"Como pessoas civilizadas" (?)



Enquanto Lily ficava absorta em suas reflexões, Rose terminava de se arrumar no banheiro. Mirou sua face no espelho. Realmente não parecia nada bem. Estava muito pálida, e tinha uma expressão de surpresa, que por mais que quisesse, não conseguia mudar. Precisava realmente de uma boa noite de sono. Mas estava com medo. Com medo de ter esses pesadelos novamente. Com medo de perder a amizade de Lily por causa deles, com medo do que podia acontecer, em fim, pela primeira vez na vida, ela realmente sentia que havia alguma coisa que ela não podia resolver com uma conversa, ou até mesmo uma discussão. Era estranho, mas mais do que estranho, era terrível. Ela terminou de se arrumar e quando chegou ao dormitório, Lily já não estava mais lá, assim como nenhuma das outras pessoas com quem dividia o quarto. Ela pegou seu material e rumou para o salão principal, nem havia chegado lá ainda, quando sentiu que uma mão tocara seu ombro.
- Alvo?
Ela disse quando viu o primo surgindo atrás de si.
- Rose, por favor, me diga o que está havendo. Eu só quero te ajudar. Eu escutei seus berros hoje de manhã, e não venha com a conversa fiada que foi só um pesadelo como você disse pra Lily. Eu te conheço Rose.
Rose sentiu-se tentada a contar tudo ao primo. Cada coisa que estava acontecendo com ela no momento. As dúvidas que ela estava sentindo a respeito do que sentia por Scorpius Malfoy, como estava com medo de que algo acontecesse com a família, detestava o que estava sentindo no momento. Detestava ter de controlar suas emoções na frente das pessoas que amava. E de repente ela sentiu vontade de chorar. Pela primeira vez em anos, ela sentiu que não ia conseguir prender o choro. Mas tinha que ser forte sim, ela também detestava ter que ser forte o tempo todo, mas ela precisava. Pelo menos naquele momento.
- Rose?
Repetiu Alvo vendo que a prima não respondia. Os olhos de Rose ficaram embaçados de lágrimas, e Alvo percebeu isso.
- Ei, calma, não precisa chorar...
Tentou consolar ele. Mas Rose suportou aquilo. Ela engoliu o choro, e depois saiu correndo pelo corredor. Passou o resto da manhã nos jardins, não queria ser obrigada a encarar o primo ou quem quer que fosse. Só queria ficar sozinha. Já era hora do almoço quando ela decidiu sair de debaixo das árvores onde estava. Não derramara uma lágrima se quer. Tinha que ser forte acima de tudo. Essa era a sua marca, e não ia simplesmente deixar um medo bobo sem fundamentos manchá-la. Quando chegou ao salão principal, não havia quase ninguém ainda, comeu rápido uma pequena quantidade de batatas, arroz e carne, e depois rumou para onde seria a sua próxima aula. Apesar de ainda ter quase uma hora, ela quis ficar esperando a aula de trato de criaturas mágicas perto da orla da floresta, lá poderia passar mais tempo sozinha.
Enquanto Rose se escondia do mundo, Alvo estava preocupado. O que estava acontecendo com a sua prima? Rose sempre fora forte, e devia ser algo muito sério para ela quase chorar na sua frente. Ele só queria que ela lhe dissesse o que estava vendo. Doía muito ver uma das pessoas que mais amava naquele estado. Quando acabou de almoçar, rumou para a Torre norte para sua aula de adivinhação. Se ele tivesse dado uma olhada pela janela, teria visto uma garota com cabelos cor de fogo sentada sozinha perto da orla da floresta proibida, mas ele não olhou. E Rose continuou sozinha.
O resto do dia transcorreu normalmente para Alvo, ele porém estava muito preocupado, pois também não vira a prima na hora do jantar, só a vira de relance indo para a aula de transfiguração.
