Oitavo Capítulo



Oitavo Capitulo



 



Com os ventos da estação, Setembro deu lugar a Outubro. Todos os alunos pareciam já se ter habituado à rotina das aulas, fazendo com que fosse muito mais fácil associarem o castelo ao seu lar. Fora dos horários das aulas, eram muitos aqueles que se encontravam nos jardins do castelo a aproveitar ainda o restante sol antes que este desse o seu lugar ao frio e às chuvas do outono e outros tantos eram encontrados nos espaços autorizados para treinar quidditch.



Foi no início da segunda semana de Outubro que em todas as salas foi afixado um recado que deixou todos os alunos extremamente animados. Para todos aqueles que tinham recebido autorização dos seus pais, o segundo fim-de-semana daquele mês iria dar início às visitas ao vilarejo de Hogsmeade. Naquela sexta-feira, entre todos os alunos havia conversas sussurradas, alunos a combinarem encontros, a dizerem a que sítios desejavam ir assim que chegassem à pequena vila sob a sombra do castelo...



– Vens, Lily? – Alan perguntou, o seu ânimo nos últimos dias parecia andar acima das nuvens.



Desde segunda-feira que ele lhe perguntava aquilo, aparentemente recebera óptimas notícias da mãe, que, sendo nesse fim-de-semana permitida a ida de todos os alunos a partir do terceiro ano a Hogsmeade, combinara encontrar-se tanto com o filho como com o marido no pub Três Vassouras.



– A Mã vai ficar deliciada em finalmente conhecer-te.



– De certeza que não vão ficar incomodados comigo?



O jovem rapaz riu-se, fazendo com que a ruiva ficasse ligeiramente ofendida, cruzando os braços à frente do peito para o demonstrar. Ao lado da ruiva, Bella sorria ligeiramente olhando para os dois amigos e ao seu lado, James e Remus pareciam apreciar também aquilo.



No decorrer do mês, Bellatrix continuara a ter sonhos com Sirius, que sempre que aparecia parecia demonstrar-se cada vez mais amistoso, nunca tocando no assunto que ocorrera naquele primeiro sonho, mas também nunca fazendo nenhum avanço para repetir o episódio... Ainda se lembrava das palavras do moreno no segundo sonho e a expressão arrependida no seu rosto nunca seria apagada da sua mente.



 



Flashback



 



Voltara a abrir os olhos para se deparar com o carvalho, mas desta vez, havia algo de diferente no lugar: um baloiço, largo o suficiente para suportar duas pessoas, estava pendurado num dos ramos fortes da árvore. E Sirius estava sentado nele, olhando para o chão como se tudo lhe estivesse a correr mal. Bella avançou para o baloiço e sentou-se ao lado dele silenciosamente. Ficaram assim apenas a contemplar o chão durante um bom bocado, até que a morena decidiu cortar o silêncio.



– Tinha esperança de te encontrar aqui.



Sirius elevou os seus olhos para encontrar os dela, havia neles tamanha mágoa que ela quis tocar-lhe no rosto para o confortar.



– Desculpa. – Ele disse simplesmente. – Não queria magoar-te com o que aconteceu antes.



A sinceridade na voz dele era tão real que ela não tinha outra hipótese senão acreditar nele... E a atitude dele durante o dia... tinha lhe parecido realmente que ele se importava, que vê-la daquela maneira o tinha incomodado de algum modo. Mas claro, aquilo podia não passar de ilusões que ela via para confortar o seu coração partido.



– Eu já devia estar preparada para acordar, de qualquer maneira. – Ela sussurrou. – Afinal, por mais que eu queira, tu hás-de sempre ser o Sirius...



– Sim. – Ele concordou, compreendendo o que ela queria dizer. – Mas isso não muda nada as coisas que fiz.



