Tentativa de felicidade



Ele estava em uma sala semi-escura, sentado e sentindo que cada osso de seu corpo doía como se estivesse sendo triturado. Sua mente estava vazia, com apenas uma interrogação que lhe pesava a cabeça como chumbo: até quando vou aguentar? Não conseguia pensar em mais nada e, com a mente vazia, suas lembranças que ainda sangravam lhe invadiam o tempo todo.

* Ele duelava valentemente como vários Comensais da Morte... valentemente? Bem, não se sentia muito corajoso no momento, apenas fazia o que tinha que fazer naquela hora. Então Dumbledore apareceu e todos os Comensais começaram e debandar... ele só percebeu quando seu combatende lhe deu as costas para fugir. Mas, do outro lado da Sala da Morte, um par ainda lutava, raios voavam das varinhas com a velocidade da luz... Sirius zombava da prima Bellatrix... Remus começou a ir em direção ao amigo para ajudá-lo e, há poucos passos de distância avistou o corpo de Tonks caído e esparramado... nem se atreveu a pensar o pior. Porém, quando levantou o olhar para o amigo, escutou o grito de Bellatrix e, no momento seguinte seu amigo descrevia um arco até o véu e ía... ía para além do véu com uma expressão de choque que não deixou Remus com dúvidas... sentiu falta de ar.

Então reparou que Harry pretendia mergulhar no véu atrás do padrinho... talvez Remus tivesse um instinto paterno com o menino, pois o agarrou pelo peito com firmeza, enquanto o menino gritava e se debatia como um animal ferido. Remus sentia tanta dor que estava cego... mas ainda assim conseguiu forças para tentar fazer Harry entender... e, realmente, falar estava doendo. Mas ele acabou afrouxando o aperto no garoto e ele escapou atrás de vingança.*

Vingança tinha dominado fortemente a mente de Remus somente uma vez, quando quis realmente matar Rabicho... na época da morte de James e Lily, sua decepção com Sirius e a perda dos amigos tinha sido devastadora, mas até saber a verdade, nunca tinha querido se vingar... provavelmente porque ainda não tinha ligado as peças do quebra-cabeça. Mas agora, mais velho e mais maduro, sabia reconhecer que as labaredas que sentia lamberem suas entranhas, não eram de sentimento de vingança... mas de raiva e dor. Estava sozinho de novo... Tonks estava no St Mungus e ele não pretendia ir visitá-la, o que estava pensando em beijá-la?? Ele nunca poderia se dedicar a ela... era doente, velho, pobre... "não tinha o direito de alimentar a paixão dela..." pensou, sentido que as lágrimas queimavam seus olhos como fogo em brasa... "E agora eu realmente perdi o Sirius... de verdade". Sentia que a volta do amigo tinha sido um piscar de olhos em sua vida... podiam ter vivido tantas coisas juntos novamente...

Remus Lupin era o último Maroto... pela segunda vez.

"Provavelmente eu deveria procurar Harry e abraçá-lo..." pensou alguns dias depois, mas sua depressão estava forte naquele dia, especialmente porque seria noite de lua cheia e, além disso, os estudantes de Hogwarts estavam indo pra casa para curtir as férias. Harry provavelmente estaria com os Weasleys em breve e, a julgar pelas diversas cartas que Molly lhe enviara, o convidando pra sua casa, logo iriam se rever. De vez enquando as cartas de Molly eram torturantes... "Tonks está se recuperando... acho que ela espera que você vá visitá-la... Tonks te manda um abraço... ela está chateada... Remus, vá levar uma flor pra menina, ela está no hospital... hoje contamos a ela sobre Sirius e ela chorou o dia inteiro, mas acho que quando eu comecei a falar ela achou que tinha sido você...".

