Acordando



Capítulo I --- Acordando


 


                Por um instante pensei se aquilo havia sido um sonho ou realmente aconteceu. Abri os olhos para me certificar de onde estava, pois talvez esse fosse o sonho e as minhas mais recentes memórias fizessem parte da realidade. Tudo estava tão confuso.


                A cama em que eu estava era familiar, apesar de tudo. Tratava-se de uma cama de colunas protegida por cortinas das cores da casa de Slytherin. Sobre mim havia vários cobertores grossos, deduzi que estivesse em pleno inverno. E como sempre preferi o frio ao calor excessivo, aquilo me agradou.


                Num gesto que já fora automático abri as cortinas, precisava saber hora e data. Me sentia tão perdido, sem saber ao certo se tudo que estava acontecendo era bom ou ruim. Avistei um relógio sobre o criado-mudo, que ficava entre a cabeceira de duas camas, ele marcava exatamente seis horas da manhã. Isso não ajudou tanto quanto eu esperava, ainda não sabia em que dia, mês e ano eu estava.


                Estiquei minha mão para abrir uma gaveta em busca de algum calendário ou papel que me desse uma informação. Mas parei antes de abri-la. A roupa de dormir que eu usava devia ter sido comprada alguns meses, talvez até mais de um ano antes, pois deixava uma pequena parte de meu braço à mostra. Não foi isso que me chamou atenção, mas o meu braço em si.


                Puxei um pouco mais a manga da blusa e fiquei particularmente surpreso ao notar que não havia nada em meu antebraço. A marca negra não estava lá, jamais havia tocado minha pele. E aquele foi meu primeiro sorriso verdadeiro depois do que me pareceu uma eternidade. Eu estava livre novamente para fazer o que eu quisesse com a minha vida. E desta vez tentaria fazer as escolhas certas.


                Esqueci o que estava fazendo e fui até o banheiro do dormitório. Olhei-me no espelho, e não vi o reflexo do velho Severo cheio de magoas e rancores escondidos, mas sim o reflexo de um adolescente com seus quinze ou dezesseis anos. Nunca gostei de ver minha imagem em espelhos ou fotos, sempre soube que minha aparência desagrada à maioria e jamais fiz questão de agradar, mas naquele momento nada teria me deixado mais feliz do que ver meu reflexo ainda sem marcas e rugas.


                Na verdade havia sim algo que me deixaria mais feliz e sorri com a possibilidade que surgiu em minha mente. Dessa vez sim, eu veria Lily. E ela estaria sem o Potter!


                - Bom dia, Severo! – ouvi uma voz familiar, mas não identifiquei seu dono.


                Do lado de fora do banheiro estava Rabastan Lestrange, que fora meu colega de dormitório por sete anos e depois veio a tornar-se comensal também. Arrisco dizer que a ultima atitude fora somente por influencia do irmão mais velho, Rodolfo. Eu não havia reconhecido sua voz, pois, assim como eu, ele ainda era apenas um adolescente.


                - Bom dia! – respondi de bom humor, aquele deveria mesmo ser um bom dia.


***


 


                (Lílian Evans)


                Fui a primeira a acordar, mesmo com esse frio de congelar os ossos, e mesmo sendo o primeiro dia de aula depois das férias de inverno. Apesar desses fatos que prenderiam a maioria dos alunos por mais alguns minutos em suas camas eu tinha motivos para levantar animada, estava empolgada com o que tinha planejado para o dia de hoje.


                Sem pressa vesti meu uniforme e tentei pentear essa juba ruiva. Só não prendi meus cabelos porque estava muito frio, mas precisei aplicar um simples feitiço para não deixa-lo tão armado. Só depois disso fui acordar minhas melhores amigas e também colegas de quarto: Paola Britto e Thaís Stefanovski.


                - Paola, Thaís, acordem sua dorminhocas. – falei num tom pouco acima do normal sabendo que precisaria mais que isso para acordá-las.


                - Agora não. – reclamou Paola virando para o outro lado da cama.


                Thaís cobriu a cabeça com as cobertas, deixando só um pouco dos cabelos loiros aparecendo. Como se isso fosse me fazer desistir. Primeiro cheguei mais perto de Paola e quanto estava perto o suficiente de sua orelha gritei:


                - PAOLA, ACORDA AGORA!


                - Ok. Não precisa gritar, sou muito jovem para ficar surda. – pelo menos isso resolveu.


                - É dia nove de janeiro! – falei sorrindo, para ver se ela lembrava do que tínhamos de fazer hoje.


                Ela levou um tempo para lembrar o que significava esse dia, talvez seu cérebro ainda não estivesse completamente acordado.


                - Ah! Você deve estar super empolgada              e imagino que tenha acordado há pelo menos meia hora. Eu disse que vou te ajudar e cumprirei com a minha palavra!


                Sem ela eu não teria conseguido levar essa ideia adiante, teria desistido quando fui falar com Lestrange e Dolohov antes das férias. Ainda não entendo como o Severo consegue ser amigo deles.


                - Então agora como faremos para a acordar a Thaís desta vez? – perguntei sabendo que não seria fácil, todo inverno é assim.


                Paola fez uma encenação de quem está pensando e observou o dormitório, então se abaixou e pegou uma pena deixada por alguma coruja. Ela sorriu, e por um instante observei sem entender, mas logo entendi quando ela foi para parto da cama de Thaís e após erguer parte das cobertas começou a fazer cócegas na sola do pé daquela dorminhoca.


- Caramba, uma pessoa já não tem mais o direito de dormir? – Thaís reclamou puxando seu pé.


Mas logo eu fui ajudar, terminei de descobri-la e comecei a fazer cocegas também. Depois disso ela desistiu de permanecer de olhos fechados e se rendeu a brincadeira.


***


(Sirius Black)


O relógio despertou pela terceira vez, acabando com minhas esperanças de voltar a dormir. Parece estar frio. Abri os meus olhos e me joguei da cama o mais rápido possível antes que me arrependesse dessa ideia idiota. É uma nova tática para evitar voltar a dormir e não perder o primeiro horário.


Mas não deu totalmente certo, acabei batendo minha testa no pé do criado-mudo e logo o relógio caiu em cima da minha cabeça e rolou para o chão, despertando novamente. Antes mesmo que começasse a xingar James fez isso por mim:


- Quem é o idiota que está fazendo essa barulheira infernal? Estou tentando dormir.


Eu sentei no tapete, encostando as costas na minha cama e fiquei bocejando enquanto James levantou e tropeçou no despertador, isso o fez cair sentado onde eu estava alguns segundos antes.


                Apesar da dor na minha testa foi impossível não rir.


- Não sei dizer quem é mais idiota. – disse Remo segurando a barriga de tanto que ria, afinal ele havia acordado pelo menos dez minutos antes.


O despertador voltou a tocar para desespero da nação, ou pelo menos dos meus neurônios. Só pode ter sido enfeitiçado, e provavelmente quem enfeitiçou foi o Remo.


- Como desliga essa coisa? – perguntou o James tacando o despertador longe, o que não resolveu.


- Assim! – disse Remo pegando o despertador – No botão “desligar alarme” com letras laranja fosforescentes.


- Caramba. – falou Peter pela primeira vez no dia – Até eu consigo desligar isso.


- Animador. – falei ironicamente e depois me levantei para ir lavar meu rosto e admirá-lo no espelho.


O pior é que minha testa ainda está doendo, acho que vou ter que conjurar um gelo.


Fim do capítulo I

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