Rose pulou o jantar, e foi direto para o dormitório se trocar para o segundo dia de detenções. Não era porque já haviam pegado o culpado que as detenções haviam acabado. Ela rumou para os jardins, porém estava meia hora adiantada. Sentada ali, perto das estufas, sentiu que realmente não poderia segurar o choro para sempre. Então ela finalmente deixou que uma lágrima escorresse em sua face. Scorpius sempre fora inoportuno, mas dessa vez ele realmente se superara. Justo na hora em que a lágrima corria no rosto da menina, ele chegou e sentou-se ao seu lado sem cumprimentá-la. Rose apressou-se em secar a lágrima, e limitou-se a dar um muito frio ‘boa noite’ Scorpius porém respondeu:
- Sabe você não precisa fazer isso o tempo todo Weasley.
- Isso o que?
Perguntou a menina desinteressada.
- Isso. Esconder seus sentimentos sabe. Isso. Achar que pode simplesmente ser forte sempre.
- Desde quando você lê mentes Malfoy?
- Escuta, eu não leio mentes. Eu simplesmente vi você tentando segurar o choro desde que eu te vi hoje de manhã conversando com o míope do seu primo.
- Você anda me espionando?
- E também te vi quase tendo uma crise depressiva hoje nos jardins.
Disse ele ignorando o comentário da menina.
- Eu... Eu... Só... Me deixa em paz ok Scorpius?
- Você quem sabe.
E então eles ficaram em silêncio. Mas não foi um silêncio constrangedor. Foi meio esquisito na verdade, mas foi até meio legal. Scorpius estava ocupado em arrancar a grama do chão enquanto Rose ficava olhando para o nada o tempo todo. Uma hora se passou, e eles continuaram lá, parados, em silêncio. Quase dava para ouvir a respiração dos dois. Mas o silêncio foi quebrado por um barulho vindo da orla da floresta. Rose despertou em um salto, e Scorpius parecia que havia levado um susto muito, muito grande. Eram barulhos de passos. Desta vez, Scorpius não precisou empurrar Rose para trás do arbusto. Os dois ficaram lá, parados. Quem quer que fosse, teria de enfrentá-los agora. Um vulto foi se aproximando dos dois até se transformar em uma silhueta, quando a sombra já estava mais perto, eles puderam distinguir a cor amarela do uniforme dos estudantes da Lufa-Lufa. Era um garoto, um quartanista da Lufa-Lufa, que vinha com a varinha em punho. Rose e Scorpius sacaram as próprias varinhas, e antes que pudessem lançar qualquer feitiço, sentiram uma voz, uma voz gritante em suas cabeças, a voz estava dando um aviso.
‘Aqueles que o traíram no passado serão os primeiros. Vocês estão marcados, assim como suas famílias. Rendam-se agora, e poupem ao menos suas vidas. Seus seguidores fieis irão voltar, mais fortes do que nunca. E vocês serão destruídos. ’
Rose estacou. Scorpius, porém foi mais rápido, estuporou o aluno, e constou que era um dos artilheiros do time da Lufa-Lufa. Antonio Highleiv. Seu pai fora um comensal. Passara para o lado das trevas por um curto período de tempo, mas voltara ao lado do bem. Scorpius gelou. Mas então reparou que Rose ainda não dissera nada. Então virou-se para ela. A menina estava branca, como mármore. E parecia ter sido atingida por um feitiço petrificante.
- Weasley?
Chamou ele. Rose não respondeu. Estava em choque.
- Rose? Responda-me, não se faça de idiota, vamos.
Chamou ele mais uma vez. Estava ficando preocupado.
- ROSE, ACORDA.
Desta vez ele berrou, e Rose limitou-se a se mexer. Apenas para dizer que não estava petrificada.
- Você precisa me ajudar aqui.
Lembrou ele mostrando o garoto deitado inerte no chão.
- Eu... Não consigo. Eu não quero.
Ela balbuciou.
- Não se trata do que você quer. Você precisa, vamos.
Ele falou. Mas se pendeu amargamente um minuto depois.
- É. Nunca se trata do que eu quero. Não precisa me lembrar.
