o diretor



O Diretor



Harry Potter abriu os olhos e encontrou-se num local que ele não via há mais de uma década. O segundo quarto de Dudley estava exatamente como ele se lembrava e Harry sentiu uma estranha sensação de vertigem. Apertou as pontas dos dedos contra os olhos e sentou-se direito. O momento de desorientação passou e ele riu alto e com vontade. Tinham conseguido! Ele, Ron e Ginny tinham, de facto, mandado suas memórias para o passado.

Ele olhou para suas pequenas mãos com admiração. Levantou-se, tirou as suas roupas e parou despido em frente ao espelho. Tinha 11 anos de idade de novo! Riu até formar lágrimas em seus olhos.

Tia Petúnia escolheu aquele momento para bater na porta.

– Fique pronto! E é bom que não nos faça atrasar. Você tem sorte que nós vamos levá-lo para aquele… aquele lugar.

Ele tinha 11 anos e iria se estrear em Hogwarts pela segunda vez na sua vida.

Tudo era igual. O mesmo café da manhã, as mesmas manchetes no jornal, o tio Vernon lendo na mesa da cozinha, o mesmo olhar vazio de Dudley e o grito que deu quando viu Harry o encarando. O carro era o mesmo e o tio Vernon gritou exatamente as mesmas palavras que já tinha gritado antes.

E, no que pareceu tempo nenhum, já estava parado sozinho, na frente da plataforma 9 ¾. Ele ficou ali, esperando para encontrar os Weasleys. A ansiedade tomava conta dele. Os seus esforços podiam tê-lo colocado exactamente onde queria estar, mas a sua esposa e melhor amigo podia ter tido problemas.

– … cheio de Muggles, é claro – Ele escutou a Sr.ª Weasley falando e olhou em volta. Vindo na sua direção estava a família que ele mais amava em todo mundo; embora aparentassem a mesma desordem de sempre, ele teve de se virar, para conseguir controlar a sua emoção e tentar parecer perdido, esperando que a sua ansiedade não fosse mal interpretada.

Percy parou de maneira pomposa e desapareceu através da barreira. Logo depois, os gémeos fizeram o mesmo, não sem antes darem trabalho para a mãe. Harry viu-os irem e esperou que não estivesse parecendo um maluco. Não conseguia parar de sorrir, de tal forma que sentiu como se as suas bochechas se fossem separar.

– Com licença – Falou ele com a voz trémula – Você sabe como passar a barreira?

– Primeira vez? – Perguntou a Sr.ª Weasley carinhosamente. – É a primeira vez de Ron também. – Ela apontou para o filho, como se ele não conhecesse aquele rapaz quase tão bem quanto a ele mesmo.

Ron sorriu para Harry e, quando sua mãe não estava olhando, ele piscou-lhe o olho. Harry sorriu de volta.

– É melhor correr um pouco se você estiver nervoso. – Falou a Sr.ª Weasley – Vai lá, você na frente.

Ele passou através da barreira e correu imediatamente para encontrar um compartimento vazio no fim do trem. A sua cabeça girava para frente e para trás enquanto avistava tantas pessoas que ele conhecia e havia perdido. Lá estava Lee Jordan com a sua tarântula; Angelina Johnson deu um berro quanto ele atirou o animal para cima dela, enquanto Katie Bell e um outro aluno do quinto ano, cujo nome ele não conseguia lembrar, riam da cena.

– Perdi meu sapo de novo, Vovó. – ele escutou Neville falar para a sua impecavelmente vestida avó.

– Ah, Neville – Ela suspirou. Harry tapou sua boca para segurar a risada que começava a se formar.

Ele ainda teve dificuldade com seu malão e estava para levitá-lo quando George apareceu.

– Precisa de ajuda com isso?

– Por favor. – disse Harry.

– Ei Fred, vem aqui ajudar. – chamou George. Juntos, os três empurraram o malão para cima. Quando Harry parou para limpar o suor na sua testa, Fred engasgou.

– O que é isso? – Perguntou apontando para a testa de Harry, onde a cicatriz em forma de raio aparecia de forma bem visível.

– Caracas! – George notou a mesma coisa.

– Isso é?

Eles encararam Harry com a boca aberta.

– Você é Harry Potter – Falaram os dois em uníssono.

– Er, sim, sou eu – respondeu Harry.

Eles continuaram a encará-lo até que foram chamados pela Sr.ª Weasley. Harry, ainda se sentindo submergido pela sensação de encontrar todo mundo, afundou-se no assento, certificando-se de que tinha uma boa visão da família Weasley. Ele observou Ginny e ela deve ter percebido, pois levantou seu olhar para ele. Mesmo de onde estava, Harry percebeu que ela estava chorando. Ele queria sair correndo do trem e abraçá-la, mas conseguiu se conter respirando profundamente. Recordou muito claramente o que eles tinham decidido. Não podiam fazer nada que levantasse suspeitas, ninguém podia saber até a hora certa.
– Ron vem agindo estranho o dia inteiro. – Harry escutou Percy falar para a sua mãe, arrogantemente – Acho que ele está nervoso com Hogwarts. Mas não se preocupe mãe, eu vou cuidar dele. É meu dever como monitor.

– Ah, você é um monitor Perce? – perguntou Fred fingindo surpresa.

Harry começou a rir ao escutar os gémeos gozando do irmão deles, mas baixou a cabeça assim que os ouviu mencionarem o encontro com ele.

– Você tem certeza que é ele, Fred? – perguntou a Sr.ª Weasley – Como você poderia saber?

– A cicatriz, – respondeu George. – Está mesmo lá… como um raio.

Ron achou Harry, alguns minutos mais tarde, quando o trem começava a se locomover para fora da estação.

– Tem alguém sentado aqui?

Harry riu.

– Não, só eu.

