Nono Capítulo



Nono Capitulo



 



Enquanto o dia de visitar Hogsmeade se apresentava como um escape para o stress e a rotina das aulas para os outros alunos, para Sirius este apresentava-se como sendo um dia em que poderia aproveitas a distração de toda a gente para resolver os seus assuntos enquanto herdeiro e Lord da família Black. Não eram raras as vezes que o jovem Slytherin fizera algum familiar encontrar-se com ele na vila bruxa ou algum outro aliado juntar-se a ele com a desculpa de apreciar uma bela cerveja de manteiga ou simplesmente discutir opiniões políticas que fossem úteis ao jovem. Desde os treze anos que assim eram os seus dias de visita, mas este seria diferente.



– Regulus. – Sirius chamou o irmão até junto de si fazendo o rapaz mais novo erguer uma sobrancelha. – Preciso que faças algo por mim.



– O quê?



O ar desconfiado do jovem rapaz fê-lo sorrir, era algo incomum o mais velho dos herdeiros de Walburga pedir favores ao seu irmãozinho, não raro mas incomum, uma vez que Sirius fazia todos os possíveis e impossíveis para impedir que o irmão se envolvesse nos assuntos da família.



– Não te preocupes, poderás ir a Hogsmeade à vontade, irmão. Quero apenas que tenhas atenção a tudo. Procura o James caso haja algo invulgar.



As palavras de Sirius confundiram Regulus mas este não iria de modo algum contestar a palavra do seu irmão mais velho. Assentindo com a cabeça, o mais novo dos Black retirou-se sob o olhar atento do irmão, seguindo a enchente de pessoas que seguiam para a vila bruxa. Observando o jovem afastar-se, Sirius suspirou.



– Toma conta dele, se faz favor. – O moreno disse, dirigindo-se a Snape que acabara de se colocar ao lado dele.



– Porque não o fazes tu? – Severus arrependeu-se instantaneamente de ter feito a pergunta desnecessária. – Não deveria ter perguntado.



Sirius riu-se sem humor. – Ainda bem que já sabes a resposta.



E sem dirigir mais nenhuma palavra ao colega, o herdeiro Black afastou-se misturando-se na confusão que saia do castelo. Não demorou muito até se encontrasse fora dos limites da escola e se pudesse afastar da multidão, aparatando para longe assim que se encontrava fora do campo de visão daqueles que o rodeavam.



O espaço que agora o rodeava era tão diferente dos terrenos de Hogsmead que Sirius podia sentir claramente no ar a diferença dos seres que se encontravam nas redondezas. Os céus escurecidos com as intensas nuvens cinzentas prometiam chuva brevemente e o vento frio que soprava despenteando-lhe os cabelos levava várias folhas coloridas pela estação, as cores pareciam deslocadas do ambiente de cores mortas onde o moreno se encontrava. Os olhos azuis-cinza de Sirius ergueram-se para a mansão de paredes cinzentas e negras que se encontrava à sua frente, um portão de ferro forjado com duas cobras talhadas no aço negro barravam a entrada a qualquer um que se apresentasse diante do edifício.



Hum… Pensariam que ele teria pelo menos o bom senso de ser mais discreto, Sirius pensou avançando para os portões trabalhados.



O ar tremeu à sua volta quando se encontrava perto do portão e duas figuras envoltas em mantos negros surgiram do outro lado da barreira.



– Sirius Orion Black, herdeiro e Lord da Muy Nobre e Antiga Casa Black. – Disse num tom de voz frio, os olhos saltando entre ambas as figuras encapuzadas, sob o seu manto apertava a sua varinha, pronto a atacar se necessário. – Tenho uma reunião com o vosso mestre!



As palavras de Sirius foram recebidas em silêncio pelos dois Devoradores da Morte, que trocaram breves olhares antes de o mais corpulento fazer um gesto com a sua varinha e abrir o portão. Nenhum lhe disse uma única palavra enquanto o guiavam para o interior da mansão e dentro desta, através dos corredores negros até chegarem a uma enorme porta de mogno negro. O mesmo homem que tinha aberto o portão bateu na porta dando três pancadas secas na madeira; do interior do quarto uma voz sibilante respondeu.



– Quem é?



– Lord Black, milord. – Respondeu o homem encapuzado.



– Deixem-nos! – Ordenou a voz que Sirius agora reconhecia como pertencendo a Lord Voldemort.



– Lord Black.



O moreno não esperou mais uma palavra dos dois brutos de negro e entrou na sala, erguendo o queixo e colocando a sua melhor expressão. O seu olhar percorreu a sala, demorando-se nos títulos dos livros que enchiam as paredes daquele quarto que depressa se percebeu tratar-se de um escritório. As estantes e o resto do mobiliário eram de madeira negra, absorvendo a fraca luz que provinha das janelas onde pesadas cortinas de veludo verde-escuro caiam.



Junto da lareira de mármore negro, sentado num dos cadeirões de costas altas, estava Voldemort, a pele pálida contrastava com os cabelos negros e lustrosos, os olhos vermelhos do feiticeiro observavam-no seguindo atentamente cada movimento do jovem rapaz. Quando o Lorde das Trevas se levantou, o herdeiro pode reparar no porte elegante que o homem tinha, não podia negar que a aura de poder que o rodeava não era tentadora e o simples toque da sua presença não era chamativo, pela sua mente passaram as palavras dos tios acerca do feiticeiro negro e a sua força.



– Lord Black. – Lord Voldemort disse fazendo uma pequena vénia com a cabeça. – Ainda bem que se juntou a mim.



– Lord Voldemort. – Fazendo uso da mesma cortesia, Sirius curvou-se ligeiramente nunca afastando o seu olhar do feiticeiro mais velho. – O prazer é meu… Contudo, agradecia que deixássemos tais… cordialidades de parte, não gosto de empatar tempo.



