Tapeçaria



O silêncio tomava o espaço ocupado pela pequena família Weasley na plataforma 9 e ½ . Rose evitava dizer qualquer coisa se não fosse pensada mais de duas vezes. Certificava-se toda a vez que havia um silêncio assustador de olhar fundo nos olhos de todos e garantir que a culpa do silencio não era sua. Não queria mais olhares como os que a família ou os colegas lhe lançaram. Ela respirou profundamente.


Ainda faltava um bom tempo para que a locomotiva partisse. Segundo o relógio da plataforma, menos de cinco minutos. Tempo que, para uma mente perturbada, era demais. Rose batia a sola áspera das botas quentes no chão de pedra gelada. Tinha as mãos pregadas nos bolsos e o rosto escondido atrás de um cachecol de lã, presente de natal dos avós trouxas.


Hermione procurava se pronunciar menos do que a filha. Ela era menos controlada e apesar de estar preocupada, poderia estragar um momento de ajuda, explodindo a angústia que sentia em seus gritos e frases muito bem elaboradas. Rose rolou os olhos ao ver Hugo correndo para os três com as bochechas vermelhas e a testa suando.


- Lílian jura que veremos dementadores esse ano!


Hermione abafou um sorriso. Como se isso fosse possível.


- Onde? – Rony perguntou.


- Em Hogwarts.


- Você sabe o que são dementadores, filho?


Hugo parou por um segundo, levando a mão ao queixo. É claro que ele não sabia o que eram dementadores, mas deveriam ser algum tipo de criatura que estudaria em Trato das criaturas mágicas. Lílian também não devia fazer ideia do que era um dementador. Era duvidoso que Harry e Gina dessem aulas sobre dementadores aos seus filhos em casa. Na escola, eles não eram citados com frequência.


- Não – Ele admitiu, pensativo. – O que são dementadores?


- Eles eram os antigos guardas de Azkaban. – Rose disse, com a voz muito segura e abafada pelo cachecol. Ela observava a locomotiva. – Eles sugam a energia dos humanos, lhes trazendo as piores lembranças à tona. Também podem tirar a alma de uma pessoa através do chamado “beijo”. Parecem esqueletos usando capas negras e cheiram a carne em decomposição. Parecem se mover como se estivessem na água.


Hugo assentiu com a cabeça, abrindo um sorriso.


- Valeu Rose – Ele disse, chamando a atenção da irmã. – Lílian é uma boba!


- O que? – Ela perguntou, afastando a manta.


- Ele agradeceu pela informação, desatenta. – Rony disse, fechando a expressão. – Como vai prestar os N.O.M.s se continuar sendo distraída assim? Se bem que responder uma pergunta com precisão olhando ao redor merece palmas.


Hermione abriu um sorriso amarelo ao ver o olhar encorajador do marido para a filha. Ela sabia que tinha alguma coisa errada acontecendo. Rose não tinha a menor ideia do que dissera. Estava confusa. Seus olhos turvaram com as lágrimas estranhamente familiares. Ela deslocou o peso para a perna direita, virando-se para longe dos pais, a fim de secar as lágrimas vindas em má hora.


Assustada de repente, ela ouviu a sineta extremamente barulhenta avisando que a locomotiva partiria. De imediato, olhou para o relógio luminoso que acusava onze horas. Finalmente, pensou aliviada, pegando o cesto de Lírio e se despedindo rapidamente dos pais. Não poderia perder o trem. Não podia ficar com a família mais nenhum segundo.


- Voltem inteligentes! – Rony disse, abanando para Hugo que já estava dentro do trem. Ao abraçar a filha, disse num sussurro em seu ouvido: - E você, traga minha filha de volta, por favor.


Rose estremeceu. Rony pode sentir.


- Vou tentar – Ela estava segurando um choro nervoso.


- Você vai conseguir.


Ele sorriu ruidosamente, enquanto a filha adentrava a locomotiva. Rony deteve-se abanando para um trem que já se deslocara o suficiente para que ele não fosse mais visto por nenhum passageiro. Sentiu-se como quando seus irmãos foram para Hogwarts e ele era deixado em casa com Gina à espera de seu ano escolar. Dessa vez a espera seria por alguém. Sua filha.


Rose deitou a cabeça na vidraça da janela do último vagão do trem. Cerrou os olhos, respirando fundo. Aquilo podia ser uma maldição jogada nela, uma azaração, um bruxedo, qualquer coisa. Mas, aquela qualquer coisa tinha que parar de algum jeito.


