4 de dezembro, praia



20:15, sexta-feira, 4 de dezembro, Three Shells Beach

As ruas estavam vazias, completamente despovoadas àquela hora da noite. Ainda era cedo, mas não para uma cidadezinha interiorana da Inglaterra, os moradores de Southend costumavam dormir cedo. Tudo o que podia ser ouvido, por aquelas estradas, era o ronco do motor da caminhonete de Draco e as respirações ofegantes dentro daquele automóvel, assim como um choro sendo abafado sem muito êxito.

Os vidros do carro estavam fechados, mas era uma noite extremamente quente, logo, a temperatura no interior do automóvel era ainda mais alta e insuportável. O suor escorria pela testa de Draco, encharcava sua camiseta e tornava aquele momento ainda mais difícil de lidar. Hermione sentia um perto desconfortável em seu peito, estava em estado de choque com tudo o que presenciara, mas mesmo assim ainda era capaz de reconhecer aquele caminho em que estavam seguindo, já o havia feito anteriormente com Draco e não fazia muito tempo.

Estavam indo à praia, e sabiam que deveria estar desabitada como sempre estivera em todas as outras noites. Seguiam em velocidade cada vez mais acelerada. Os dedos de Draco escorregavam sobre o volante, havia um liquido de odor nauseante em sua mão. Era sangue. E não era o seu sangue.
Em uma freada brusca, Draco estacionou o carro de qualquer forma ao lado do calçadão da praia, não podia escutar o som das ondas nem do mar agitado, os vidros do carro estavam embaçados devido às suas respirações arfantes. Deitou a cabeça contra o encosto de seu banco e deixou que sua cabeça remodelasse os fatos, enquanto apertava os dedos fortemente contra o volante em uma manifestação de nervosismo.

- Nós não tivemos culpa, tivemos Draco?

O que ele iria responder a ela? Ele não sabia que tipo de resposta dar àquela pergunta. Seus olhos estavam arregalados fitando o teto sobre sua cabeça, embora o carro estivesse escuro e pouco pudessem enxergar. Hermione conteve mais um dos seus soluços e recolheu o rosto entre as mãos, visivelmente desesperada com o rumo que a discussão tivera.
Após alguns poucos segundos com o rosto escondido entre os dedos, Hermione escutou o barulho típico das travas do carro serem destravadas. Ergueu seu olhar para o banco do motorista e tudo o que visualizou foi a porta sendo grosseiramente fechada.

Hermione se apressou em sair do carro, também, mas não sem antes conferir o pequeno compartimento ao lado da marcha, onde a arma do crime havia sido posta e onde, agora, constatara que não estava mais.

- Draco, espere. – chamou por ele, correndo em direção à sua silhueta ao longe, descendo as escadas que davam para a praia. - O que você vai fazer, Draco?

Estava temerosa quanto ao que ele tentaria fazer com aquela arma nas mãos, mas suas preocupações esvaíram-se de dentro de si no mesmo instante em que ele deixou que a arma escorregasse por seus dedos e caísse sobre a areia, onde também deixou seus chinelos sem interromper a caminhada, rumo ao mar. Quando pensou que não haveria com o que se preocupar, então temeu que ele cometesse alguma loucura uma vez dentro do mar.

- Draco, por favor, me espere. – gritou mais uma vez, correndo ainda mais rápido e conseguindo alcançá-lo a beira do mar.

- Eu não queria ter feito aquilo, Hermione. – disse a ela, virando-se para encará-la e deixando transparecer todo o seu nervosismo.

- Eu sei que não, Draco.

Nada do que ela dissesse a ele, agora, iria diminuir a carga de culpa que ele estava carregando nas costas e que sabia que possuía. Draco tentou levar as mãos ao cabelo mas, quando prestes a realizar o ato, lembrou que estavam sujas de sangue. O sangue de Harry. Um sangue que ele havia derramado com um disparo de arma de fogo. Um disparo que poderia ter sido evitado. Um disparo efetuado em um momento em que estivera completamente fora de si com a série de acusações e ofensas que havia recebido de sua vítima.

- Ele pediu pra que eu perdesse a cabeça, você viu Hermione. – disse a ela, enxugando o suor de sua testa com os punhos, estava agitado e movia-se como se estivesse até mesmo embriago.

- Tudo bem, Draco. – Hermione tentou confortá-lo, mesmo que seu choro que havia acabado de retornar não fosse um bom exemplo de alguém que estava tentando manter a calma. - A gente não precisa ficar pensando nisso agora.