Os seus olhos recaíram sobre Wormtail, no bolso de Ron, e ficou feliz de ele não ter cumprido a promessa de o matar assim que colocasse as mãos no rato. Embora isso tivesse deixado Harry satisfeito, o homem que traíra seus pais e, na outra linha de tempo, matara Daphne Greengrass e Dino Thomas, tinha que permanecer vivo, pelo menos até poderem soltar Sirius.

Ele e Ron conversaram amenidades por um tempo. Harry estava admirado com a capacidade de Ron para disfarçar.

– Você tem uma família grande. – observou Harry.

– Sim, todos eles foram para Hogwarts, também. – respondeu Ron – Minha irmãzinha vai fazer onze anos e irá também no próximo ano para Hogwarts. Na verdade, ela chorou a manhã inteira por não poder ir também. Ela diz que quer ficar connosco. Mas se não a conhecesse, diria que ela está feliz por ter nossos pais com ela por mais um ano.

Harry direcionou a ele um olhar agradecido. Então Ginny estivera chorando, mas ele tinha certeza que era por motivos completamente diferentes.

– Este é Scabbers, – falou Ron apertando o rato que ressonava – Ele não é grande coisa, sabe? Costumava ser do meu irmão Percy. Ginny quase o matou hoje de manhã, não é, Scabbers? Ele estava dormindo, ele sempre está dormindo, e ela acidentalmente pisou nele. – Os olhos dele escureceram. – Ao menos eu acho que foi um acidente. Ela pode ter pensado que se meu animal de estimação morresse eu ficaria em casa.

Harry teve de segurar a gargalhada que se formava em sua garganta. Esperava que ela o tivesse machucado bastante.

– Pobre Scabbers! – Falou ele solenemente.

O carrinho do almoço passou. Harry, como da outra vez, comprou vários doces, mas, dessa vez, Ron jogou seu sanduíche pela janela e comeu sapos de chocolate como se não houvesse outro amanhã.

Ambos apenas jogaram conversa fora, com cuidado, muito cuidado, para não dizer nada de estranho. Scabbers tinha sido apenas um rato até ao terceiro ano deles, no entanto não podia deixar Peter Pettigrew, traidor dos amigos e assassino de Muggles, ouvir alguma coisa de suspeito. Eles sabiam muito bem que tinham uma jornada delicada pela frente.

Eles também estavam cientes que veriam velhos amigos, que não tinham ideia de quem eles eram. Então não foi uma surpresa (embora o estômago de Harry se revirasse) quando Neville, visto pela última vez morto sobre a laje de Hogwarts, abriu a porta do compartimento e colocou a cabeça para dentro, de maneira tão tímida que nem os olhou nos olhos.

– Algum de vocês viu um sapo? Eu perdi o meu.

Foi sorte que ele estivesse olhando para baixo, pois Harry tinha um grande nó em sua garganta e, pelo olhar de Ron, sabia que ele pensava o mesmo.

– Não, – Harry falou de forma suave – Desculpe.

– Obrigado, então. – Neville desapareceu.

Ron teve que respirar profundamente diversas vezes, enquanto olhava para Scabbers de canto de olho.

– Ele me assustou entrando assim. Nem ouvi ele abrir a porta.

– Eu também não, – falou Harry – Eu estava pensando como nossos colegas serão. Ele parece bem legal.

Isto nem chegava aos pés do que Neville era. Ele tinha sido um campeão e corajoso no que tocava a defender seus amigos. Dessa vez, sua vida não terminaria em assassinato; ele não deixaria Hannah viúva um ano após o casamento. Iria cuidar de plantas, ter um time de bebés de cara redonda e viver para se tornar num velhinho trémulo. E Harry nunca mais iria precisar ver seu assassinato.

Harry fechou os seus olhos.

Ele e Ron ficaram em silêncio por um bom tempo; Harry suspeitava que o seu melhor amigo tivesse caído nas mesmas memórias perturbadoras. Ron tirou sua varinha e ficou fazendo movimentos com ela, enquanto olhava para a porta de tempos em tempos. Harry sabia o que ele estava esperando: Hermione.

Ela não os desapontou. Uma garota baixinha, com os cabelos armados e dentes salientes entrou pela porta, com Neville em seus calcanhares. – Vocês viram um sapo? – falou de forma mandona – Neville perdeu o dele.

Por um momento, mas apenas um momento, Harry viu-a pegando fogo, mas firmemente expulsou essas memórias. – Desculpe, a gente ainda não o viu.

– Oh, vocês estão fazendo um feitiço? – Perguntou ela, avidamente, enquanto sentava próxima a Harry, de frente para Ron, prestando atenção no que o garoto fazia.

– Não é um feitiço muito bom, – falou Ron. Suas mãos estavam tremendo um pouco – Meus irmãos, Fred e George, me ensinaram.

Harry olhou extasiado, enquanto Ron recitava o encantamento inútil que os gémeos lhe haviam ensinado há tanto tempo atrás, apenas para o incomodar. Cheio de inspiração, também sacou a sua varinha do bolso e lançou um feitiço doloroso não verbal no rato traidor.

O resultado foi imediato. Wormtail saltou, com os pêlos eriçados, e correu pela cabina. Hermione, que olhava incrédula desde o começo da rima, olhou-o com a boca aberta.

– Isto não era para acontecer. – confidenciou Ron – Ele deveria ter-se tornado amarelo. – Demorou vários minutos até que os três conseguissem pegar o rato novamente. – Desculpe, Scabbers. – disse. Se Harry não o conhece tão bem como conhecia, não teria porque duvidar da sua sinceridade. Hermione não pareceu suspeitar de nada.

– Bem, não foi um bom feitiço não é? – falou a garota, altivamente – Acho que você machucou o pobre bichinho.

– Nah, – falou Ron – Veja… ele já voltou a dormir.

– Eu sou Hermione Granger, – anunciou ela. – E quem são vocês?

