Que diabos era aquilo?



Que diabos era aquilo?


De 3:00 da tarde até 4:00 da tarde



Luna estava deitada na cama, olhando fixamente para o espaço. Não havia mais nada a fazer.


Ele parecia ter adormecido. Estava sentado no chão, suas costas contra a parede, pernas esticadas na sua frente, o queixo repousando no seu peito e seus olhos estavam fechados a mais de vinte minutos. Ao menos o corte na cabeça dele tinha parado de sangrar.



Ela tremeu. Estava frio. Ela puxou o cobertor, mas haviam tantos furos nele que ele pouco aquecia. A cama estava úmida. Tinha certeza de ter visto traças andando pelo canto do colchão quando ela puxou o cobertor para se deitar. Ela olhou para a janela.



“Ela devia ter ido para casa na Páscoa.”pensou ela com tristesa-A última vez que ela havia visto o pai tinha sido no Natal. Por que ela não foi para casa na Páscoa? Gastar todo meu tempo livre revisando para os NIEMs, patético!” Se ela soubesse o que iria acontecer, que Voldemort iria atacar antes dos exames, ela teria ido para casa.


O Natal pode ter sido a última vez que ela viu seu pai. Para sempre... Ela engoliu em seco.


Agora talvez ela nunca mais tivesse a chance.


A qualquer momento ela poderia vir a estar ...- Não pense nisso. Não pense nisso.” Ela se repreendeu.
Ela se virou para olhar para Draco. Sua cabeça havia se movido e ela podia ver um lado do seu rosto.
Será que ele estava tão apavorado quanto ela? Teria ele o mesmo temor do que poderia acontecer a eles...


Por um pequeno instante ela ficou em dúvida, pensando se ele mudaria de lado, suplicando uma aliança com Voldemort a fim de salvar sua pele. Não seria surpresa nenhuma se tratando de um malfoy mas, de alguma maneira, ela achava que não.



Ao invés de levantar-se, ela continuou olhando para ele, estudando seu rosto.


Ele tinha um semblante de paz enquanto estava dormindo. Quase como um pássaro adormecido. O desenho de seu rosto era perfeito. Seus lábios finos... não eram exatamente convidativos a um beijo afinal ele era um malfoy, mas...


Os olhos dela percorreram o pescoço, visível enquanto sua cabeça pendia para o lado, o sangue pulsando sob a pele pálida. Seria essa uma zona “perigosa”? Se ela passasse a língua sobre aquele pedaço de pele, beijasse e sugasse seu pescoço... será que ele se contorceria e gemeria de prazer?


Seus olhos vagaram mais para baixo, se concentrando no espaço deixado pela abertura da capa, seguindo a fila de botões na sua veste negra.

Imaginando quantos botões haveriam nas suas calças e quão rápido eles poderiam ser abertos por outra pessoa, que não ele, sem usar magia. E enquanto ela apertava a mão entre as próprias coxas agora quentes, ela pensava em como ele seria atrás de todos aqueles botões.


Olhando para o seu rosto outra vez ela fez com que sua cabeça ficasse alinhada com a dele.

Então era assim que ele pareceria se um dia ela estivesse ao lado dele na cama.- pensou ela satisfeita com a visão- Sabendo que aquilo era uma coisa boba e infantil, mas querendo manter sua mente longe de pensamentos pessimistas, ela se imaginou em uma cama de casal, sua cabeça recostada em um travesseiro fofo e seu corpo aconchegado ao dele.

Então ela iria acordar depois de uma maravilhosa noite de amor e assim que seus olhos abrissem ela veria o rosto dele no travesseiro, relaxado, feliz e adormecido ao seu lado...



Seus olhos realmente se abriram e ela olhou em direção a ele a fim de trazer um toque de realidade a sua fantasia...mas o encontrou acordado, olhando diretamente para ela.


Com um gritinho abafado ela se sentou na cama.
Seu rosto estava queimando. “Oh, céus, que constrangedor...”pensava ela desviando do olhar intrgado dele.





__ Por quê o grito Loovegood?- perguntou ele arrastadamente, quase entediado. Ela não respondeu, prefiriu admirar o alto teto da cela.


“Ele não deveria ter olhado tão fixamente para ela, mas quando ele abriu os olhos e a viu adormecida na cama... ela parecia tão tranqüila, tão bela, como em um conto de fadas. Possuía uma expressão feliz e de expectativa... ele pode ver o suficiente em seu rosto para saber que seu sonho era um sonho doce. Daria tudo para saber quem era o sortudo que estava lá, no sonho dela, com ela”.





Ela se levantou e agora cruzava o aposento em passos largos. Ele olhou para ela e a encontrou com os braços cruzados sobre o peito, inclinando-se para frente, como se estivesse sentido dor. Seu rosto estava muito vermelho.



__ Lovegood, você está bem?- ele perguntou.
__ Malfoy se preocupando com uma reles lufa-lufa?- perguntou ela irônicamente, tentando se distrair para não pensar no que estava sentindo.