E então ela fez algo que ele não esperava, algo que lhe aqueceu o coração até ao seu mais profundo recanto... Ela sorriu, um sorriso tão luminoso e compreensivo que ele teve problemas em acreditar que aquele sorriso era dirigido para ele. Os olhos azuis dela iluminaram-se com aquele sorriso e ele teve que retribuir aquele pequeno gesto.



– Isto aqui está tão bonito... – Ela suspirou. – Tenho saudades de ver o jardim assim.



Desde que crescera, era raro a mãe e a tia permitirem a presença das jovens donzelas Black nos jardins, ambas pareciam concordar que o exterior da casa só tinha o propósito de ser um cenário romântico onde possíveis pretendentes iriam efectuar a corte... Pelo menos a Narcissa era permitido acesso ao jardim, desde que estivesse acompanhada por Lucius e ainda a brilhante companhia de Regulus, era nessas alturas que tinha muita pena do primo mais novo...



– Nós podíamos ir mais vezes ao jardim, juntos. – Sirius sugeriu fazendo com que a morena se risse em alto e bom som.



– Se o fizéssemos, isso seria motivo para a Tia Walburga e a minha mãe começarem a planear um casamento.



– E isso seria péssimo. – O moreno concordou e ambos partilharam um olhar.



E naquele olhar, semi-sério, semi-divertido, ambos começaram a rir-se com tamanha cumplicidade que pareciam os melhores amigos desde sempre, parecia que nunca se tinham separado entre as duas casas inimigas. Ficaram durante um tempo a rir-se à gargalhada como velhos companheiros até que, já quase sem fôlego, caíram num silêncio amigável, começando a dar um balanço suave ao baloiço. Quando já estavam relativamente mais recuperados da sua sessão de riso, Bellatrix suspirou, chamando à atenção do primo que olhou para ela.



– Porque é que não podemos ser assim durante o dia? – A pergunta dela apanhou-o desprevenido e ele não sabia como responder àquilo, mesmo sabendo que ela não pretendia obter resposta.



– Talvez um dia possamos voltar a ser. – Sirius disse com um sorriso suave.



– Eu gostaria disso. – A morena disse encostando a sua cabeça ao largo ombro do primo.



 



Fim de Flashback



 



– Bella? Beeella! – James chamou a morena abanando uma das suas grandes mãos na frente da cara dela. – Olá-á! Alguém em casa?!



Bellatrix abanou a cabeça e olhou para James com uma sobrancelha erguida, obviamente confusa quanto à acção do amigo, que vendo o olhar confuso dela rapidamente se explicou.



– Ficaste a olhar para o ar e deixaste de nos responder.



No fundo no fundo, James sabia em o quê ou em quem a morena estava a pensar e isso preocupava-o. Preocupava-o também o facto de o outro moreno continuar a fazer visitas aos sonhos da prima... Não sabia qual era o grande objectivo do primo, mas fosse qual fosse, ele esperava vivamente que os seus meios justificassem os fins.



– Bellatrix! – Uma voz chamou-a e todos se viraram para encarar Jensen que parecia algo aborrecido.



– O que é que tu queres agora?! – James disse o seu tom de voz estava obviamente irritado.



O seu irmão gémeo olhou para ele, mas o seu olhar não se demorou no jovem Seeker, passando rapidamente para a namorada, que olhava para ele de sobrolho franzido. A última vez que ele lhe tinha dirigido a palavra tinha sido naquela primeira aula de DCAT, desde então não voltara a procurá-la sequer. De acordo com a teoria de James, os olhos vermelhos e o olhar raivoso que Bellatrix lhe tinha dirigido depois dele insultar a sua família tinham sido incentivos suficientes para que o maricas do seu irmão mais velho se fosse embora e finalmente a libertasse do compromisso de ser sua namorada... Aparentemente, a teoria estava redondamente enganada.



– Jensen... – Bella disse, impassível. – O que queres?



– Conversar. – O moreno disse. – A sós.



