Boas novas



Enquanto Lilian ficava na Sala Precisa, passando a poção fumegante do caldeirão para alguns frascos, Isabelle saiu à procura de Sirius. A poção parecia estar perfeita, mas era necessário testá-la, antes que Remo pudesse beber. Sirius lhe contara que, em algumas das vezes em que passaram a noite fora do castelo com Remo, os garotos haviam visto lobos no interior da Floresta. Testar a poção em um lobo seria muito mais eficiente do que testá-la em um cão, além do que, caso testassem em um dos cães de Hagrid e algo desse errado, estariam bastante encrencados.
Ela passou pela torre da Grifinória, e também pelos jardins, mas não encontrou o amigo. Passava perto da biblioteca quando viu Tiago, que fora devolver os livros utilizados em sua aula de Poções daquela manhã.
- Tiago! – chamou a morena – Viu o Sirius?
- Acho que vi ele passar em direção ao fim do corredor, – respondeu Tiago – mas ele... Charmant!
- Agora não, Tiago. – cortou a garota, já indo na direção indicada por ele – Eu preciso achar o Sirius.
- Mas... – tentou Tiago, mas ela já lhe dera as costas, andando rápido em direção ao fim do corredor.
"Oh, oh..." – pensou ele, enquanto via a garota se afastar – "Isso não vai prestar..."
Isabelle nem mesmo ouviu a tentativa do amigo de impedi-la de ir atrás de Sirius. Estava tão animada com a possibilidade de ajudar Remo, que tudo o que conseguia pensar era em encontrar Sirius logo, e testar a poção para ver se funcionava. Ela seguiu andando pelo corredor, e, ao passar por uma porta entreaberta, viu de relance o emaranhado de cabelos escuros de Sirius. Voltou alguns passos, e abriu a porta sorrindo. Porém o sorriso murchou ao perceber que ele não estava sozinho.
- Sirius, eu... ah! – fez ela, ao ver a garota que estava com ele.
- Bell? – perguntou o Maroto, pego de surpresa.
- Ahn... desculpe, eu... – gaguejou a morena – Ah, deixa pra lá. – disse por fim, voltando-se para deixar a sala.
- Não, espera, Bell. – chamou Sirius, indo até ela – Aconteceu alguma coisa?
- Tá tudo bem, Sirius. – disse Isabelle, sem olhar para ele – A gente conversa depois.
Ela deixou a sala, fechando a porta atrás de si, e voltando ao corredor da biblioteca, por onde viera. Encostou-se na parede por um instante, respirando fundo, e então voltou a caminhar rumo ao início do corredor.
- Não pensa nisso... pensa na poção... pensa na poção... – repetia ela para si mesma, numa forma de tentar refrear as lágrimas que ameaçavam encher-lhe os olhos.
- Bell!
Isabelle parou de andar, e virou-se para trás. Sirius havia deixado a sala, e vinha andando rápido em sua direção.
- O que você queria falar comigo? – perguntou ele, ao alcançá-la.
- Ahn, eu... – começou a garota – Nós conseguimos. A poção tá pronta.
- Sério? – perguntou Sirius, e ela assentiu.
- Mas precisamos testar antes de dar ela pro Remo. – disse a garota – Você disse que tinham lobos na Floresta.
- E tem. – confirmou Sirius.
- Será que conseguimos pegar um deles? – perguntou Isabelle – Acho que seria mais confiável do que testar em um cão.
- É, você tem razão. – concordou Sirius – Tem um pouco da poção aí?
- Tenho. – respondeu a morena – Tá aqui.
Sirius apanhou da mão dela o pequeno frasquinho cheio de poção, e guardou-o no bolso das vestes.
- Ótimo. Vou chamar o Pontas agora mesmo. – disse ele – Se funcionar, Remo pode começar a tomar ainda hoje.
- Lily e eu vamos esperar por vocês na torre. – avisou Isabelle.
- Tá. Cruzem os dedos! – disse Sirius, começando a correr rumo à ponta do corredor.
Ele continuou correndo, rumo à saída do castelo, e enquanto o fazia, tirou de um dos bolsos um pequeno espelho quadrado.
- Pontas?! – chamou Sirius – Tá me ouvindo?
Um par de olhos castanho-esverdeados, emoldurados por óculos redondos apareceu no espelho.
