Capitulo 8



CAPITULO VIII





Harry esperava que com o passar da semana as coisas fossem ficando mais fáceis, mas isso não aconteceu. Os dias não eram tão ruins. Ele passava a maior parte do tempo mergulhando e de noite tinha cuidado para não ficar sozinho com Hermione. O que não chegava a ser um problema, já que ela era sempre o centro das atenções.


Isso significava que ele só precisava lidar com as noites. Harry disse a si mesmo para tratá-las como um teste de resistência como tantos outros aos quais já sobrevivera.


Era claro que podia.


Aisling era uma excelente desculpa para encobrir seus sen­timentos por Hermione. Por isso, Harry ficava o mais perto dela que podia. Não era difícil. Bryn revelara-se quase obsessivo por pes­ca oceânica e enquanto Aisling e Harry mergulhavam, ele pas­sava o dia inteiro em um barco, com um anzol na mão, à espera do maior peixe do mundo. De noite, Bryn gostava de reviver suas experiências minuto a minuto, contando-as em detalhes para quem se dispusesse a ouvi-las.


Harry percebeu que às vezes Aisling ficava meio amuada e que muitas vezes procurava ficar na mesa em que ele e Hermione estavam, em vez de ficar sozinha com Bryn. Ao vê-la, Harry co­meçou a se perguntar se a teoria de Hermione estava correta e o romance de Aisling já começava a apresentar sinais de cansaço.


— Eu lhe disse. — Hermione foi quase rude quando ele mencionou o assunto. — Você deve estar se sentindo feliz.


Feliz? Harry ficou confuso por um momento antes de se lem­brar que, para Hermione, ele ainda estava apaixonado por Aisling.


— Ah, sim... estou — mentiu ele.


— É evidente que todas essas horas que você tem passado mergulhando com Aisling têm compensado — disse Hermione com um sorriso forçado. — Eu fico feliz por você.


— Você não parece muito feliz.


— Bem... é difícil ficar feliz sendo deixada todos os dias na praia, enquanto você vai mergulhar com Aisling — disparou ela.


Harry olhou-a, surpreso.


— Você disse que não queria ir mergulhar — lembrou ele. — Que estava se divertindo na praia.


— Não é muito divertido ser alvo de pena para todos que estão na praia!


Ele franziu o cenho.


— O que você quer dizer?


— Você sabe o que quero dizer, Harry! — gritou Hermione, com raiva. — Eu sei que quer ficar com Aisling. Por mim, tudo bem, mas você precisa pensar em como é frustrante ficar esquecida aqui o dia todo. Todos acham que estamos prestes a terminar.


— O quê?


— É claro que sim! Eles só vêem você com Aisling, nunca comigo. Nós nunca fazemos nada juntos.


Hermione ficou espantada ao ver como estava próxima das lágri­mas. Vinha tentando com todo afinco não se incomodar quando Harry saía com Aisling todos os dias. Percebera até a impaciência crescente de Aisling com Bryn.


A qualquer momento, Aisling perceberia que saíra perdendo com a troca. E com Harry tão disponível e ansioso para voltar para ela, Aisling logo diria alguma coisa a ele e então, o que aconteceria com Hermione? Teria de fingir que ficara feliz por Harry, mas não sabia se agüentaria.


Hermione passava o dia com uma multidão e de noite ficava os­tensivamente perto dele, desejando conseguir tocá-lo. Apesar de nunca estar sozinha, Hermione nunca se sentira tão solitária. Harry era sempre educado, mas deixava claro o que sentia. E uma vez que ela o tocara por acidente, ele se contraíra e estre­mecera.


— Desculpe-me — murmurara ela, incrivelmente constran­gida, e voltara para o seu lado da cama.


— O curso de mergulho termina amanhã — disse ele. — Talvez possamos fazer algo juntos na sexta?


Alguns dos outros participantes haviam alugado jipes e des­coberto pequenas praias com excelentes restaurantes de frutos do mar.


