Hogsmeade



No meio de dezembro, Rose recebera uma carta de sua mãe. Era a primeira carta que ela recebia da família naquele ano escolar. A família estava quieta; pelo menos com ela. Era de se esperar que eles ficassem chateados com suas ‘companhias’, mas ignorá-la era demais. Abriu a carta enquanto o salão comunal se esvaziava.


- Vou dormir – Cecília anunciou, por entre um bocejo.


Ela parecia ter esquecido sobre o fato de ser uma vidente de verdade. Suas pequenas previsões do dia a dia estavam escassas. As conversas com Cecília estavam escassas. Ela estava quieta. Parecia preocupada. O que colocou na cabeça de Rose que talvez ela ainda não tivesse esquecido a previsão. O que não era de se surpreender.


- Boa noite – Rose desejou, com o rosto enterrado na carta comprida.


À medida que seus olhos desciam pelas linhas e assimilavam cada palavra, sua boca se abria e seus olhos se arregalavam. A carta não era um convite e muito menos uma carta de família que pedia que seu filho voltasse, era uma intimação. “Você virá para casa nas festas”. Dizia um trecho na letra caprichada de Hermione.


- O que houve? – Scorpius perguntou, se aninhando ao lado dela.


- Minha mãe está me intimando a passar as festas em casa!


- Ao lado da família – Scorpius refletiu. – Isso é ruim?


- Muito!


- Rose, é a sua família.


Rose bufou.


- Só porque não é você que tem que aguentar aquela gente.


- Credo! – Ele exclamou, segurando o rosto dela com as mãos e tocando os lábios dela com os seus, devagar.


- Assim você me mata – Ela sussurrou, largando a carta amassada.


- Eu fui devagar...


- Exatamente.


Rose sorriu, colocando as pernas sobre o sofá, as apoiando sobre as pernas dele. As mãos dela seguraram o rosto dele com delicadeza, mas em seus olhos se via uma expressão de desejo. Scorpius mordicou o lábio inferior, levando os olhos até os lábios dela.


- Vai me mostrar como é? – Ele instigou.


Rose sorriu e encostou os lábios de leve nos dele. Pressionando com cuidado e com toda a delicadeza que conseguiu encontrar dentro de si. Aos poucos separou os lábios e Scorpius o fez também, hesitando. Ela tomou movimentos mais ousados, apertando os lábios dele contra os seus. A menina cerrou os olhos e deixou as mãos rolarem do rosto dele para o pescoço e assim chegando ao peito dele, traçando cada linha com os dedos.


- Mmm – Ela incitou, com os lábios nos dele.


- Eu tento – Ele disse, com dificuldade.


Rose subiu as mãos novamente, as pendurando no pescoço dele, percorrendo o caminho de linhas nos pontos das costas dele que conseguiu alcançar. Seus lábios o capturaram forte, mas com uma leveza igual. Ela sentiu o respirar quente e rápido dele chegar ao seu rosto, enquanto suas mãos, nas costas dele, pressionavam as pontas dos dedos num arranhar leve.


Scorpius pressionou os lábios e segurou a cintura dela com força, a puxando mais para perto de si, sentindo o bater mais forte do coração dela. O beijo se tornou urgente e as respirações mais profundas e cheias de dificuldade enquanto os corpos tremiam numa resposta. Ela sentia que o corpo dele se projetava por sobre o seu enquanto percebia que o seu próprio se inclinava para o sofá.


Rose afastou o rosto, forçando a si mesma uma parada.


- Boa noite – Ela sussurrou, sem fôlego.


Scorpius torceu os lábios, franzindo as sobrancelhas. A menina tirou as pernas de cima do sofá e juntando a carta de sua mãe do chão, tomou seu rumo para o dormitório. Devia ser tarde porque o salão comunal estava vazio e a manhã seguinte prometia um passeio gelado até Hogsmeade. Scorpius respirou fundo, tentando se recuperar, jogado no sofá em frente ao fogo.


 


===


Rose acordou disposta, respirando fundo ao se espreguiçar na cama de cortinas azuis fechadas. Tinha se acostumado a dormir com as cortinas fechadas. Assim, sua privacidade se fazia presente. O dormitório feminino da Corvinal parecia ser um dormitório de qualquer quartel de exército, apenas sem os beliches. Alunas amontoadas em um cômodo redondo, iluminado pelas várias janelas.