Não vendo qualquer alternativa, Bella levantou-se e seguiu Jensen para fora do Salão Nobre sob o olhar atento dos Salteadores e, na mesa de Slytherin, mais três pares de olhos observavam o casal sair da sala de refeições.



– Serei o único a não gostar de ver aquele Potter com a Bellatrix? – Regulus perguntou, erguendo o seu cálice aos lábios.



– Não, não és o único. – Severus disse, olhando depois para Sirius que, apesar de não se ter pronunciado, olhava para o par com um olhar assassino. – Sirius?



– Pelo bem dela, é bom que o ponha a andar. – O chefe da família Black disse ainda seguindo a prima com o olhar.



O moreno mais nada disse, mas era óbvia a ameaça patente na sua voz e Regulus reconhecia o desprezo que o irmão sentia em relação ao primo mais velho, por isso temia o que ele poderia fazer.



Enquanto os amigos de Bella comentavam a acção de Jensen no Salão Nobre, nos jardins, Jensen caminhava com a morena ao seu lado, nenhum falava, ninguém parecia querer pronunciar uma palavra! Teriam continuado o seu caminho não tivesse a rapariga parado abruptamente antes de se aproximarem demasiado do lago.



– Acho que isto já é longe o suficiente. – Bellatrix disse. – O que é que queres?!



– Falar contigo, amor.



– Podias tê-lo feito lá dentro junto dos outros!



Jensen suspirou e aproximou-se da rapariga, que o olhou ainda mais desconfiada. – Meu amor, há já tanto tempo que não conversamos como deve ser... só nós dois...



A sugestão na voz de Jensen dizia tudo e ela muito sinceramente não estava interessada, por isso quando ele se voltou a aproximar, ela recuou, abanando a cabeça em jeito de rejeição.



– Ainda não te perdoei pelo que disseste ao Seth! Aquilo que insinuaste...



– Não disse nenhuma mentira.



– É a minha família! – Os olhos dela ficaram vermelhos de raiva.



– Não é como se tu te importasses com eles, tu odeia-los, Bellatrix. – A voz de Jensen demonstrava puro desprezo.



É a minha família! – Ela repetiu enfatizando cada palavra.



O tom de voz dela colocava um ponto final na conversa e o seu olhar desafiava-o a responder-lhe o contrário... Noutra altura qualquer, Jensen teria contestado, teria até tentado dissuadi-la do seu mau humor pelas suas palavras verdadeiras, mas não naquele momento, não quando a probabilidade de a perder era superior à de ser perdoado. E foi com um suspiro que consentiu em admitir que ninguém iria vencer aquela guerra.



– Eu não quero discutir contigo. – Admitiu, a sua voz transbordava com um cansaço irritado que Bella percebeu. – Quero convidar-te para vires comigo amanhã a Hogsmeade. Não quero mais discutir contigo, minha querida!



E as palavras dele surpreenderam-na. Se havia algo que aprendera sobre o irmão de James era que ele não aceitava um não como resposta, não sabia se isso se devia ao mimo recebido por parte de ambos os pais que tinham concebido os gémeos numa altura já tardia da sua vida, ou se isso seria um resultado dos seus próprios genes vindos da família Black, não que a família Potter não tivesse as suas qualidades de teimosia mas combinadas com as da sua própria família... podiam ser uma combinação perigosa. E Jensen... por vezes, ela preferia acreditar que ele não era de modo algum relacionado com aquele a que ela mais queria fugir.



– Não sei o que dizer. – Se havia algo que era ainda mais raro do que outra coisa qualquer, era Bellatrix ficar sem palavras.



– Diz apenas que sim. – Jensen disse, os seus olhos castanhos esverdeados tão intensos que pareciam arder. – Um almoço, um passeio a sós pela aldeia... Só nós dois, como antigamente. Sem... Salteadores... Sem ninguém. Só nós.