— Tudo bem — respondeu Hermione, tentando desesperadamente não parecer ansiosa demais, mas incapaz de disfarçar a von­tade de passar algum tempo a sós com ele.


— Aisling disse que vai haver um passeio de barco para uma ilha desabitada amanhã — Harry falou. — Vai dar para mergu­lhar com snorkel. Se você quiser, nós poderemos ir.


Hermione sentiu uma onda de decepção invadi-la. Parecia que ele não conseguia sequer imaginar um dia longe de Aisling. Hermione ficou furiosa consigo mesma por aquele momento de eu­foria, mas se se recusasse a ir, ficaria parecendo uma menina mimada.


— Está bem — concordou, desanimada.


Apesar da decepção, Hermione acordou animada na sexta-feira. Harry tomou café da manhã com ela e não havia sinal de Aisling. Talvez ela tivesse mudado de idéia, pensou Hermione, esperançosa. Enquanto isso, o dia se estendia diante deles. Um dia inteiro com Harry. Talvez não ficassem sozinhos, mas pelo menos ele estaria lá. E para o que ela estava sentindo naquele momento, seria suficiente.


O dia amanhecera fantástico. O céu estava azul e sem nu­vens, o mar, calmo e limpo e o sol da manhã brilhava por trás dos coqueiros, lançando sombras longas na areia branca. Pare­cia o paraíso, pensou Hermione. Era impossível sentir-se deprimida em um lugar como aquele, em um dia como aquele.


Ao diabo com Aisling, pensou ela. Aproveitaria aquele dia, independentemente da presença dela.


Infelizmente, Aisling apareceu. Quando o resto do grupo che­gou, ela estava esperando no pontão com Bryn, que obviamente havia sido convencido a abrir mão do dia matando peixes e já parecia arrependido.


Havia onze pessoas ao todo, incluindo Cassandra. Depois de passar a semana inteira organizando passeios e atividades para os demais, ela se sentia no direito de participar de um.


— Estão todos aqui?


Ela começou a contá-los e Harry fez uma careta para o barco.


— Nós vamos naquilo ali? —- perguntou ele, interrompendo-a.


— Qual é o problema com ele?


— É muito aberto e muito baixo, e vai ficar ainda mais baixo depois que todos entrarmos.


Bryn adiantou-se para participar da polêmica.


— Qual é o problema?


— Eu só estou um pouco preocupado com a falta de proteção — disse Harry, aborrecido com a intromissão de Bryn.


— Ora, rapazes, é uma traineira perfeitamente apropriada para tomar sol!


— Eu não estava pensando no sol — interveio Josh, calma­mente. — Estou pensando no que aconteceria se pegássemos um mar agitado.


— Que mar agitado? — zombou Bryn. — O mar está liso como sabão.


— Eu estou com um mau pressentimento sobre o tempo. — Harry estreitou os olhos para o horizonte, preocupado.


Bryn seguiu o olhar dele.


— É só uma corrente de calor -— declarou. — Venha. Vamos.


— Só um minuto — disse Harry, em voz baixa, mas algo em seu tom fez Bryn parar onde estava. — Quem é o encarregado deste barco? — perguntou ele a Cassandra.


— O barco é de Ron. Ele é muito responsável e já fez uma infinidade de viagens para nós. Como não pôde vir hoje, ele mandou Elvis em seu lugar — ela informou, apontando para um rapaz que esperava pacientemente. — Ele só tem treze anos, mas ajuda o pai no barco desde que começou a andar.


— Tenho certeza de que Elvis sabe o que está fazendo — disse Harry, seco. — Eu só me sentiria mais seguro se houvesse coletes salva-vidas no barco.


— Ora, pare de ser rabugento — reclamou Bryn. — Não vamos precisar de salva-vidas em um dia como hoje!


— É. Pare de criar caso, Harry — pediu Aisling. — Se ficarmos aqui procurando salva-vidas, vai ficar tarde demais e não po­deremos ir.