– Ron Weasley

– Harry Potter

– É mesmo você? – Ela se sentou erecta no lugar e encarou-o com os olhos muito abertos – Eu já li tudo a seu respeito. Você está no livro “Grandes Acontecimentos de Feitiçaria do século XX” e em todo um conjunto de outros livros. O Escolhido que derrotou Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

Que diabos! Harry quase caiu de sua cadeira e trocou olhares sobressaltados com Ron.

– Oh, honestamente, como você não sabe? – perguntou Hermione, empinando o nariz. – Se eu fosse você, leria tudo a respeito. Todos sabem que você foi o profetizado para derrotar Você-sabe-quem.

– Oh, ha ha ha, – Ron, obviamente pensado muito rápido, deu uma risada – É claro que ele sabe. Todos sabem disso.

– Claro, – concordou Harry, tentando demonstrar que não era nenhuma novidade para ele. – Eu estava apenas surpreso, só isso. – Era isso mesmo. Desde quando a profecia era de conhecimento de todos? O seu interior revirou-se com ansiedade. O que mais tinha mudado?

Herminou olhou-o com desdém.

– Está bom. – E olhou para Harry de cima a baixo, estudando-o. – Será que você a saberia toda?

Será que ele sabia?

– Er.

– Está tudo bem, – Ela disse, mas olhou desapontada para ele – Você provavelmente não iria contar-me, mesmo que soubesse. É tudo tão secreto!

Hermione conversou com eles por um tempo. Harry tentou prestar atenção nela, mas seus pensamentos pairavam em torno do que ela havia dito. Era crucial falar com Dumbledore, ainda naquela noite se possível.

A partir daquele momento a viajem não foi mais tão agradável e não foi apenas devido à presença de Draco, que resolveu fazer a sua aparição para incomodar Harry, sendo descartado logo de seguida. Draco Malfoy tinha revelado não ser tão idiota como Harry tinha esperado, mas isso não queria dizer que Harry gostasse mais dele. Ele ainda era um bobo e hipócrita, apenas não era um bobo e hipócrita assassino.

Ron e Harry estavam muito mais quietos quando saíram do trem e entraram nos barcos. Avistar Hagrid tinha aliviado alguma da tensão e ver os rostos cheios de ansiedade de muitos dos colegas de Harry – incluindo muitos que haviam morrido de maneiras que o preenchiam de culpa – fez com que a tensão diminuísse um pouco mais. Mas foi com um coração pesado que cruzaram o lago e marcharam pelas escadas; foi só a aparição da professora McGonagall, vigorosa e nobre, abrindo a porta para eles, para levá-los para a seleção, que fez Harry, outra vez, sentir a mesma determinação feroz que o tinha guiado nos últimos quatro anos.

Harry caminhou ao lado de Ron para o interior do Salão Principal e não precisou de se fingir maravilhado. Tantas pessoas que ele pensava ter perdido estavam ali. Dumbledore conversava, Snape observava, e tantos outros estavam vivos e felizes. Sempre e sempre, ele pensou

Harry precisava falar urgente com Ron. Eles tinham tanto a conversar (sobre a profecia e como avisar Ginny acerca dessa mudança) e planejar (os detalhes da peça que iriam pregar no Professor de Poções). Ele só queria ter tempo suficiente para se libertar dos outros alunos do primeiro ano, para chegar à Sala Precisa. Harry estava se sentindo despido sem sua capa de invisibilidade.

– Potter! – A professora McGonagall observou-o, com a boca contraída numa linha fina – Eu sugiro que você se permita ser selecionado.

Ron arfou e empurrou Harry para a frente.

Ele colocou o Chapéu Selecionador, sentindo-se um pouco apreensivo sobre a reacção do Chapéu. Não fazia ideia de como ele reagiria, e o retrato de Dumbledore, não havia ajudado muito nesse quesito. Voldemort havia destruído o Chapéu, depois de o usar para sufocar Neville.

Ahhhhhh. Parecia a Harry que o chapéu havia suspirado. Ele podia quase sentir isso em sua mente. Isto é algo… algo para além de raro. O Chapéu não parecia particularmente eloquente quando defrontado com algo que o surpreendia. Harry sentiu uma vontade insana de rir. Mais raro do que sobreviver ao Maldição da Morte com a idade de um ano? pensou ele, sabendo que o Chapéu o ouviria.

O chapéu permaneceu silencioso por um longo tempo, mais longo do que na primeira vez, e Harry começou a se remexer desconfortavelmente no banco. Não ouse me colocar me Slytherin. Harry avisou-o.

Eu deveria, realmente deveria. Vejo toda a astúcia em você, no entanto diferente daquela que usualmente vejo. A ambição, a urgência também, mesmo que seja para prevenir o que aconteceu… antes. Para não mencionar a necessidade de se provar.

Por favor – Harry sentiu como se estivesse rebaixando, implorando ao Chapéu.

Acho que você tem razão. Murmurou finalmente o Chapéu. Tudo vem da coragem não é? E não vejo uma assim em muitos anos.

– GRYFFINDOR! – O chapéu falou em alto e bom som.

Harry estava por demais aliviado para perceber que havia mais olhares especulativos do que mãos a aplaudir à sua volta.

– – – – – – –

– Caracas, Harry, essa foi perto, muito perto! – Ron atirou-se numa confortável cadeira que a Sala Precisa havia providenciado. Eles já tinham feito uma breve viagem para pegar a tiara transformada em Horcrux, da Sala da Coisas Escondidas. Tinham demorado mais do que tinham esperado, mas Harry segurou-a em suas mãos. – Você ficou lá por quase 15 minutos.

– E você ficou lá quase 10 minutos, – emendou Harry, azedamente – Ao menos ficámos em Gryffindor, parceiro.

– Foi realmente muito perto. – Ron concordou.