Murmurou ela. O garoto sentiu uma onda de remorso. Ela estava certa.
- Rose, não foi isso que eu quis dizer. Eu...
- Desde quando você me chama de Rose?
- Desde nunca. Desculpe.
O pedido de desculpas não foi pelo fato de ter chamado a menina de Rose. Foi pelo fato de ter dito aquilo antes.
- Não tem problema. Acho.
Ela limitou-se a dizer. E então, sozinha lançou um feitiço de levitação no menino caído no chão, e levou-o para o castelo. Scorpius poderia tê-la alcançado com facilidade. Mas não quis fazer isso. Ela realmente ia ficar melhor se ele a deixasse em paz. Um pouco. Mas então se lembrou que precisava falar com a diretora. E correu para alcançá-la.
- EI WEASLEY, ESPERA AÍ.
Gritou ele. Rose parou, e Scorpius alcançou-a. Ela não deixava transparecer, mas estava prestes a cair no choro. Era realmente tentador, mas não ia dar este gostinho à Scorpius. Como no dia anterior, eles falaram com a diretora, e explicaram o que havia acontecido. Inclusive a voz que haviam escutado. Rose falou pouco, enquanto Scorpius falava sem parar. Realmente, os papéis haviam se invertido.
- Os dois passaram por uma terrível provação hoje. Creio que estejam cansados. Podem voltar a seus respectivos dormitórios. Mas vou entender perfeitamente se não quiserem fazê-lo. Afinal, não acho que queiram ver suas famílias nos dormitórios. Não depois... Disso.
Seu olhar se demorou em Rose que mantinha a cabeça levantada apesar de estar fazendo força para não chorar. Eles se retiraram da sala da diretora, e então Scorpius falou:
- Weasley, pare com isso.
- Isso o que merda?
Respondeu ela quase gritando.
- Você só... Não precisa ser forte o tempo todo.
Ela olhou nos olhos do rapaz. Ele não parecia estar sendo sarcástico. Seu olhar era sério, como ela nunca vira antes. Ela limitou-se a dizer:
- É isso que você acha?
- Bom, é.
-Sabe, eu estou realmente cansada.
Disse Rose como se estivessem falando disso o tempo todo. Scorpius entendeu.
- É, eu também.
- Mas eu não quero voltar para o meu dormitório.
- Nem eu.
- Será que a gente podia... Podia... Bom, ficar lá na torre de astronomia? Pelo menos até mais tarde?
- Sinceramente, eu acho que sim.
- Obrigada Malfoy.
Ela disse verdadeiramente. Talvez nunca tivesse dito um obrigada tão sincero em toda sua vida. Ela realmente se sentia grata. Tudo o que menos queria era ter de ir ao dormitório agora, ou ficar sozinha. Ele sentia o mesmo. E por isso, talvez a coisa mais indicada a fazer no momento era ficar, um do lado do outro.
- Sabe, isso foi estranho.
Disse Rose.
- Isso o que?
Respondeu Scorpius.
- Nós. Tivemos uma conversa de verdade, tipo, sem gritos, xingamentos ou baixarias. Só uma conversa.
- É, realmente.
- E sabe, na foi tão ruim assim.
- Deve considerar como um elogio?
- Bom tudo depende do seu ponto de vista.
E ambos sorriram. O primeiro sorriso daquela noite terrível. Eles ficaram lá nos jardins, simplesmente conversando, conversaram até mesmo sobre Quadribol, foi meio estranho, mas muito legal. Quando já estava quase amanhecendo, eles decidiram que era melhor voltarem para os seus salões comunais, para se trocarem.
- Malfoy...
- Oi?
- Obrigada.
- Não tem de que.
E ele sorriu. Por que o sorriso dele precisava ser tão encantadoramente lindo? Rose então corou. Ah merda, por que estava pensando essas coisas de Scorpius? Ela sentiu um arrepio na nuca. Droga tinha que parar com isso. Ela se despediu e os dois seguiram para seus dormitórios. Apesar de tudo, passar aquela noite toda conversando com Malfoy a havia deixado pelo menos um tantinho que fosse mais animada, e mais disposta para encarar a família.
