Os Escondidos



- Ainda tá de pé o combinado, Pontas?
- Lógico! Hoje à noite?
- Hoje à noite.
Fazia frio naquela tarde, mas os marotos não se importavam, pois havia em suas cabeças uma idéia efervescente. Sabiam que o inimigo algo tramava, e Tiago não iria deixar de experimentar e atrapalhar tudo que Severo Snape fazia de novidade. Não sabiam bem para que servisse aquele encantamento, mas deixava Snape muito satisfeito consigo mesmo, eles notavam.
- Não é meio p-perigoso?
- Cale a boca Rabicho! Você é um mela cueca mesmo.
- Eu concordo com o Pedro, é um pouco arriscado, Sirius.
- Você também Aluado? Ah, se estiver com “medinho”, corre para a mamãe.
- Não estou com medo. Só estou...
-... Cuidando do bem estar de todos à volta – citaram Sirius e Tiago com uma voz arrastada, que estavam fartos de Remo repetir isso a cada saída ao lusco-fusco.
- Não seja o monitor que todos querem. – disse Tiago.
- Isso aí. E, além disso, se nos pegarem é por um bom motivo. – falou Sirius sem cara de preocupado.
- Um motivo de uma briguinha boba e sem sentido.
- Nãããã...
- Qual é? – perguntou Lupin bem mal-humorado.
- O motivo disso é por que o Seboso tá muito abusadinho para o meu gosto.
- Para o seu gosto?
- Claro.
- Por que “abusadinho”?
- Chega de falar! Precisamos ir! Não tá vendo que pode aparecer um monitor por aqui!
- Mas já tem um monitor por aqui! – disse Sirius rindo.
Pedro soltou um guincho medroso.
- O Aluado, Rabicho. Não se lembra? Larga de ser tonto. Você tem medo de enfrentar os outros?
Tiago havia levado sua capa especial para a saída ao anoitecer. Estavam caminhando na hora da ronda noturna do zelador, mas apenas Aluado e Rabicho se importavam com o que causaria se fossem pegos.
- Onde o garoto guarda agora aquelas experiências dele? – perguntou Tiago confiante para Sirius.
- Nas masmorras, debaixo da segunda gárgula à esquerda.
Descendo os longos degraus, os quatro infratores da noite passaram para as masmorras. Estava muito escuro.
- Lumos – disse Tiago.
Com uma luz acessa na varinha, pôde-se ver as paredes sujas de pedra gasta e o chão úmido das masmorras frias.
- É aquela. Ali, aquela gárgula.
Havia uma estátua de pedra, seguida de outra um pouco antes da que Almofadinhas apontava. Debaixo da segunda, tinha um buraco quase insignificante. Tiago correu para o pé da gárgula, enfiando os dedos para debaixo dela.
- Que droga! – rosnou, percebendo que seus dedos não cabiam – Remo! Você tem os dedos mais finos...
- Nem pensar.
- Vamos! Por favor!
- Disse que só ia acompanhar.
- Quanto mais demorarmos, mais aumentam as chances de sermos pegos, e de você perder o cargo de monitor...
- Tá, tá bom! – respondeu Lupin apressando Tiago a sair do caminho.
Logo o garoto conseguiu abrir a pedra, e desloca-la do lugar. Ali dentro tinha um buraco mediano, nem tanto fundo. Dentro repousavam incontáveis objetos, alguns desconhecidos, como uma pena prata que ventava de si, com os pelinhos voando, sem mesmo alguma brisa por perto. Aquilo que eles procuravam com certeza estava ali.
- Olha isso aqui. – cochichou Sirius pegando um vidrinho de uma poção preta e feiosa. Ele abriu e cheirou. – Eca! Pelo cheiro deve ter pó de losna aqui...
- Larga isso!
Revirando um pouco mais fundo, Tiago agarrou algo esférico, que parecia ao tato um pomo de ouro. Quando levou a forma até o alcance dos olhos, era apenas uma bolinha de gude, que parecia ter crescido e ficado demasiado grande para ser utilizada.
- Pelo jeito o Snape faz bastante experiências com elementos trouxas. – disse o garoto lançando a bolinha para o meio da confusão novamente.
Sirius encontrara outro frasquinho, que pelo que Tiago percebera, achara bastante interessante, pois lia a etiqueta.
- “Para a felicidade interior, para variar o bom humor e fazer amigos.”. – descreveu Sirius. - Que droga é essa?
- Exatamente o que precisamos! – exaltou Tiago – Não é isso que o Seboso está tomando? Não percebeu que ele está caidinho pela Lily? E o pior que a Lily vai atrás... – resmungou repentinamente para si – Mas, é, deve ser isso aí.
- Pode crer. Claro... tá deixando ele fazer amigos com todo mundo.
- Se vocês não se importarem de falar mais alto! – rosnou Lupin. – Acho que tem alguém vindo.
Com toda certeza, Remo tinha razão. Alguns passos ecoavam pelos corredores das masmorras.
- Toma logo! – falou Sirius para Tiago, ficando nervoso.
- Quê? Agora?
- Vai toma! Toma! Melhor nós tomarmos e deixarmos o frasco aqui. Ou o Seboso vai descobrir que reviramos o lixo dele.
Tiago destampou o tubo, e, sem ele mesmo notar de tanto nervoso, havia tomado.
- Passa para mim! – disse Sirius que tomou um gole de uma vez, passando o vidrinho para as mãos de Lupin.
- Eu não vou tomar.
- Medroso.
- Quem? Medroso, eu? – exclamou Remo indignado.
- É frangote, toma isso logo!
- Eu...
- Vai!
Lupin engoliu um pouco da poção vermelho-rosado e tossiu pela rapidez.
- E-eu tô fora! – disse Pedro baixinho, se escorando na parede, por que Tiago aproximou o frasco da sua boca.
- Prefere que o Snape te azare de novo? Lembra o que você levou da última vez que ele nos descobriu.
- Tá t-tá!
Assim que Rabicho tomou o último gole que sobrara no vidro, e Tiago lançou o frasco vazio dentro do buraco, seguido por Lupin que fechava com a gárgula. Pontas jogou a Capa de Invisibilidade por cima dos amigos e saiu disparado, acompanhado dos passos que os seguiam, desconhecidos.

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