– Falando em perto, não podemos ficar aqui muito tempo.

– Percy enforcaria a gente, – Ron sorriu ternamente, – Sabe, tinha quase esquecido como ele é pomposo.

– Verdade, – falou Harry quietamente.

– Eu nem acredito que realmente conseguimos, Harry. – disse Ron seriamente – Eu não tinha certeza…

– Estamos aqui – Os dois riram feitos loucos e Harry se sentiu, outra vez, quase à beira das lágrimas. Mas se segurou para não se sentir demasiado contente. Era maravilhoso ter todos de volta novamente, mas eles tinham de seguir em frente, com o seu propósito. – Mas o que exactamente nós fizemos?

– Não faço ideia – Ron abanou a sua cabeça – Parece ter havido uma pequena espécie de mudança, honestamente. E Hermione falou que ninguém sabia todo o conteúdo de profecia, então toda a coisa de você-ser-uma-Horcrux está, provavelmente, a salvo.

Harry concordou.

– Consegue imaginar o que Voldemort faria se soubesse?

– Não – disse Ron – E não quero pensar a respeito disso. Mas… isso me faz pensar o que mais foi mudado. Me faz desejar termos voltado alguns dias antes, talvez pudéssemos ter descoberto algumas coisas.

– Sem estar aqui preocupando-nos com o Quirell. – Concordou Harry, fazendo depois uma careta – Fiquei feliz em não ter que conviver tanto com os Dursleys. É, de alguma forma, engraçado ver como eles são realmente muito chatos, apesar de que vou ter de os aturar todo o Verão.

– Verdade! – Ron parecia pensativo e Harry teve de rir. – Que foi?

– É que eu nunca vi essa sua cara até, pelo menos, ao nosso segundo ano, da outra vez.

Ron jogou um travesseiro nele.

– Nós teremos de esperar até falar com Dumbledore, – Harry resolveu entrar em assuntos mais sérios. – Mas você pode escrever uma carta para Ginny, hoje à noite, e colocá-la a par de tudo.

– Sim, eu também acho isso. – Respondeu Ron, olhando para o relógio. – Nós temos que voltar. Vão suspeitar se não aparecermos logo. Já para não dizer que ainda temos que roubar as bombas de bosta dos gémeos.

Eles levantaram-se para ir embora, mas Harry parou.

– É errado estar ansioso com todos os problemas que vamos causar amanhã?

Ron ofegou.

– Não. É errado ter pensamentos impuros sobre uma garotinha de 11 anos?

Harry riu.

– É melhor do que pensar o mesmo sobre uma de 10 anos.

– Nós viramos uns pervertidos, Harry.


– – – – – –


Querida Ginny.

Você deve estar surpresa por eu já estar escrevendo! O Expresso foi maravilhoso. Conhecemos muitas pessoas legais. Quando falo em “nós” falo de Harry Potter. Sim, “O” Harry Potter com quem você quer casar. Ele é um cara bem legal e perguntou se a ruivinha (você, caso seja muito tapada para perceber) era minha irmã. Acho que ele se encantou com você. A propósito, uma garota, Hermione Granger, veio até nós e começou a falar tudo sobre aquela profecia. Ela perguntou-lhe se ele sabia o que era, mas não acho que ele saiba do que ela estava falando.

Nós tentámos fazer um pouco de magia também. Tentámos transformar Scabbers em um rato amarelo com o feitiço que Fred e George nos ensinaram, mas ao invés machucou-o e ele saiu correndo pelo compartimento. Eu achei engraçado, mas como não queria ferir os sentimentos do rato, não ri.

Harry e eu somos Gryffindors. Estava à espera que acontecesse, mas o Chapéu Selecionador (sim, é apenas um chapéu inofensivo, não temos que lutar com um troll, nem nada do género) demorou o dobro de tempo com a gente, do que com a maioria.

De qualquer forma, tenho que ir tomar um banho. Estou cheirando como o Fred e o George.

Ron


PS: Diga olá a tia Muriel por mim (e tente roubar a tiara dela)



– – – – – – –


O dia seguinte passou numa marcha acelerada. As aulas de Feitiços e Transfiguração correram bem, Harry tinha de dizer. Ele estava um pouco nervoso sobre como seria assistir às aulas do primeiro ano, fingindo não saber os feitiços que ele dominava há dezasseis anos. Havia uma linha ténue entre parecer um suspeito génio ou um completo idiota e igualmente suspeito. Mas, no final, Harry achava que se tinha saído bem.

Ron caminhava incomodado ao lado de Harry, no percurso para as aulas de Poções. Ele havia sido um pouco mais negligente do que Harry, nas aulas anteriores, e tinha querido impressionar Hermione. Harry queria rir da expressão na sua face quando ela ainda tinha conseguido transfigurar o palito dela numa agulha, antes dele.

– Se anima, cara. – falou Harry numa voz baixa – Ela sempre consegue manter você com os pés no chão.

– Ao menos, agora, nós vamos poder torturar o Snape. – murmurou Ron

Entraram na sala de Poções junto com os outros estudantes e Ron conseguiu achar um lugar perto de Hermione, sem parecer suspeito da parte dele. Snape, com a sua capa esvoaçante atrás dele, fez a sua entrada, mostrando a todos que ele não era um professor que devessem irritar com conversas paralelas.

O que aconteceu a seguir surpreendeu Harry.

As palavras e gestos foram exatamente os mesmos que da última vez. Snape fez questão de tentar humilhar Harry, claro, apontando o seu estatuto de celebridade. A sobrancelha soerguida do professor, no entanto, Harry tinha a certeza de que era diferente. Ele foi praticamente interrogado pelo homem, que fez perguntas que, com certeza, nenhum outro aluno do primeiro ano (além de Hermione, era claro) saberia.