Scorpius desceu as escadas que ligavam as masmorras, e entrou silenciosamente no dormitório. Encontrou os amigos ainda adormecidos. Ele tomou banho e se vestiu silenciosamente, e deixou o salão comunal, rumando diretamente para o salão principal, que estava deserto.Nem mesmo comida havia. Devia ser muito cedo. Ele então se sentou e pôs-se a pensar, não sabia o que estava sentindo a respeito de Rose. Uma coisa era certa: Se ele não tivesse passado a noite conversando com ela, talvez nem aparecesse hoje para as aulas. O ânimo dele, apesar de tudo o que acontecera, estava consideravelmente bom. Foi então que ele viu uma cascata de cabelos ruivos escolhendo um lugar para se sentar-se à mesa da Grifinória. Não precisou olhar duas vezes para saber quem era.
- EI, WEASLEY!
Ele gritou. Rose deu um salto de susto. Não o havia notado ali. Pensou que estava sozinha no salão. Mas então virou-se e respondeu:
- Calma Malfoy, eu não sou surda.
- Bom, não é o que parece, porque nos últimos dias, você tem me fazendo repetir bastante as coisas.
- Cara, você é um porre até de manhã?
- Você não parecia achar isso uma hora atrás não é Weasley?
- Tem razão, e eu realmente não acho. Mas preciso manter as aparências não é mesmo?
Ela sorriu sarcasticamente, e Scorpius sentiu o estômago revirar. Devia ser a fome. É, é isso.
- Weasley, mudando de assunto, como você consegue se sustentar em pé?
- Como me sustentar em pé?
- É, sabe você não toma quase nada no café, não almoça direito, isso quando almoça, e você pula o jantar praticamente todos os dias.
- Eu tenho meus truques.
- Você vai morrer desse jeito.
- Não que você se importe realmente não é mesmo?
- Bom, se você morresse, quem eu ia chamar de cabeça de cenoura?
Ela mostrou o dedo do meio para ele em um gesto obsceno.
- Onde está a educação Weasley?
- Não sei onde está, mas se quiser, eu posso dizer onde enfiá-la.
- Você é seriamente doente.
- Obrigada.
Disse ironicamente. E então se retirou para a mesa da Grifinória, e concentrou sua atenção em um livro que estava lendo. Ou pelo menos o que conseguiu, porque realmente não conseguia prestar muita atenção. Sabia que Scorpius estava olhando para ela.
Umas duas horas depois, o salão principal começou a se encher de gente, e logo ela se viu sentada entre Lily e Hugo. Alguns minutos depois, chegou o correio matinal. Foi só quando viu uma enorme coruja branca se aproximar dela que ela se lembrou da carta que havia enviado a James. Era a resposta dele.
‘Querida Rosely,
Sei que você odeia esses apelidos que eu coloco em você, mas eu não consigo resistir à oportunidade. Bom, fiquei muito feliz com a sua última carta, a parte de ‘as coisas aqui está um saco sem você’ me emocionou profundamente. Espero que possamos nos ver em breve.Você vai passar o natal na casa de seus pais ou vai continuar em Hogwarts? Porque sabe, eu vou dar um jeito de ir me encontrar com você independente de onde você for passar o natal. Me diga qual vai ser a data do próximo fim de semana em Hogwarts. Sabe, trabalhar no ministério é uma coisa extremamente monótona se quer saber a minha opinião, e eu termino o trabalho que me passam em dois minutos, por isso, não tenho nada para fazer a maior parte do tempo. Mas vamos ao que interessa: Como vão as coisas aí em Hogwarts? E como vão Lily, Alvo e Hugo? Sabe, os ingratos dos meus irmãos não se deram ao trabalho de escrever para mim, mas como sou um irmão exemplar me preocupo com o bem estar deles.
Espero sua resposta,
Com carinho,
James.’

