Rivalidades



Um dos desejos mais secretos de Scorpius Malfoy era que a quinta-feira daquela primeira semana de aula não chegasse rapidamente. Para todos, ele tentava parecer tranqüilo e relaxado em relação ao fato de ter como professor o próprio pai, mas por dentro ele estava muito agitado e sem saber ao certo como se comportaria.


Ele acreditava que seu pai julgava essa informação obvia, por isso não compartilhara com ele. Draco sempre esclarecera as coisas para Scorpius sem que o garoto tivesse que sequer perguntar.


O loiro pensara em se abrir com Albus, cujo padrinho era o professor Longbottom. Mas o menino parecia ter tanta tranqüilidade em lidar com o fato de um dos melhores amigos de seus pais ser seu professor que Scorpius ficou com receio de falar com o amigo este julgá-lo idiota por sua dúvida.


Albus conhecia os temores de Scorpius, pois ele mesmo os tivera quando descobriu que o próprio padrinho seria seu professor de Herbologia em Hogwarts e era o diretor de Gryffindor, a casa para a qual todos esperavam que ele fosse selecionado.


Mas o moreno, que nada tinha da timidez de Scorpius, perguntara ao padrinho na primeira oportunidade que tivera. E Neville apenas disse que ele devia chamá-lo de professor apenas durante as aulas para não chamar atenção sobre a proximidade entre os dois e não causar a impressão de que ele tinha alunos favoritos, mas Albus poderia chamá-lo sempre que precisasse de algo, mesmo que não tivesse relação alguma com a sua matéria.


Albus acreditava que Draco Malfoy diria o mesmo ao filho, mas o menino não quis mencionar isso ao amigo, pois não queria admitir para Scorpius que sua preocupação estava evidente, pois ele sabia que o deixaria o amigo ainda mais nervoso.


Amanheceu um dia claro na quinta-feira. Albus viu que Scorpius estava acordado e olhava pensativo para a janela sem realmente enxergá-la. O menino percebeu que os Scamander estavam dormindo em suas respectivas camas pelos roncos que preenchiam o dormitório dos alunos do primeiro ano.


- Bom dia, Pery! O que está fazendo aí? – Perguntou Albus se sentando na cama.


Scorpion e Albus haviam decidido que seus nomes pareciam muito sérios para eles, então decidiram que se chamariam por apelidos mais descontraídos. Albus sempre fora chamado de Al em casa e gostava muito daquele apelido, além do mais, o garoto não queria se desfazer completamente do nome que mais orgulhava possuir. Scorpion, por outro lado, era chamado de Cop por seus pais, mas odiava aquele apelido ridículo, por isso inventara Pery, que derivava de seu segundo nome, Hyperion.


- Oi, Al. Estava pensando nas aulas. A aula de Defesa Contra as Artes das Trevas vai ser a primeira aula que teremos com o pessoal da Gryffindor. Sua prima vai estar lá, não é?


- Verdade, cara.


Rose andava evitando Albus desde a seleção. O garoto também não tentara arduamente uma aproximação, pois não se importava com o que a prima pensava dele. Nunca tivera muita amizade com Rose, apesar de ambos terem a mesma idade. Mimada por seu pai, Rose só era castigada quando sua mãe conseguia interferir, o que acontecia com freqüência, mas não sempre que deveria. O que colocara um fim em qualquer possibilidade de amizade entre Rose e Albus fora uma provocação.


Quando ambos tinham seis anos, Rose acusou Albus de ser um aborto, pois ele ainda não havia revelado sinais de magia. O menino ficara tão furioso que perseguiu a prima por toda a casa, mas a garota corria muito mais que o moreno e estava escapando. Então, em um acesso ainda maior de fúria, Albus fez brotar no rosto dela bolinhas cor de rosa.


O pai da garota chegou com ela em prantos dizendo que Albus tinha feito aquilo por nada e gritando que era odiada pelo primo. Isso rendeu um castigo severo para o menino, que só saiu do sofá quando seu pai chegou para buscá-lo, pois Hermione não estava em casa para ouvir Albus antes de castigá-lo.


Harry clareou a mente de Ron, dizendo que bruxos menores de idade não usavam magia à toa, pois não sabiam controlá-la a ponto de utilizar quando quisessem. Albus provavelmente fora provocado. A briga entre os dois pais teria rendido em um duelo se Hermione não tivesse chegado naquele exato momento e conversado com Ron, convencendo-o que Harry estava certo.