Molly Weasley era irmã de dois grandes amigos de Remus, da época da Ordem da Fênix original, Fábio e Gideão Prewett. Os dois eram mais velhos que os marotos, mas mesmo assim todos acabaram se enturmando. Seus amigos comentaram algumas vezes de sua irmã mais velha, que tinha vários filhos, seus "xodózinhos"... Remus lembrava de, certo dia, Fábio ter lhe mostrado uma foto de várias crianças ruivas... nenhuma menina!! Tinham morrido de forma brutal, mas lutaram valentemente, assim como tinha sido brutal o que aconteceu com Frank e Alice alguns meses depois do enterro de James e Lily. Sim, mesmo depois de ver sua vida desabar naquela noite de 02 de novembro, quando soube de tudo, durante vários meses sentia que tudo o que mais presava desabava mais um pouco e chegou a desejar ser o próximo. E agora, sofrendo por Sirius, as antigas dores voltavam com força total.

Molly sentia-se a mãe de todos, era mandona e dava conselhos o tempo todo. Provavelmente insistiria para Remus ir ver Tonks no hospital pra sempre. Todos na Ordem saberiam o que estava acontecendo entre eles... o melhor era partir para a próxima missão o mais breve possível e se afastar de todos.

Mas seu plano não deu certo... a noite estava caindo quando tomou sua poção e depois, lentamente, transformou-se em lobo sem perder sua consciência humana. O enorme lobo castanho andava de um lado para o outro na pequena sala, atravessando seu perímentro em poucas passadas, quando a porta da casinha no subúrbio de Londres que estava alugando nas últimas semanas se abriu e Ninfadora Tonks apareceu com seus cabelos curtos e rosa-choque, brincos compridos, batom vermelho-escuro, sombra sob os olhos, usava uma blusinha decotada com a estampa de uma banda e as letras garrafais roxas escreviam "As Esquisitonas" e uma calça apertada preta em estilo roqueira... o lobo a reconheceu e parou de xofre.

- Oi!! Estou curada!! Vim até aqui por que você não poderá mais fugir de mim... - disse ela sorrindo e indo se sentar numa poltrona. - Confesso que você é um lobo bem bonito. - ela deu uma risadinha - Sabia como você estaria pois é noite de lua cheia, assim posso falar o que quiser sem ser interrompida. - ela ficou mais séria, olhando direto nos olhos do lobo - E também provar que amo você de qualquer jeito, mesmo sabendo como você é transformado.

O lobo se aproximou dela e sentou em sua frente, encarando-a intensamente. Tonks continuou:

- Se você não tivesse tomado a poção? - ela perguntou, sorrindo, adivinhando o que Remus queria dizer. - Ora, eu sabia que você tinha... afinal ainda deve ter um bom estoque daquele que te dei no Natal. - Ela olhou pra Remus e só a forma como os olhos do lobo brilhavam, ela reconhecia seu amado. Levou uma mão ao rosto do animal e acariciou como se faz em um cachorro.

- Remus, eu sinto muito que você tem que passar por isso... sofrer de licantropia... além disso eu sei que você está sofrendo por causa do Sirius. - os olhos da moça estavam marejando agora - Eu vou morrer de saudades dele também. Mas você não pode se isolar!! O que foi tudo aquilo que vivemos naquela tarde?? Eu gosto de você de verdade Remus, quero te dar carinho e atenção...

O lobo resmungou, poderia ter soado como uma manha de bichinho de estimação, mas o fato de ele ter afastado o rosto do toque dela não deixava dúvidas, ele estava dizendo "A gente não pode ficar juntos..."

- Re, eu não me importo... quero você!! Eu te amo... - disse numa nota pouco audível, carregada de emoção. A moça com certeza estava tentando controlar o choro. O lobo se ergueu e continuou a andar. De vez enquando latia pra ela, mas Tonks simplesmente dizia "Eu não vou embora."

Quando estava prestes a amanhecer, o lobo se infiltrou no quarto e Tonks não o seguiu... pois sabia que provavelmente ele estaria nu ao voltar a forma humana. Quando o sol raiava fraco no horizonte, o homem Remus Lupin saiu do quarto inteiramente vestido. Tonks se ergueu da poltrona, sentindo o coração disparar contra seu peito. Eles se encararm e Remus sentiu que seria mais difícil de fazer o que estava determinado a fazer do que tinha pensado.

- Você não devia ter vindo, invadiu minha privacidade. - disse ele levemente, mas soou como uma lança no coração de Tonks.