Ela devia ficar extremamente chateada pelo modo como ele se referira aos seus amigos, mas não sabia sequer o que dizer para lhe responder ou como havia de processar os seus próprios pensamentos. Jensen não costumava implorar, não se rebaixava... mas o que ele estava a fazer era exactamente isso!



– Uma última hipótese, Bellatrix. – Ele disse. – Por favor... Samantha.



E foi no momento em que ele a chamou pelo seu segundo nome que ela tomou uma decisão...



– Está bem. Eu aceito.



Ele pegou-lhe na mão e beijou-a delicadamente.



– Eu prometo que não te vais arrepender.



Espero bem que não, Bella pensou vendo-o voltar a beijar-lhe a mão delicadamente.



 



*****



 



Sábado amanhecera com um murmurinho no dormitório feminino de Gryffindor, despertando Bellatrix do seu sono.



– Mas que raio... Lilian?!



– Oh... Desculpa, Bella. Não te queria acordar. – A ruiva disse largando as suas roupas.



– O que estás a fazer afinal? – Bella olhou para o relógio na sua cabeceira ficando espantada por serem apenas seis da manhã. – Lily?! São seis horas! Ainda falta imenso tempo para o pequeno-almoço!



Evans sentou-se na cama, os seus cabelos presos numa trança e a sua franja a cair sobre os seus olhos cansados, era óbvio que a rapariga tivera dificuldades em obter algum descanso durante a noite, o motivo?! Para a morena era ainda um mistério.



– Não consegui dormir. – Admitiu Lilian retirando as mechas ruivas da vista. – Acho que estou um pouquinho ansiosa pelo encontro com os pais do Alan...



– Um pouquinho, ahn?! – Bellatrix ergueu uma sobrancelha ao observar o malão, por norma pristinamente arrumado, completamente desarrumado.



A morena levantou-se para observar o que a ruiva estivera a fazer... Não era comum da sua amiga levantar-se a tal hora num Sábado, ainda para mais quando não tinham trabalhos de casa para entregar.



– Mas o que raio andaste aqui a fazer? – Perguntou pegando numa das camisolas que se encontravam no chão.



– Não sei o que hei-de vestir. – Admitiu a ruiva. – Não os conheço, não sei o que esperam de mim, não quero que...



– Lily, Lily, Lily! Pára! Eles são muito mais simples do que pensas! Claro que a Isis gosta do seu requinte... É uma Black no fim das contas... Mas ela é boa pessoa e o Seth, bem tu já o viste e já o conheceste por isso não há nada a temer.



– E se eles não gostarem de mim?!



A insegurança na voz da ruiva fez com que a morena olhasse para ela. Conhecia a sua amiga e sabia, ao contrário de James, sobre o seu passado. Todos viam Lilian Evans como sendo a aluna perfeita, alguém que não tinha nem problemas nem sofria mágoas por nada, mas Bellatrix via muito mais que a aparência, já a vira chorar, já a consolara, mas, no fundo, nunca nada a prepara para uma situação destas.



 – Oh, Lily... – A morena sussurrou abraçando a outra rapariga. – Eles vão amar-te! Lembra-te do que o Seth disse, que eles praticamente te adoptaram desde o momento em que defendeste o Alan...



– Eu sei, mas...



– Não há mas. Eles não são como aquelas criaturas com quem tens vivido, nem são como os ranhosos de Slytherin. Eles são amorosos e tu vais adorá-los tanto como eles já te adoram a ti! E não tens que te preocupar com nada disso! Se nada do que eu te estou a dizer acontecer, depois dizes-me e eu prometo-te que eles arrepender-se-ão de não te ter feito sentir bem-vinda!



Os olhos esmeralda de Lily brilhavam com lágrimas e ela abraçou-se à sua melhor amiga.



 – Eu não te mereço...



– Não sejas tola!