- A Charmant achou você? – perguntou Tiago.
- Achou, ela... espera! – disse Sirius – Como você sabe?
- Ela passou por mim, no corredor da biblioteca. – contou Tiago – Tentei fazer ela parar, mas ela nem me ouviu.
- E você não me avisa, Pontas! – exclamou Sirius, exasperado.
- Que foi?
- Ela me pegou no maior amasso com a Parker na sala do fim do corredor. – contou Sirius.
- E o que tem isso? – perguntou Tiago, sem entender.
- Eu... não gosto que ela me veja agarrado com outras garotas... – explicou Sirius, sendo que suas palavras soaram estranhas até para ele mesmo – Mas não era isso que eu queria falar com você. Onde você tá?
- No jardim. – respondeu Tiago – Por quê?
- Me encontra na saída oeste. – disse Sirius – Temos uma missão especial.
- Tá, tô indo pra lá.
Tiago guardou seu espelho, igual ao utilizado por Sirius para contatá-lo, e seguiu andando rápido em direção ao local combinado. Os dois chegaram à saída oeste praticamente ao mesmo tempo, e já seguiram andando em direção à Floresta. No caminho, Sirius contou ao amigo sobre o sucesso das meninas no preparo da Poção Mata-Cão, deixando Tiago também muito animado, e fazendo com que ele acelerasse ainda mais o passo rumo às árvores. Os dois se embrenharam na Floresta, com cuidado, mas sempre andando rápido. Demoraram cerca de vinte minutos até avistarem um grupo de lobos, que se alimentava em uma pequena clareira. De trás de uma árvore, Sirius apontou a varinha para o animal mais próximo.
- Imperio! – murmurou ele – Pra cá, lobinho.
O lobo abandonou o pedaço de carne que devorava, começando a andar, devagar, na direção dos dois garotos. Sirius e Tiago afastaram-se mais da clareira, seguidos de perto pelo lobo enfeitiçado. Quando se encontravam a uma boa distância do resto da matilha, os dois pararam. Tiago pegou o frasco com poção, abriu-o, e despejou o conteúdo dentro da boca do lobo, ainda sob o efeito do feitiço lançado por Sirius. Depois, afastou-se do animal, parando ao lado do outro Maroto, a varinha em prontidão. Sirius, então, retirou o feitiço lançado no lobo. O animal encarou-os por alguns instantes, e então deitou-se no chão, preguiçoso. Com a varinha em punho, Sirius aproximou-se e tocou o lobo; ele estava dócil como um cãozinho de estimação. Os dois Marotos se entreolharam, sorrindo. A poção funcionava.
No castelo, Lilian e Isabelle esperavam, nervosas, pelo retorno dos garotos. Lilian andava de um lado para o outro, torcendo as mãos, enquanto Isabelle encarava a entrada do salão comunal sem nem ao menos piscar.
Ela levantou-se da poltrona de um salto, quando Sirius e Tiago entraram pelo retrato com expressões muito sérias nos rostos. As duas garotas ficaram paradas lado a lado, de mãos dadas, enquanto esperavam que eles dissessem alguma coisa. Sirius e Tiago abriram largos sorrisos.
- Funciona. – disse Sirius – Vocês conseguiram.
As duas se entreolharam, e começaram a rir, dando pulinhos de alegria.
- Funciona! Funciona! – repetiam, contentes.
- Temos que encontrar o Remo. – disse Isabelle, ainda sorrindo.
- Ele já deve ter ido pra Casa dos Gritos. – disse Tiago.
- Então vamos logo até lá. – disse Sirius – Daqui a pouco começa a escurecer.
- Espera, Sirius. – chamou Lilian – Eu acho... que a Isa é quem devia ir até lá, afinal, foi ela quem começou com tudo isso.
- É, eu... concordo com a minha ruivinha. – disse Tiago, captando a idéia da namorada. Isabelle também percebeu quais eram as reais intenções de Lilian, mas decidiu não falar nada. Na verdade, queria mesmo que fosse ela a contar a novidade a Remo.
- Bom, eu... acho que é uma boa idéia. – disse Sirius, embora não parecesse que realmente havia apreciado a sugestão de Lilian.
- Bom, eu... vou até lá, então. – disse Isabelle – Vou pegar um dos frascos lá em cima, já volto.
