II - Dúvidas.
' Todos os personagens lidos a seguir foram criação da Jô e eu honestamente não quero lucrar com isso.'
~ Boa Leitura!
Capítulo II - Dúvidas
“Você é o brinquedo caro
e eu a criança pobre
o menino solitário que quer ter o que não pode
dono de um amor sublime
mas culpado por querê-la
como quem a olha na vitrine
mas jamais poderá tê-la”
Eram rostos que o olhavam torto, rostos tortos.
Não era lá um incomodo para ele. Os alunos o encaravam com sentimentos oblíquos e a recíproca era mais do que sincera.
Scorpius não se importava com outros, porque os outros não se importavam com ele.
Sentou-se na mesa da Sonserina e passou a balançar o copo com suco de abóbora, vendo o líqüido alaranjado ir de uma borda a outra, enquanto Hans Nott conversava com ele.
Sobre o que ele falava mesmo?
Alguns alunos se levantaram quase que no mesmo instante, indo até a pequena fila que se formava no pátio.
Bufando, Scorpius os imitou. Teria de vigiar os terceir’anistas e os quart’anistas no primeiro passeio à Hogsmead do ano letivo.
Passou pelos outros alunos, sentindo o vento frio dos jardins brancos pela neve, e estacou no portão de ferro ao ver a outra monitora que esperava os alunos.
Ela também era monitora-chefe, não é mesmo?
– Bom dia, Malfoy. – cumprimentou, sorrindo com alguns dentes a mais.
Ou ele estava imaginando?
– Bom dia, Weasley. – ficou ao lado dela, esperando pelo resto dos alunos que mostravam suas autorizações, impassível por fora, exultante por dentro.
– Não se preocupe, nós só precisamos deixá-los em Hogsmead à salvo. – Rose tentou acalmá-lo, no momento em que os portões se abriram (empurrando a neve acumulada) e os alunos foram em direção à estradinha de neve, falando alto e correndo.
– É exatamente por isso que estou preocupado. – Scorpius respondeu, sério; expressão que mudou imediatamente ao ouvir uma gargalhada de Rose, seguida de um suspiro.
– Nós não éramos assim em nossos terceiro e quarto anos. – os dois observaram uns moleques iniciando uma guerra de neve, que acabou antes mesmo de acertar a primeira vítima (uma gordinha solitária e cabisbaixa). Rose havia derretido a bola de neve com um floreio certeiro. – O próximo engraçadinho que iniciar uma guerra de neve, – ralhou, em alto e bom som – voltará para o castelo antes mesmo de vislumbrar o povoado. – Scorpius riu com gosto, todos os alunos que estavam mais atrás pararam de chofre e olharam perplexos para Rose, que estava séria.
– Ela não está brincando. – o loiro acrescentou, ao que os alunos voltaram a andar, resmungando.
Os monitores-chefe seguiram os pré-adolescentes, atentos. E Scorpius procurou por todos os cantos um assunto para conversar com Rose, que assoviava uma música de Natal. Ele já havia caído na perdição de uma conversa com ela, e a sensação era tão boa que o loiro simplesmente não queria abrir mão. Pensou em perguntar sobre as aulas...
E se fosse pessoal demais?
– Imagine só a cara do meu irmão ao ver que eu estou andando com você. – Rose quebrou o silêncio, admirando um casal de quart’anistas de mãos dadas.
– Mas você só está cumprindo o dever de monitora-chefe. – ela sorriu e Scorpius percebeu que sorria também, minimamente.
– Você não conhece o Hugo. – Scorpius tentou se lembrar do rapaz e instintivamente levou a mão ao maxilar.
– Não foi ele que me deu um soco no ano passado? – Rose riu baixinho e assentiu. – O que foi que eu fiz mesmo?
– Acho que ter ficado no caminho dele já foi motivo suficiente. – os dois riram.
– Sua família inteira me odeia. – havia uma nota mal contida de rancor na voz dele, mas Rose não percebeu. Ela ainda encarava o casal de mãos dadas com um meio sorriso no rosto, parecia estar refletindo sobre o que Scorpius acabara de dizer.
– Albus e Lily não te odeiam. – foi a resposta.
– Ajudou bastante...
– Eu não te odeio. – passou a observá-la e devolveu ao sorriso que ela lhe oferecia.
Sincero.
Há quanto tempo não sorria assim?
– Bom saber. – Scorpius respondeu, ainda sem tirar o sorriso que ele esqueceu que sabia formar. Rose o olhou e seus olhos cintilavam, juntamente com seu rosto, mais rosado que o normal.
Não será pelo frio, será?
Estavam mais próximos do povoado e Scorpius se sentiu meio desesperado. A presença silenciosa de Rose não o deixava ficar completamente.
Mas, e quando eles chegarem ao destino?
A resposta veio em formato de uma placa, que dizia claramente, apesar da neve: “Bem vindos à Hogsmead”. Ao ler aquilo, o estômago de Scorpius se encolheu e ele sentiu raiva por ter de se despedir. Mas não raiva dela.