- Você ouviu o que estive te dizendo a noite inteira? - perguntou ela, angustiada, se aproximado e agarrando-o pela camiseta. Remus virou o rosto, tentando não encará-la.

- Você é jovem, Dora, não vai ficar traumatizada...

- É você quem pensa!! Não pode fazer isso, Remus, eu sei que você também gosta de mim... - a voz dela estava carregada de súplica. Ele a olhou nos olhos. Ninfadora Tonks tentou beijá-lo, se aproximando dos lábios dele, mas ele se afastou, impedindo-a.

Ninfadora deu um passo pra trás, sentia que seu mundo estava girando... tinha entrado num pesadelo. Remus a encarou, distante dela por um braço e viu que lentamente os cabelos de Tonks perderam a cor rosa e penderam castanhos pelos ombros dela... ela perdeu um pouquinho de altura e até os seios pareceram diminuir levemente. Olhou fundo nos olhos dela e percebeu que aquele brilho cinzento e maroto se perdera, os olhos naturais da moça eram mais escuros... ou talvez fosse o fato de estarem espelhando seus sentimentos daquele momento.

Ela, no entanto, parecia não perceber que estava se desmetamorfoseando, mas sentiu as lágrimas escorrerem e levou uma mão ao próprio rosto para secá-las. Ainda olhava fixamente para Remus, mas ele desviou.

- Você ouviu que eu disse que não me importo?? Eu amo você como você é...

- Pare, Tonks, pare. - ele a interrompeu. - Eu não posso te dar o que você precisa...

- Eu preciso de você.

- Não. - ele disse firme - Você precisa de alguém jovem e saudável, que possa te amar e formar uma família com você... eu não posso te dar nada.

Eles caíram num silêncio horrível. Tonks escutava seu coração bater contra suas costelas... quando achou que iria explodir de dor, virou-se para a porta e saiu correndo. Remus sentiu vontade de chorar.

As coisas não melhoraram nas próximas semanas, pois Ninfadora não estava disposta a desistir... o procurava com frequencia e ele fazia o possível para fugir... sofria ao vê-la, a queria e não a queria ao mesmo tempo... estava inseguro sobre como poder fazê-la feliz, mas sentia que a amava cada dia mais, especialmente quando ela o tocava e falava com ele. Molly e Arthur estavam totalmente do lado dela, insistiam que ele estava sendo bobo, já que gostava dela também... e Tonks se desabafava com Molly, que já gostava da moça como uma afilhada. Isso deixava Remus realmente em desvantagem... estava sofrendo pela perda de Sirius, estava sofrendo pois não podia ficar com Tonks, sua linda Dora...

- Não *pode* ficar? Não *pode*? - perguntou Molly, certo dia n'A Toca durante a noite, seus filhos dormindo - Você quer dizer que não *quer*, pois tem medo.

- Não começa, Molly, por favor... - começou Remus, cansado.

- Remus, já te disse isso antes, você é totalmente capaz de se organizar, ficar com ela não vai ser problema nenhum!! Depois, se vocês tiverem filhos, acha que ela não seria capaz de cuidar deles sozinha por pocos dias a cada mês?

Ao ouvir aquilo, uma imagem invadiu a mente de Remus... um menino corria para seus braços gritando "papai, papai" e ele o pegava, abraçava e girava enquanto escutava os gritos e risadas de alegria do menino.

- Você não sabe como é Molly...

- Ela não se importa! - cortou Molly, provavelmente incapaz de se controlar, exasperada - Você está dizendo não para a felicidade, que bate insistentemente a sua porta.

Mas não adiantava... Remus fazia o possível para ficar o máximo de tempo durante suas missões, pois não podia permanecer ao lado de seus sofrimentos... mas no fundo sabia que estava sendo covarde, ele, que tantas vezes enfrentou seus medos.

Porém ficar entre os lobisomens que viviam em bandos e gangues não era um consolo. Especialmente no estado de espírito em que se encontrava. Ultimamente refletia com bastante frequência sobre os lobisomens que se separavam da sociedade, e os mais novos que eram obrigados a escutar e levar a sério tudo o que Greyback dizia. Alguns alimentavam seu ódio pelas pessoas normais, viviam como animais, caçavam nas matas e matavam suas presas com as próprias mãos, eram imundos de terra e sangue...