A reação dele às perguntas foi diferente. Por fora, Harry fez questão de se irritar e dizer “Eu não sei” muitas vezes. Mas a reação emocional foi muito diferente. Da outra vez ele ficou embaraçado, confuso e furioso. Desta vez, porém, ele sentiu uma certa compaixão pelo homem à sua frente. Snape tinha perdido a única pessoa pela qual ele realmente se importava: a mãe de Harry. O fato de ele a perder anos antes da sua morte era irrelevante. Essa perda devastou-o, tornou-o num homem amargo e quebrado por dentro. Mas quando tudo estava dito e feito e Harry tinha visto as suas memórias (tarde de mais, demasiado tarde), ele tinha percebido que Snape era, possivelmente, o homem mais corajoso que ele já tinha conhecido.

Ele estava tão perdido nos pensamentos que quase se esquecera de dar o sinal a Ron. Cotovelou o amigo bruscamente.

Ron levantou-se imediatamente e gritou:

– O que há de errado com você, seu seboso.

– Isso aí! – Harry se levantou também. Provavelmente, isso não precisaria de ser feito, mas eles tinham de ter certeza que ele ficaria furioso o suficiente para tentar expulsar os dois, e ter razão suficiente para se importar com isso. – Nojento!

Foi assim que ambos alcançaram os bolsos dos seus mantos, pegaram numa mão cheia de bombas de bosta e atiraram no chão, nos pés de Snape.

A reação foi imediata. Os outros estudantes levantaram os pés, tapando a boca e o nariz com as mãos, e começaram a correr para o exterior da sala. Hermione, fazendo um esforço para não vomitar, lançou-lhes um olhar de desagrado e seguiu os outros colegas.

Snape não se moveu. Apenas permaneceu na frente deles, encarando-os com as feições do seu rosto, demonstrando cada vez mais e mais fúria. A sala pareceu ficar subitamente mais fria.

– Eu tiraria pontos de Gryffindor. – Ele falou sem mover os lábios. – Mas vocês serão expulsos por isso. Me sigam, o Diretor é o único que tem a felicidade de poder tomar essa decisão.

Ambos marcharam na frente de Snape, felizes com isso, pois assim ele não via os sorrisos marotos em suas faces. Snape tinha caído direitinho na sua armadilha. Não interessava o quão furioso ele estava e o quão Harry se tinha arrependido por não confiar nele, ainda assim não conseguia deixar de sentir que era bom pregar uma peça dessas com ele.

– Eca! Que cheiro é esse? – falavam os estudantes que passavam pelo local e os olhavam. Harry conseguia escutar Snape, amaldiçoando-os em murmúrios ininteligíveis.

No que pareceu ser um tempo recorde, eles estavam na frente das familiares gárgulas.

– Rebuçados de limão, – silvou Snape e as gárgulas pularam para o lado – Subam. Agora!

Snape empurrou-os sem cerimónia para o lado, batendo na pesada porta.

– DUMBLEDORE!.

– Entre, – Era a voz de Dumbledore. – O que aconteceu, Severus? É cedo… ahhh.

Harry encarou o chão, tentando organizar seus pensamentos e conter as lágrimas que queriam aparecer. Fazia uma década que ele não via Dumbledore vivo e ele era absolutamente a sua melhor hipótese. Ele, Ginny e Ron tinham-se tornado bruxos poderosos, mas Dumbledore era incrível, tanto com sua varinha como com a sua mente. Ele poderia dizer-lhes onde estavam as falhas do plano deles. Poderia transformá-lo num plano sólido e inquebrável. Harry não tinha pensado no quão aliviado ele ficaria.

Ele arriscou-se a dar uma olhada para ver a face de Dumbledore enquanto ouvia uma versão ligeiramente exagerada (apesar de não ser realmente necessário. O que ele e Ron tinham feito era condenador o suficiente) de Snape dos eventos ocorridos. Ele não parecia zangado, mas, mesmo assim, não conseguia saber o que se passava pela mente do diretor.

– O rapaz Weasley chamou-me de seboso e o Potter de nojento, momentos antes de atirarem bombas de bostas na minha sala. – falou Snape como que se divertindo.

Depois de um longo, longo tempo, Dumbledore pronunciou-se muito calmamente.

– Olhem para mim.

Ron, que controlara uma risada silenciosa durante os últimos minutos, parou de rir e olhou para cima. Apesar de saberem que não se meteriam numa enrascada muito grande (bem, eles sabiam que não seriam expulsos), Harry pôde ver apreensão nos olhos do amigo.

– Hoje, vocês fizeram um grande estrago. – Dumbledore disse a ambos. Muitos dos quadros nas paredes concordaram.

– Traga de volta a punição corporal e mande eles para casa com as costas cheias de sangue. – Sugeriu Phineas Nigellus laconicamente. Snape parecia concordar de todo o coração.

– Chega, Phineas – disse Dumbledore, erguendo a mão e silenciando o quadro do ancestral de Sirius e o mais impopular diretor de Hogwarts. – Vocês os dois mostraram um desrespeito flagrante pela autoridade, atrapalharam uma aula, fizeram a sala ser evacuada e fizeram-no com bombas de bosta, que é uma substância proibida na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts. Expliquem, por favor, porque motivo fizeram isto.

– Você vai deixá-los explicarem-se? – perguntou Snape, horrorizado – Expulse-os de uma vez e termine com isso.

– Severus, eu não consigo imaginar uma explicação possível para evitar a expulsão. – Dumbledore parecia triste ao encarar Harry.

– Eu consigo. – falou Ron em voz alta. Snape parecia pronto para o assassinar, mas depois lançou um olhar a Harry, tão malévolo, que o fez, na verdade, recuar um passo.

– Você sabia que poderia ir por dois caminhos, Dumbledore, – Sibilou Snape – Isso apenas prova que temos um novo Senhor das Trevas e não uma droga de salvador.