Ele não era um assassino, nunca fora, nem mesmo quando estivera prestes a se unir à Voldemort. Draco tinha um histórico obscuro, mas não era nem de longe um assassino. Ainda transtornado, Draco seguiu em direção ao mar e adentrou o mesmo. Sentir a água gelada bater contra seu corpo diminuía um pouco do calor que emanava de sua pele. Deixou que o volume de água batesse de encontro aos seus joelhos e abaixou-se para lavar as mãos, esfregando-as de forma rude e livrando-se do sangue que estava impregnado nelas.

Hermione seguia até ele, havia algumas gotas de sangue em seus braços e precisava lavá-los também. Quando próxima dele, já dentro do mar e imitando-o na lavagem dos braços, ouviu-o iniciar um novo diálogo.

- Por que será que eu só faço coisas erradas, Granger?

- Nós erramos juntos, Draco. – apressou-se em contradizê-lo.

- Eu matei um homem Hermione. – disse a ela, fitando-a fixamente nos olhos.

- Eu sei disso. – afirmou, sua voz baixa e sendo tomada por uma onda forte de dor por aquele tipo de certeza.

Sim, e o homem em questão era o seu ex-noivo, era a pessoa por quem ainda sentia algo, mesmo que nada comparado ao que sentia por Draco.

- Você não precisa fingir que está tudo bem e que eu não sou um assassino, Hermione. – Draco disse a ela, jogando, agora, uma quantidade considerável de água contra o rosto.

- Não é nada disso, Draco. – interrompeu depressa naquela idéia que soava absurda para ela. - Você não percebe que eu também me sinto assim?

- Não, Hermione. – Draco discordou dela, não fazia sentido algum, para ele, ouvi-la dizer que se sentia culpada. - Fui eu quem puxou aquele maldito gatilho.

- Eu pedi pra que você fizesse isso, esqueceu? – retrucou ligeira, forçando-o a encará-la nos olhos.

- Eu não fiz aquilo por você, Hermione. – despejou sobre a ela, sua voz baixa e rouca, eram suas piores verdades. - Eu o matei porque eu quis.

Hermione suspirou pesadamente com aquelas palavras, sentiu o choro ameaçar se desprender de sua garganta novamente, mas seu esforço para evitar que isto acontecesse era ainda maior, assim como para manter o contato visual entre eles.

- E eu realmente quis que você o matasse, Draco. – disse a ele, por fim, sua voz igualmente sussurrante, enquanto algumas lágrimas escorriam por sua face. - E então? Você é o único que pode sentir culpa aqui?

- Eu fiz com que você rompesse o seu noivado e ainda matei o cara que iria ser seu noivo, Hermione. – Draco insistiu, fitando-a firme, mas suas palavras soavam irônicas, era uma história realmente absurda, mas completamente verdadeira.

Por mais intensos que os seus batimentos fossem, assim como as pontas fortes em seu peito pela dor da perda e do assassinato, Hermione ainda teve uma reação inesperada diante daquelas últimas palavras de Draco.: deixou que uma risada fraca escapasse de seus pulmões. Fora um riso nervoso, mas aquilo tudo era realmente inacreditável.

Hermione aproximou-se de Draco e o abraçou sem pedir permissão alguma. Os braços de Draco demoraram para retribuir ao abraço, mas quando o fizera, fora uma retribuição intensa. O louro escondeu sua face entre os cabelos dela, queria ser capaz de chorar, seria uma boa forma de expor todo seu nervosismo pela brutalidade que havia cometido.

- Você matou Harry Potter, Draco. – Hermione disse a ele, apertando-o ainda mais firme, por alguma razão estava agindo insana, uma vez que seu estado de nervos não lhe dava muitas opções. – Percebe a gravidade disso? Harry Potter...

- Você não está ajudando em nada, sabia? – retrucou a ela, deixando que um riso fraco se desprendesse dessa vez de sua garganta.

Mantiveram-se abraçados por longos minutos, sentindo apenas a brisa um pouco fria daquela região litorânea e as ondas quebrando-se contra seus corpos. Eles não sabiam o que pensar, ao certo, de tudo o que havia acontecido, nem mesmo sabiam o que deveriam fazer. Nada que arquitetavam em suas cabeças parecia o melhor a ser feito. Tratava-se de um assassinato, era mais grave do que qualquer outro tipo de crime.

- Não interessam quais sejam as impressões digitais naquela maldita arma, Draco... – Hermione iniciou, afastando-se dele e fincando seus olhares firmes nos dele. - ...Eu estava ao seu lado quando tudo aconteceu.

Mesmo que isso fosse verdade, ainda assim o mentor daquele crime havia sido ele, se as culpas tivessem que ser aplicadas a alguém, seria apenas a ele. Ainda nervoso Draco se afastou dela e retirou-se dali, sentindo as pernas pesadas pelo tecido de sua calça jeans encharcada. Apanhou a arma nas mãos, novamente, estava jogada sobre a areia e estava um pouco suja de sangue.