Lily que estava lendo a carta por cima de seu ombro soltou uma exclamação incrédula:
- Irmão exemplar? Aham sei, até parece que não foi ele que prendeu Alvo pelos pés na parede.
Rose limitou-se a sorrir, enquanto Lily e Alvo começaram uma discussão sobre o como James era tapado e idiota (da qual Rose e Hugo não fizeram a mínima questão de participar). Rose decidiu responder logo à carta do primo. Ainda era cedo, e ela podia enviá-la ainda antes da primeira aula se escrevesse a resposta agora. Ela pegou um pedaço de pergaminho e uma pena pôs-se a escrever a resposta:
‘James,
Eu pulei a parte do ‘Querido’ porque estou profundamente deprimida graças ao apelido tosco que você me deu ok. Eu pretendo passar o natal aqui em Hogwarts mesmo, o próximo fim de semana em Hogsmead será dia 14 (daqui a duas semanas). Espero realmente que possamos nos encontrar lá. Mas, mudando completamente de assunto:Só por que você foi um dos alunos mais encantadoramente inteligentes que passou por Hogwarts se acha no direito de esnobar o ministério? Pense duas vezes meu caro, porque quando eu for ministra da magia, eu vou te colocar para limpar o chão da cabine telefônica da entrada de visitas (Ok, já que você não pode me ver, quero que saiba que eu estou dando a minha risada maligna de dominadora do mundo agora). Bom, as coisas em Hogwarts andam meio esquisitas. Acredita que eu levei uma detenção? Isso mesmo. Lily e Alvo mandaram seus sinceros cumprimentos, e disseram para que eu lhe lembre que você é um cara de bunda tapado.
Com carinho,
Rose.
P.S: Por favor, não mostre essa carta aos meus pais ou a qualquer outra pessoa da família. Ninguém sabe da minha detenção, nem mesmo Lily, Alvo ou Hugo. Agradecida. ’
Ela releu a carta, é, estava boa. Colocou-a em um envelope, e rumou para o corujal para despachá-la. Depois de enviar a carta, rumou para a sala de transfiguração no terceiro andar, onde teria a primeira aula dupla com a Lufa-Lufa.
Enquanto Rose ia despachar a carta, Lily, Alvo e Hugo continuavam na mesa conversando distraidamente sobre assunto nenhum. Foi então que Hugo lembrou de perguntar:
- E então, vocês descobriram por que a cabeça de bagre da minha irmã está uma fossa ultimamente?
- Como você é delicado. Estou impressionada, pelo menos assim a gente vê que a Rose não é a única aqui com a educação de um trasgo.
Comentou Lily. Hugo limitou-se a resmungar alguma coisa que ninguém ouviu. Alvo porém deixou de lado os comentários do primo e da irmã, e falou:
-Cara, eu tentei conversar com ela ontem antes da aula, só que ela meio que quase teve um acesso de choro e...
- UM O QUÊ?
Perguntaram Lily e Hugo juntos.
- Isso mesmo que vocês ouviram Rose quase chorou. Eu vi seus olhos ficarem embaçados de lágrimas, e logo em seguida ela saiu correndo pelo corredor. Foi meio que assustador. Eu não via a Rose com vontade de chorar desde aquela vez que a gente pensou que o James tinha fugido de casa, quando a gente tinha cinco anos. Isso fazem quase treze anos. É inacreditável. O que vocês acham?
Lily ainda estava tentando digerir o fato de a prima ter quase chorado, mas Hugo foi mais rápido:
- Eu não sei se vocês perceberam, mas a Rose anda saindo do dormitório toda a noite por volta das oito e meia.
- Claro que percebemos.
- Então, acho que devemos segui-la essa noite...
- Não.
Dessa vez Lily se pronunciou.
- Rose falou que ainda não estava pronta para me contar alguma coisa no dormitório, no dia em que ela teve o pesadelo. Ela disse que não estava pronta ainda ou seja, quando ela estiver pronta ela vai contar. Eu confio nela, não sei porque vocês dois não podem fazer o mesmo.