Todos concordaram com um murmúrio e Harry deu-se por ven­cido. Assim que entraram, o barco ficou ainda mais baixo e próximo da água. Harry não estava gostando nem um pouco, mas Hermione, que não ouvira nada da conversa, já havia entrado. Ape­sar da vontade de pegá-la pelo braço e tirá-la de lá, Harry entrou no barco. Não a deixaria sozinha ali por nada.


Relutante, Harry soltou a corda para Elvis e deu uma última olhada no horizonte. Talvez tivesse se enganado sobre o tempo.


E pela maior parte do dia, pareceu mesmo estar. As velas do barco ofereciam um pouco de sombra, mas mesmo assim, estava muito quente. Apesar do calor, estavam todos alegres. Aparentemente, haviam se dado conta de que estariam de volta às suas casas e ao inverno em poucos dias e que era melhor aproveitar os raios solares ao máximo. Só Harry manteve um olho atento ao horizonte, mas a mancha não se moveu.


Finalmente, ancoraram em um atol minúsculo, cercado por uma parede de coral. Debruçados na beirada do barco, todos espiaram e se maravilharam com os peixes multicoloridos que entravam e saíam dos corais.


— Está vendo? — disse Bryn com um grunhido. — Se tivés­semos ouvido Harry, ainda estaríamos procurando coletes salva-vidas e não teríamos visto isso.


Hermione levantou-se abruptamente.


— Onde estão as máscaras e pés-de-pato? — perguntou, an­tes que alguma outra pessoa decidisse apoiar Bryn. — Não sei vocês, mas eu pretendo pôr um snorkel e cair na água para ver esses peixes de perto antes do almoço.


Harry desejou poder afastar a sensação de desastre iminente. Estava dividido entre acompanhar a mancha no horizonte, ou pular na água com Hermione. Ela evidentemente estaria segura, mas as correntes marinhas eram traiçoeiras e poderia haver tubarões...


Com medo de deixá-la fora da sua vista, Harry pegou uma máscara e um snorkel e pulou na água logo depois dos outros. Hermione só havia feito aquilo uma vez na vida, de forma que foi fácil alcançá-la e segui-la enquanto ela perambulava alegre­mente pelos corais, sem dar-se conta da presença dele até que Harry tocou-a no braço e apontou.


Harry virou-se e avistou uma imensa tartaruga marinha pas­sar nadando. Encantada, tirou o snorkel e virou-se para Harry.


— Que coisa linda, Harry! É uma das coisas mais incríveis que já vi na vida! — Ela estava tão encantada que o incômodo de Harry começou a ceder. Hermione estava feliz, disse a si mesmo. Tudo estava bem.


Determinado a não incomodá-la, Harry voltou para o barco algum tempo depois, sentou-se e ficou conversando com Elvis até o grupo começar a voltar. Hermione foi uma das últimas. Quando a viu subir a escada do barco, sentiu uma forte sensação de alívio, apesar de estar determinado a não se preocupar.


Ela jogou os pés-de-pato para dentro, subiu no barco e tirou a máscara. Seu rosto tinha uma marca vermelha e os cabelos estavam molhados e embaraçados, mas ela parecia sensacional, pensou Harry. Estava iluminada de felicidade e borbulhando de entusiasmo.


— Não foi maravilhoso? Eu mal pude acreditar naquelas cores! Como se chamam aqueles peixes amarelos com listras azuis? E vocês viram a tartaruga?


Todos estavam felizes e sorridentes, trocando comentários sobre o que tinham visto e elogiando o almoço que o hotel havia mandado.


— Eu estou faminta — disse Hermione. — Vamos comer logo e daí poderemos mergulhar de novo mais tarde.


Ela atravessou a pilha de máscaras e pés-de-pato e aproxi­mou-se de Harry para pegar o short e a blusa, mas quando che­gou, outra pessoa subiu no barco fazendo-o oscilar. Hermione perdeu o equilíbrio e caiu em cima de Harry.


Harry pegou-a instintivamente e, por um breve momento, se­gurou-a contra si. Ela ainda estava molhada e seu corpo parecia quente e úmido contra o peito dele. Incapaz de se conter, Harry abraçou-a e viu-se preso àqueles olhos azuis, com o coração aos saltos.


