O Novo Capitão dos Gryffindors



- Homorphus!

Um clarão de luz atravessou o hall como uma flecha, iluminando as paredes e as janelas à sua volta, e acertando em cheio em Remus Lupin que caiu por terra bastante ferido. Harry, Ron e Hermione ainda estavam de coração palpitante, quando Bill, agarrado ao retrato de Sirius, chegou a correr, de varinha na mão, aproximando-se deles e agarrando-os para ver se estavam bem.

- Está tudo bem , Bill.- esclareceu Ron, levantando-se.- Mas ainda bem que chegaste a tempo.

- Mas para o professor acho que não é bem assim...-murmurou Hermione.

Realmente, quando Lupin apoiou os cotovelos no chão parecia bastante ferido, tanto fisicamente como psicologicamente. Tinha um aspecto miserável, os olhos adornados com rugas, as roupas muito rasgadas e sujas e um ar muito cansado.

- Doiem-me as pernas...-resmungou.- Devo ter saltado outra vez as escadas.

- Está tudo bem professor.- disse Bill, levando-o até à cozinha.- Ninguém está ferido.

- Ainda bem. Não faço ideia do que vos poderia ter acontecido.- disse o professor, enquanto chegavam à cozinha. - Mas de certo que isto não pode voltar a acontecer. Vou agora mesmo demitir-me da Ordem.

- Não pode fazer isso!-exclamou Bill.- O senhor nem sabe a falta que nos faz!

- Mas hoje eu podia ter magoado algum de vocês! Tu não compreendes... é uma idiotice manter-me a tentar salvar o Harry, enquanto eu próprio estou a ajudar sem querer no plano de Voldemort!

- Tome e beba.-disse Harry, entregando um copo a Lupin.- Acalme-se, que está tudo bem, não adianta estar a massacrar-se com isso.

- A sério, eu não sou tão responsável assim. Hoje mesmo podia qualquer um ter ido para São Mungo.

- Mas não f...

- Eu sou um idiota!-resmungou o professor Lupin de olhos semi-cerrados.- Um ingrato! Eu fui um parvo! Derramei o conteúdo do caldeirão da poção Wolfsbane e esqueci-me de a preparar de novo! É um perigo continuares a viver comigo, Harry, eu devia ser mandado ir viver sozinho, para o topo de uma montanha. Isto não pode voltar a acontecer!

-Acalme-se professor.-pediu Bill, sentando-se também ele numa cadeira.

- Um dos objectivos da Ordem é manter o Harry vivo.-começou Lupin olhando para a fotografia de Sirius Black.- E claro, tenho de ser eu a transformar-me em lobisomem para facilitar a vida a Voldemort. O Snape tem razão! Eu não mereço estar na Ordem. Vou agora mesmo pedir demissão ao Dumbledore.

E levantou-se com intenção de se desmaterializar, mas Bill interrompeu-o.

-Tu não podes fazer isso!-afirmou cheio de convicção, Bill, que começava a ficar zangado.- Pára de por as culpas sempre em cima de ti próprio! Uma coisa tens de te mentalizar. Nunca irás conseguir deixar de te transformares em lobisomem. Isso é mais que evidente. Mas agora, não podes pensar que só por um dia te transformares descontroladamente, já te destrua a carreira.

- Mas não foi a primeira vez! Aconteceu o mesmo à dois anos.- gritou Lupin, fora de si.- E eu quase matei vocês nessa altura.

- Há quanto tempo isso já passou?! Não à mal continuares assim: transformares-te num ser selvagem uma vez em dois anos , quase magoando alguém, não é?

- Não há mal? E se eu tivesse mesmo magoado alguém? O que iria dizer eu ao Dumbledore?

- Olha, acho que está na altura de esqueceres isso e dormires um pouco. Amanhã, quando os meus pais voltarem, vamos a Hogwarts falar com o director.

- É melhor eu ir contigo. Também tenho que falar com ele.

- Se vais tentar demitir-te...

- Tu não sabes o peso de conciencia que isso pesa em mim! Ou alguma vez já te viste à beira de um abismo? Por um lado temos a terra, onde temos pés fixos no chão mas estamos a olhar para o outro lado do abismo tentando que consigamos ultrapassar a tristeza; e pelo outro temos o abismo como escapa para os nossos problemas!