Como ainda estava claro, e havia muita gente nos jardins, Isabelle precisou pegar o caminho mais longo para chegar a Hogsmeade. Com o auxílio dos amigos, ela usou a passagem da bruxa de um olho só, que levava ao porão da Dedosdemel, e de lá, aparatou nos fundos da Casa dos Gritos. Entrou na casa sorrindo, com o frasco de poção bem seguro na mão.
- Remo?!
Lupin apareceu no alto da escada, fitando-a com uma expressão surpresa. Isabelle alargou o sorriso ao ver o amigo.
- Isa, o que está fazendo aqui? – perguntou ele, começando a descer as escadas – Daqui a pouco vai começar a escurecer, e...
- Eu trouxe uma coisa pra você. – disse Isabelle.
Ela escondia às costas o frasco com a poção, e fitava Remo com um leve sorriso no rosto, embora estivesse quase explodindo de alegria.
- Você precisa ir embora, eu... – ele parou de falar quando Isabelle segurou no corrimão da escada, preparando-se para subir – O que você tá fazendo?
- Subindo. – respondeu a morena, calmamente, começando a subir – Tenho que falar com você, e não vou fazer isso de pé, na beira da escada.
Ainda um pouco relutante, Remo esperou que ela o alcançasse, e junto com a garota, voltou para o quarto. Isabelle sentou-se no chão, no que foi imitada pelo Maroto.
- Antes de eu começar, preciso que você beba isso. – disse ela, destampando o frasco da poção e o estendendo para Remo.
- O que é isso? – perguntou ele, olhando desconfiado para o frasquinho de conteúdo fumegante.
- Bebe, Remo. – pediu Isabelle, delicadamente, mas ao mesmo tempo com firmeza.
Lupin deu ainda mais uma olhada para o frasco de poção, e então o levou aos lábios. Fez uma careta de desagrado ao engolir o último gole. Isabelle riu.
- Irc! Isso é horrível! – reclamou ele – E então? Já pode me contar o que tá acontecendo?
- Posso. – respondeu a garota, ainda sorrindo – Desde que eu descobri sobre você, procurei saber tudo o que pudesse sobre a licantropia, pra tentar encontrar alguma forma de ajudar você. – contou a morena. Lupin assentiu – Cada novo livro, cada artigo, tudo o que era descoberto, eu li, pra ver se encontrava alguma coisa.
Ela parou de falar e fitou Remo. Ele a olhava com uma expressão ansiosa. Isabelle respirou fundo, e sem tirar os olhos dos dele, voltou a falar.
- E então eu encontrei.
- Encontrou? – perguntou Remo, surpreso.
- Encontrei. Essa coisa horrível que você acabou de beber é a mais recente descoberta pra aliviar alguns dos sintomas da licantropia. – disse a garota, contente.
- O quê?
- Ela se chama “Poção Mata-Cão”. Foi descoberta na Irlanda, há não muito tempo. – contou ela – Com ela, sua transformação física acontece, mas é menos dolorosa, e sua mente permanece humana.
- Você... Isa, você tá falando sério? – perguntou Remo, e Isabelle assentiu – Merlin! Mas como... como...?
- Lily e eu vínhamos trabalhando nela há algum tempo, e dessa vez deu certo! – contou Isabelle, sorrindo – Nós fizemos um teste hoje à tarde, e funcionou.
Remo não disse nada, ele fitava as próprias mãos, sem conseguir encontrar palavras para descrever o que estava sentindo naquele momento. Isabelle viu os olhos do amigo encherem-se de lágrimas.
- Não chora, Remo, ou eu vou chorar também! – disse ela, já sentindo seus olhos marejarem também.
- Eu tenho... os melhores... os mais incríveis amigos do mundo inteiro. – disse Lupin, tentando não chorar, e falhando – Eu tenho tanto o que agradecer... pra todos vocês...
- Não tem que agradecer, Remo. – disse Isabelle, fazendo um carinho no rosto dele – Nós somos seus amigos, e é isso que amigos fazem.
Remo ergueu o olhar, olhando bem no fundo dos olhos da garota. Isabelle sustentou o olhar dele, um tanto intrigada com a expressão no rosto do amigo.
- Você... é incrível, sabia? – disse Remo, tocando também o rosto dela.