"É contra isso que luto diariamente, a não desistir de viver." pensava. Sentia pena de muitos dos lobisomens marginalizados, mas sentia repulsa muitas vezes, pois tinha a clara idéia de que aquilo poderia ser ele, sua doença poderia levá-lo a isso se não se cuidasse, se não resistisse.

E assim o tempo passou, sem curar a dor de Remus, que lhe pesava todos os dias no coração... a falta de Tonks o fazia sentir ainda mais saudades de James, Lily e Sirius. "Não é verdade que o tempo cura qualquer ferida, pois não cura a dor de se perder as pessoas queridas." pensava Lupin. Mas ele continuava recusando-se a aceitar um romance com a moça, na esperança de que ela desistisse dele para sempre... mas bem no fundo de seu coração, uma esperança oculta sonhava com ela em seus braços novamente.

- Oi Remus. - cumprimentou Tonks, um dia que se cruzaram por acaso n'A Toca.

- Oi Tonks, tudo bem? - perguntou ele, tentando desviar o olhar dela, mas sentindo-se atraído por aqueles olhos expressivos.

- Tudo indo... acho que poderia, sabe... estar melhor.

- A gente se vê. - disse Remus, já procurando um lugar para ir.

Foi necessário uma nova tragédia para Remus John Lupin resolver abrir a porta para a felicidade entrar. Dumbledore morreu. Gui quase morreu ao ser atacado por Greyback, mas Fleur, desesperada, deixou bem claro que não se importava com o que tinha acontecido com seu futuro marido. E, na frente de todos, a emoção de Ninfadora Tonks foi mais forte. Ela sentia que seus sentimentos a engasgavam e sufocavam, sem se conter olhou pra Remus intensamente e ficou aborrecida de não perceber em seu olhar o que a atitude de Fleur significava... numa voz embargada disse sem pensar direito:

- Está vendo! Ela ainda quer casar com o Gui, mesmo que ele tenha sido mordido! Ela não se incomoda!

Remus sentia-se quente, incômodo... a morte de Dumbledore tinha o balado profundamente, estava sensível e ouvir Tonks falando daquele jeito óbvio e meio magoado não estava ajudando a melhorar seu estado de espírito.

- É diferente - ele respondeu prontamente, dizendo oque vinha em sua cabeça - Gui não será um lobisomem típico. Os casos são completamente diferentes...

Tonks percebeu que ele estava sensível, olhando pra ele sentiu vontade de abraçá-lo e sentir seu corpo... se aproximou dele e segurou a frente das vestes de Remus.

- Mas eu também não me incomodo, nem um pouco. - sentia a emoção dominando seus sentidos aos poucos, faltava quase nada para beijá-lo ali, na frente de todos, seu amor transbordando de seu coração... o sacudiu de leve pela camisa - Já lhe disse isso um milhão de vezes... - a voz carregada de súplica e carinho.

- E eu já disse a você um milhão de vezes - respondeu Remus, sentindo um calor jorrar de seu coração para todas as partes de seu corpo, tentando evitar o olhar de Tonks para que ela não percebesse seus sentimentos, decidido a falar novamente seus motivos - que sou velho demais pra você... pobre demais... perigoso demais...

Tonks estava inflexível, de hoje não poderia passar, ele tinha que aceitar que a amava também... mas antes que pudesse responder, a Sra Weasley veio em seu auxílio.

- E tenho lhe dito o tempo todo que sua atitude é ridícula, Remus.

- Não estou sendo ridículo. - respondeu ele, mais firme, tomando consciência de quantas pessoas estavam assistindo aquilo tudo - Tonks merece alguém saudável.

- Mas ela quer você. - interpôs imediatamente o Sr Wealey e Remus, abaixando os olhos para o rosto da moça que estava a centímetros do seu, a viu sorrir com os olhos aguados e balançar afirmativamente a cabeça... o Sr Weasley continuou - Além disso os homens jovens e saudáveis não permanecem assim pra sempre... - ele apontou para Gui, deitado na cama da enfermaria.