Albus riu quando Hermione disse que havia comprado chocolate para as crianças no caminho de casa, mas não daria para Rose por causa da provocação e da mentira. A menina ainda ficaria dois meses longe de sua vassoura de brinquedo.


Apesar de Hermione ser severa e não deixar os filhos se livrarem facilmente deles, o castigo não saiu exatamente como planejado por ela, pois Ron deixava a menina usar a vassourinha enquanto a mãe não estava em casa.


- Será uma grande jogadora, - dizia Ron sorrindo e vendo a filha voar rapidamente entre os pequenos aros improvisados pelo pai, enquanto Hugo, irmão mais novo de Rose, e Albus tentavam, em vão, lançar a goles dentro deles, - jogará na posição de goleiro, como eu, e será brilhante!


E Albus não queria dedurar o tio, de quem gostava muito. Além do mais, gostava de jogar quidditch com os primos. O menino gostava muito de Hugo, que seria calouro em Hogwarts no ano seguinte. No dia do castigo pelo feitiço lançado contra sua irmã, Hugo se sentou ao lado de Albus e, juntos, planejaram o que fariam com Rose quando todos estivessem em Hogwarts longe dos olhares do pai super protetor. Desde então, eles se tornaram grandes amigos.


 Hugo também lhe escrevera uma carta, que fora anexada junto à de Harry, que Albus recebera no dia anterior.


E ai, Al?


Slytherin, cara. Puxa, não podia ser Ravenclaw, como o Teddy, ou Hufflepuff, como a Victoire? Mas tudo bem, já estava na hora de alguém legal entrar nessa casa.


Só queria dizer para não escutar o que seu irmão e minha irmã falam. É irado você ser o primeiro Weasley em gerações a vestir as cores de Slytherin. Se eu também for um Slytherin, poderemos entrar para a equipe de Quidditch juntos. Até imagino, eu, o melhor artilheiro de Hogwarts, e você, o melhor apanhador.


O tal do Malfoy deve ser um cara legal. Prometa-me que vai me apresentar ele, seu pai disse que o chamou para passar as férias de Natal com a gente.


 Ele joga quidditch também? Papai disse que o professor Malfoy, pai do seu amigo Malfoy, era apanhador. Tomara que ele não jogue na mesma posição que você, porque assim ele nunca entraria no time. Ninguém ganha de você em uma corrida pelo pomo. Quer dizer, ninguém a não ser o James, mas isso só porque ele tem os braços mais longos que os seus.


Ouvi falar que os loucos Scamander estão em Slytherin também. Você deu sorte, cara, só gente legal no seu dormitório. Isso se o tal do Scorpius for legal, mas deve ser para conseguir sua amizade.


Aqui em casa foi a maior loucura quando tio Harry nos contou que você foi para Slytherin – a carta de Rose falando o mesmo chegou depois. Papai começou a consolá-lo, mas mamãe lançou para ele aquele olhar furioso que deixa todo mundo morrendo de medo e ele calou a boca. Seu pai disse na hora que sempre imaginara que você fosse para Slytherin. Não sei por quê, você sabe?


Bom, é isso ai! ‘To esperando sua resposta, pode mandar aqui para casa direto.


Hugo


Aquela carta deixara Albus tão feliz que o garoto não tivera palavras para respondê-la. Estava aguardando as palavras surgirem, o que deixaria Hugo bastante impaciente, mas o menino não queria enviar qualquer coisa, queria mostrar o quanto aquela demonstração de apoio o estimulara.


- Quantas vezes você leu esta carta desde que ela chegou ontem de manhã? – Perguntou Scorpius rindo do amigo, que tirara a carta da sua mala e a fitava com um sorriso.


- É legal saber que Hugo me apóia. Somos os melhores amigos há muito tempo, - disse Albus rindo com o loiro. Quando finalmente pararam de rir, o moreno contou ao amigo o episódio das bolinhas cor de rosa, que selara a amizade dos dois. Scorpius riu do evento por um tempo.


Os dois irmãos Scamander acabaram por acordar com o barulho das risadas dos dois amigos. Reclamaram muito do barulho excessivo feito por eles, se esquecendo por um momento das vezes em que eles chegavam gritando no dormitório de madrugada, depois de suas explorações noturnas. Quando os gêmeos pararam de reclamar e Scorpius e Albus tiveram tempo de abrir a boca, eles comentaram a respeito disso, o que provocou o riso dos quatro.