Dispersou seus olhares pela praia e pensou no que faria com aquela arma, ao mesmo tempo em que Hermione se aproximava dele. Sem pensar muito mais, Draco arremessou a arma o mais forte que pode para longe, deixando que a mesma afundasse entre as ondas do mar. Estava se livrando da prova do crime, das suas digitais deixadas sobre a arma, mas ainda assim não havia se livrado da culpa. Ela ainda estava presente, atormentando-o internamente.

- Você me desculpa, Hermione? – indagou a ela, trazendo-a para junto de seu corpo e afagando-lhe os cabelos, enquanto levava-a junto consigo em direção a areia, sentando-se com ela atada junto ao seu peito.

- Pare com isso, Draco. – pediu a ele, abraçando-o o mais forte que pôde, agora seu choro estava sob controle. - Quem não está ajudando em nada, agora, é você.

Não disseram mais absolutamente nada após aquelas palavras, permaneceram ali, calados, sentados, abraçados e de olhos fechados. Foram longos minutos de divagações profundas, remoendo cenas e fatos, analisando situações e decisões, ponderando possíveis escolhas e tentando arquitetar um modo de buscar absolvição naquelas culpas. Não havia, e eles sabiam disso.

- Você deve ter algum distúrbio, sabia? – Draco disse a ela, aconchegando-a entre suas pernas e contra seu corpo.

- Tem certeza? – indagou a ele, não sabia onde aquela conversa chegaria mais estava curiosa. – Posso saber qual?

- Me querer. – Draco respondeu a ela, sorrindo meio lábio com aquele diálogo e, por fim, completando – Ninguém, em sã consciência, iria me querer.

Hermione sorriu com as palavras dele. Era verdade, ela realmente o queria, e muito. Havia descoberto nele, uma fonte de vida, sentia-se, mais do que nunca, completamente ligada a ele.

- Então você também deve ter um distúrbio. – Hermione disse a ele, esperando que ele correspondesse à sua brincadeira, também.

- E qual seria?

- Apontar armas contra a cabeça de noivos indefesos. – respondeu para ele, afundando sua face contra o peito dele e contendo mais um choro com uma risada forçada. De indefeso ela sabia que Harry não tinha absolutamente nada.

- Ah, bom... Por um segundo pensei que você iria dizer “desejar mulheres comprometidas”.

Deixaram um riso fraco escapar ao mesmo tempo, aquela situação não poderia ser mais difícil de lidar.

- Pode ser, também. – Hermione disse a ele, não conseguindo mais conter suas lágrimas.

- Nós vamos fugir, Hermione. – Draco informou a ela, erguendo-se da areia e pondo-se de pé com ela em seus braços. – Eu não quero responder por esse crime, e não quero que você pague por ele de nenhuma forma possível. Nós vamos fugir juntos!

Estava decidido, mesmo que ela discordasse da idéia, não havia forma alguma de sair daquela situação sem pagar pelo crime. Poderia ser um ato rude, covarde e insano, mas eles julgavam ser o melhor e nada os faria mudar de idéia. Era inacreditável a forma como as coisas haviam mudado desde os primeiros instantes em que se desejaram pela primeira vez até aquele momento em que se encontravam, agora.

Talvez, se eles pudessem prever que aquele seria o fim, poderiam ter evitado o sentimento terrível de culpa e a dor da perda. E, talvez, não precisariam ponderar se deveriam ou não permanecer ali e responder pelos atos mal pensados.

A única certeza que os consumia era a de que não havia razões para não permanecerem juntos, agora mais do que nunca. Hermione deixou que seu choro se intensificasse ainda mais, era seu desabafo ensandecido pela perda proposital. O amor que eles sentiam um pelo o outro curaria qualquer dor causada... seja pela culpa... seja pela perda.

Fim



N/A: Bom... eu errei nas contas... só faltava esse capitulo aqui... o final. Bem pequeno, eu sei... !!! =(
Mas e o que acharam? Bom... eu não ia saber narrar a cena do disparo...
ahahaha

Espero que tenham gostado... pelo menos um pouquinho assim --> <--

hahah

Chegamos no 100... então eu postei!!! /o
Valeu mesmo gente pelos comentários!! Vocês são demais!!!!

A Serena já leu a fic toda.. antes de vocês *mostra lingua*
haha

Bom ela gostou *ai dela se não gostasse mesmo unf --- papo né*...
E vocês? Gostaram? hahah

Valeu mesmo pelos comentários... conto com vocês nas próximas fics... e prometo torturar menos! haha

Doce Sepulcro também foi atualizada! CONFIRAM!!!

http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=32157

bjusss

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.