— Tudo bem? — perguntou ele, com a boca seca e abalado pelo desejo que sentia.


Hermione assentiu ligeiramente e obrigou-se a sair dos braços dele antes que fizesse alguma tolice como passar as mãos pelos ombros dele e pelas costas largas e musculosas. Ficou chocada com o impacto provocado pelo choque das peles nuas e pela onda de excitação despertada pelo mais acidental dos toques.


A quem estava tentando enganar? Ela o desejava intensa­mente. Queria amá-lo ali mesmo, naquele momento, na frente de todos. Determinada, Hermione engoliu em seco e concentrou-se em vestir as próprias roupas.


Enquanto isso, Harry tentava não pensar em como ela havia saído rápido dos seus braços. Será que Hermione vira o desejo des­lavado em seus olhos? Será que recuara por causa disso?


Decidido a não pensar nela, Harry voltou os olhos para o ho­rizonte e sentiu um frio na espinha. A mancha havia se trans­formado em uma feia nuvem negra, avançando pelo céu azul.


Ele se levantou.


— Acho melhor irmos — anunciou.


Houve um coro de protestos. Todos queriam almoçar e ficar ali. Harry interrompeu-os.


— Olhem aquilo! — exclamou, apontando para o horizonte escurecido.


— Ah, mas está a quilômetros de distância!


— Está tão bom aqui.


— Nós temos de ir — disse Harry. — Agora mesmo. — A autoridade em seu tom de voz calou a todos. — Quem ainda não subiu? — perguntou.


— Bryn — disse Aisling. — Ele disse que queria dar uma olhada do outro lado.


— É melhor irmos buscá-lo. Ele disse para que lado iria?


Elvis ligou o motor enquanto Harry içou a âncora e eles con­tornaram o atol, em busca do snorkel de Bryn. Àquela altura, todos já haviam percebido a urgência na voz de Harry e olhavam preocupados para a nuvem negra que se aproximava.


— Ali está ele!


Haviam perdido minutos preciosos até Hermione avistar o snorkel se insinuando para fora da água, um pouco adiante.


Elvis aproximou o barco de Bryn que, apesar de vê-los se aproximando, apenas acenou e continuou o seu passeio.


Harry suspirou.


— Eu vou buscá-lo.


Com um gesto preciso, ele mergulhou e nadou até Bryn. Es­tavam longe demais para que Hermione ouvisse o que diziam, mas era evidente que Harry estava tendo dificuldade em convencer Bryn a voltar para o barco, apesar de apontar continuamente para a nuvem negra, cada vez mais ameaçadora.


Aisling assistia a tudo, ansiosa.


— Você não pode fazer nada? —- pediu Hermione. — Ele vai ouvi-la, não vai?


— Não se achar que estou tentando convencê-lo a fazer o que Harry quer. — Aisling olhou para Hermione. — Bryn tem ciúme de Harry porque... bem, você sabe...


Sim, Hermione sabia, mas não parecia ser uma boa hora para ciúme bobo.


Felizmente, naquele momento alguém gritou que os dois ho­mens estavam voltando ao barco. Ninguém soube ao certo o que Harry havia dito a Bryn, mas pela expressão no rosto de Bryn, não fora nada muito agradável.


— Não sei para que esse exagero todo — reclamou ele a Aisling. — Essas nuvens não estão nem perto e, mesmo que estivessem, eu não tenho medo de uma chuvinha tropical! — Ele apontou com a cabeça o local onde Harry estava conversando com Elvis. — O Kommandant parece estar insistindo em que voltemos, mas eu não entendo qual é o problema de ficarmos.


— Não há abrigo aqui — disse Hermione.


Bryn apoiou a mão no mastro que prendia as velas.


— Isso basta para nos proteger da chuva. Talvez fiquemos um pouco molhados, mas logo passará. E sempre assim com essas tempestades tropicais.