As orelhas de Hugo ficaram vermelhas, e Alvo limitou-se a olhar para a irmã. Ela estava coberta de razão.
- Tenho que admitir que você está certa Lily. Mas eu realmente quero saber o que há com Rose. Sabe, a única vez que eu vi ela sorrindo em dois dias foi quando ela recebeu essa carta do James.
Disse ele. Ele pronunciou o nome do irmão de uma forma meio esquisita, mas Hugo não reparou, apenas Lily.
- Hum... Alvo, pelo menos assim ela sorri né.
- É, mas ele é o James. J-A-M-E-S. Ele é um palerma completo, e nem está aqui. Eu aposto que ela contou o que estava acontecendo para ele.
- Isso seria ciúmes meu caro irmão?
Disse Lily com uma voz melosa, e Alvo ficou vermelho.
- De jeito nenhum. Eu só não entendo o por que de ela confiar no James, que está tão longe e não confiar na gente. Porque, sei lá, nós estamos bem aqui.
- Talvez pelo fato de o James nunca ter tentado superproteger ela.
Lily fez questão de frisar, e desta vez, quem ficou vermelho foi Hugo.
- Isso não é verdade. James era o que mais a protegia.
- Bom, talvez ele simplesmente a protegesse de outra forma.
Lily limitou-se a dizer, deixando o primo confuso.
- Agora se me dão licença, estou na minha hora, e não posso me atrasar para a aula de Trato de Criaturas Mágicas. Tenham um bom dia.
- Lily sua trouxa, nós dois temos a mesma aula está lembrada? Será que você não pode me esperar por dois minutos?
- Na verdade não. Preciso fazer uma coisa antes.
- Então tchau.
Disse Hugo. E então ficou observando a menina enquanto ela se retirava balançando os longos cabelos ruivos. Alvo limitou-se a achar graça na cena. Mas não riu alto para não constranger o primo.
Scorpius terminava o seu café da manhã na mesa da Sonserina, acordara de bom humor hoje, mandara uma carta para casa, só para se certificar de que todos estavam bem. Aquelas palavras que o garoto da Lufa-Lufa dissera poderiam ser uma mera peça pregada pela pessoa que lançava a maldição Imperius nos alunos para assustá-los, e fazê-los sair da vigília.
O resto do dia transcorreu quase tranquilamente, sem nenhum acontecimento extraordinário (com a exceção do fato de Rose e Scorpius não terem brigado quase nenhuma vez, o que deixou alguns realmente espantados).
Quando chegou à noite, Rose estava terminando de se trocar para ir para ir cumprir o terceiro dia de detenções, quando Lily entrou de súbito no dormitório.
- Vai sair?
Disse ao ver Rose se arrumar.
- Bom, acho que vou sim.
- Hum, legal.
Limitou-se a responder. Quando Rose chegou ao salão comunal, Alvo e Hugo estavam lá parados conversando. Quando eles viram ela descendo as escadas do dormitório feminino, tentaram puxar o máximo de assunto possível com ela. Rose não podia fugir disso, caso contrário, eles iriam desconfiar. Ela olhava nervosamente para o relógio de instante e instante. 20:40, 20:50. 20:55, 21:00. Ótimo, ia se atrasar. Ela então teve que se esquivar dos primos.
- AH, NÃO ACREDITO!
Exclamou ela no meio da conversa.
- O que foi?
Perguntou Hugo.
- Eu acho que esqueci o meu livro de transfiguração no salão principal. Vou pegá-lo, e volto em um instante.
Eles confirmaram com a cabeça, Alvo ia lembrá-la que ela não tinha aparecido no salão principal para jantar, mas preferiu não comentar nada. Rose saiu correndo do salão comunal, meio aliviada, meio culpada. Odiava mentir, principalmente para os primos e o irmão. Mas agora ela realmente não tinha muito tempo para se arrepender. 21:05. Ela correu o mais rápido que pode até os jardins. Só chegou à estufa porém às 21:10. Scorpius já estava lá, obviamente. Certo que eles estavam muito mais gentis se comparado a antes, mas ele não perderia essa chance de implicar com ela. De jeito nenhum.