- Rose? – Chamou uma voz conhecida. Muito bem conhecida. – Tudo bem?


Rose se virou e não teve tempo de dizer nada antes de se atirar aos braços de Scorpius, largando o cesto de Lírio no chão sem hesitar. Estava segura. Finalmente se sentia segura naqueles braços longos e pouco desenvolvidos em termo de músculos. Ela desatou a chorar. Desatou a libertar o choro nervoso que chegara com a resposta imediata da pergunta de Hugo.


- Acho que – Ela começou, reprimindo um soluço. - preciso de ajuda.


Scorpius achou melhor não se pronunciar. Ela não precisava de palavras e muitas vezes atos tinham um melhor resultado do que palavras bem escolhidas. Ela precisava de ajuda. Ele já sabia. Cecília tinha certeza. Não era de hoje que ter uma amiga vidente ajudava. E muito.


A viagem até Hogwarts pareceu demorar mais do que Rose podia aguentar, mas pelo menos a cabine em que estava com Scorpius e Cecília estava apenas ocupada por eles e ficava longe de todo o alvoroço que os alunos faziam. A Weasley estava abatida. Seus olhos estavam cobertos por olheiras profundas, mas ela parecia mais do que bem.


- Está melhor? – Scorpius perguntou no ouvido dela.


Estava sentado no assento largo da cabine com as pernas esticadas e Rose escorada em seu ombro com o corpo estendido ao longo do seu. Ela tinha os olhos fechados. Era provável que dormia.


- Ela deve estar cansada. – Cecília largou o livro que lia e se deteve na amiga.


- Ela não parece bem.


- Ela não está bem, Scorpius.


- Eu sei – Ele confirmou. – Você previu.


- Previ?


- Ora Cecília, você já deve saber que você não é só uma aluna normal – Ele ralhou. – Você é uma vidente, garota! Faz previsões inocentes a cada minuto. No primeiro dia em que nos falamos, você disse para eu ignorar os berradores. No dia seguinte recebi um berrador idiota do meu avô.


- Isso não quer dizer nada.


- Como não? – Ele agitou-se e Rose se mexeu, virando-se. – E a profecia para Rose? – Ela ficou quieta, enquanto ele baixava a voz. – Você sabia que tinha alguma coisa errada.


- Mas, eu só disse palavras sem nexo. – Ela argumentou.


- Para alguém que faz previsões, você é cética, hein? – Ele ralhou, novamente, dessa vez com um sorriso. – Você disse que alguma coisa ruim tinha voltado e que começaria a tortura do escolhido. Rose está sofrendo uma espécie de tortura, Cecília!


- Está dizendo que ela está amaldiçoada?


- Estou.


Cecília franziu a testa, vendo a amiga respirar profundamente, segurando com força a mão quente de Scorpius. Em seu dedo indicador, pendia o anel em forma de espiral, brilhando a medida que a luz da lua cheia entrava pela janela num filete. Scorpius seguiu o olhar dela, e deteve-se no anel, entendendo as desconfianças que brotavam no rosto dela.


 


===


Scorpius espiou o dormitório masculino e depois acenou para que as meninas corressem lá para dentro. Ele não podia ir ao dormitório delas. Rose e Cecília se atiraram na cama dele, enquanto ele fechava as cortinas e pulava para dentro, puxando a varinha e lançando um abafiato ao redor deles. Cecília se recostou aos pés da cama, enquanto Rose encostou-se ao travesseiro do Malfoy.


- O que aconteceu na sua casa? – Ele perguntou, a observando.


- Uma coisa muito estranha – Ela admitiu, franzindo a testa. – O mesmo que aconteceu na aula de Trato das criaturas mágicas. Lançaram a pergunta ao ar e eu de repente a tinha respondido.


- Isso não é bom? – Cecília colocou. – Quer dizer, parece que você está bem preparada para os N.O.M.s.


- O problema é que eu não estou e a pergunta era sobre Horcruxes!


- Cruel – Scorpius adjetivou.


- Não sei como aquilo saiu pela minha boca. Eu não sei o que são horcruxes. Se você me perguntar o que é, eu não saberia responder.


- O que são Horcruxes? – Cecília lançou.


