ela contou que recolhermos toda a bosta do Thuru? – perguntou Alvo.

–        Contou que vocês fizeram o trabalho sujo, sim. Aliás, eu deveria ter ido naquele dia, mas tive uma crise de enxaqueca. Bom, nos veremos na sala da profª Duggan. Noite!

–        Não gosto dele. – disse Alvo num tom sério para aborrecer a prima.

–        Por que ele parece normal? – perguntou Rose.

–        Normal demais. Ele deve ter algum problema. – retrucou Alvo.

–        Queria conhecer um garoto normal para variar. – murmurou Rose seguindo os amigos.


O clima começou a melhorar, mas ainda demoraria para o céu voltar a ficar azul e os garotos poderem voltar aos jardins da escola. Nesse meio tempo as aulas começaram exigir mais atenção dos três; os deveres aumentaram e os professores passaram a comentar sobre a proximidade dos exames. Aconselharam que começassem suas revisões. Uma carta estava sendo enviada aos pais de alunos que não entregavam os deveres completos; a carta pedia que os pais tivessem contato mais freqüentes com os filhos. Os alunos dessa lista ficaram conhecidos como "alunos médios" e para infelicidade de Alvo, Rose e Escórpio uma cópia surrupiada de algum professor foi posta no Salão Comunal de todas as Casas. Mesmo sem terem certeza de sua autenticidade alguns alunos que estavam "acima da média" não perderam tempo em provocá-los.

–        Quem diria Weasley que seu fracasso se tornaria publico desse jeito. – disse Cinthia passando por Rose quando ela e Alvo iam para aula de DCAT.

–        Não ligue pra ela. – disse Alvo

–        Ela tem inveja de você. – completou Escórpio.

–        Por que teria? Ela está certa.

–        Não está! – respondeu Escórpio com firmeza antes de se despedir dos amigos e sair espremido pelo corredor

–        Como estão as reuniões com Marc e a profª Duggan? – perguntou Alvo quando a prima se desligou do corredor que Escórpio desaparecera entre a massa de alunos.

–        Hã?  Ah, muito legais! Melhor que com Kassin. Ele pode desfrutar da companhia de Cinthia à vontade! Vou ficar com ela de agora em diante.

–        E o tal Marc?

–        Ele é legal

–        Normal?

–        Defina normal.

–        Aposto que ele faz alguma coisa muito estranha.

Rose não respondeu, mas o primo deu uma gargalhada.

–        Mais um garoto estranho pra sua lista de pretendentes! O que ele faz? Vamos conte!

–        Não enche Alvo é sério!

–        Posso tentar adivinhar?

–        Não!

Quando Rose começou a ajudar a profª Duggan; Alvo e Escórpio se revezavam para acompanhá-la tanto na ida como na volta. Embora a garota fosse bem esperta os dois ainda tinham receio que Neff aparece do nada querendo “coisas”.

Nessas noites sem a companhia de Rose os dois garotos às vezes davam longos passeios pelos os corredores do castelo fazendo planos para os dias de sol que se aproximavam.

Numa noite dessas Escórpio contou a Alvo a história recente dos Malfoy. Moravam Versoix, na Suíça. O pai administrava os bens da família; a mãe era astrônoma e muito requisitada pelo Ministério. Quando Escórpio completou onze anos Draco teve receio de mandá-lo para Hogwarts, mas acabou cedendo aos apelos do próprio Escórpio que não queria ir pra Durmstrang de jeito nenhum. Contou que apesar de tudo vivia feliz com os pais e seus novos amigos.

–        Não me orgulho do que minha família fez no passado, mas é minha família. E papai diz que já não tem mais contas a prestar a ninguém.

–        Entendo – respondeu Alvo pensativo. Depois tomou fôlego e disse pela primeira vez como odiava ser comparado ao pai. – Meus pais me protegem bastante, principalmente meu pai. Só fiquei sabendo da importância do que ele fez muito tempo depois. As crianças da minha rua sabiam quem era Harry Potter! Eu só sabia que ele era meu pai. Tiago e Lily não se preocupam com isso; eles são diferentes. Meu irmão é bom em tudo que faz; minha irmã provavelmente será a garota mais bonita e popular de Hogwarts. Ela é adorável! Eu sou apenas... eu... não tenho nada de especial.

Escórpio não respondeu nada talvez pensassem a mesma coisa sobre si mesmo; eles dois e Rose eram apenas crianças normais. Já mais seguro e próximo de Escórpio, Alvo contou que seus sentimentos por Camile não haviam mudado.

–        Bem, nessa parte sou tão inexperiente quanto você. Você não tem falado com seu irmão?

–        Já faz tempo que não nos falamos. Ele parece andar ocupado com alguma coisa. Talvez os exames. – disse Alvo se espreguiçando observando algumas garotas que iam pelos corredores. Nenhuma tão interessante quando Camile. – É melhor irmos buscar Rose. Marc podia acompanhá-la de vez em quando.