Os lábios de Voldemort abriram-se num sorriso calculista. – Directo… Creio que iremos entender-nos muito bem. Por favor, sente-se, adorava saber como um jovem conseguiu alcançar uma reputação tão… impecável.



Sirius acreditava ouvir um quê de incredulidade na voz do tão aclamado Lord das Trevas, poderia estar enganado mas na descrença dele reparava numa nota de inveja. Não seria para menos, apenas o seu apelido bastava para abrir algumas janelas de oportunidades, se fosse a sua pessoa a fazer um pedido o mundo inteiro se rendia aos pés do jovem sangue-puro.



– Não vou fingir que desconheço a influência que a minha pessoa tem sobre certos assuntos, mas não poderia igualá-la ao… respeito, que a menção do vosso nome inspira. – Poderia ser a primeira vez que se encontrava frente a frente com o Lord mas conhecia bem o seu tipo, ansiavam por elogios e mais poder.



As suas palavras surtiram o efeito desejado e tão depressa como pensava, Sirius conquistou um pouco da confiança do homem e rapidamente Voldemort era apenas mais uma peça no seu tabuleiro de xadrez.



– Com palavras tão sábias, vejo que nos iremos dar imensamente bem e será um prazer ter tão promissor jovem nas minhas linhas de comando. – O sorriso do Lord das Trevas só poderia ser comparado com o ar de um gato que acabara de capturar um canário, estava tão convencido da sua vitória com mais um sangue-puro sob o seu poder que não reparou no sorriso sarcástico de Sirius.



– Agradeço o elogio. – O moreno comentou erguendo as suas mãos para contemplar o anel com o brasão da sua família. – Mas creio que conhece a reputação que ergui para a minha família. – O falso ar animado de Sirius desapareceu quando este olhou diretamente para o Lord. – Nenhum Black nasceu para se submeter às ordens de outrem. E eu sou a personificação desse lema.



Voldemort ficou confuso. – Então porque me procurou?



– Uma aliança. Serei seu aliado na sua demanda… com uma condição.



O Lord das Trevas ergueu uma das suas sobrancelhas, o seu olhar desconfiado avaliando o possível aliado. Era altamente raro alguém conseguir despertar a sua curiosidade fosse como um soldado, um potencial soldado, mas nunca ninguém se oferecera como seu aliado.



– E qual seria essa condição?



– Todos e quaisquer feiticeiros relacionados com a Muy Nobre e Antiga Casa dos Black devem ser deixados em paz, nenhum feiticeiro ou bruxa em cujas veias circule uma pinga que seja do sangue que circula nas minhas veias e que circulou nas veias dos meus antepassados deverá ter que suportar a Marca Negra, ninguém sob a minha proteção será considerado um Devorador da Morte.



– E o que é que eu ganho com isso?



Um sorriso sarcástico surgiu nos lábios de Sirius novamente. – Terá o meu apoio, sou um aliado político extremamente poderoso e tenho o respeito de grandes nomes da nossa sociedade. Sou mais valioso como aliado do que como inimigo.



– Ai sim?



– Sou Lord da minha casa e ainda ando em Hogwarts. Dentro da escola tenho aliados e conheço bem a oposição que encontro dentro daquelas paredes. Fora dela, o meu nome é temido e respeitado, não tanto como o seu, mas nos sítios certos consigo coisas às quais outra pessoa qualquer não teria acesso tão facilmente.



Um silêncio abateu-se entre os dois feiticeiros, Voldemort pesava as implicações de uma aliança com Lord Black, a sua família não só era constituída pela mais requintada porção de sangue-puro como também era rica e influente em várias áreas do mundo bruxo, como o próprio rapaz tinha dito. Os pros eram elevados, mas os contras não eram leves, todas as árvores genealógicas das famílias de sangue-puro no mundo bruxo estavam interligadas em algum ponto, ligações antigas que facilmente poderiam ter sido esquecidas pelo tempo… Mas também o que seriam cinco ou seis feiticeiros a serem descartados? Dos jovens em que conseguia pensar, apenas um parecia ser tão imparcial como Sirius, a árvore dos Black não era dotada de uma grande juventude no momento, a maioria desta eram mulheres e essas não teriam outra utilidade a não ser a procriação.



– E então? – Sirius perguntou. – Vim aqui com uma proposta e desejo sair daqui com uma resposta, milorde.



Os olhos vermelhos de Voldemort ergueram-se para encontrarem os azuis-cinza de Sirius a observá-lo pacificamente. Era arriscado o que iria fazer, mas tinha que concordar com o jovem, ele era demasiado valioso para perdê-lo para a possível influência de Dumbledore.



– Creio que temos então uma aliança. – O feiticeiro mais velho estendeu a sua mão pálida para o jovem apertar.



E a aliança firmou-se quando ambos apertaram as mãos e a sua magia fechou o pacto. Sirius estava satisfeito consigo mesmo e com aquilo que alcançara. Depois de estarem entendidos acerca de tudo o que a nova aliança traria, Voldemort despediu-se do jovem Slytherin que se preparava para abandonar a sala quando…



– Creio que quererá voltar depressa para Hogsmeade, Lord Black. – Voldemort sibilou. – Antes desta nossa reunião, considerei que a comunidade bruxa precisava de um aviso de alerta, que eu ainda não desisti daquilo que quero.



Após ouvir as palavras do homem, Sirius saiu da sala rapidamente, avançando pelos corredores da mansão a caminho da rua com um passo acelerado, desejando poder correr para o exterior mas tendo que se conter. Assim que alcançou os portões da entrada, o moreno puxou do bolso interno do manto um espelho dourado para o qual disse firmemente: – James Potter.


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