Capitulo Dois.



Aqui, sentada no chão de modo a ficar mais baixa do que ele, eu observei aqueles olhos que as vezes pareciam saber exatamente o que você ta pensando, sem fazer esforço algum. Acho que o fato de ele praticamente ter me visto nascer, e o fato de eu ter crescido com a sua constante presença em casa para visitar meus irmãos, o ajudaram a me ver e de uma certa forma me entender melhor do que todas as outras pessoas à minha volta. Notei também que ele ostentava um sorriso meio diferente. Quando fiz menção de me levantar para sair dali, Orion insistiu para que eu ficasse sentada. Qual não foi a minha surpresa quando ele simplesmente sentou bem ao meu lado, e numa posição semelhante à minha. Sorri, para ele.
- Você é tão previsível às vezes, little Black. Me mandaram ver onde você estava. Quando eu vi que não era no seu quarto, imaginei imediatamente que estaria aqui.
Eu observei, de canto de olho. Ele estava mais alto, os cabelos estavam ligeiramente mais compridos. "Eu gosto dele assim" Eu pensei. Balancei a cabeça, como que para espantar estes e outros pensamentos da minha mente. Como eu já disse antes, ele tinha o estranho dom de me praticamente me adivinhar os pensamentos, e eu não queria que ele descobrisse algo que eu vinha tentando negar, para mim mesma, durante esses últimos meses. Pelo menos eu achava que estava tentando, e tendo algum sucesso, enfim...
- Little Black, Orion? Little Black? Achei que depois de passar quase seis meses fora, você já tivesse conseguido pensar em um apelido melhorzinho. Aliás, falando nessa sua viagem, eu já estava começando a achar que você não ia voltar mais, sabe...
"Ela tem razão. Eu ando mesmo precisando lhe dar outro apelido que não seja esse, porque ela já não é mais, nem de longe, aquela pirralha mimada e cheia de vontades que ela era aos cinco ou seis anos de idade, quando eu lhe dei o apelido. Ela agora cresceu, bastante, e está ainda mais bonita, se é que isso é possível, agora que o seu corpo está assumindo os contornos de um corpo de mulher, e deixando pra trás aquela imagem de criança que eu costumava fazer dela. Oh lord, eu preciso aprender a controlar melhor os meus pensamentos, pelo menos por perto dela. Conhecendo ela como eu conheço, eu tenho certeza de que ela acabou de "ver" isso." Pelo menos ele tinha consciência de que eu agora sabia que ele enfim começara a prestar mais atenção em mim. Isso me deu um certo ânimo, que eu rapidamente transformei num sorriso.
- É, eu acho mesmo que não posso mais chamar você de little Black. Não combina mais com você, certo? E quanto à viagem, é obvio que eu voltaria! Ou você acha que eu conseguiria abandonar vocês, hein?
"Ok, agora eu realmente tenho certeza que eu falei demais." Era divertido vê-lo corar, depois de dizer o que disse. Olhei para o lado, para o seu rosto, e sorri. Nossos braços estavam colados, e ele também mirava a tapeçaria, assim como eu. Toquei o seu braço levemente, para que ele olhasse para mim, antes de eu continuar.
- É, eu já sei que não combina mais. E sei também que você não seria capaz de nos abandonar.
A minha vontade era dizer "ME" abandonar, mais eu preferi não dizer. Foi então que aconteceu. Os nossos olhares se cruzaram, e eu imediatamente tomei uma decisão, que decerto era a mesma que ele iria tomar. Instantes depois, meus lábios estavam pressionados contra os dele, e as mãos dele postadas às minhas costas. Algo como um arrepio muito leve percorreu o meu corpo, pois o meu vestido tinha as costas nuas, bem onde ele encostou a mão. Decorrido algum tempo, que eu não saberia precisar se foram segundos ou minutos, ele se afastou. Eu o olhei, curiosa.
- Posso ser sincero? Há tempos eu venho pensando, e querendo que isso aconteça.
- Queria, é? Não sei, não sei...