 



Tinham passado duas horas quando as duas raparigas desceram do seu dormitório para a Sala Comum, encontrando James e Remus no seu caminho para baixo... O moreno de óculos parecia particularmente animado com o começo daquele sábado, já o seu amigo parecia ligeiramente adoentado, o que fez com que tanto Lily como Bella olhassem para ele preocupadas.



– Estás bem, Rem?! – Lily perguntou enquanto James e a morena trocavam olhares cúmplices.



– Ele só está a precisar de fazer uma visitinha à Doces dos Duques... – James respondeu e Remus sorriu ligeiramente.



– O meu suplemento de chocolate acabou ontem... Estou de ressaca, por assim dizer. – Lupin disse.



Todos teriam achado normal que Lily olhasse para os Salteadores com desconfiança, mas hoje era diferente, hoje ela não dirigiu um olhar interrogatório nem a Bella nem a James, apenas sorriu a Remus e depositou-lhe um leve beijo na bochecha, fazendo com que James olhasse para a ruiva boquiaberto.



– Acho que também não me sinto muito bem! – James replicou fazendo o seu melhor ar de doente. – Acho que o Remus me pegou a ressaca... Preciso de um beijo para me sentir melhor...



Bella riu-se em conjunto com Remus enquanto Lily olhou para o moreno com um ar semi-divertido e com as mãos pousadas na cintura, James não sabia se havia de se sentir temeroso perante a atitude de Lilian ou se devia sentir-se confiante de que não iria sofrer uma rejeição. O certo, e o que já todos esperavam, era que Lily iria fuzilar James com o olhar e sairia da Sala Comum com o seu longo cabelo ruivo a baloiçar atrás de si, isso era o que todos esperavam... Isso foi o que a ruiva não fez. Para grande espanto dos Salteadores, Lily esticou-se e depositou um beijo casto na bochecha do Seeker de Gryffindor, depois com um leve sorriso, saiu da torre dos leões como se não fosse nada consigo, deixando os seus três amigos paralisados no meio da sala. Não foi muito tempo depois que Remus e Bellatrix saíram do seu torpor e ambos olharam para James que ainda olhava com um ar espantado para o sítio onde Lilian antes estivera. O modo como o rapaz estava era único, digno de uma fotografia, afinal de contas não era todos os dias que se via James Potter ficar sem palavras e apenas esse conceito era o suficiente para que os dois amigos se desatassem a rir como se tivessem ouvido a melhor piada de todos os tempos.



– Ela beijou-me... – James disse tocando levemente o rosto com a mão. – Ela beijou-me!



O ar incrédulo e as palavras do Salteador foram o suficiente para que Bellatrix e Remus parassem de rir.



– Agora não estragues tudo. – Disse Bella com um tom jocoso, mas no fundo sério.



 



Mais tarde, todos os alunos autorizados saiam da escola, dirigindo-se para Hogsmeade enchendo o ar de conversas animadas e gargalhadas livres. Com o ânimo sentido pelos jovens feiticeiros e bruxas era fácil esquecer o vento frio e as nuvens cinzentas que ameaçavam trazer o primeiro nevão da estação, contudo todos eles pareciam aconchegar melhor os seus cascóis coloridos à volta dos seus pescoços.



O pequeno vilarejo situado perto de Hogwarts vibrava com a alegria dos adolescentes que chegavam para a sua primeira visita mensal, todos corriam para os seus lugares favoritos, sendo os da maioria das crianças a loja de guloseimas Doces dos Duques e a Loja de Brincadeiras do Zonko. As ruas cheias depressa começaram a esvaziar quando a neve começou a cair fazendo com que os jovens fugissem para encontrar abrigo nas diferentes lojas.



– Lily! Bella! – Alan gritou por cima da multidão avistando as duas raparigas que chegavam com os restantes Salteadores.



– Santo Merlin… – Lily sussurrou olhando assustada para o rapaz que lhe acenava da porta do aconchegante pub Três Vassouras.