- São objetos provenientes das artes das trevas que partilham a alma em pedaços e os prende em objetos ou pessoas que o autor estima. A cada horcrux, um assassinato cometido pelo autor. Enquanto os objetos ou as pessoas em que as partes da alma do autor estiverem trancafiadas viverem, o autor também viverá.


Rose ergueu os olhos ao ouvir o silêncio depois da pergunta.


- Eu não sei.


- Você acabou de responder – Cecília tinha os olhos arregalados.


- Não – A outra franziu a testa, duvidando. – Não respondi.


- Respondeu sim – Cecília insistiu, se colocou sentada sobre os joelhos.


- Respondeu sim, Rose – Scorpius assentiu.


- Quer ver? – Cecília colocou um sorriso no rosto. – O que são Horcruxes?


- São objetos provenientes das artes das trevas que partilham a alma em pedaços e os prende em objetos ou pessoas que o autor estima. A cada horcrux, um assassinato cometido pelo autor. Enquanto os objetos ou as pessoas em que as partes da alma do autor estiverem trancafiadas viverem, o autor também viverá.


- E a resposta é dita com as mesmas palavras! – Admirou-se. – Novamente?


- Chega Cecília! – Scorpius xingou ao ver o olhar pesado de Rose. – Isso não é brincadeira. É da vida da Rose que estamos falando.


- Eu sei, mas isso é mais do que estranho.


Scorpius sentou sobre as pernas, remexendo nos lençóis nervosamente enquanto tentava encontrar uma resposta no caso da namorada nos conhecimentos que tinha. Era inútil. Ele não tinha conhecimento suficiente para isso. Não conhecia um feitiço eficiente e indolor contra maldições. Se era disso que Rose sofria.


- Falávamos em maldição no trem – Ele disse.


- Estou amaldiçoada?


- É a única explicação.


- A maldição que você falou – Ela sussurrou para Cecília.


- Eu não falei em maldição nenhuma – Ela ergueu as mãos.


- Eu tenho que encontrar o lar da maldição... – Ela refletiu, tentando lembrar das palavras exatas da amiga. – Grandioso, mas assustador.


- Grandioso, mas assustador... – Cecília repetiu, torcendo os dedos.


- Tenho que descobrir quem me amaldiçoou e devolver essa maldição?


- Não quem, – Scorpius corrigiu, hesitante. – mas, o que a amaldiçoou.


Rose franziu a testa. O que a amaldiçoara? Não fazia sentido. Maldições são lançadas por alguém e atingem outro alguém. Coisas não lançam maldiçoes. E de que coisa ele estaria falando?


- Como? – Ela perguntou.


Scorpius não disse nada, apenas lançou um olhar acusador ao anel em espiral que pendia de seu dedo. Por um instante, Rose pensou em não seguir o olhar dele, pois sabia aonde ele chegaria. Não havia nada de errado com o anel. Era dela. Escolhera a ela. O que acontecia com ela era algo mau. O anel não seria mau com ela.


- Como? – Perguntou novamente, fingindo não entender.


- Seu anel – Cecília concluiu.


- Não há nada de errado com meu anel.


- Quem garante?


- Eu – Rose esganiçou-se. – Ele me escolheu! Ele é bom comigo!


Scorpius rolou os olhos para Cecília. Agora tinha certeza do que se tratava. Rose tinha que tirar aquele anel, de um jeito ou de outro. Ele usaria a força se fosse preciso.


- É o anel – Ele disse para Cecília, agarrando a mão de Rose, forçando uma retirada do anel. – Ela fala dele como se ele fosse uma pessoa.


- Ele não é mau, Scorpius! – Rose choramingou, afastando as mãos dele.


- Ele está fazendo isso com você, só pode!


- NÃO É ELE! – Rose gritou, cuspindo as palavras rapidamente.


Scorpius encarou seus olhos, franzindo as sobrancelhas. Ela estava histérica. Merecia um tapa no rosto para se acalmar, mas o máximo que ele conseguiu fazer foi agarrá-la e lutar para chegar aos seus dedos, enquanto ela tentava afastá-lo atingindo-o com as unhas. Cecília encolheu-se, vendo a luta.


Scorpius a deitara, segurando suas pernas com as suas próprias e afastando a mão dela com uma das suas, enquanto a outra lutava para chegar ao anel. Rose berrava palavras sem sentido. Cuspia as palavras de baixo calão no rosto dele, tentando distraí-lo. Não funcionou. Pelo menos, não até a hora em que ele se virou para pedir ajuda para Cecília.