- Você duvida? Eu não duvidaria de mim, se fosse você...
Damn it, ele e essa mania de me provocar! Mais tudo bem, porque nesse caso eu já sabia exatamente o que fazer.
- Pois ainda bem que eu não sou, porque ainda assim continuo duvidando.
- E eu posso perguntar, porque não confia no que eu estou dizendo?
- Porque se você realmente quisesse, como eu quero, então você já teria feito isso há mais tempo...
Pela segunda vez naquela noite, eu o beijei. No entanto, as coisas agora estavam acontecendo de uma forma um pouco diferente. Ele havia levantado, e me convidado a fazer o mesmo. Minhas mãos estavam passadas em volta do seu pescoço, e as dele seguravam a minha cintura, como se eu estivesse tentando sair dali, e ele não estivesse querendo deixar. Mal sabia ele que tudo o que eu queria era ficar ali, durante todo o tempo possível. Decorridos mais ou menos uns cinco minutos, uma voz quebrou o silencio que até então reinara em casa. Era meu pai, me procurando para que eu descesse com ele.
- Vamos, Kiki, onde é que você está? Os convidados já chegaram, e você precisa descer.
Oh droga, ele estava subindo até aqui para vir atrás de mim! E a julgar pelo barulho dos seus passos e pela altura da sua voz, ele já estava no meio das escadas. Dentro de trinta/quarenta segundos no Maximo, ele estaria batendo aqui à porta.
- Eu preciso ir, antes que ele apareça aqui e...
- Tudo bem, tudo bem. Até daqui a pouco então, na hora da valsa.
- Hora da valsa?
Eu perguntei, ligeiramente confusa.
- É, hora da valsa, você esqueceu? Agora que o Al foi embora, eu vou dançar com você no lugar dele, como uma espécie de substituto.
- É verdade, eu havia me esquecido. Isso vai ser bem interessante, ainda mais depois do que acabou de acontecer.
- Concordo plenamente...
- Bem, deixe eu ir, antes que o velho apareça aqui.
- Vai lá, e ate já...
- Até..
Dito isto, eu saí imediatamente da sala. E fiz muito bem, porque assim que fechei a porta ás minhas costas, dei de cara com papai. Rapidamente enlacei meu braço no dele, numa tentativa de desviar sua atenção.
- Vamos, então? Eu não quero deixar os seus convidados esperando, sabe..
- Mais eles vieram aqui pra isso, oras. Pra esperar por você, pra admirar você, e pra ver o quanto você é linda. Sem contar, é claro, na grande festa que nenhum deles teria coragem de perder.
Eu tinha plena consciência de que ele olhava o mais diretamente que podia, nos meus olhos, e eu sabia o motivo disso. Fiz todo o esforço que consegui, para fechar a minha mente e afastar dela os acontecimentos mais recentes. Finalmente, se sentindo claramente frustrado, ele apertou meu braço e nos descemos as escadas, em direção ao jardim.