Rose abriu bem os olhos depois de se lavar. Fechou o casaco preto e simples até o pescoço, ajeitando o cachecol de lã colorida pelo decote do agasalho de fecho que usava por baixo. Amarrou os cadarços dos tênis, enquanto Cecília terminava de ajeitar os cabelos em uma trança puxada para trás pelas frequentes tiaras de tecido colorido.


- Está bom assim? – Ela perguntou, virando-se de frente, enquanto Rose conferia o dinheiro dentro da bolsa.


Rose confirmou e ela lançou um sorriso irônico. A autoestima de Cecília era muito baixa. Depois de passar quatro anos escondida entre os alunos menos conhecidos da escola, ela finalmente estava se libertando. Fazia questão de deixar clara sua opinião, mantinha o queixo para cima e cuidava mais de sua aparência. Não precisaria de tudo isso para ser a pessoa incrível que ela era, mas isso a fazia sentir melhor.


Elas desceram para o pátio da escola, fechando os olhos para o frio que tomava o pátio. A neve cobria o chão, dificultando a passagem dos alunos. Cecília escorregou por duas vezes. A sola de seus tênis era lisa, o que resultava num perigo naquele tipo de terreno. Rose usava tênis ásperos.


- Olá! – Scorpius vinha ao longe, com a mão erguida num cumprimento.


Ele sorriu ao encarar o rosto rosado de Rose. Rosado por culpa do vento gelado que batia em suas bochechas. Ele se abaixou para beijar seu rosto discretamente, olhando ao redor. Usava um casaco que lhe chegava aos joelhos, de um azul muito escuro, o que evidenciava o pálido de sua pele e o louro muito claro de seus cabelos.


- Pronto para a última visita a Hogsmeade esse ano? – Cecília perguntou.


- Não sei – Ele riu.


- Vamos aonde? – Rose perguntou, observando enquanto a diretora recolhia as autorizações dos alunos mais novos.


- Vocês, eu não sei, mas eu – Cecília apontou para si. – vou ao três vassouras.


- Sozinha?


- Melhor do que acompanhar os namorados...


- Ninguém sabe disso – Scorpius disse baixo.


- Você acha que não? – ela franziu o cenho. - Porque vocês não vão ao Madame Puddifoot?


- Que diabos é isso?


- Um lugar especial para encontros românticos. – Cecília bateu os cílios, irônica.


Rose soltou uma gargalhada. Apenas pelo nome ela tinha uma ideia do que os encontraria assim que entrasse pela porta do tal Madame Puddifoot. A remetia a lugares desprovidos de luz natural ou artificial e em que se tocava música romântica infestada de piano e violino. Scorpius abriu um largo sorriso ao refletir sobre aquilo.


- Eu sou romântico-brega. – Ele comentou, por entre risos, apontando a fila que agora se formava para as carruagens cobertas pela neve branca.


- Está brincando?


- Vamos apenas visitar, Rose.


Seria uma tortura, mas pelo menos estaria quente. Com o frio que fazia, Hogsmeade inteira estaria ocupada pelos estudantes se amontoando atrás de calor. Eles pegaram a carruagem juntamente com a garota que chamara Rose para resolver o caso de Cecília.


- Você ficou bem depois daquilo? – Ela perguntou, preocupada.


- Sim – Cecília foi curta.


- Eu fiquei assustada.


- Imagino.


- Sério! – A menina hesitou a falar. - Você é vidente, mesmo?


- Não sei ao certo – Cecília fitou o nada.


- Seus olhos mostravam isso.


- Como você pode saber?


- Firenze nos contou como as previsões das Sibilas funcionavam – Ela comentou sua aula de adivinhação, que Cecília já havia cursado. A menina estava no terceiro ano. – E você se encaixa na descrição.


Cecília encarou a estrada, sem dizer mais nada pelo resto do caminho, o que obrigou a menina a calar a boca. Cecília não precisava de uma novata lhe dizendo o que era. Ela já sabia que era uma vidente como a Sibila de Cumas, como sua tia e como a tataravô da tia.


- Achei que você fosse saltar no pescoço dela – Rose comentou.


- Eu também.


- Lotado. – A Weasley olhou através da janela do Três Vassouras.


- Madame Puddifoot? – Scorpius disse, rindo.


- Nos vemos no almoço. – Cecília saudou, cumprimentando umas meninas da Lufa-Lufa ao longe. Ela tem outros amigos, Rose observou em seus pensamentos.


 


===


Dentro do Madame Puddifoot estava quente e convidativo. Tudo ali cheirava a incenso de rosas. Não apenas a incenso de rosas, mas cheirava a incenso de rosas, poeira e um romantismo há muito esquecido. Parecia que aquela sala arredondada e mal iluminada tinha saído de um romance. As mesinhas eram pequenas, redondas e cobertas com toalhas brancas rendadas.


