Tentando se adaptar



- Tá, tá! Já sabemos que não nos demos bem! – disse Sirius. – E o que faremos agora?
- Deveríamos explicar ao diretor o que está acontecendo. – sugeriu Pedro ansiosamente.
- Contar a uma autoridade? Nunca! – exclamou Sirius. – Nós quebramos um monte de regras ao sair ontem à noite... depois de afastar-se da Sala Comunal depois da hora... de levar uma capa de invisibilidade com nós... sem falar que se o Snape soubesse...
- Então vamos pedir ajuda à Lílian. – falou Lupin. – Ela é boa em poções.
- O quê? – disse Tiago – Claro que não! Que idéia mais besta.
- Por que não?
- Ham... por que... por que – Tiago tentou buscar alguma justificativa convincente – Oras, por que ela ia acabar com a nossa reputação. Lily não é uma garota confiável. Quem sabe o que ela faria conosco.
- Então não há mais alternativas. – falou Pedro, sentando na cama que acabara de levantar.
- Vamos ficar aqui durante o efeito todo? – perguntou Lupin.
- Se nós soubéssemos o tempo de efeito. – justificou Tiago.
- Acho que eu sei. – disse Sirius. – Parece que eu li algo como... vinte e quatro horas na etiqueta...
- VINTE E QUATRO HORAS NO CORPO DE UMA GAROTA? – berrou Tiago inconformado. – É um choque demais para mim! Eu... eu não vou poder paquerar as gatinhas no intervalo das aulas... vou ter que conversar sobre... sobre como vou deixar o meu cabelo no final de semana com as meninas?! Ah... eu vou dizer que estou doente! Isso... digo que peguei sarapintose... e que...
- Sossega Pontas! – falou Sirius. – Não é o fim do mundo...!
Tiago parou de gesticular para lançar a Sirius um olhar penetrante.
- É impressão minha ou você está adorando a situação? – sibilou.
- Adorando? Cara... quando você tem a oportunidade de parar no espelho e observar uma mulher gostosa durante um dia todo, sem essa mulher te meter a bolsa na cabeça?
Agora os três outros garotos olhavam inconscientemente para o amigo.
- Tá, esquece. Falei besteira. – tentou Sirius, se afundando na cabeleira castanha.
- A questão é que se vamos sair para fora, onde vamos arranjar as roupas para meninas? – perguntou Lupin.
Não tinha como conjurar um uniforme feminino, e muito menos sair com roupas masculinas em plena temporada de aulas.
- Só se nós pegássemos alguns no dormitório feminino. – indicou Tiago.
- Não é má idéia.
- Mas não há uma segurança naquele dormitório? – explicou Remo – Tipo, se um menino tenta entrar, não é expulso?
- Mas nós NÃO somos mais meninos, pelo menos por hoje... ou somos? – perguntou Tiago.
- Bom... receio que não sejamos. – falou Sirius, olhando para dentro da calça larga.
- Então é isso. – falou Tiago pegando na maçaneta da porta. – Quem vai lá?
- Você ué!
- E por que eu, Lupin?
- Por que você, além de ser o dono da capa, é um... ops... UMA das meninas mais discretas...
- Que modéstia sua! – ironizou Tiago de má vontade. – Tudo bem.
Tiago foi até o seu malão e apanhou a capa de invisibilidade.
- Boa sorte! – falou Pedro.
- Espero mesmo. – disse Tiago colocando a capa por cima do corpo e abrindo a porta.
Quando ele passou pelo portal, notou que não tinha ninguém na Sala Comunal. O sol batia nas poltronas vermelhas e na lareira vazia. A porta do dormitório feminino ficava ao lado da porta do masculino.
Tiago puxou na aldrava e a porta abriu-se para ele pela primeira vez.
O dormitório feminino era bem diferente daquele que ele freqüentava toda noite. As cortinas, ao invés de simples, eram todas babadinhas, com bordas douradas. Objetos como maquiagens e pôsteres de ídolos ficavam perto das camas.
Percebeu que estavam todas dormindo. Todas as meninas dormiam. Aproveitou para olhar em baixo das camas, à procura dos malões.
Encontrou um e abriu-o devagar e com muito cuidado. Logo de cara, desanimou.
Dentro deparou-se com várias coisas que ele nunca imaginara que poria a mão. Batons, esmaltes, brilhos labiais, fotos de garotos e... calçinhas e sutiãs de todas as cores. Pensou logo em levar algum sutiã, pois ficaria meio obvio que não sabiam se cuidar se não usassem. Catou quatro calcinhas e quatro sutiãs.
Não tinham uniformes dentro do malão, então quando estava quase o fechando ele viu algo que lhe chamou mais atenção. Tinha uma foto de um garoto de cabelos de desarrumados e óculos redondos enfiada num canto bem discreto. Mesmo com a escuridão, Tiago percebeu sua foto acenando para si próprio. Não sabia quem estava na cama acima, mas não quis olhar. Tinha alguém que parecia realmente ser sua fã.
Para ser mais rápido, o garoto fechou o malão de qualquer jeito e correu para o guarda roupa, encontrando vários conjuntos de uniformes enfileirados dentro de cabides. Em seu dormitório, nada era tão organizado assim. Tomou quatro conjuntos no colo.
Pensou em dar mais uma olhada nos malões, mas percebeu que alguém estava acordando.
- Quem acordou tão cedo hoje? – sussurrou uma voz dentro das cortinas. – É você Ana?
Tiago disparou para fora do dormitório, abrindo a porta com força e entrando no seu dormitório correspondente.
- E aí, e aí? – perguntou Sirius, assim que o amigo fechou a porta e tirou a capa.
- Cara – falou Tiago com um sorriso, jogando as peças de roupa em cima das camas. – Vocês nem vão acreditar.
O garoto pegou a foto que continha sua imagem movimentada e mostrou-a aos amigos.
- Tenho uma admiradora.
- Isso não é novidade. – disse Sirius.
- Não? Por que você não vira a foto?
Quando o amigo o fez, leu em voz alta:
- “Tudo que eu sempre quis, está marcado no coração. A realidade que eu procuro, precisa de uma realização.” Que profundo. E olha só, tem até uma marquinha de beijo aqui no canto. Como as garotas são idiotas.
- Só faltava cheirar a perfume de flores do campo. – falou Tiago.
- Peraí – exclamou Sirius, que cheirou o pedaço de papel – Não, você errou. É de lavanda.
- Agora só precisamos vestir as roupas e pedir sorte. – disse Remo, pegando um conjunto que Tiago trouxera.
Tiago apanhou pelo cabide, e colocou na frente do colo, olhando para o espelho. Era uma visão totalmente estranha. Ele nunca imaginara que usaria saia.
- Estou me sentindo horrível. – falou Sirius depois que vestiu a blusinha curta.
- E eu então! – disse Remo, e talvez por ser o mais alto dos três, as meias ficaram curtas demais.
- Vocês falam de si; olhe eu – gemeu Pedro que a blusa ficara desproporcional ao seu tamanho: compridas e apertadas.
Assim que Tiago vestiu todo o uniforme, ele tentou ajeitar o cabelo com a escova que nunca usara.
- Nossa... não sabia que esses sitias apertavam... tanto! – reclamou Sirius.
- Olha só a hora! – exclamou Tiago, consultando o relógio de pulso. – Já são dez e meia!
- Estou morrendo de fome! Vamos comer? – pediu Pedro.