O jardim, onde de fato aconteceria a festa, estava coalhado de gente, já impaciente. Acho que eu demorei um pouco demais, mais quem se importa? Como bem disse papai, estão todos aqui por minha causa, então não há mal nenhum em eles esperarem um bocadinho. Falando nisso, eu não fazia idéia de que viria tanta gente assim. O jardim estava maravilhosamente decorado, com aquela enorme pista de dança bem no meio do ambiente, ladeada por algumas mesas e cadeiras brancas, com toalhas decoradas com pequenos detalhes em dourado. Tudo isso bem iluminado por belíssimos archotes. Chegando ao centro da pista, no momento em que nos mandaram fazê-lo, eu dancei com papai por cerca de um minuto. Ele nunca foi muito de dançar, sabe? Depois disso, foi a vez do meu irmão dançar comigo. Cygnus estava lá com a noiva, Druella Rosier. Eles se casariam dali há seis meses, a propósito. Ela era Sonserina, dois anos mais velha que eu, e estudante do sétimo ano em Hogwarts. Eu já a conhecia, desde que ela e o Cyg começaram a namorar e depois noivaram, então sorri amigavelmente para ela quando meu irmão soltou sua mão e veio dançar comigo.Dançamos por algum tempo, falando de algumas bobagens que só diziam respeito a nos dois, quando anunciaram a ultima valsa antes de os convidados poderem enfim aproveitar a festa e o show da banda logo a seguir, da maneira que achassem mais conveniente. Não sei se era porque eu havia enfim admitido para mim mesma que gostava dele, ou se é porque eu agora sabia que seria correspondida, mais eu estava com a ligeira impressão de que meu primo estava ainda mais lindo do que há alguns minutos atrás, se é que isso é possível. Enfim, o fato é que eu não desgrudei os olhos dele nem por um segundo, enquanto ele se aproximava de mim e trocava de lugar com Cygnus. Ele conjurou uma rosa, branca, e me entregou antes de fazer uma reverência discreta. Ele pôs a mão esquerda nas minhas costas, enquanto com a direita segurava uma das minhas mãos, e então nos começamos a dançar. Passado algum tempo, que eu não sei dizer quanto foi porque havia me desligado completamente, eu senti que ele afastara os cabelos muito loiros que cobriam a minha orelha, e o ouvi dizer:
- Minha Black, o que você acha de minha Black, ham?
- Oi? Minha Black? Como assim, minha Black?
Eu estava me esforçando para olhá-lo diretamente nos olhos, na tentativa de esquecer tudo e todos à minha volta. No entanto, qualquer poder de concentração que eu tivesse estava começando a ficar seriamente comprometido.
- Minha Black, o apelido para substituir o little Black, sabe...
Meu olhar encontrou o dele, enquanto continuávamos dançando. Pude ouvir, ao longe, que a musica que tocava já não era mais uma valsa. A letra era bonita, até: " Laying close to you, feeling your heart beating..."
- Sim, sim, agora eu entendi.
- A propósito, o que você acha da idéia de ser mesmo a Minha Black, ham? Minha, só minha, de mais ninguém..
Mais uma vez, ele usou um tom de voz absurdamente baixo, enquanto falava bem próximo do meu ouvido. Depois de feita a pergunta, eu o encarei por um tempo, antes de dizer qualquer coisa. Enquanto isso, a música continuava: " ... and I’m wondering what you’re dreaming, wondering if it’s me you’re seeing..." Respondi, por fim.
- O que eu acho dessa idéia? Eu acho ela ótima, como aliás eu sempre achei.
- Sério?
Ele perguntou, como que esperando uma confirmação, e virou meu rosto de tal maneira que a testa dele e a minha agora estavam encostadas uma na outra.
- Yeah, sério!
- Que bom, então! A partir de agora você é a Minha Black...
Ele beijou a minha testa, suavemente.
- ... minha, muito minha...
Depois, ele beijou suavemente mais uma vez, só que agora na pontinha do meu nariz.
- ... e só eu vou poder chamá-la assim!
Por fim, ele chegou aos meus lábios. Ao fundo, eu ouvi a musica "morrer", antes de me desligar total e completamente de tudo á minha volta. "... then I Kiss you eyes, and thank God we’re together. I just want to stay here with you in this moment forever, forever and ever." Durante alguns minutos, nos simplesmente ficamos ali, nos beijando, em pé e bem no meio da pista de dança. Algum tempo depois, eu já tinha a consciência de que todos estavam nos observando. Ele, como se tivesse lido os meus pensamentos, nos interrompeu e sugeriu.
- Quer sair daqui? Seu pai já não está prestando mais atenção em nada que não sejam os amigos dele, e o seu irmão já sumiu com a noiva faz tempo. Nós podemos procurar um lugar um pouco mais calmo...
- Oh god, por favor, vamos sair daqui sim...
Diante da minha concordância, ele passou uma das mãos em volta da minha cintura e lentamente nos começamos a caminhar para dentro de casa, onde teríamos enfim um pouco mais de paz.

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