- Este não... - começou Remus, nervoso, sentindo uma mistura de emoções entre nervosismo, pressão, vontade de abraçar Tonks de uma vez e interromper essa tortura... - não é o momento para discutir o assunto. Dumbledore está morto...

A próxima frase talvez tenha sido decisiva, pois a profa McGonagall, abaladíssima com a morte de seu querido e admirado amigo, comentou:

- Dumbledore teria se sentido o mais feliz dos homens em pensar que havia um pouco mais de amor no mundo.

Essa era uma verdade incontestável e a enfermaria caiu em silêncio... no segundo seguinte, Dora se aproximou mais dele, Remus sentia o calor do corpo dela. Antes que qualquer um pudesse falar mais alguma coisa, Hagrid chegou, trazendo de volta a dor da perda de Dumbledore.

Mas essa dor seria mais suportável para Remus agora que tinha sua linda Dora em seus braços...

Foi na manhã seguinte a morte de Dumbledore, quando Remus Lupin despertava em um quarto no castelo de Hogwarts, sentindo-se exausto e pesado, mas com uma leve sensação de bem estar que equilibrava suas emoções. Alguém bateu na porta. Ele se levantou rapidamente, lavou o rosto e abriu a porta. Era ela. Ninfadora Tonks, com cabelos castanhos e sem muito brilho ainda, mas com olhos expressivos brilhando de expectativa.

- Como você está? - perguntou ela, quase timidamente.

- Não sei, é estranho... e você, está bem? - era inevitável colocar carinho em sua voz.

- Acho que vou ficar... - disse ela, colocando uma mão no peito de Remus e fazendo um carinho nele até a altura do pescoço, onde sua mão mergulhou no ombro esquerdo do homem.

Remus estremeceu ao toque dela... quanto mais tempo conseguiria tentar enganar a si mesmo?? Amava Ninfadora Tonks com todas as forças de cada partícula de seu corpo... amava o jeitinho alegre dela, amava ser tão querido por ela... amava o cheiro, a pele, a voz dela... amava as idéias jovens e sonhadoras dela... ele a amava.

Em sua mente um turbilhão de imaens se formou... lobisomens atacando crianças... choros... os corpos de Lily e James no cemitério... Sirius atravesando o véu... Tonks caída na Sala da Morte... imagens de torturas, gritos agudos... McGonagall dizendo "Dumbledore teria se sentido o mais feliz dos homens em pensar que havia um pouco mais de amor no mundo."... uma moça grávida de maravilhosos olhos verdes sorria pra ele "Promete que vai ser feliz? Promete que vai amar e se permitir ter uma família?"... sua própria voz ecoava em seus ouvidos... "prometo." E, então, ele não viu nem viu mais nada além do rosto de Dora se aproximando enquanto ele a puxava para um beijo desesperado, um beijo adiado sem motivos, um beijo que devia ter se consumado há mais de um ano atrás... um beijo carregado de tudo o que sentiam naquela hora.

Tonks mergulhou uma mão nos cabelos grisalhos de Remus, enquanto a outra apertava o braço do homem... sentia que ele a segurava e, com uma mão, fechou a porta do quarto... quando a levou para sua cama ainda quente e se afastou um pouquinho para olhar em seus olhos, viu que os cabelos da moça estavam curtos e rosa-choque novamente. Os olhos dela brilhavam mais do que as estrelas no céu.

- Eu te amo... - ele sussurrou, sentindo-se mais feliz do que esperava, como se de repente voltasse a ter 17 anos, apaixonado...

Tonks riu e o puxou para um abraço assanhado, mais feliz do que nunca. Sabia que seria feliz com o homem que amava. "Ele me ama." pensou, cheia de si.

Depois do enterro de Dumbledore, as semanas seguintes foram ficando mais tensas, a guerra já não estava mais oculta, pegava e maltratava a todos... estranhamente, contudo, era a época mais feliz de Remus John Lupin e Ninfadora Tonks. Não ficavam nem mais um minuto longe um do outro, tentando suprir a falta de um ano de negação... ficavam juntos, sonhavam juntos, conversavam... se amavam.