Harry e Ron trocaram olhares hesitantes e Harry confirmou as suspeitas de que a profecia era muito, mas muito diferente aqui.

Após um momento confuso, Ron gargalhou com vontade.

– E não esqueça os fiéis seguidores. – disse Snape. Dumbledore nada falou mas parecia profundamente submerso nos pensamentos. – Isso explica muito. A razão de porque ele é marcado como um igual.

Desta vez, Harry também riu. Aquilo explodiu dentro dele, não conseguiu segurar. Sentiu ressentimento e incredulidade, e foi, em parte, de onde veio a risada, da parte que também queria chorar. A maior parte, no entanto, era simplesmente porque ela, de facto, engraçado. Ron gargalhou com ele e Harry temeu que ambos parecessem loucos, completamente loucos. Mal podia esperar para ouvir reação de Ginny.

Com esforço, Harry conseguiu parar. Limpou as lágrimas que se formavam em seus olhos, endireitou as suas vestes, sentindo-se mais confiante, e encarou os olhos de Dumbledore. Os olhos azuis não tinham nenhum traço do brilho tão familiar (de facto, Dumbledore parecia preocupado, perplexo e um pouco zangado), mas Harry sentiu-se confortado mesmo assim.

– Nós fizemos isso para poder vir aqui e falar com o senhor sem levantar suspeitas. – confessou Harry.

– Sim, desculpe pelo que nós falamos. E pelas bombas de bosta. – Ron engasgou-se – Eu não acho que o senhor seja realmente um seboso.

– E eu não acho que você seja um nojento – acrescentou Harry.

– Eles estão mentindo! – gritou Snape, ultrajado – Dumbledore, não acredite neles!

– Bem, sim, eu acho que você é um pouco seboso. – Harry ouviu o afeto na voz de Ron, mas duvidava que os outros dois também tivessem escutado, pois encontraram-se rapidamente sentados em cadeiras conjuradas e amarrados com cordas que pareciam feitas de um tecido líquido mágico. Harry se acomodou de maneira confortável.

– Vocês estão testando a minha paciência – falou Dumbledore, friamente.

– Bela varinha. – falou Harry com precisão.

– Os dois são loucos, – falou Snape, soando triunfante. – É isso que a coisa da “Téia”(1) significa. Potter esta completamente confuso e levou o Weasley junto.

– Espere um momento, Severus. Porque motivo vocês queriam me ver sem que ninguém soubesse?

– Nós não somos loucos, Professor, – falou Harry, começando a tremer um pouco.

– É verdade, mas vocês precisam prometer nos escutar. – acrescentou Ron.

– Eu não acredito que os cavalheiros estejam em posição de pedir algo. Falem rápido.

– Você está pensando o mesmo que eu? – perguntou Ron a Harry.

– Sim – respondeu Harry. Os dois olharam para a varinha que Dumbledore segurava. Ele não a estava apontando para eles, mas eles sabiam que Dumbledore era muito, mas muito rápido mesmo.

– Talvez ele apenas use a Varinha Anciã na gente. – falou Ron.

– Oh, honestamente, – disse Snape com sarcasmo, virando-se para Dumbledore. Harry tinha de apreciar a expressão confiante na face do velho homem que mascarou a surpresa que ele devia estar sentindo. Um absurdo orgulho borbulhou dentro dele.

– Expliquem-se! – disse novamente, mas num tom diferente. Era uma mistura de confusão e perigo.

– Nós somos do futuro! – falou Ron animadamente.

Snape sacou a varinha e apressou-se em direção a Ron, apontando diretamente em sua cabeça.

– Sente-se, Severus. – disse Dumbledore. Ele tinha-se levantado da sua cadeira. – Eu tenho quase certeza que os garotos são loucos. Mas eles sabiam que eu possuo a Varinha Anciã e eu tenho que saber porquê.

A varinha de Snape foi direcionada ao solo.

– Você tem a Varinha Anciã? Isso não é um conto de fadas?

– Não. – disse Dumbledore – As Relíquias da Morte são muito reais.

– Verdade, e você possui outra não é? – Ron sorriu marotamente – Onde está a capa do Harry.

Dumbledore sentou pesadamente.

– Porquê?

– Você ainda está pedindo por explicações, enquanto esses dois deveriam ter sido expulsos há 10 minutos atrás e estar indo agora embora daqui. – protestou Snape, mas Dumbledore ainda parecia desconcertado.

– Eu acho que se ele perguntasse “como” teria uma resposta verdadeira, assim como a razão para a coisa da “Téia” também. – falou Harry calmamente. Eles já haviam se divertido e agora era a hora da verdade.

As sobrancelhas do diretor se apertaram.

– Nós usámos As Lágrimas de Merlin, – continuou Harry. A cabeça do diretor se ergueu imediatamente em compreensão.

– Impossível, As Lágrimas de Merlin são apenas um conto de fadas. – falou Snape.

– Sim, assim como as Relíquias da Morte. – contou-lhe Ron.

– É possível, Severus, – A expressão de Dumbledore era absolutamente indecifrável. – Mas eu ainda não estou certo se acredito neles. Provem-no.

Harry fechou os olhos, desejando não ter de fazer isso, mas o quadro do homem sentado a sua frente falou-lhes que isto era o que ele devia fazer se Dumbledore pedisse provas irrefutáveis. E, com toda a gentileza de que foi capaz, ele falou:

– Você vê a Ariana no Espelho Ojesed. E a família que perdeu. Seu pai, morto em Azkaban, por causa da vingança pelo que os três Muggles fizeram à sua irmã. Sua mãe que morreu acidentalmente por causa da sua irmã. A sua irmã, morta por se ter metido no duelo entre três garotos. Seu irmão, que nunca mais confiou em você depois disso. Estão todos lá em pé ao seu lado, sorrindo, e você sabe que eles perdoaram os seus erros. E tem mais alguém lá. Você também vê, – Harry apertou os lábios antes de continuar. – Também vê um homem que nunca existiu, um bom e gentil Gellert Grindelwald…

– CHEGA! – gritou Snape – Que vil loucura é essa que você está espalhando, Potter?