Ele começou a aproximar seu rosto do dela, sempre encarando-a intensamente. Isabelle soube logo o que ele pretendia fazer, e ainda tentou impedi-lo.
- Remo, eu... – começou ela, mas foi logo interrompida.
- Por favor, não me pede pra parar. – disse Remo, com o rosto já a dois dedos do da garota – Não agora.
Remo selou os lábios de Isabelle, beijando-a com delicadeza, mas também com vontade e a garota correspondeu, o que fez com que ele se aproximasse um pouco mais e aprofundasse mais o beijo. Quando se afastaram, Isabelle não conseguia encarar o amigo. Ela levantou-se, indo até a janela.
- Não devíamos ter feito isso. – disse ela, olhando para a rua – Eu não devia ter feito isso.
Remo levantou-se também, e foi postar-se ao lado dela na janela. O sol começava a se pôr.
- Você é de carne e osso, sabia, Isa? – disse ele, fitando-a. Isabelle apenas sacudiu a cabeça, ainda olhando para fora.
- É errado. – disse ela, simplesmente.
- Eu já disse pra você que assumo o risco. – disse Remo, muito sério – Eu sei que você gosta do Sirius, não vou estar sendo enganado.
Isabelle ainda ia protestar, mas Remo não deixou.
- Uma chance. – disse ele – É só o que eu tô pedindo.
Ela o encarou de volta. Havia uma determinação que jamais vira naqueles olhos cor de âmbar. Voltou a olhar para a rua, as luzes se acendiam em Hogsmeade. Não importava o que ele dissesse, era errado, era desleal. Era uma chance de parar de chorar. Isabelle respirou fundo, antes de finalmente voltar a falar.
- E a Bárbara? – perguntou ela.
Remo a fitou, aturdido por um instante. A pergunta de Isabelle o fez perceber que ela estava considerando a idéia. Com um renovado ânimo, respondeu à pergunta da garota.
- Eu e ela terminamos. – disse ele – Ela sabia desde o início que eu gostava de outra pessoa. Eu disse pra ela que ia lutar por essa pessoa, e ela entendeu.
Isabelle assentiu com a cabeça, sempre olhando para a rua. Ela voltou a respirar fundo, enquanto Lupin, prendia a respiração, sem nem perceber que o fazia.
- Sim. – disse a morena, baixinho.
Remo voltou a respirar, só então percebendo que não o estivera fazendo nos últimos segundos. Um sorriso enorme surgiu no rosto do Maroto, maior ainda do que qualquer outro que pudesse haver estado ali alguns minutos atrás. Ele voltou a beijar Isabelle, com ainda mais vontade do que antes.
- Eu vou me esforçar pra fazer você me amar. – disse ele, abraçando-a.
- E eu vou me esforçar pra amar você. – respondeu a garota, abraçando-o mais forte.
- Eu sei. – disse Remo, afastando-se um pouco e fitando-a – Mas agora você tem que ir.
- Você não vai me atacar. – lembrou Isabelle.
- Mesmo assim. – insistiu ele – Não quero que me veja... daquele jeito.
- Tá. – aquiesceu Isabelle – Nos vemos amanhã, então?
- Nos vemos amanhã. – disse Remo, beijando-a mais uma vez, antes que ela começasse a andar em direção à porta – E Isa?
Ela virou-se e olhou para ele.
- Obrigado. – agradeceu Lupin – Por tudo.
Isabelle apenas assentiu com a cabeça, e então deixou a Casa dos Gritos para retornar ao castelo. Na verdade, àquela altura, já poderia voltar usando o túnel que levava ao Salgueiro Lutador, mas preferiu voltar pelo mesmo caminho pelo qual viera, para ter mais tempo de pensar no que acabara de fazer antes do interrogatório que Lilian certamente faria.
No castelo, os demais Marotos e Lilian matavam tempo no salão comunal enquanto esperavam pela hora do jantar. Sirius disputava uma partida de xadrez com Pedro, mas estava tão distraído que Pettigrew, um conhecido desastre no xadrez de bruxo, já o vencera em uma partida, e estava vencendo a segunda. Em um dos sofás, Lilian, com a cabeça recostada no peito de Tiago, conversava com o namorado sobre os acontecimentos do dia.
- E você precisava ver o nervosismo dela... – dizia ela, enquanto brincava com os dedos de Tiago.