Os primeiros raios de sol tocaram os olhos de Remus uma manhã, poucos dias depois de terem assumido o romance, ele abriu os olhos e se virou lentamente. Ao seu lado estava Dora deitada de bruço, as costas nuas bem visíveis, o pescoço virado levemente para um lado com os cabelos loiros e cumpridos que ela adotara na véspera caíndo espalhados pelo travesseiro. Respirava lentamente. Linda. Remus ficou a admirando por um bom tempo, antes de descer, preparar um delicioso café-da-manhã numa bandeja e, no centro, colocar uma pequena caixinha com um anel. Tinha planejado tudo. Segurando a bandeja, subiu novamente para o quarto.

Dora tinha acordado, se enrolado num lençol e se lavado na pia... voltava pra cama lentamente, com um sorriso pleno no rosto e os cabelos rosa-choque e curtos novamente, quando Remus entrou no quarto com a bendeja do café-da-manhã.

- Hummm.. que delícia. - disse ela, com um sorrisinho assanhado, subindo logo na cama e esperando o amante colocar o café a sua frente, como uma criancinha esperaria para abrir um enorme pacote de presente. Remus subiu um pouco desajeitado e se sentou ao lado dela, depositando a bandeja bem arrumada no colo da moça, que tinha as pernas cruzadas.

Tonks não precisou olhar duas vezes para seu café-da-manhã para reparar a caixinha de jóia. Mal notou o leite, o mel, os cokies, o pão integral com queijo branco, o presunto e o peito de peru fatiado, o suco de abóbora gelado, nem reparou no chocolate quente que soltava fumacinha em aspiral com um cheiro gostoso, viu de relance um pequeno vaso com duas rosas vermelas num canto da bandeja... mas sua atenção foi inteiramente atraíada para a caixinha quadrada de veludinho preto que estava no centro, em cima do grandanapo que potegia dois pratinhos de sobremesa.

- Ah! - suspirou ela, mal acreditando no que via, então encarou Remus, que estava com um enorme sorriso nos lábios, os olhos castanhos-claros brilhando docemente.

Ela empurrou afoita a bandeja para fora do colo, com a ajuda de Remus, que por um instante pareceu achar que a moça fosse jogar a bandeja para o alto. Pegou a caixinha e a abriu, soltando um berro de estourar os tímpanos no segundo seguinte, ao encarar uma delicada aliança dourada clarinha encaixada no veludo da caixinha. Tonks gritou, enquanto pulava na cama, fazendo o café-da-manhã tremer precariamente na cama enquanto Remus caía na gargalhada com a reação tão legítima da menina que tanto amava; ela se jogou em cima dele, enxendo-o de beijos em cada pedacinho do rosto dele que conseguiu tocar com os lábios.

- Sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim!! - dizia ela, entre os beijos, fazendo Remus rir como nunca. Era realmente maravilhoso tê-la nos braços, aquela menina, aquela moça, aquela mulher que lhe fazia rir e ver a vida de uma forma maravilhosa, apresentando sentimentos nunca antes experimentados...

Mas o casamento teve que ser uma cerimônia bem simples e discreta, visto que o novo regime do Ministério da Magia estava sendo controlado por Voldemort e, portanto estava altamente anti-Ordem da Fênix, isso sem contar na nova política anti-lobisomens.

Um pequeno mestre de cerimônias com vestes ministeriais regeu brevemente as palavras do casamento nos fundos da casa dos Tonks. De pé, a frente do orador, estava Ninfadora Tonks com um delicado vestido branco que lhe caía tão docemente que até parecia deslocado na menina roqueira que ela costumava ser; e Remus elegante, com um terno de segunda mão alugado, mas ainda assim lhe caía muito bem com a gravata e os cabelos cuidadosamente penteados.