Rose libertou uma das mãos e o atingiu em cheio no rosto. A marca vermelha de seus dedos estava colada na face muito pálida dele. Suas unhas o atingiram na investida, o deixando com rastros de arranhões. De um dos arranhões fundos, um filete de sangue escorria. Scorpius estava estático. Colocou a mão sobre a marca.


- Ela só pode estar louca! – Ele vociferou, muito irritado.


- Louco está você se acha que pode tirar esse anel de mim!


- Eu vou tirá-lo de você, garota!


- Não vai!


Rose gritou se levantando, tentando sair da cama, mas ele a segurou e a colocou deitada novamente. Sentia os machucados em seu rosto latejando, mas a dor não chegou até sua consciência. Rose precisava de ajuda. Dessa vez, sem tirar os olhos de Rose, ele clamou por ajuda de Cecília.


- Você pode me ajudar?


Só pode ouvir a voz arrastada de Cecília dizer uma palavra. Uma palavra que caiu como um tijolo na cabeça dele, o fazendo despertar para uma verdade. Uma palavra que o levou para o sétimo andar da escola, onde achava ter encontrado a solução.


- Ravenclaw.


- Ravenclaw – Ele repetiu, abrindo um sorriso. – Ravenclaw!


Scorpius segurou os pulsos de Rose com toda a força que conseguiu encontrar. Com certeza, ela ficaria com belas marcas roxas no lugar. Como explicaria aos pais dela o uso de força com ela e inclusive machucados nos pulsos, ele não sabia. Tudo pelo bem estar dela, repetiu para si mesmo, como se isso o ajudasse a tirar o peso da consciência.


- O que tem Ravenclaw? – Cecília perguntou, o acompanhando, enquanto ele puxava Rose para fora da cama pelos pulsos doloridos.


- Você acabou de me iluminar as ideias, Cecília.


- Quer dividir a iluminação? – Ela não precisava de confirmação.


- Sétimo andar da escola – Ele disse, irrompendo o corredor com Rose lutando contra a força dele. A menina forçava os pulsos enquanto soltava grunhidos estranhos. Pelo menos ela não estava gritando. – Último corredor na última entrada a direita do último corredor comprido ao sair da última escada que leva ao sétimo andar.


- Hã? – Cecília franziu o cenho, abrindo caminho entre os alunos que estavam no salão comunal. – Pode simplesmente me dizer o que pensou?


- Eu não pensei. Estava lá o tempo todo.


- O que está fazendo? – Perguntou um menino.


- Ela está tendo um ataque – Cecília tentou mentir, mas aquela era a verdade.


- Estão a levando aonde?


- A enfermaria, onde mais seria? – Essa era uma mentira e ela se saiu muito bem.


Eles saíram pela porta da sala comunal sem mais infortúnios. Seria um caminho curto até o sétimo andar que não era longe dali. Scorpius ergueu Rose e a colocou no ombro. Ela estava mais leve. Ele podia sentir os ossos das costelas dela em contato com sua clavícula. Tinha algo a ver com as refeições muito leves que ela fazia. Quase não comia.


Scorpius seguiu muito rápido pelas escadas, encontrando o último corredor da última entrada do último corredor comprido da última escada que levava ao sétimo andar em minutos. Ele não parecia cansado, mal arfava. Cecília se arrastava atrás dele, sem achar fôlego para perguntar se haviam chegado.


O final do último corredor reservava uma tapeçaria muito bonita. Media uns dois metros e na imagem nela reproduzida mostrava quatro pessoas retratadas em uma cena de seu dia a dia. Scorpius parou em frente a ela, largando Rose ao chão, ainda a segurando pelos pulsos.


O coração de Cecília pulou ao chegar mais perto. No canto esquerdo da representação, uma mulher esguia, se longos cabelos escuros e usando um bonito e comprido vestido azul escuro exibia a mão direita sobre o ombro, sorrindo para os outros três amigos. Em sua mão, pendia um anel em espiral.


- Ravenclaw – Scorpius sibilou. – Anel de Ravenclaw.

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Comentários (2)

  • tamires wesley

    eita q a soluçao ta baixando neles..isa ai..\0/..kkkkk to adorando..;)

    2012-07-27
  • Lana Silva

    - Ravenclaw – Scorpius sibilou. – Anel de Ravenclaw. Nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa muiiito legal...cada capitulo melhor...

    2011-09-27
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