- Mas eu vi! – retrucou o garoto – Ela deu um salto da poltrona quando chegamos.
- Ela gosta muito do Remo. – comentou a ruiva.
- É, mas não como ele gostaria. – ponderou Tiago.
- Xeque-mate! – exclamou Pedro, triunfante.
- O quê? Perdeu de novo, Almofadinhas? – perguntou Tiago – Tá feio o caso, hein? Perdeu duas vezes seguidas pro Rabicho!
- Ah, vai dar uma voltinha de vassoura no inferno, vai, Pontas? – retrucou Sirius, zangado, e então deixou o salão comunal.
- Nossa! Eu só tava brincando! – disse Tiago, espantado com a reação do amigo – Que bicho mordeu ele?
- Sei lá. – disse Lilian, fitando pensativa o retrato por onde Sirius passara.
Eles ainda ficaram por mais um tempo no salão comunal, esperando a hora do jantar. Nesse meio tempo, Isabelle chegou, e Lilian arrastou-a até o dormitório feminino. Alice e Emmeline estavam conversando no quarto, então as duas se trancaram no banheiro, e imperturbaram a porta.
- E então? – perguntou a ruiva – Como foi lá?
As duas então sentaram-se no chão, e Isabelle contou à amiga sobre o que acontecera na Casa dos Gritos. Contou sobre a entrega da poção a Remo, e qual foi a reação dele às boas notícias. Transmitiu também os agradecimentos do Maroto para Lilian, e então ficou quieta.
- Isa... tem mais alguma coisa que você queira me dizer? – perguntou a ruiva, fitando a amiga.
A morena ainda demorou um pouco a responder a pergunta, e quando o fez, falou em voz baixa, parecendo envergonhada.
- Eu aceitei. – disse ela, simplesmente, sem encarar a amiga.
- Quê? – perguntou Lilian, sem entender.
- A proposta do Remo. – esclareceu a morena – Eu aceitei.
- Sério? – perguntou a ruiva, e Isabelle assentiu – Nossa! Remo deve estar radiante!
- É, mas eu... não sei se fiz a coisa certa. – disse a morena, pensativa.
- Ah, Isa, mesmo que seja errado, – disse Lilian – você tá tentando acertar. Agora é esperar e ver no que dá.
- É, você tá certa. – concordou Isabelle.
- Bom... vamos jantar, então? – convidou a ruiva – Eu tô morrendo de fome.
- Vamos, vamos sim. – disse Isabelle.
- Aff, e pensar que eu ainda tenho ronda hoje. – reclamou Lilian.
- Ah, essa vida de monitora... – brincou Isabelle, e as duas então deixaram o banheiro para irem jantar.
Na manhã seguinte, como já era hábito nas manhãs após a lua cheia, Isabelle foi a primeira a acordar no dormitório feminino. Tomou banho, se vestiu, apanhou as roupas e a comida para Remo e rumou para a Casa dos Gritos. Foi bastante difícil acordar o Maroto naquela manhã; aparentemente, a poção Mata-Cão o deixara com o sono ainda mais pesado do que de costume, e Isabelle precisou quase colocar a porta do quarto abaixo para conseguir que ele acordasse. Depois de devidamente vestido, de rosto lavado e dentes escovados, Remo chamou Isabelle de volta ao quarto, onde a recebeu com um beijo e um enorme sorriso.
- Bom dia!
- Bom dia. – respondeu a garota, um tanto sem jeito – Como você tá?
- Ótimo. Olha, poucos machucados, todos bem leves. – respondeu Remo, mostrando a ela os poucos ferimentos em seus braços.
- Aham. – concordou Isabelle – Mas mesmo sendo leves, precisam ser cuidados, então, tirando a camisa, Sr. Lupin. – disse ela, no que foi prontamente atendida.
- Hoje eu faço tudo o que você mandar. – retrucou Remo, abrindo os botões da camisa e retirando-a. Realmente, ele quase não havia se ferido desta vez.
- Nossa! Tô tão poderosa assim? – perguntou Isabelle rindo, enquanto começava a tratar dos poucos ferimentos dele.
- Aham. – respondeu Lupin – Você me deu dois presentes maravilhosos ontem.
- Pára, Remo! – pediu Isabelle, corando.