– Calma, Lils. – Bella disse sorrindo confiante. – Vai correr tudo bem.



– Por favor, vem comigo! – A ruiva implorou à morena, os seus olhos verdes brilhando expectantes.



Bellatrix torceu os lábios, detestava dizer não a Lily, a sua melhor amiga, mas tinha um encontro marcado com Jensen e achava importante aquele encontro em particular. O seu olhar rapidamente se dirigiu para Remus, pedindo ajuda silenciosamente.



– Lily, eu e o James estaremos no bar. – Lupin disse tranquilizando a ruiva. – Se não te sentires à vontade com eles podes sempre chamar-nos que tiramos-te de lá num instante.



A jovem olhou para o rapaz com um brilho esperançoso no olhar. – Juras?



A resposta que ela esperava veio de James para sua grande surpresa. – Palavra de Salteador. – O moreno jurou com um ar solene.



Lilian sorriu-lhe fazendo com que a sombra de um sorriso surgisse no rosto do jovem Potter que ao ouvir novamente a voz de Alan sobre o ruido da multidão pegou na mão da jovem e puxou-a na direcção do bar.



– Diverte-te, Bells! – James disse dirigindo-se a Bellatrix com um tom irónico. – O que o Moony disse à Tiger serve para ti também, Bastet!



Bellatrix sorriu para o primo. – Sim, Prongs! Vão, a Isis detesta atrasos!



Os dois rapazes afastaram-se com a ruiva deixando Bella sozinha no meio da multidão. Para Lily, que avançava com o coração aos saltos junto de James e Remus, não podia haver pior sensação no mundo do que aquela que sentia à figura animada de Alan aproximar-se a cada segundo, poderia até comparar a terrível sensação que sentia no estômago àquela que tinha quando lhe apresentavam uma vassoura ou mesmo quando o Expresso de Hogwarts entrava no túnel que terminava na plataforma 9 ¾, mas não havia motivo para isso, Alan nunca permitiria que lhe acontecesse algo de mal, mesmo na presença dos seus pais e Seth fora tão cuidadoso com ela aquando do incidente com o Sem-Forma… Só então se apercebeu de que aquela terrível sensação se devia ao medo de ser rejeitada por Isis, se havia algo que ninguém – ou quase ninguém – sabia acerca da vida familiar de Lilian era o facto de que a sua própria mãe a odiava e frequentemente lhe lançava olhares repletos de ódio ou lhe dizia palavras cruéis chamando-lhe nomes que cortavam dentro de si feridas profundas.



– Lily. – Alan disse quando finalmente a ruiva o alcançou. – Estás pronta?



Sem encontrar a sua voz, a jovem Gryffindor apenas assentiu com a cabeça, deixando um pequeno sorriso pouco confiante gracejar os seus lábios rosados. Era evidente para James o medo que emanava da sua mais recente amiga, o qual parecia passar despercebido ao jovem MacEvans e o jovem Potter questionava que outro mistério seria aquele que fazia a brava e corajosa Lilian Evans temer um encontro com Isis. O moreno sabia que a prima mais velha de Bellatrix era uma figura impecável, não eram raras as vezes em que um simples olhar da ruiva fazia homens adultos acobardarem-se e encolherem-se nos seus cantos, um dom que pertencia a todas as mulheres da linhagem Black mas não podia ignorar que os olhos da filha de Alphard conseguiam ser penetrantes e intimidantes com a sua profundidade azul.



– Não tenhas medo. – James sussurrou ao ouvido da ruiva enquanto entravam no pub. – E faças o que fizeres ou diga a Isis o que disser, olha-a sempre nos olhos. Mostra-lhe que és sua igual e não inferior. Um sangue-puro nunca desvia o seu olhar de um seu igual.



A ruiva engoliu em seco, nunca ninguém se tinha referido a ela como uma feiticeira de sangue-puro, no entanto, além da surpresa que sentia, sentia-se também grata pelas palavras do jovem futuro Lord Potter.