Harry não aguentou ver a dor nos olhos de Dumbledore. Então desviou o olhar.

Porquê?

Tinha funcionado, Harry pensou. Ou o diretor pensou que ele queria atormentá-lo e estava perguntando porque ele faria tal coisa. Mas Harry apostou todas as cartas que não era essa a pergunta, então deu a mesma resposta que tinha dado ao quadro, quatro anos atrás.

– O preço foi muito elevado. – contou ele.

– Você ganhou? – perguntou Dumbledore, sombriamente.

– Não! – respondeu Ron de forma firme. – Harry derrotou Voldemort. Mas nós perdemos todo mundo que era importante, excepto minha irmã. Ela está aqui também. Bem, não aqui exatamente. Eu espero que ela esteja na Toca.

– Dumbledore? – Snape perguntou

– Severus, o que o Harry falou só pode ter vindo de mim mesmo. Eu tenho que acreditar nele.

– Me desculpe! – falou Harry – O seu retrato ...

– O meu retrato? – Dumbledore o interrompeu – Eu não sobrevivi?

– Não, Snape o matou – Falou Ron abruptamente.

– Eu nunca mataria....

– Você o faria se soubesse que Dumbledore estava morrendo, rodeado por Devoradores da Morte, e por sua própria ordem. Fenrir Greyback estava lá também, tal como Bellatrix Lestrange. – Respondeu Harry. Ele desviou o olhar, lembrando aquela morte, como ela ainda o perturbava, como ela tinha atrasado o ano em busca das Horcrux, e como tudo teria sido diferente ele estivesse vivo. Ele virou-se de volta para Dumbledore, que, subitamente, parecia muito, muito velho. – Por favor, me fale da profecia. Eu já sei que ouve mudanças.

– Como é a sua profecia? – Perguntou Dumbledore

Harry respondeu-lhe e sua voz apenas tremeu na parte em que fala sobre ele ser uma Horcrux. Pelo menos desta vez ele sabia-o. Não seria muito tarde.

– É muito similar, – respondeu Dumbledore – A que temos aqui e agora é: O Escolhido com o poder de derrotar o Lord das trevas se aproxima... Nascido daqueles que o enfrentaram três vezes... nascido no final do sétimo mês... e o lord das trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um terrível poder que o Lord das Trevas não conhece... ele tem estado ligado (1) para sempre e sempre ... e um precisa morrer nas mãos do outro, pois nenhum pode viver enquanto o outro sobreviver.

Harry começou a chorar. Não o choro convulsivo, nada do tipo que tinha experimentado nos meses depois da batalha final, não os grandes soluços que abanavam o seu corpo inteiro e o fazia se sentir ainda pior. Mas as lágrimas escorriam rapidamente pela sua face e ele nem precisa olhar para Ron para saber que o mesmo acontecia com ele.

Para sempre e sempre.

Snape estava incrivelmente cauteloso, embora Harry achasse que ele devia estar chocado de mais para se pronunciar. Ele e Dumbledore não disseram nada até que os dois homens, que estavam ligados (1) para sempre e sempre, se recompusessem.

– Desculpe – falou Harry chocado – Isso foi inesperado. Muito inesperado.

– Qual parte? – Inquiriu Dumbledore

– A profecia dele parece muito com a nossa, mas sem a parte em que se questiona a lealdade dele. – falou Snape, mas não parecia que realmente quisesse dizer isso.

– “Téia ” não significa desonesto, – explicou Ron – É o nome do feitiço que nós usamos juntamente com a poção. O feitiço da Teia da Realidade, apesar de parecer muito mais com um encantamento.

– O que isso significa? “Ligados (1) para sempre e sempre”? Vocês sabem? – perguntou o diretor.

– Sim – harry suspirou – Nós estamos Ligados para sempre e sempre. – Parecia pessoal de mais falar disso.

– E o que precisamente significa “sempre e sempre”?

– É você. – Harry disse simplesmente – E você, suponho. E o Sr. e Sr.ª Weasley. Bill e Fleur Weasley. Charlie Weasley. Percy Weasley. Fred e George Weasley. Hermione Granger. Neville Lognbottom. Dean Thomas. Remus Lupin. Dora Lupin. Teddy Lupin. Luna Lovegood. Colin Creevey, Cho Chang, Cedric Diggory e Viktor Krum.

– Angelina Johnson, noiva do meu irmão. Katie Bell, Lisa Turpin. Todos estudantes de Ravenchaw, a maioria dos estudantes de Hufflepuff, a maioria dos estudantes de Gryffindor. Até mesmo alguns de Slytherin. A Professora McGonagall, a Professora Sprout, o Professor Burbage, a Professora Trelawney e a Professora Vector. – Ron continuou. – Dobby, o elfo doméstico. Firenze e Magorian, os centauros. Rufus Scrimgeour e Cornelius Fudge.

– Ted e Andromeda Tonks. – Cada nome pesava na alma deles, mas continuaram enumerando todos nomes que conseguiam lembrar. Dumbledore parecia horrorizado e Snape parecia perdido.

– Emmeline Vance, Elphias Doge e Amelia Bones. – Harry fez uma pausa. – Tem muitos, muitos mais. Pessoas que nem ao menos sabiam que eram alvos e foram mortos. Eu nem sei quantos Muggles, o número é incalculável. Praticamente uma geração inteira. O Professor Flitwick falou na cerimónia em memória das mortes em massa que uma geração inteira a florescer se tinha perdido. As estatísticas vieram mais tarde. Algo em torno de 40% da população bruxa foi morta ou incapacitada e isso não inclui os nascidos Muggles que não foram permitidos entrar em Hogwarts; esse número é desconhecido, seus corpos nunca foram encontrados. Toda a Hogwarts estava coberta de sangue. O preço foi muito alto.