- E fica ainda mais linda, toda vermelhinha assim. – brincou Remo, e a garota corou mais ainda – Hmm... tá vindo um cheiro ótimo da cesta.
- É, eu trouxe bolo quentinho. – disse a morena – Pronto! Curativos feitos, já pode tomar seu café.
- Oba!
Os dois tomaram café da manhã juntos, e Isabelle ficou fazendo companhia a Remo por algum tempo. Eles conversaram e riram muito, e, apesar do embaraço, principalmente de Isabelle, trocaram alguns tímidos carinhos.
- Bom, eu tenho que ir. – anunciou Isabelle, e Remo, que tinha a cabeça deitada no colo dela, sentou-se – Trouxe seu livro, mas vi que você já tá acabando. Quer que traga outro amanhã? – perguntou ela.
- Aham. – fez Remo – Quero sim.
- Algum específico? – perguntou ela, afastando uma mecha de cabelo que caíra sobre os olhos dele.
- Não, você escolhe. – disse o Maroto, dando de ombros.
- Tem certeza? – perguntou Isabelle.
- Confio em você. – respondeu Remo, sorrindo.
- Tá bom, então. – concordou ela, e então levantou-se, no que foi imitada por Remo – Agora deixa eu ir, – ela deu um beijo leve nos lábios do garoto – Nos vemos amanhã.
- Tá. – disse Remo, dando outro beijo nela, um pouco mais profundo – Boa aula.
- Tchau.
Isabelle retornou sem problemas ao castelo, passou pela torre da Grifinória para apanhar seu material, e depois rumou para a aula de Feitiços. O professor Flitwick ainda não havia chegado à sala de aula.
- Bom dia, Lil! – cumprimentou a morena ao chegar. Sorrindo, ela acenou para os Marotos, acomodados mais ao fundo da sala.
- Bom dia! – respondeu Lilian – Tá sorridente...
- É, Remo tava tão contente que acabou me contagiando, eu acho. – respondeu Isabelle.
- Tô vendo. – disse a ruiva, sorrindo também – Como foi com o Remo?
- Ótimo. Ele quase não se machucou ontem. – contou a morena – Só foi difícil acordar ele, tava dormindo feito uma pedra!
- Ah, legal, mas... não era bem isso que eu tava querendo saber... – disse Lilian, marota.
- Ah, bom... foi meio estranho, – confessou Isabelle – mas... sei lá, ele tava tão animado, e... acho que eu entrei no clima.
- Hmm...
O pequenino professor Flitwick então chegou, interrompendo a conversa da dupla de amigas, e começou logo a desenvolver sua aula. Do fundo da sala de aula, Sirius observou Lilian e Isabelle conversando, e mesmo depois que Flitwick começou a aula, continuou fitando, pensativo, as costas da morena, até que um questionamento feito pelo professor o trouxe de volta de seus devaneios, e ele passou a prestar atenção às explicações sobre os feitiços de escudo.
Ao fim da aula de Feitiços, os Marotos, Lilian e Isabelle decidiram ir até os jardins, que eram banhados por um convidativo sol. Enquanto Tiago e Lilian andavam, de mãos dadas, mais à frente, e logo atrás deles, Pedro revirava sua mochila em busca de alguns biscoitos, Sirius e Isabelle andavam lado a lado, sem nada dizer. Ele então, depois de ruminar as palavras durante todo o caminho até ali, acabou por fazer o comentário que estava na ponta de sua língua desde o fim da aula de Feitiços.
- Você não voltou pro café da manhã. – disse ele a Isabelle, sem no entanto olhar para ela.
- É, acabei ficando pra tomar café com o Remo. – respondeu ela, ficando ligeiramente tensa – Ele tava tão animado...
- É, eu imagino. – disse Sirius – Você também tá, não é?
- Demais! – respondeu Isabelle – Ele quase não se machucou dessa vez, e é incrível saber que eu contribuí pra isso.
- É, claro. – disse Sirius, perguntando a si mesmo porque estava tão incomodado com aquilo.
Chegando ao jardim, o grupo se acomodou no solzinho, próximo a alguns arbustos, e ficaram então por ali, matando tempo até a hora do almoço, em meio a muita conversa e risadas.