O bar estava apinhado de pessoas, em todos os cantos se viam estudantes com os seus cachecóis coloridos indicando as respetivas casas de cada um. Era um dia atarefado para Miss Rosmerta que ajudava o seu pai atrás do balcão. O cheiro de bebidas quentes e porções de comida acabadas de fazer enchia o ar e ajudava os nervos de Lily a desaparecerem com o confortável sentimento de familiaridade que aquele ambiente lhe passava.



– Por aqui, Lily. – Disse Alan puxando a ruiva para um canto da sala onde uma belíssima mulher de cabelos ruivos se encontrava.



Lilian reconheceu a ruiva como sendo Isis Black MacEvans, prima de Bellatrix e James. Recordava-se da vez em que Bella tomara o aspecto da mulher à sua frente num esforço para assustar o jovem MacEvans em pleno Salão Nobre, os olhos azuis profundos e intensos como gelo a contrastarem com o rubro flamejante dos seus cabelos eram impossíveis de esquecer, disso estava certa. À distância a que se encontrava da esposa de Seth era difícil distinguir-lhe a cor clara dos olhos, mas a sua tez de porcelana onde um suave rubor salientava as rosetas do seu rosto e a mechas vermelhas do seu cabelo faziam-na sobressair na multidão, não só isso mas também o imenso sorriso que surgiu nos seus lábios perfeitos e rosados quando avistou o filho. Na mente da jovem ruiva, não podia haver criatura mais bela do que aquela que graciosamente se levantava para abraçar Alan e lhe sorria como se já a conhecesse há anos.



– Tu, obviamente, és a Lilian. – A doce voz de Isis conseguiu romper o casulo de pensamentos no qual Lily ficara presa e trazendo-a de volta à realidade, deixando-a sem saber o que dizer. – É um imenso prazer conhecer-te finalmente.



Do outro lado do bar, longe o suficiente do trio para lhes dar privacidade mas perto o bastante para garantir que estariam ao alcance de Lilian, James e Remus observavam a interacção entre as duas ruivas.



– Vão desejar alguma coisa?



James sorriu de modo adorável, o seu típico sorriso quando tentava fazer com que alguém lhe fizesse o que ele desejava. Rosmerta era pouco mais velha que ele e tendo saído recentemente de Hogwarts, conhecia bem as manhas de James Potter e o sorriso do jovem Lord não a afectava nem um pouco.



– Querida Rosmerta! Como vai isso? – James disse com um ar galanteador.



Revirando os olhos, a jovem mulher virou-se para Remus sorriu com simpatia. – Uma cerveja de manteiga e um chocolate quente, se faz favor.



A mulher loira sorriu e piscando o olho ao jovem lobisomem assentiu. – É para já.



Não demorou muito até que o pedido de Remus chegasse e este passou rapidamente a caneca de cerveja ao moreno. Ambos sorveram um longo gole das suas canecas antes de olharem de novo para a mesa onde a jovem amiga ruiva de ambos se sentava com a família MacEvans.



– Se não soubesse que a Lily não é uma sangue-puro… - James disse levando novamente a caneca aos lábios. – Diria que ela e a Isis são mãe e filha.



– São muito parecidas de facto. – Concordou Remus, olhando para a sua caneca de chocolate quente com um ar satisfeito.



Sim, James pensou mantendo os seus olhos postos na ruiva de olhos cor de esmeralda, pois são.



 



– Conta-me mais coisas sobre ti. – Isis pediu num tom educado. – Apesar de o Alan nos ter falado imensamente sobre a tua pessoa, sinto que ainda não te conheço bem o suficiente.