- Alguma palavra? – Scorpius perguntou, notando as observações dela.


- Susto.


Ele riu. Havia muitas mesas cobrindo o salão. Algumas delas eram coladas à parede e contavam com bancos inteiros colados a parede também. Rose apontou para uma mesa a um canto de onde se era possível enxergar o fluxo de entrada e saída e também o balcão onde eram exibidos os produtos.


Rose tirou o casaco pesado, largando-o sobre o banco fofo. Ela alargou o cachecol no pescoço, observando a decoração. A única janela era grande e tinha escrito em letras garrafais: “Casa de Chá Madame Puddifoot”. A iluminação artificial era precária. Havia lustres estrategicamente pendurados no teto, muito longe das mesas.


O lugar aparentava estar vazio, pela escassez de vozes. Apenas se podia ouvir a música infestada de piano e violinos como ela deduzira. Olhando com mais atenção, podia-se notar que havia mais casais no local. Alguns perdidos em beijos, outros apenas conversavam. Scorpius reprimia risos, olhando ao redor.


- O que? – Ela disse, sorrindo.


- Você deve estar adorando esse lugar...


Rose rolou os olhos, rindo. Uma menina vestindo um avental cor de rosa, veio os atender com um bloco de papel amarelado e um sorriso no rosto gorducho.


- O que vão querer?


- Um café – Scorpius pediu.


- Um chá – Rose encarou o balcão. – Biscoitos amanteigados também.


A garota saiu em disparada para o balcão, ainda anotando os pedidos. Uma senhora de rosto muito fino, agitou a varinha, mandando até eles os pedidos já prontos em um toque de varinha. Magia poupava trabalho, mesmo.


- Scorpius? – Rose chamou, enquanto ele tomava um gole de café. Ela baixou a voz. No silêncio da sala, parecia que ela estava gritando. Ele ergueu a cabeça, atencioso. – Nós somos – Ela hesitou, mordiscando um biscoito. - namorados?


- Não somos? – Ele perguntou, apertando os olhos.


- Somos?


- Podemos ficar nisso o dia todo. – Ele achou graça. – Somos.


Rose se aproximou, pousando os lábios já urgentes nos dele. Sentindo aquela tensão lhe atingir novamente. Não ligou que a sala estivesse cheia de gente que poderia conhecer seus pais. Estava apenas querendo aproveitar o momento.


- Oun – Ela ouviu alguém grunhir. – Que lindos!


Levantou a cabeça para encarar Tiago, com um casaco fechado até o pescoço e o sorriso constante iluminando o rosto. Ele trazia pela mão uma menina oriental, de cabelos muito escuros e presos em um coque no alto da cabeça. Ela era muito bonita.


- Tiago! – Ela exclamou, se afastando.


- Calma – Ele levantou as mãos. - Eu não sou o Hugo.


         Tiago piscou o olho direito e guiou a menina oriental para uma mesa ao lado da de Rose. A menina sentou de bom grado, tirando o casaco e ajeitando o cachecol. Tiago se voltou para a prima.


- Não conto de você, se você não contar de mim.


- Você está no último ano da escola - Rose rolou os olhos. –, e namora escondido?


- Essa é a Ami – Ele apresentou e a menina levantou a mão, sorrindo.


- Prazer.


- Ela é filha da Cho. – Ele disse, por entre dentes. – Ex-namorada do meu pai.


- Explicado.


Rose piscou o olho e se voltou para Scorpius, enquanto os outros dois se perdiam em lábios e saliva. Rose terminou se chá e mordiscou o último biscoito da tigela.


- Você ainda usa – Ele apontou para o decote do casaco dela, surpreso, de onde pendia o colar que ele lhe dera.


- Para sempre – Ela disse, se aproximando dos lábios dele.


- Mesmo que sua mãe vire exterminadora de comensais da morte juniors?


- Isso nunca aconteceria. – Ela sorriu. – Ela me faria matar o tal comensal júnior.


- Você mataria?


- Não do jeito que ela iria querer.


Rose mordeu o lábio inferior, com os olhos pregados nos lábios dele.

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Comentários (2)

  • tamires wesley

    oowwwww...q lindooooooos.. muito bom esse capitulo..rose diferente??..estranho..kkkk \0/

    2012-07-27
  • Lana Silva

    Tô curtindo muiiiiiiiiiiiito Rose cada dia mais possuida...*--------*

    2011-09-27
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