Com o passar dos anos, Scorpius descobriu que não conseguia sentir raiva de Rose. Não só pela imagem serena e pura que ela transmitia, mas também porque ele sabia que, se deixasse um sentimento como a raiva se apossar do que sustentava pela ruiva, Scorpius perderia o único sentimento bom que tinha o conhecimento de possuir.
E ele não permitiria tal perda.
Porque, se houveram dias em que Scorpius desejou ser inteiramente bom, esses dias sempre começavam com um vislumbre do sorriso cordial de Rose.
O esboço perfeito de um suposto sorriso cordial.
Era um efeito que só ela encadeava. Ele sorria com sinceridade, ria com facilidade, possuía bom humor. Com Rose, Scorpius sentia que fazia a diferença, que podia “mudar o mundo” de alguma maneira. Uma pena que esses momentos eram sempre fugazes.
– Acho que aqui nos despedimos. – disse por fim, amaldiçoando o caminho por ser tão curto.
Rose deu um tapinha em seu ombro e foi caminhando, sem olhar para trás, enquanto Scorpius admirava seu modo comum e suave de caminhar.
Quando ele já ia virando para entrar na Dedosdemel, Scorpius viu Rose parar sua caminhada e voltar-se para onde o loiro estava. Ela sorriu de leve e pareceu enfrentar uma batalha interna.
– Malfoy, – chamou desnecessariamente, já que os olhos do rapaz estavam presos nela. – Se você quiser me acompanhar... – encarou os sapatos sujos de neve. – Que tal? – ele franziu a testa e sorriu, indo até ela.
– Você não vai às Gemialidades, vai? – Scorpius perguntou logo que eles retornaram à caminhada.
– Não, não precisa pegar sua varinha. – Rose respondeu sorrindo, enquanto os dois viraram a esquina. – E, Hugo e Lily ficaram no castelo. – acrescentou.
– E o Potter?
– Namorando. – sua voz soava tão divertida que, mesmo sem entender por completo a piada, Scorpius riu.
– Então, estou fora de perigo? – ele brincou e percebeu pr’aonde eles estavam indo. – Ou você pretende me matar na Casa dos Gritos? – Rose gargalhou.
– Não, não pretendo te matar. – as bochechas dela ficaram rubras e ela encarou o casarão velho com admiração. – Este é o meu refúgio quando venho à Hogsmead. Não gosto de lugares movimentados e multidões. – Scorpius observou seu perfil e sorriu fracamente.
Por que ela contava isso a ele?
– Pensei que fosse mal assombrada. – comentou, vendo Rose sorrir feito uma criança e ir até o portão de madeira, abrindo-o.
– Vai me dizer que você tem medo de fantasmas!!?
Ainda rindo com a brincadeira, Scorpius foi até o portão (já aberto por Rose) e entrou no terreno coberto de neve, observando como o jardim estava mal cuidado e como a sebe branca estava enorme.
Ele olhou para Rose, que já segurava a porta para a sala e sorria, encorajando-o.
Não seria tudo um sonho?
Ou um pesadelo?
Sorriu de volta, não poderia ser um pesadelo. Não quando ele via aquele sorriso de dentes a mais.
Já pensou se não é a sua imaginação?
Não!
A casa dos gritos era mais destruída por dentro do que por fora. Como se uma fera indomável ficasse confinada no casarão por, pelo menos, algumas horas. Rose pareceu notar o aturdimento do rapaz, porque disse:
– A fera que morava aqui já se foi há muito tempo. – ela sentou em uma poltrona velha e rasgada e correu os olhos calmos pela sala de madeira. – Acho que por isso esse lugar me acalma. – apontou para o sofá e Scorpius sentou nele, sentindo a madeira lhe cutucar. Remexeu-se, desconfortável.
Logo após, os dois entraram em um silêncio aconchegante, onde Rose cerrava os olhos e descansava a cabeça na poltrona, e Scorpius a observava com um sorriso disfarçável, uma dúvida forçando-o a falar sem que ele percebesse.
– Por que você está fazendo isso, – ponderou pelo nome que a chamaria. – Weasley? – a ruiva abriu os olhos e o encarou com uma serenidade que queimava. Aprumou-se na poltrona e desviou os olhos para o céu nublado, voltando-se para Scorpius logo depois.
– Bem, há seis anos que somos colegas de turma e nunca conversamos direito... – hesitou. – Acho que mais pelo fato de você ser um Sonserino... Hm, para falar a verdade... – as bochechas dela coraram imperceptivelmente. – Eu queria ver se valia a pena desobedecer a uma ordem do meu pai para falar com você. Talvez seja o fato de estarmos no último ano e quebrar regras seja mais divertido. – acrescentou, como que se desculpando.
E então, pela segunda vez só naquele dia, Scorpius sorriu com sinceridade.
– E vale a pena? – perguntou, vendo Rose relaxar e adquirir uma expressão divertidamente misteriosa.