__ Não seja tola Lovegood- disse ele secamente- Fale logo, o quê você tem?


__ Eu apenas...apenas...ah! Eu preciso fazer xixi.- disparou ela sentindo o rosto corar ainda mais.


__ Precisa...? Ah, sim, claro.- disse ele polidamente- Isso pode ser um problema.


Os olhos dele correram ao redor da sala e encontraram o penico no canto. Ele apontou para lá.


__ Sim, eu sei que ele está lá...- ela disse num quase gemido- mas...mas..você também está. Eu gostaria de alguma privacidade.



Ele a encarou. Viu claramente o desespero dela mas...


__ Senhorita Lovegood, nós estamos trancados em uma cela de três-por-três, aonde você sugere que eu vá?


__ Eu sei, mas...


__ Ou talvez você esteja imaginando que o guarda lá fora irá permitir que eu saia um momento enquanto a dama se alivia?_ interrompeu ele debochando.
Ele viu os olhos dela se encherem de lágrimas e pela primeira vez na vida se arrependeu de ter sido tão cruel.- Eu fecharei os meus olhos- ele afirmou.


__ Isso não é o suficiente.- disse ela sem jeito- Você terá de virar de costas também.


__ Eu posso garantir que não irei espionar a senhorita.


__ Eu não me importo. Vire de costas.- disse ela exasperada.Com um suspiro ele fez como lhe era pedido.- E coloque suas mãos sobre seus ouvidos...- Emendou ela- Com outro suspiro ele também fez isso.


__ Você ainda pode me ouvir?- perguntou ela.


__ Não.


__ Cante.


__ O que?- e ele se virou para ela com incredulidade estampada no rosto.


__ Cante. Assim eu saberei que você não pode me ouvir.- disse ela rapidamente.


__ Lovegood, eu nunca cantei na minha vida.


__ Bem..., mas....por favoooor.


Ela parecia desesperada. Com relutância ele deu as costas para ela outra vez, fechou os olhos, pôs as mãos sobre os ouvidos e cantou a pri,eira música que lhe veio a cabeça.


Um pouco depois ele sentiu um tapinha em seu ombro. Ele se virou para olhar para ela.


__ Que diabos era aquilo? perguntou Luna com um ar divertido.


__ Apenas uma música...


__ Chamada...?- incentivou ela


__ E isso importa?- ele não ia contar a ela. Era apenas uma canção que ele havia arrancado da sua memória, isso era tudo. Ele não sabia porque aquela música em particular havia aparecido, mas era isso. Tinha sido uma coisa aleatória. Completamente aleatória.


__ Responda...


__ Eu não me lembro”, mentiu ele.


__ Ok. De quem é, então?


__ Lovegood...- ele disse cansado da discussão.

__ Vamos lá... de quem é?- insistiu ela. Ele suspirou.

__ Marvin Gaye

__ Muito bem!- ela sorriu e depois franziu as sobrancelhas.- Ei, eu acho que já ouvi falar dele...


__ Jura...- respondeu ele sem interesse.


__Ele... é um cantor trouxa?!


__ Sim- e ele viu as sobrancelhas dela se levantarem em surpresa.- Todos nós fazemos coisas estranhas na vida lovegood...


Ela riu enquanto se sentava ao lado dele, as costas apoiadas na parede.


Ele sorriu por dentro. Ele tinha de admitir que o som da risada dela era delicioso. Se ele tivesse de descrevê-lo ele diria que eram ‘bolhas’. Mas não bolhas de sabão, e sim daquelas que você encontra em um champagne muito caro. Um champagne com o qual você se embebedaria com prazer.


__ E então...- continuou ela com um olhar maroto.- Qual era o nome da música?


Ele sentiu seu interior revirar. Ela o estava provocando?


__ Eu já lhe disse, eu não lembro.


__ Você lembra, sim....- A voz dela era leve e divertida. Aquilo não deveria seguir adiante.


__ A senhorita está ultrapassando o limite da familiaridade...


__ Eu sei..... mas nós podemos estar mortos amanhã. Eu apenas quero diminuir nossa angústia.



Fez-se um silêncio pesado que durou um longo tempo. Ambos ficaram olhando para a janela enquanto o sol se punha.


__ O que você acha que está acontecendo lá fora?- ela murmurou.


__ Eu não me atrevo a pensar- ele respondeu pesadamente.



Ela tremeu ao seu lado e ele percebeu, com grande constrangimento, que ele estava envolvido em um manto enquanto ela vestia praticamente nada.
Rapidamente ele abriu o fecho do manto e o tirou, colocando-o sobre os ombros dela e a envolvendo nele.


Ele sabia que não precisava prender o fecho para ela, mas ele descobriu que queria fazê-lo. Estava consciente do olhar que ela lhe dirigia enquanto ele ajustava a gola do manto, garantindo que ficaria de pé, protegendo o pescoço dela.


Ele terminou e olhou novamente para ela.


__ Obrigada- ela sussurrou olhando diretamente para os olhos dele. Um sentimento desconhecido o aqueceu, como se por um momento a risada borbulhante dela estivesse dentro dele.





Que diabos era aquilo?

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