Os demais dias daquela semana se passaram mais ou menos dessa mesma forma. Isabelle ia, como já era costume, bem cedo à Casa dos Gritos, mas agora tomava café da manhã com Remo, e ficava com ele até a hora de ir para a aula. As coisas entre os dois iam bem, embora a garota ainda ficasse um tanto desconcertada a cada vez que ele dizia gostar dela. Além disso, uma outra coisa a incomodava um pouco, algo que ela ainda não havia encontrado um momento propício para discutir com Remo. Isabelle se questionava sobre como os dois haveriam de se comportar quando o Maroto regressasse ao castelo.
Na sexta-feira, no fim da tarde, Remo voltou para a escola. Ele foi direto para a torre da Grifinória, onde esperou, no salão comunal, que os amigos chegassem da aula de DCAT. Quando os demais Marotos, acompanhados pelas meninas, chegaram ao salão comunal, foram imediatamente falar com Remo. Isabelle, junto com Lilian, ficou parada à porta por um instante. A ruiva sabia o motivo daquela pausa; aquela seria a prova de fogo da decisão de Isabelle. Remo desviou sua atenção dos Marotos para Isabelle, que o fitava de longe, e esperou pela reação dela. Isabelle olhou para Remo, para Sirius, e depois fitou os próprios pés; respirou fundo, e com um ar decidido, começou a andar na direção dos garotos, parando diante de Remo, em quem deu um discreto beijo nos lábios. Lilian a observava, nervosa, enquanto os outros três Marotos fitavam a ela e a Lupin com expressões de espanto. A morena tentou ignorar o olhar que Sirius lhe lançou, e também as bocas meio abertas de Tiago e Pedro, fixando o olhar em Remo.
- Vou deixar minhas coisas lá em cima e trocar de roupa. – disse ela – Já volto.
- Tá. – concordou Remo. Na verdade, ele também estava um tanto surpreso com a atitude da garota.
Ela subiu a escada, com Lilian em seu encalço, e lá chegando, jogou a mochila no chão, e a si mesma na cama, com o rosto enfiado no travesseiro.
- Não acredito que fez mesmo aquilo. – disse Lilian, sentando na beira da própria cama.
Isabelle aprumou-se, sentando também. Fitou a amiga, com ar de cansaço e desalento, olhando depois para a caixinha com a rosa branca, sobre o criado-mudo.
- Você não faz idéia do quanto foi difícil. – disse por fim.
- Você vai ter que ser forte. – disse Lilian.
- Não sei se consigo. – respondeu Isabelle, voltando a cair na cama.
- Vamos, Isa, força! – disse a ruiva – Se é difícil pra você, imagina como deve ser pro Remo.
- É, você tem razão.
Enquanto as duas conversavam no dormitório, no salão comunal, Remo era submetido a um intenso interrogatório. Tiago queria entender o que havia acontecido ali minutos atrás, e não parava de fazer perguntas.
- Mas quando começou? Por que não contou pra gente? – indagava ele.
- Calma, Pontas! – disse Remo, meio rindo – Uma pergunta por vez.
- Desde quando? – perguntou Tiago.
- Desde o dia em que ela levou a poção. – respondeu Lupin.
- E o que tá rolando?
- Não sei ainda. – respondeu Remo – Nós estamos nos entendendo, não é nada certo.
- E ela mudou de idéia assim, do nada? – perguntou Sirius, metendo-se na conversa.
- Não foi “do nada”, Sirius. – disse Remo – Nós conversamos, e nos entendemos.
- Se entenderam? – ecoou Sirius.
- É.
Tiago ainda fez mais uma meia dúzia de perguntas, até que a sessão de interrogatório foi interrompida pelo retorno das meninas. O grupo ficou então conversando no salão comunal, enquanto esperavam pela hora do jantar. Sirius estava calado, e mal participou da conversa. Fitava Isabelle intensamente, mas nas poucas vezes em que seu olhar encontrou o dela, viu-a desviar rapidamente e voltar a se integrar na conversa.
Depois do jantar, Remo e Lilian tinham uma reunião no salão dos monitores, e de lá, o Maroto iria direto fazer sua ronda. Assim, depois que acabaram de comer, os dois deixaram o Grande Salão, sendo que Remo, que não veria mais Isabelle naquela noite, beijou a garota antes de ir, fazendo-a corar intensamente, sobretudo ao notar o olhar de Sirius cravado em si. Disposta a evitar o moreno, pelo menos por enquanto, tão logo Lilian e Remo deixaram o Grande Salão, Isabelle apressou-se em ir embora também, mas falhou em seu intento, pois Sirius também deixou o Salão e foi atrás dela.