–        Ele é um frouxo! – Escórpio disse rispidamente

Os garotos perturbavam Rose para que revelasse qual era esquisitice de Marc, mas ela não dizia de jeito nenhum. A encontraram animada ao lado de Marc a porta da sala da profª Duggan.

–        Hagrid encontrou o corpo do Thuru!Logo poderemos entrar pra vê-lo!

–        Ele disse que o corpo simplesmente apareceu no lugar onde vocês o viram. – disse Marc.

Era óbvio que Rose contara a Marc o que tinham feito na floresta. Alvo não ligou, mas Escórpio ficou aborrecido.

–        Vocês andaram conversando?

–        Um pouco.

A porta se abriu e o Neville Longbottom disse:

–        Se ainda não jantaram podem entrar.

O corpo do Thuru estava coberto de folhas, formigas e outros insetos mortos. Fora parcialmente devorado e a profª Duggan o examinava com uma espécie de lupa. O cheiro não era agradável, mas os garotos estavam admirados demais para se deixarem incomodar por esse detalhe.

–        Isso não é coisa para crianças! – disse a profª Grubbly-Plank reprovando a atitude de deixar as crianças entrarem.

–        Se quiserem podem sair. – disse Neville.

–        Quero ajudar! – disse Rose se aproximando da mesa.

Marc se despediu dos garotos e deu meia volta

–        Eu disse que ele é um frouxo! – Escórpio disse a Alvo.

A profª Duggan colocou óculos protetores, luvas e passou o mesmo material a Rose, além de uma pinça e um elástico. Simultaneamente as duas prenderam o cabelo num rabo e cavalo e começaram o trabalho de retirar tudo que estivesse preso ao corpo da criatura. Não demorou muito para que todos percebessem a sintonia as duas. Tinham o mesmo ritmo e cuidado.  Alvo se virou para comentar isso com Escórpio, mas tanto o amigo quando Neville tinha os olhos pregados na movimentação da professora e sua jovem assistente. Na hora de abrir o estômago do Thuru Rose pediu pra que todos se afastassem.

–        Os gases podem ser tóxicos.

–        Bem lembrado. – disse Escórpio impressionado.

–        Façam o que Rose pediu. – disse a professora sem levantar a cabeça fazendo um corte não muito grande. Uma gosma acinzentada saiu e Rose se apresou recolhe-la. Depois tirou fotos do interior do estômago e de tudo que a professora retirou de dentro, inclusive uma placa de carro.

–        Ele não comeu um carro inteiro, comeu? – perguntou Neville.

–        Não – respondeu a professora rindo – deve ser lixo de beira estrada; ele fez um longo caminho até aqui. Neville você pegou aquele jornal de trouxas que pedi?

–        Sim, está na minha sala.

–        Entregue a Rose quando puder.  Ele não chegou até aqui sem ser notado; alguns trouxas o viram.

–        E como sempre inventaram suas próprias histórias para explicar.  – Neville acrescentou.

–        Cadê as asas dele? – perguntou Escórpio.

–        E os dardos venenosos? – acrescentou Alvo.

–        As asas foram devoradas. Provavelmente por animais menores é a parte mais fina – explicou a professora – os dardos Hagrid conseguiu achar um e me trouxe. Na verdade não são bem dardos; o veneno corre pelas veias das asas até chegar às pontas e formar uma calosidade que pode ser disparada em seqüência. O veneno é produzido a partir do que ele come. Com estômago cheio de lixo acho que não pôde “fabricar” um veneno forte o bastante para realmente nos fazer mal.

A porta da sala se abriu e a diretora McGonagall e o professor Flitwick entraram. McGonagall lançou um olhar de nojo à criatura sobre a mesa e em seguida se dirigiu a Neville:

–        Se não estiver ocupado pode ir dar uma olhada em Grope? Kassin e Tiago Potter estão com ele desde o final da tarde. Hagrid está muito preocupado.

–        O que aconteceu com Grope? – perguntou Alvo.

–        Piorou muito; Kassin construiu uma cabana para podermos examiná-lo. – explicou Flitwick aos meninos.

–        Elizabeth, quero que tire essa coisa de Hogwarts ainda está noite. – a diretora McGonagall disse rispidamente.

–        Mas ainda tenho coisas a anotar e a senhora concordou em me deixar ficar com o corpo o tempo que fosse necessário desde que em meu tempo livre e na minha sala.

–        Eu sei, mas não achei que você faria uma reunião em torno disto! E nem que seria auxiliada por crianças.

–        Estou no meu tempo livre também e disse à professora que queria ajudar. – retrucou Rose.

–        Acho melhor todos nós encerrarmos a noite! – disse o professor Flitwick.

–        Podemos ir com o senhor ver Grope? – pediu Alvo.

–        Não. A cabana que Kassin construiu esta perto da de Hagrid, mas mesmo assim dentro da floresta.

–        O prof. Slughorn vai medicar Grope sempre na hora do almoço; se ele concordar em levá-los...

Alvo e Escórpio se olharam preocupados.

–        Por favor, prof. Longbottom deixe-nos ir com o senhor agora!