Eles desceram juntos para o café da manhã. Scorpius parecia ter-se esquecido da aula com o pai que ocorreria naquela mesma manhã. Comeram conversando alegremente sobre o final de semana que estava chegando e, quando o horário da aula se aproximou demais para que eles pudessem ignorar, rumaram para a sala de Defesa Contra As Artes das Trevas, onde o professor Malfoy aguardava os alunos sentado à sua mesa.


O professor sorriu para o filho quando este entrou na sala, acompanhado por Locan, Lysander e Albus. Scorpius tentou retribuir o sorriso, mas já não conseguia mais esconder seu nervosismo, o que Draco reparou preocupado.


Albus percebeu que Rose se sentara na frente da sala e aguardava o professor começar a aula mirando o livro que, o moreno sabia, ela já lera por inteiro em casa. A menina possuía a inteligência da mãe, mas não a usava para ajudar os amigos e primos, apenas para se mostrar a melhor sempre e aparecer para os adultos, que pareciam adorar o jeito meigo como ela respondia o que lhe era perguntado.


 - Essa sua prima é maluca, Al, - sussurrou Locan enquanto os quatro se sentavam na frente da sala. Ele e Albus sempre se sentavam na frente e Locan e Lysander no fundo, mas daquela vez os gêmeos permaneceram junto aos amigos, segundo eles apenas porque gostavam muito daquela matéria. Mas Albus sabia que os garotos queriam fazer companhia para Scorpius e distraí-lo de seu nervosismo.


- Locan tem razão, - disse Lysander rindo, - lembro que ela teve um ataque quando não quisemos brincar de casinha com ela. Deve ser horrível ter que aturar alguém assim na família. Ainda bem que, na nossa, todos são loucos demais para esse tipo de coisa.


Albus riu sem saber o que responder, mas não foi necessário dizer nada, porque, naquele momento, o professor se levantou e mirou a turma com certa curiosidade.


- Bem vindos à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Vocês já estão aqui há alguns dias e creio que já estão cientes que não vamos começar aprendendo logo os feitiços defensivos. Antes de aprendermos a nos defender, temos que conhecer as trevas e estar diante de suas criaturas e feitiços. Receio que os que querem um pouco mais de ação nesta disciplina, terão que aguardar cerca de um ano, quando julgo estar na hora de começaremos a receber algumas pequenas criaturas na nossa sala de aula. O que eu quero dizer é que nossas aulas, a princípio, serão teóricas, por isso vou pedir que deixem suas varinhas em cima de minha mesa antes de se acomodarem nas suas. Ao final da aula, é claro, terão suas varinhas de volta.


Ele olhou os alunos por alguns segundos, dando um espaço para alguém questionar sua decisão, mas nenhum aluno se manifestou, por isso o professor continuou:


- Eu sou um dos únicos professores nesta escola que não se importa de dar aulas para uma turma misturada de Gryffindor e Slytherin. Há muito tempo estas casas foram rivais, mas esta rivalidade se tornou mais evidente depois da ascensão de Lord Voldemort. Receio que minha paciência para brigas entre as duas casas seja bastante limitada e dou castigo mínimo de detenção para qualquer um que estimular essas discordâncias. Eu não os tratarei diferente por serem casas com rivalidade tão antiga. Para mim esta distinção não existe desde a morte de Lord Voldemort. Por isso, farei como venho fazendo com todas as turmas misturadas, misturar os alunos das casas nas diversas atividades. Foi essa briga milenar entre Slytherin e as outras casas que causou uma guerra anos atrás e um dos meus objetivos em Hogwarts é acabar com isso.


Dessa vez, houve um tumulto na sala. Todos já sabiam que os professores evitavam colocar as duas casas juntas desde o final da guerra contra Voldemort. Draco Malfoy conseguira um feito tornando amigáveis as relações entre as casas Hufflepuff, Ravenclaw e Slytherin. Mas a Gryffindor ainda possuía grandes brigas com a casa de Salazar Slytherin, para evitá-las, os professores também evitavam colocá-las nas aulas juntas. Mas o professor Malfoy achava isso uma bobagem e continuava  insistindo em colocá-las juntas dentro de sua sala de aula.


- Muito bem. Alguma dúvida? – Perguntou o professor quando os alunos finalmente fizeram silêncio. Não houve nenhuma manifestação, novamente, então o professor começou a introduzi-los na matéria.


Ao final da aula, o professor Malfoy chamou Rose, Albus e Scorpius para uma conversa em particular. Primeiro se dirigiu a Rose e Albus.