- Bell, espera! – disse ele, andando rápido para alcançá-la – Eu quero falar com você.
- Tá. – disse ela, sem parar de andar, quando o garoto a alcançou – Fala.
- Você tá ficando com o Remo? – perguntou o Maroto.
- Ahn... tô. – respondeu ela, meio hesitante.
- Mas... você não gosta dele. – disse Sirius.
- Eu gosto do Remo, Sirius. – retrucou Isabelle, embora houvesse entendido o sentido das palavras do amigo.
- Você entendeu o que eu quis dizer, Bell. – rebateu ele.
- Eu... – ela não tinha resposta para a acusação dele.
- Não tô entendendo você. – disse Sirius – Desde o início você disse que não podia ficar com ele, porque gostava de outra pessoa, e agora muda de idéia assim, do nada?
- Não foi “do nada”, Sirius. – retrucou Isabelle. Eles estavam diante da Mulher Gorda – Fogo de salamandra.
- Não? – perguntou o garoto. O retrato se abriu, e os dois entraram no salão comunal.
- Não. Eu e o Remo conversamos... – começou Isabelle.
- E se entenderam. – cortou Sirius – É, foi o que ele disse.
- Bom, foi isso. – disse a garota, nervosa.
- E por que você não me contou? – perguntou ele. Finalmente havia chegado ao ponto no qual desejava chegar.
- Eu... tava meio confusa em relação a essa história. – disse Isabelle, o que não era bem mentira – Na verdade, eu ainda estou meio confusa em relação a essa história.
- Você tá confusa? – perguntou Sirius.
- Olha, Sirius, eu... não quero falar sobre isso agora. – disse Isabelle, tentando fugir do assunto – O dia foi corrido, e eu tô super cansada. Boa noite. – despediu-se ela, subindo o primeiro degrau da escada do dormitório feminino.
- Boa noite. – respondeu Sirius, sem opção.
Ele ainda ficou parado, observando-a subir a escada para o dormitório, enquanto, lá dentro, alguma coisa dizia que havia algo mais nessa história, algo que ela não contara, e nem pretendia contar a ele.
Algum tempo depois, quando chegou à torre, Tiago encontrou o amigo, muito sério, sentado em uma das poltronas, e encarando a lareira apagada com um ar pensativo.
- Que cara é essa, Almofadinhas? – perguntou Tiago, sentando-se em uma das poltronas.
- A única que eu tenho, Pontas. Eu nasci com ela, sabe? – respondeu Sirius, irônico.
- Não mesmo! – disse Tiago – Eu já vi uma fotografia sua, de quando você era pequeno, e você até que era bonitinho... – continuou o Maroto – mas aí cresceu e ficou assim.
- Lindo? – sugeriu Sirius.
- Desde quando eu acho macho lindo, seu pulguento? – retrucou Tiago, fingindo indignação.
- Sei lá, o veado aqui é você. – disse Sirius, dando de ombros.
- É cervo. – corrigiu Tiago, pela enésima vez – CERVO.
- Dá no mesmo. – retrucou Black.
- Não dá, não! Tá, voltando ao assunto... por que você tá com essa cara? – insistiu o outro.
- Já disse que não é nada. – respondeu Sirius, meio impaciente – Vai procurar a sua ruivinha, vai, e me deixa em paz.
- Até que a idéia não é má... – disse Tiago, fingindo pensar – Fica aí, então, eu vou nessa.
- É, vai, dá logo o fora daqui. – disse Sirius, jogando uma almofada no amigo, que rumava para a saída do salão comunal.



N/A: agooora sim, oi, gente!!! Primeiro quero pedir desculpas pelo sumiço, mas é que as coisas andam meio corridas ultimamente. Please, quem veio direto ao último capítulo, volte dois, porque eu postei três de uma vez só. A todos os que estão lendo, mesmo que não comentem, muito obrigada. Calina, eu sei que tu tá por aqui, e não está comentando. Mesmo assim, adoro-te. Beijos a todos, até o próximo post!!!

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