Houve um grande momento de silêncio. O rosto de Snape estava completamente cinza e Dumbledore estava com a cabeça entre as suas mãos.

– Sempre e sempre é o nosso hino. – Disse Ron – É difícil de explicar.

– Significa Amor, todas pessoas que amamos e que não vamos perder novamente – Harry percebeu que estava praticamente gritando. As cordas que o prendiam haviam sumido e ele nem percebeu que se tinha levantado.

Dumbledore estava sem palavras, mas em seus olhos podia se ver esperança e orgulho. Até Snape parecia tão tocado com a situação como o outro. Ron estava em pé ao lado de Harry, tão ereto quanto ele e tão orgulhoso.

– Você sabe… – começou Dumbledore. – Eu tenho as minhas suspeitas… mas você sabe o que o resto da profecia significa?

– O que quer que você esteja pensando, provavelmente está certo. – falou Ron.

– Um pedaço da alma dele está presa em mim. Ele não pode morrer até que… bem, até que eu morra também. – disse Harry. – O conhecimento veio muito tarde antes, mas não agora.

– Harry sobreviveu novamente a Maldição da Morte. – falou Ron orgulhoso.

– Então ele definitivamente fez uma Horcrux? – perguntou a Harry – Eu suspeitei quando o vi depois que ele matou seus pais.

– O que é uma Horcrux? – perguntou Snape, perdido, e foi respondido rapidamente por Dumbledore – Então é isso que Regulus sabia… Ele falou algo muito estranho antes de desaparecer…

– Não. – Disse Harry – Ele não fez uma Horcrux.

Ron riu amargamente.

– Ele fez sete Horcruxes, contando com o Harry.

– Oh, Merlin – Dumbledore suspirou.

Harry retirou a tiara do bolso interno de suas vestes.

– Nós temos uma e sabemos, aproximadamente, onde estão todas as outras. Acho que poderia Aparatar um de vocês até uma delas, e as demais não devem ser tão difíceis de encontrar.

– Harry, eu preciso de um tempo, – disse Dumbledore calmamente. – Me dê uma semana, por favor. Eu preciso de pensar em tudo que você me falou.

Harry entendia. Guardou novamente a tiara, surpreendido que isso lhe fosse permitido. Dumbledore estava avassalado, poder-se-ia dizer. Harry lembrava muito claramente da sensação de ficar sabendo a forma como Voldemort havia mutilado a sua alma, usando tanto mal, e de como a sua tarefa parecia impossível e imensa.

– Professor, se você me permite adicionar apenas mais um fato. – Disse Harry hesitantemente. – Há um nome que não colocamos na lista que lhe demos, um nome muito importante para mim.

Ron encarou Snape.

– Você não vai gostar.

– Duvido que possa ficar mais surpreso do que estou no momento. – murmurou Snape.

– Sim, você pode.

– Meu padrinho, Sirius Black, actualmente preso em Azkaban por crimes que não cometeu.

– Você esta certo, Weasley. – falou Snape, depois de um momento, com os lábios contraídos numa fina linha e com uma expressão selvagem nos olhos. – Não imaginei que Potter pudesse perdoar o crime da traição de James e Lily.

– Eu não perdoei. – assegurou-lhe Harry. – Meu pai, Sirius Black e Peter Pettigrew eram todos animagos não registados. Queriam acompanhar Remus nas noites em que ele se transformava. Quando Sirius perseguiu Wortmail – Pettigrew –, após ele vender meus pais a Voldemort, Wormtail foi quem matou os Muggles. Depois se transformou num rato e fugiu pelos canos do esgoto. E eu asseguro que não o perdoei.

– Harry matou-o. – contribuiu Ron – Harry apanhou Pettigrew logo depois daquele rato imundo ter torturado Mcgonagall até a insanidade.

– Tomara que a gente o encontre antes que ele cometa esse crime. – falou Dumbledore.

Ron riu.

– Oh, nós sabemos onde ele está. Neste momento, ele está na minha cama, provavelmente enrolado nos meus lençóis.

– Preciso de sentar. – falou Snape.

Dumbledore balançou a cabeça, como que a sacudir teias de aranha, num gesto que, Harry suspeitava, pouca gente era permitida a ver.

– Precisamos pensar numa desculpa, Severus. Eles estavam certos. Não haverá expulsão. Mas não podemos deixá-los sair impunes. Nenhum professor vai acreditar nisso e acredito que, no momento, todo o castelo já está sabendo exactamente o que aconteceu.

Snape permaneceu silencioso por um momento, de tal forma que Harry temeu que ele insiste com a expulsão. Mas seus temores eram infundados.

– Algum estudante fez uma poção não permitida. – Ele disse cautelosamente. – Conheço algumas que inspirariam loucura, a Poção da Confusão, eu sugeriria. Eles terão de cumprir detenção comigo, todos os sábados, por um mês. E vinte pontos serão tirados de Gryffindor, presumidamente porque foram imbecis em beber uma poção que eles não conhecem, mas na realidade porque dentro de alguns minutos eles serão recebidos como heróis na Sala Comum de Gryffindor.

– Snape sabe como nos manter humildes. – falou Ron.

Harry riu.

– Ele sempre soube.


– – – – – –


(1) Nota de Tradução: “Bent”, em português pode significar “téia”, “ligação”, “ligado”, mas também “desonesto”. Daí que na profecia, quando diz “He has been Bent foi always and always” (ele tem estado ligado para sempre e sempre) tenham interpretado a profecia de modo erróneo (ele tem sido desonesto, sempre e sempre), questionando a lealdade de Harry

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