Além dos noivos, Ted e Andromeda estavam muito bem arrumados e cheios de orgulho da filha. Porém, no fundo, Andromeda sentia seu coração pequenino pois jamais sonhara que sua filhinha querida fosse casar praticamente as escondidas no meio de uma guerra, correndo perigo duplo por ser filha de um trouxa de nascença e, agora, casada com um lobisomem. "Não devo pensar nisso agora." pensou Andromeda, observando a inegável alegria no rosto de sua filha, que estava radiante. Sentiu uma lágrima escorrer pela face, a final que mãe não se emociona no casamento da única filha? "Que Deus os abençõe" pensou ela, já sonhando com os netinhos que estavam por vir... seu coração, de repente, transbordou esperança e ela apertou com carinho a mão de Ted.

Do outro lado do minúsculo altar improvisado estavam Arthur e Molly, nervosos com a expectativa de casar em breve seu filho mais velho, mas muito felizes por Dora e Remus, de quem tanto gostavam. E, como padrinho do casamento, desajeitadamente arrumado, estava Alastor Moody, que abraçou e beijou com um carinho anormal Tonks, que tinha sido sua aluna nos primeiros anos de treinamento de Auror da moça e a quem sempre prezou muito.

- Você está linda hoje, Tonks. É você mesma? - brincou Olho-Tonto em sua voz rouca.

- Engraçadinho. - replicou Tonks informalmente. - E quem diria que *você* sabe se vestir adequadamente? - acrescentou, rindo.

Alastor abriu um sorriso pra moça e acabou dando uma breve gargalhada. Então deu umas palmadinhas nas costas de Remus e disse:

- Você está fazendo um bem para essa menina, Remus... e não vejo homem melhor pra cuidar dela. - e olhou para Lupin com orgulho, como se este também tivesse sido seu pupilo no passado. Remus sorriu, na verdade não conseguia parar de sorrir, tanto que suas bochechas até doíam.

- Ei, querem parar de falar como se eu não soubesse me virar sozinha??!! - exclamou ela imperativa e em tom alto, fingindo-se de magoada, mas estragando o efeito com um sorriso. - A questão aqui é muito mais... er...

- Sentimental. - ajudou Molly, entrando na conversa.

Depois da pequena cerimônia, brindaram aos noivos e os poucos convidados que estavam presentes foram se retirando. Remus parou num canto do jardim... lembrando-se vividamente de um outro casamento, muito mais glamuroso e cheio do que esse, mas uma ocasião em que ele estivera quase tão feliz quanto hoje.

* - Ela não pôde vir, querida - dizia a Sra Evans, num cantinho do enorme pátio decorado da mansão Potter. - Não fique assim...

- Tudo bem, mamãe. Ela se lembrou, não? Enviou esse presente... - a voz de Lily soava um tanto amargurada - um conjunto de talheres de latão...

- Ah, olá Sr Lupin. - disse a Sra Evans, percebendo que Remus estava por perto. Lily se virou instantaneamente e sorriu para o amigo, que sentiu o rosto esquentar sem entender.

- Oi... er... desculpe, não queria incomodar.

- De jeito nenhum Remus. - disse Lílian. - Estavamos falando do presente que Petúnia me enviou pelo meu casamento.

- Aí está você. - disse uma voz e, pouco depois, um rapaz de cabelos escuros apareceu do meio da multidão de convidados. - Venha, James está chamando para... er... - Sirius ficou meio sem graça ao puxar Lily, que já tinha desfeito o rosto tristonho para sorrir curiosa.

- É uma surpresa. - ajudou Remus e os dois a levaram para um pequeno ajuntamento de pessoas, onde James estava visível, parecendo nervoso e encantador por isso.

- Ele fica ainda mais lindo quando parece que tem um pouquinho de vergonha na cara. - disse Lílian para os amigos, que riram gostosamente.

Os convidados estavam se agitando, vendo que James queria fazer alguma declaração. O rapaz pareceu ficar constrangido, estava com um rubor vermelho nas bochechas e despenteava os cabelos que, há uma hora atrás tinham chegado ao ponto da quase perfeição com um kilo de poção de fixação que a Sra Potter tinha usado no filho. Sirius e Remus se entreolharam as gargalhadas, e uma faísquinha de maldade surgiu entre eles... bem, não era bem maldade, mas eles eram ou não eram os Marotos?