Lily estava confusa, à sua frente estava a mulher mais linda que alguma vez conheceu e, no entanto, Isis queria saber mais coisas acerca da sua insignificante pessoa. O mero pensamento de se expor perante esta lady da alta sociedade bruxa era o suficiente para se encolher de medo, nunca quisera que alguém soubesse coisas sobre si e a única pessoa que realmente a conhecia era Bellatrix.



– Ahn.. Eu não sei o que lhe dizer. – Admitiu de forma acanhada.



– Ora porque não me dizes qual é a tua disciplina favorita? Qual a área que mais dominas? O que queres fazer quando saires de Hogwarts?



Os olhos verdes de Lilian brilharam naquele preciso momento, não havia nada que a deixasse mais orgulhosa de si mesma que não a sua carreira académica, era uma estudante brilhante e não havia ninguém que dissesse o contrário. Ia abrir a boca para falar quando foi interrompida.



– Olá, família. – A voz troante de Seth soou fazendo ambas as ruivas virarem-se para olhar para o recém-chegado.



– Meu amor. – Isis disse erguendo a cabeça para beijar o marido.



– Professor. – Lily disse com um ar particularmente aliviado por ver o rosto familiar do professor.



Alan olhou para o pai, os seus olhos bebendo o ar feliz que este exalava. Não se lembrava de alguma vez o ter visto com um brilho tão forte no seu olhar, exceptuando talvez a vez em que contou a ambos os seus pais sobre Lilian e lhes mostrou a foto da sua melhor amiga. Durante toda a sua vida desejara ter alguém mais velho que estivesse consigo, uma irmã, um irmão, um primo, um amigo,… alguém; nunca tivera tal sorte até conhecer a ruiva que encaixou perfeitamente no cargo de irmã mais velha. Ele não poderia ter pedido alguém melhor.



– Aqui nã precisas chamar-me assim, moça. – O moreno mais velho disse com um sorriso que lhe iluminava os olhos. – Podes tratar-me por Seth apenas.



Havia algo no professor que a deixava confortável e aquele aviso do homem fazia-a sorrir, nunca antes tinha Lily sido tratada com tamanho carinho como aquela família a estava a tratar.



– Meu amor, interrompeste a nossa querida Lily. – O tom adorável de Isis completava o olhar brilhante que ela dirigia à jovem ruiva. – Ela ia contar-nos acerca daquilo deseja fazer quando acabar a escola.



O olhar interessado de Seth recaiu sobre a adolescente que ficou da cor dos seus cabelos fazendo um sorriso gentil surgir no rosto do homem. Desde que chegara a Hogwarts e tivera acesso às informações sobre os alunos, a ficha da jovem Lilian Evans tinha lhe interessado imenso, não apenas porque ela era a melhor amiga do seu filho mas porque quisera conhecer a pequena Evans a nível académico.



– Gostaria muito de saber o que pretendes fazer no teu futuro. – Admitiu ele.



– Bem… Eu não dei muito pensamento a isso até ao último ano. – A jovem admitiu. – Mas gostava muito de ser Medi-bruxa em São Mungus.



Os olhos azuis de Isis arregalaram-se surpreendidos. – És boa a poções, calculo.



– Bem…



Seth riu-se, atraindo o olhar surpreendido de ambas. – Boa? Boa a poções? Oh, meu amor, ela é muito melhor que boa. É uma das mais brilhantes alunas que Hogwarts já viu nesta última década.



Isis virou a sua atenção para a jovem moça que se encolheu envergonhada pela súbita atenção e interesse a ela dirigidos.



– Uma das alunas mais brilhantes de Hogwarts?



– Os professores exageram nos elogios que me fazem. – Disse a jovem. – Sou melhor a feitiços do que propriamente a poções.



A conversa alongou-se durante bastante tempo, Lily sentia-se cada vez mais segura de si junto dos pais de Alan e conversava com eles abertamente, discutindo plantas, feitiços, poções e até arriscando opiniões politicas. Pela primeira vez na sua vida, Lilian Evans sentia-se como se tivesse uma família.


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