— Vai ser mais que uma tempestade passageira — Harry informou. — Aqui fora, ficamos expostos demais. Precisamos voltar para alguma daquelas ilhas pelas quais passamos e pro­curar abrigo. Pelo menos assim sairemos do barco. Ele não foi concebido para o mau tempo.


— Pois eu digo que devemos ficar aqui mesmo — Bryn de­safiou, passando os olhos pelo grupo. — Quem concorda comigo?


Harry avançou até ficar a menos de um palmo de distância de Bryn.


— Isso não está em votação — disse, baixinho, mas numa voz que fez um calafrio percorrer a espinha de Hermione. Ela nunca ouvira Harry falar daquele jeito antes e ficou grata pela raiva não ser dirigida a ela.


— Há uma tempestade se aproximando — prosseguiu ele no mesmo tom calmo e frio. — Esse barco não é seguro e, como Hermione observou, não há como nos abrigarmos aqui. Eu não estou disposto a arriscar a vida de Hermione ou de quem quer que seja apostando em "só uma tempestade tropical". Isso não está em votação. Vamos voltar para a última ilha o mais rápido que pudermos. É o mais prudente a fazer.


Bryn sentou-se na traineira, mal-humorado.


Harry foi se sentar ao lado de Elvis, que parecia nervoso e mais jovem do que nunca.


— Tudo certo, Elvis — disse Harry, tocando o rapaz no ombro.


— Toda força à frente!


— Com que direito ele fica dando ordens a todo mundo? — murmurou Bryn. — Daqui a pouco vamos ter que marchar. Se eu soubesse que estava me alistando no exército, nunca teria concordado em vir para essa semana.


— E uma pena que tenha — cochichou Cassandra ao lado de Hermione.


Hermione olhou os rostos ansiosos a sua volta.


— Harry sabe o que está fazendo. — Em tom de voz suave, Hermione procurava tranqüilizar os companheiros.


— É. Cale a boca, Bryn — disse Aisling, tensa.


Continuava muito quente, não havia vento e o mar estava tão calmo e claro que era possível ver cardumes de peixes embaixo d'água. Havia algo assustador naquilo, pensou Hermione. Adiante, tudo estava calmo e perfeito. Atrás, a escuridão ameaçadora se aproximava cada vez mais, tomando conta do céu azul e avan­çando inexoravelmente sobre eles.


— Isso é o mais rápido que podemos ir? — Harry perguntou a Elvis.


— Sim, senhor. Já estamos na velocidade máxima.


— Bem, não se preocupe. Vamos continuar avançando assim. Não falta muito.


Todos começaram a ficar mais esperançosos, apesar de Hermione desconfiar que era mais porque Harry parecia positivo, do que porque a situação estava melhorando. Ela vinha examinando o horizonte desesperadamente em busca de terra e não vira nenhum sinal de ilha até onde a vista alcançava.


— Não parece que estamos nos aproximando — disse Cas­sandra, com voz trêmula. — A tempestade vai nos alcançar?


— Talvez a gente se molhe um pouco — disse Harry, alegre­mente. — Mas assim que chegarmos à ilha, poderemos relaxar. — Ele apontou para as caixas térmicas que continham o almoço. -— Temos comida e bebida e não iremos morrer de fome. Fica­remos bem.


Havia uma segurança impressionante nele, pensou Hermione. Harry não era o homem mais bonito do barco, certamente não era o mais bem vestido e nem tinha belos carros para ostentar, mas era exatamente a pessoa para se ter por perto em uma situação como aquela. Harry era calmo, seguro e determinado. Era im­possível pensar que ele deixaria algo de ruim acontecer.


— Você está fazendo um ótimo trabalho, Elvis.


— Ah, sim, ótimo! — exclamou Bryn, sarcástico. — Eu prefiro guardar meus cumprimentos para quem viu a previsão do tempo. Nós teremos muito o que contar no hotel quando voltarmos. — Ele bufou. — Isso tudo é um absurdo. Eu vou exigir o meu dinheiro de volta e sugerir que no futuro contratem pessoas mais competentes para os passeios de barco que organizarem.