- Discurso, discurso, discurso! - puxaram Sirius e Remus em uníssono, batendo palmas e logo a festa inteira foi atraída para o foco, exigindo um discurso de James, que olhou desamparado para os amigos que estavam as gargalhas sob influência de cerveja amanteigada e um pouquinho de uísque de fogo, talvez.

- Ok, ok. - pediu James, mal contendo o nervosismo de falar em público... o que estava acontecendo com o popular e rebelde James Potter?? - Eu vou falar...

- AAAAêêêêêêêêêêêêêêê!!! - veio o berro dos convidados entusiasmados, abafando a voz de James. Quando a zueira abaixou um pouquinho, ele disse:

- Obrigado amigos. - ele levantou sua taça de vinho dos elfos - por virem me prestigiar neste momento. Obrigado família - ele se dirigiu a seus pais, velinhos, porém radiando amor naquela noite - por sempre estarem do meu lado me apoiando em tudo o que decidi fazer até o dia de hoje. - ele deu uma pausa, será que iria ficar emocionado? Lílian já tinha os olhos marejados. - Obrigado irmãos. - ele se virou para os outros três Marotos, erguendo alto sua taça - por cada momento passado em sua companhia, por cada malfeito feito. - Ele sentiu a garganta fechar de emoção. Era uma frase simples e curta, mas carregada de significados para seus amigos, que também estavam se emocionando... o que um casamento não fazia nos corações dos marotos??! Lílian sentiu as primeiras lágrimas de emoção escorrerem pela face. James prosseguiu - Mas tem uma pessoa mais importante que deve ser mencionada. - ele olhou diretamente nos olhos verdes-vivo da amada e Lílian sentiu a alma de James se comunicar com ela através daqueles lindos olhos castanhos esverdeados - Será que devo te agradecer? Talvez por ter me esnobado no nosso primeiro encontro e feito com que eu me apaixonasse imediatamente. - Lily riu, sentindo um soluço de emoção. James desviou o olhar para os convidados e explicou - Tinhamos 11 anos e foi no Expresso de Hogwarts, num primeiro de setembro há alguns anos... - todos riram. - Talvez por ter sido sempre boa com todos, mas durona comigo, ou talvez por ter sido a única garota que não queria sair comigo... - todos caíram na gargalhada. - Não... falando sério. Obrigado pela força, amizade, carinho, apoio que você sempre me deu, obrigado por ter aceitado sair comigo depois de anos tentando isso, obrigado por ter me dado uma chance, obrigado pelo dia de hoje... pois hoje fiz o juramento de que te farei feliz para sempre, mas sinto que isso é o mínimo a fazer para a mulher que despertou o melhor de mim. Te amo.

Lílian saiu quase correndo de perto de Sirius e Remus (que disfarçadamente enxugavam os olhos) e se atirou nos braços de James, beijando-o nos lábios e mal ouvindo a gritaria e os aplausos dos convidados.

Aos poucos a multidão se dispersou, alguém colocou a música para rodar novamente e Sirius e Remus se aproximaram do casal. Os dois abraçaram James longamente, sem palavras, que eram desnecessárias... então Rabicho se aproximou com uma máquina fotográfica e registrou aqueles momentos.

- Agora eu bato de vocês. - disse Remus. - Vai, o Sirius no meio. O padrinho no meio dos noivos. Isso.

Aquela foto, um dia, seria uma das favoritas do álbum de Harry.*

Remus sentiu uma mão delicada lhe fazer um carinho nas costas e se virou para Tonks, percebendo que agora estavam sozinhos no jardim.

- Eles estiveram aqui. - disse Tonks delicadamente. Era impressionante como ela tinha entrado em sintonia com ele, reconhecendo os sentimentos mais profundos de Remus. Os olhos dele se encheram instantaneamente. - Nos desejaram felicidades e nos deram sua benção. - ela sorriu, parecia brilhar com aquele sorriso.

- Te amo. - sussurrou ele, puxando-a pela cintura para beijá-la, já soudoso dos lábios da mulher que amava.

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