–        Sinto muito Alvo. Agora nem pensar, o próprio Kassin deve estar em pânico pra sair de lá. É lua cheia e ele morre de medo de lobisomens.

–        Ele não tem medo! – respondeu a profª Duggan. – Só fica nervoso quando vê algum.

–        Elizabeth você tem até a meia noite para acabar seu trabalho...– avisou a diretora McGonagall.

–        Não é justo! – protestou Rose e todos olharam para a garota espantados. – A Srta. Duggan pode escrever um livro realmente interessante sobre essa criatura! E nós a vimos de muito perto.

–        Tudo bem Rose. Já vamos terminar diretora.

–        Terminem essa noite. Boa noite. – disse McGonagall passando pelos garotos e fechando a porta atrás de si com estrépito.

Flitwick puxou Neville e os dois professores também saíram. A profª Grubbly-Plank disse para Alvo e Escórpio para irem direto para seus dormitórios.

–        Nada de seguirem os professores. Eu estarei de olho. – disse deixando os garotos sem escolha.

Quando ficaram a sós a profª Duggan disse a Rose que não devia ter falado daquele jeito com McGonagall.

–        Eu sempre ouvi minha mãe dizer o quanto era ela justa com os alunos. Não pareceu agora!

–        Foi uma tolice.

–        Desculpe.

–        Mesmo assim obrigada por tentar me ajudar.

–        A senhora me ajudou no teste para auxiliar do prof. Kassin.

–        Não, você passou no teste por puro talento.

–        O prof. Kassin nem nos contou sobre o que está fazendo por Grope! E ele tem duas assistentes! Ao invés disso Tiago é que está ajudando! A senhora sabe o que Grope tem?

–        É difícil dizer já que não sabemos muito sobre gigantes e suas possíveis doenças, mas Kassin está fazendo o possível para tentar descobrir. Ele até cogitou ir as montanhas conversar com gigantes a respeito!

–        Conhecer um gigante saudável para poder comparar com estado de Grope?

–        Genial, não? Mas McGonagall nunca o deixaria ir.

–        Devia ter me inscrito para ser sua assistente. A senhora é a melhor professora da escola

–        Obrigada. Vindo de você é muito gratificante.

–        Por quê? Por causa da minha mãe?

–        Não, por que você é muito inteligente, mas como já lhe disse podia se sair muito melhor.

–        A senhora soube da lista dos “médios”?

–        Não se deixe abater por essa bobagem. É só um jeito idiota de tentar classificar as pessoas.

Já era muito tarde quando a profª Duggan lacrou o corpo do Thuru.

–        Pronto. Agora é só mandá-lo para o Ministério aos cuidados do Departamento de Pesquisa Sobre Criaturas.

–        A senhora parece triste com a idéia.

–        Bom, escrever sobre essa criatura é no mínimo excitante. E pensar que foi graças às Flores Astrais de Neville! Preciso comprar alguma coisa para ele.

–        Uma planta?

–        Não! – respondeu a profª rindo. – Nada que precise ser regado!

Um detalhe despertou a curiosidade de Rose; assim como Slughorn e Kassin a sala da profª Duggan tinha as paredes lisas. Rose se lembrou do frei gorducho dizendo que ninguém respeitava os quadros de Hogwarts. Será que os professores entraram num acordo de não deixar mais quadros em suas salas? Rose sabia que quadros podiam levar informações; seria esse o motivo?

A professora a acompanhou a torre da Grifinória.

Rose encontrou Alvo e Camile mal acomodados dormindo em poltronas perto do fogo. Camile rodeada de livros e anotações; o que não a surpreendeu já que a amiga deveria prestar os N.O.M´s no final do ano letivo. Rose acordou o primo o mais delicadamente possível.

–        O que faz aqui?

–        Fale baixo. – disse Alvo se endireitando e esfregando o pescoço. – Não acorde Camile ela teve um dia cheio. Grubbly-Plank mandou que ela ficasse de olho em mim para não me deixar seguir os professores; ela também levou Escórpio até o Salão Comunal da Sonserina.

–        Ela é muito legal.

–        É a melhor! Hey, você ouviu o que o Flitwick disse? Slughorn está preparando uma poção para Grope! Uma poção feita com ingredientes falsos que pode deixar Grope mais doente ou até matá-lo!

–        Precisamos falar com Hagrid, avisá-lo.

Camile despertou.

–        Olá Rose como foi com a profª Duggan?

–        Excelente! Vocês precisavam ver o feitiço que ela usou para enviar o corpo do Thuru para o Ministério. Deixou McGonagall impressionada; embora ela tenha tentado disfarçar ao máximo.

–        Com certeza McGonagall nunca viu um feitiço desses na vida. – disse Alvo em tom irônico.

–        A profª Duggan é a melhor!

–        Ela vai te dar créditos extras pela ajuda?

–        Não sei, mas não ligo se não der! Aprendi um bocado hoje. Falo com você logo cedo. Boa noite Camile!

Alvo começou a rir assim que Rose subiu as escadas para se deitar.

–        O que foi? – perguntou Camile.

–        Ela nunca pareceu tanto com minha tia Hermione como agora.

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