Elvis ficou ainda mais preocupado. Como se já não tivesse problemas suficientes, estava antevendo a família perder o ganha-pão.


Hermione olhou para Bryn.


— Quando voltarmos, eu vou agradecer a Elvis e não a você — disse ela, para que todos ouvissem. Em seguida, inclinou-se e disse baixinho, só para Bryn: — Ele é apenas um menino e está assustado.


— Pois ele não é o único — disse Cassandra.


Quando alguém avistou a ilha a distância, todos se anima­ram, mas quando estavam se confraternizando por terem esca­pado por tão pouco, uma lufada de vento aumentou o calor. A lufada foi seguida por outra, e outra e mais outra.


— Vamos baixar as velas! — gritou Harry.


— Mas vai chover — reclamou Bryn, quando viu que a es­curidão baixava. — Nós não teremos nenhum abrigo.


— Se pegarmos um vento com as velas içadas, ele virara o barco. Ficar seco vai ser o menor dos nossos problemas — Harry falou.


Três outros homens se levantaram para ajudá-lo a içar as velas. Nesse meio tempo, as lufadas de vento haviam se trans­formado numa ventania que dificultava cada vez mais as coisas. As velas se agitavam terrivelmente e o barco sacudia no mar revolto, enquanto os homens lutavam para desamarrar os nós.


Cassandra ficara subitamente pálida, e os outros estavam mudos de medo.


Hermione mal podia acreditar na velocidade com que o tempo ha­via mudado. E o vento era apenas um prenúncio do que estava por vir. Um segundo depois, o sol desapareceu sob uma espessa camada de nuvens escuras e a chuva começou a cair com pingos grossos e selvagens.


— Hermione — gritou Josh, acima do barulho do vento e da chu­va. Ele havia assumido o leme enquanto Elvis tirava água do barco num ritmo frenético, com um baldinho de plástico. — Comecem a tirar água do barco.


Piscando por causa da chuva, Hermione fez sinal de positivo e partiu em busca de algo que pudesse usar. A primeira coisa que avistou foi a pilha de equipamentos de mergulhos que já começavam a flutuar dentro do barco por causa da água acu­mulada. Bella pegou uma máscara, e começou a tirar água. Não era muito eficiente, mas era melhor do que nada.


— Eu estou enjoada — Cassandra gemeu.


— Aqui, ajude a tirar água — Hermione pediu, jogando uma más­cara. — Você vai se sentir melhor se estiver fazendo algo útil.


"Como se eu soubesse o que estou dizendo", pensou Hermione. Felizmente, Cassandra não pareceu notar sua insegurança e co­meçou a ajudar. Do outro lado do barco, Aisling vira o que elas estavam fazendo e já começara a entregar máscaras a todos os presentes. Até Bryn pegou uma, mas Hermione não sabia se aquilo era um bom sinal. As coisas deviam estar realmente pretas para Bryn esquecer o mau humor e seguir os conselhos de Harry.


Castigado pela chuva e pelo mar revolto, o pequeno barco parecia navegar cada vez menos. Parecia fazer uma eternidade desde que haviam saído do hotel, na manhã ensolarada, e zom­bado do excesso de zelo de Harry.


Hermione afastou os cabelos embaraçados do rosto mais uma vez e suspirou. Seus ombros estavam doendo pelo esforço de tirar água do barco, mas ela continuou.


O que fazia ali?, imaginou. Ela era uma pessoa urbana. De­veria estar sentada na frente do computador, ou em um bar e não ali, tirando água de um barco, no meio do oceano Índico.


Alguém perto dela estava chorando, mas Hermione nem viu quem era. Estava mais preocupada com a própria sobrevivência do que em consolar outra pessoa. Ela se sentia estranhamente distante. Tudo havia acontecido tão depressa e estava sendo tão intenso que parecia meio surreal, mas por baixo da super­fície calma, ela estava apavorada.