- Weasley, além de surda desaprendeu a ver as horas?
- Eu só me atrasei 10 minutos Malfoy.
- Bom, caso você não saiba, em 10 minutos muita coisa pode acontecer.
- Ah é? Tipo o que?
- Tipo um ataque.
- Ótimo Malfoy, mas pelo que eu estou vendo, você não foi atacado. Então não vejo problema algum.
-Eu só estou dizendo o que poderia ter acontecido.
- E eu não vejo por que discutir isso, já que não aconteceu.
- Só não se atrase mais.
- Diga isso ao meu irmão e meu primo.
Retrucou Rose. Scorpius ia perguntar o que diabos tinham a ver Alvo e Hugo com a história, mas resolveu que o mais sensato a fazer no momento era ficar calado. Ele limitou-se a virar de costas e retomou o seu passatempo habitual da arrancar a grama do chão. Rose já estava meio esquentada pela provocação de Scorpius, e também não resistiu:
- Sabe, a grama não é a culpada pelas suas frustrações. Não deveria descontar nela.
- E eu pedi opinião Weasley?
- Não. Mas como a boa pessoa que eu sou eu resolvi dar.
- Eu até acreditaria nas suas boas intenções se você fosse realmente uma boa pessoa.
- Mas é claro que eu sou.
Scorpius deu uma risadinha sarcástica, e Rose retribuiu.
Passou-se uma hora, duas horas, nada acontecia. Por mais que incômodo, o silêncio já havia se estabelecido entre os dois. Foi quando já era meia noite que Scopius falou:
- Eu acho que a gente já pode ir.
- É, eu concordo.
Disse Rose. Suas pálpebras já estavam quase se fechando de tédio. Ela ficou grata por Scorpius ter finalmente dito alguma coisa. Afinal, ela chegara atrasada, não tinha o mínimo direito de pedir para ir embora. Então ele acrescentou:
- Seja lá quem estiver roubando as estufas, deve ter tirado a noite de folga hoje.
- Provavelmente. Então... Tchau.
Ela se levantou e ele fez o mesmo. Cada um rumando para o seu dormitório.
O dia seguinte era Sábado, então ambos poderiam recuperar as horas de sono perdidas com as detenções. Pelo menos era o que Rose havia pensado. Parecia que ela tinha acabado de se deitar quando escutou uma voz no seu ouvido. A voz não era nada delicada por sinal.
- PORRA... ACORDA... ROSE! ACORDA!
Ela se deparou com Alvo gritando ao lado de sua cama.
- MAS QUE MERDA, QUE É?
Ela gritou mal-humorada. Enquanto se levantava com um salto.
- Treino de Quadribol. Ou você esqueceu que é parte da equipe também?
- Escute aqui, eu lembro perfeitamente bem que...
- Não importa, eu te vejo lá em baixo em 10 minutos. Eu nem podia estar aqui no seu dormitório mesmo.
E saiu andando para a escada que ligava ao salão comunal. Rose se trocou rapidamente, apesar de estar quase dormindo ali mesmo. E então seguiu com Alvo para o campo. Foi então que ela constatou: Ainda estava amanhecendo.
- Porra Alvo, você quer treinar com os morcegos é?
- Não. Eu quero que vocês amanhecem já no pique.Eu realmente espero que ganhemos a taça de Quadribol esse ano, então, treinos irão acontecer mais ou menos a essa hora. Ninguém poderá copiar nossas jogadas, e os jogadores ficarão mais dispostos ao longo do tempo. Genial não é mesmo?
- Não imagina o quanto.
Disse ela sarcasticamente. Os dois continuaram a caminhada para o campo de Quadribol, Alvo parecendo uma criança feliz e Rose quase dando um soco nele. Só não o fez porque estava realmente muito cansada para isso.

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