- Sei que sua família sempre foi tradicional na Gryffindor. Seus pais foram grandes membros da casa. Mas, srta. Weasley, gostaria que parasse de considerar o sr. Potter um traidor. Scorpius me contou que o pai dele é absolutamente a favor da seleção, você não tem o direito de julgá-lo por isso.


- Como o senhor sabe que é por isso que não falo com o Albus? – Perguntou Rose, arrogante, - desde pequenos nós dois não nos gostamos muito. Acho que ele tem inveja de mim.


Albus teve vontade de socar a prima, mas se conteve por estar diante de um professor. Scorpius teve que conter o riso diante de tal afirmação. Conhecendo seu pai, agora a garota estava com problemas.


- Para começo de conversa, srta. Weasley, eu gostaria que não usasse esse tom quando estiver falando comigo. Se não se gostam por qualquer razão infantil, está na hora de colocar essas diferenças de lado, mas se não for possível, apenas não arrumem confusão, como já disse, não sou tolerante com brigas entre casa. Os dois podem se retirar agora.


Albus se conteve, queria esperar Scorpius, que olhava para os pés, completamente corado, mas Draco apenas sorriu e lhe disse que poderia esperar fora da sala, pois eles não demorariam.


Quando se viu sozinho com o filho, Draco colocou as mãos sobre os ombros dele.


- Filho, eu estou muito orgulhoso de você. Comportou-se corretamente na minha sala de aula e ainda não me pediu qualquer tipo de favorecimento para si ou para seus amigos. Seja justo mesmo com os inimigos, sim? E dentro de sala de aula, me chame de professor ou senhor. Eu não gostaria que os outros alunos pensassem que te favoreço, seria ainda mais injusto do que te favorecer, de fato.


- Obrigado, pai, - disse Scorpius sorrindo para o pai. – Pai, o sr. Potter me chamou para passar o Natal com Albus e a família dele. Posso ir?


- Conversaremos sobre isso quando o Natal estiver mais próximo, mas eu e sua mãe pensaremos a respeito com muito carinho. Retribua a cortesia e chame-o para passar uns dias nas férias de verão conosco. Agora vá se encontrar com Albus, ele estava preocupado com você.


Scorpius abriu ainda mais o sorriso, corando de felicidade, e saiu da sala para se encontrar com o amigo.


 


Ei Hugo! Tudo bom?


É. Dá para acreditar que logo eu, tão parecido com meu pai, fui para Slytherin? Mas meu pai disse que ele mesmo quase foi. Por incrível que pareça, eu estou muito bem em Slytherin, o pessoal daqui não é tão mau quanto dizem.


Há tempos que não escuto o que nossos queridos irmãos mais velhos falam, Hugo, não precisa me alertar sobre isso. Estar em Slytherin me agrada muito e estou feliz por estar contrariando todo mundo.


Sobre o quidditch, concordo! Será irado derrotar o James como apanhador e a Rose como goleira, isso sem contar com a Victoire, em Hufflepuff. Vai ser demais se você vier para Slytherin também.


O Scorpius não sabe ainda se vai poder ir passar as férias de Natal conosco, mas você vai acabar conhecendo-o aqui em Hogwarts, de qualquer maneira. Então, só relaxa e espera ai. Quanto à posição em que ele joga, goleiro como nossa Rose. Os Scamander costumam jogar bem como artilheiros, de forma que vocês três podem compor um trio de artilheiros imbatível! Só faltam os batedores. Mal posso esperar para esse time poder jogar no campeonato entre casas!


 Não entendi essa história de já prever que eu ia para Slytherin. Papai nunca mencionou isso para mim. Por que será? Cara, eu adoro o tio Ron, mas a sua mãe é a melhor! Sabe direitinho como colocar o seu pai e o meu na linha, quando eles são chatos injustamente com a gente. Não que meu pai faça isso com a freqüência que o tio “chefe do fã clube da Rose” Ron. Mas ainda assim!


Por falar no fã clube da Rose, parece que encontrei alguém que não está disposto a entrar. O professor Malfoy deu a maior bronca na sua irmã por causa do modo como ela falou com ele. Hogwarts é o paraíso e o professor Malfoy é um dos anjos! Vamos curtir muito a coisa da Rose não ser a queridinha do papai aqui, não é Hugo?


Não suma e tenta descobrir essa história sobre meu pai já imaginar que eu ia para Slytherin. Se for o caso, pede para o tio George uma daquelas orelhas extensíveis. Tenho certeza que ele vai te dar se souber que é para espionar os adultos, tio George adora quando fazemos isso!


Um abraço e valeu pelo apoio, cara. Foi importante demais para mim.


Al

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