Sempre que o medo ameaçava dominá-la, Hermione fixava a men­te em Harry. Mal conseguia enxergá-lo por causa da chuva for­tíssima, mas bastava avistar o vulto seguro, controlando o leme para sentir-se mais segura. Harry estava ali, no comando, e não deixaria nada acontecer a ela.


Era como estar presa em um pesadelo. Hermione tirou água, tirou água e já começava a se esquecer a sensação de estar seca e em segurança. Estava tão entorpecida que o grito de Elvis mal penetrou em sua mente, e só quando Cassandra tocou-a ela ergueu os olhos para ver a ilha.


Depois de desejar tanto avistar a terra, ela agora parecia ameaçadoramente perto. O barquinho já se aproximava peri­gosamente das pedras que contornavam a ilha, mas mesmo assim todos se parabenizaram e redobraram os esforços para manter o barco à tona até tocarem a costa.


Depois de conversar com Elvis, Harry tirou os sapatos e foi para a proa do barco.


— O que você está fazendo? — gritou Hermione.


— Não podemos correr o risco do barco bater em uma pedra, porque se isso acontecer, não teremos como voltar — gritou Harry em resposta. — Elvis vai se aproximar o máximo que pu­der e até lá talvez já haja profundidade suficiente para eu jogar a âncora. Se for preciso, eu nadarei para ajudar a guiá-lo.


— Você vai se jogar no mar? — perguntou Hermione horrorizada. — Harry, não! É muito perigoso!


Ele tocou-a de leve no rosto.


— Não se preocupe. Eu ficarei bem.


Hermione pensou que fosse morrer de desespero quando ele sal­tou. A água estava agitada e o vento furioso jogava o barco para os lados sem dó. Hermione achava improvável que Harry con­seguisse boiar, quanto mais guiá-los naquela tormenta.


Era quase impossível ver o que estava acontecendo, mas quando Harry tocou os pés no fundo do mar, as pessoas que esta­vam na frente do barco passaram a informação para as de trás. Então, ele pegou a corrente da âncora e guiou-os em segurança pelas pedras até a costa. As ondas castigavam seu rosto e ele se curvava o tempo todo, mas só fez sinal para Elvis desligar o motor e jogar a âncora, quando estava com água na altura dos joelhos.


Os passageiros teriam que andar o resto do caminho, mas àquela altura já estavam tão ensopados e aliviados por terem chegado à terra firme que ninguém se opôs, nem mesmo Bryn. Formando uma corrente, todos ajudaram a descarregar as cai­xas térmicas, passando-as por sobre as cabeças e então se reu­niram na minúscula praia.


Parecia impossível, mas a tempestade piorou ainda mais depois que desembarcaram. As palmeiras se vergavam forte­mente com a violência do vento, enquanto a chuva castigava tudo sem dó.


— Bem-vindos ao paraíso — gritou Hermione acima do tumulto, fazendo todos rirem quase histericamente.


Naquelas condições, era difícil dizer o que quer que fosse sobre a ilha, mas depois de algum tempo, todos decidiram dar uma volta a pé para ver se encontravam algum lugar para se abrigarem.


Harry ficou para trás com Elvis, para tentar deixar o barco mais seguro, mas não tirou os olhos de Hermione enquanto ela ar­rastava uma grande caixa térmica com Cassandra. Ela sorria confiante, e aparentemente estava até conseguindo fazer piadas, a julgar pela forma como as pessoas riam, apesar da situação.


Foi rápido explorar a ilha. Afinal, era apenas um pedaço de rocha coberto de vegetação esparsa. Do outro lado, Harry achou outra praia que era relativamente abrigada e pediu a todos que amarrassem o tecido de uma das velas entre duas árvores onde, encobertos por uma parede de pedra, teriam a ilusão de estarem mais protegidos. Quando terminaram de levar tudo para o outro lado, estavam todos exaustos e desabaram juntos sobre a lona, com gemidos de alívio.






Obs:Oiiii pessoal!!!!Espero que tenham gostado do capitulo!!!!Confiram também A noiva do outro pois postei o último capitulo hoje....Bjux a todos!!!!

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