- Estou me sentindo um ganso... um ganso de cabelos compridos e de pernas lisas. – disse Sirius enquanto tentavam chegar ao Salão Principal.
- Não rebola! – sussurrou Remo para ele.
- Eu não estou rebolando! São os meus quadris!
- Não sabia que boneca andava. – falou um garoto da Corvinal, encostado na parede do corredor, olhando para os quatro.
- BONECA É A...
- Sirius! – berrou Tiago. – Eu quero dizer... Siri.
- Siri? – perguntou o amigo num sussurro.
- Não podemos ter nomes de menino. Ou você quer que uma garota chame-se Sirius?
- Verdade.
Quando adentraram o Salão Comunal, todos conversavam freneticamente, tomando seu café da manhã, despreocupados com o resto do dia. Assim, Tiago, Sirius, Remo e Pedro se sentaram à mesa da Grifinória, esperando que não fossem notados. Uma coisa praticamente impossível, claramente. Só que Tiago não olhou onde havia sentado.
- Vocês são alunas novas? – perguntou uma garota, fazendo o coração de Tiago dar um salto, e perceber que se acomodara ao lado de Lílian Evans.
- Ah... nós... s-somos sim! Claro que somos...
- Que legal! – exclamou Clamy, a amiga mais próxima de Lily - Não avisaram nada sobre gente nova!
- É! – falou Remo - É que nós... acabamos de chegar... não é?
- Isso aí. – disse Sirius, levando a mão para uma torrada cheia de chocolate de avelã.
De uma vez só, cada um dos “meninos” pegou algo para comer, e quase inesperadamente acabavam. E pegava outra. E pegavam...
- Como vocês comem depressa. – falou Ana, outra amiga de Lílian.
Tiago de repente se tocou que não era assim que uma garota comia, pois via o prato das meninas ao lado com uma torrada apenas, e com pequenas mordidas.
- Ham... é que chegamos de uma viagem muuuito longa! – disse Remo, com a boca cheia.
- Tomem cuidado! – murmurou Tiago discretamente para os outros sem que as meninas percebessem.
- Ah, mas vocês vão adorar essa escola! – falou Lílian – Depois do café, temos um tempinho antes da primeira aula! Podemos ir até o dormitório para... fazer uns ajustes, sabem?
- Hum-hum! – resmungaram os garotos, se entreolhando nervosos.

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