– Ainda estou ponderando. – Scorpius arqueou a sobrancelha direita. – Nunca desobedeci meu pai.
– Você está desobedecendo agora. – ela riu e suspirou.
– É, estou.
Após aquele comentário, Rose mostrou-se mais a vontade na presença de Scorpius, tendo até mostrado seus livros preferidos, que estavam escondidos em um baú no andar de cima. Eram sobre magia antiga, o assunto predileto de Rose.
Livros velhos e mofados nos quais ela se perdia e amava. Livros que fazia seus olhos azuis cobalto brilharem como um lago cristalino banhado pelo sol.
Scorpius desejou, enquanto a via folhear um dos livros com afeto maternal, ser um daqueles livros. Não o importava a sabedoria que eles possuíam, nem o afligia a poeira que era a camada de suas capas, ou a velhice que arrancava suas folhas. Ele seria capaz de perder todas as suas folhas para ser afagado pelos dedos finos e delicados da ruiva. Então, contanto que Rose o segurasse e o folheasse com aquela ternura, todo o esquecimento dentro de um baú velho valeria a pena.
Desviando os olhos da visão sublime a sua frente, Scorpius notou uma pequena varanda no quarto destruído (talvez o mais destruído de todos, onde até a cama estava quebrada). Foi até lá e sorriu com a visão que se estendia: o pequeno povoado de Hogsmead era banhado pelo sol alaranjado, que lutava contra as nuvens que insistiam em cobri-lo.
Sentiu Rose pôr-se ao seu lado e uma paz desconhecida o invadiu. Queria descer às ruas de Hogsmead e dançar com as velhinhas, beijar a testa das crianças, sorrir para os inimigos, ser inteiramente bom. Mas, ao mesmo tempo, Scorpius queria ficar admirando a paisagem que a varanda exibia ao lado de Rose, para sempre.
E quem garante que ela também queira ficar assim?
– Acho que nós devemos voltar para vigiar os pestinhas. – a ruiva quebrou o silêncio divino, apontando para um grupinho de pré-adolescentes que se formava em frente à Estação de Trem.
– Tomara que eles estejam cansados demais para tentar outra guerra de neve. – ele zombou, enquanto os dois caminhavam em direção ao grupo.
Alguns rapazes, que mais cedo haviam iniciado a guerra de neve, encolheram-se ao ver os monitores-chefe se aproximando e Scorpius não pôde deixar de acrescentar.
– Ou talvez eles estejam temerosos demais para tentar algo.
Rose riu e o loiro pôde ver, por detrás do emaranhado de cabelos ruivos e do gorro Grifinório, as orelhas dela ficarem vermelhas.
Por causa do seu comentário?
Organizaram o grupo e partiram de volta para o castelo de Hogwarts, o vento frio zunindo e batendo no rosto deles, como pequenas facas.
A volta foi mais calma e mais rápida que a ida. Talvez porque Scorpius e Rose passaram o caminho inteiro conversando, ou porque os alunos estavam cansados (ou temerosos mesmo), ou, talvez, porque as voltas são sempre mais imperceptíveis que as idas.
Talvez essa diferença se deva ao fato de que quando “vamos”, pensamos em como será no destino e ficamos ansiosos. E, quando “voltamos”, passamos o caminho pensando em como foi chegar ao destino.
Era a diferença entre a ansiedade e as boas lembranças.
Seus colegas de casa ainda perguntaram onde ele havia ido e disseram que o haviam procurado por todo o povoado, porém, obviamente, sem encontrá-lo. Scorpius só deu os ombros e disse que não queria ser encontrado, sem medo do que aquele comentário causaria.
Deitou-se na cama de dossel e colchões verdes após um jantar silencioso, com um sorriso mínimo nos lábios.
Aquilo tudo havia mesmo acontecido?
Dormiu antes de encontrar a resposta.
N/A: Eu disse que os diálogos deles iriam aparecer muitas vezes... ,vicia, sabe? (hoho, sabemos). Então, explicando algumas coisas, não é mais o Filch quem verifica as autorizações, porque o coitado já deve ter morrido, só que eu não quis expandir a informação, pra não ficar aquela coisa chata. E a "fera" de que a Rosie fala... É, sim, ela fala sobre o Lupin (♥ )!
N/A²: Também não posso esquecer, os livros sobre magia antiga. Todos nós sabemos do que se trata a magia antiga de que Dumbledore (♥ ) tanto fala. E sabemos também que não há feitiço que a reproduza. Mas, nos livros que a Rose guarda, não há feitiços, e sim contos, histórias sobre acontecimentos relacionados à magia antiga.
N/A³: Bem, espero ter esclarecido tudo.
Obrigada à - Julie Padfo̲ot. ;# (tanto pelo comentário quanto pela capa - que eu amei, *_*), à Sαrαh W. Vegα (:(somos duas,:D) e à Larissa (adorei teus elogiiios, brigada mesmo)
Cuidem-se,
Pollita
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