- E tu pensas mesmo que estás mesmo à beira do abismo? Claro que não! Tu estás é a passar por uma ponte bastante estragada e quando chegares ao outro lado, estarás bastante melhor! Professor, tem que se consciencializar que não há mais nenhuma hipótese a não ser se tranformar em lobisomem.

O professor Lupin abriu a boca para falar, mas decidiu calar-se. De cabeça baixa, passou por eles, desejou boa noite a todos e subiu as escadas, bastante deprimido. O retrato de Sirius estava outra vez desabitado.

- Acho que o melhor é irmos todos dormir. Já viram que horas são?

Olharam para o relógio da parede e só ali repararam como já era tão tarde. Faltavam cinco minutos para as duas da manhã.
Harry, Ron e Hermione foram cada um para o seu quarto. Harry e Ron dormiam no mesmo, cada um numa cama diferente, mas Hermione dormia sozinha noutro quarto. Estavam cansadíssimos, mas aliviados por nada ter acontecido. As vezes Harry pensava como era um rapaz cheio de sorte. Podiam-lhe ter tirado os pais, mas não tinham conseguido tirar o seu bem mais precioso: a vida.



Quando naquela nova manhã, Harry levantou-se para ir tomar o pequeno almoço juntamente com Lupin, Bill, Ron e Hermione, nunca esperaria, encontrar-se num novo cenário. Lupin já não estava ali: os pais de Ron tinham regressado e ao que tudo indicava nem tinham conseguido chegar a Hogwarts. Tinham encontrado Snape na estação nove e três quartos, que tinha já recebido a carta de toda a explição de Lupin sobre o acontecimento, e sem mais demoras, uma onda de materializações e desmaterializações fez-se notar, voltando tudo ao normal. Mr. e Mrs. Weasley pareciam estar cansados mas contentes e satisfeitos por ninguém estar magoado.

- Olá Harry, senta-te.- pediu Mrs. Weasley.

Mr. Weasley, bem como Bill, não estavam ali. Parecia que Ron ainda dormia...

- Dormiste bem, Harry?-perguntou Hermione, distraida enquanto lia um livro bastante grosso.

-Sim. O Ron ainda não acordou?-perguntou Harry, sentando-se. Tinha intenções de começar a barrar compota numa torrada, mas Mrs. Weasley interrompeu-o e delicadamente, começou a fazer o trabalho por ele.

Ron entrou dentro da cozinha e cheio de sono, arrastou uma cadeira e começou a comer um ovo.

- O pai?-perguntou ele.

- Já está no emprego-respondeu Mrs. Weasley.-Toma Harry.

-Muito obrigado.-respondeu ele.

Era um dia claramente chuvoso, onde se ouvia o bater da chuva no telhado e o vento a empurrar as árvores, visivelmente corcundas, da janela artificial. Harry lembrou-se do augurey estar a fazer estranhos ruídos e deu-se conta que era porque ia chover. A vida animal é bem interesante!

-Come mais uma, Harry-disse amavelmente Mrs. Weasley uns dez minutos depois, acabando de colocar dois ovos no prato de Harry juntamente com meia dúzia de salsichas.

-Não, obrigado-disse Harry, tendo a ligeira sensação que se comece mais alguma coisa, ia ficar barricado o dia inteiro da casa de banho.

Ron, mexia o garfo distraídamente, Hermione continuava a ler Al-Sorceria, uma história para si própria e Mrs. Weasley arrumava o seu prato, preparando-se para limpar a mesa. Quando Harry acabou de comer a suas salsichas ouviu alguma no andar de cima. Virou a cabeça quase como por instinto e viu uma enorme coruja das torres descendo do tecto.

- Como será que entrarão as corujas?-admirou-se Ron.

-Devem ser as cartas de Hogwarts!-disse Hermione, deixando os seus livros de lado e saltando da cadeira para pegar na carta.

-Toma uns biscoitos!-disse Mrs. Weasley afectuosamente, abrindo um pacote e colocando num prato.

Harry agarrou a sua carta, que Ron tentava esconder só para o divertir e virou-a. Tinha um selo com um leão, uma serpente, um texugo e uma águia envolvidos na letra H, que era, como já sabia há muito, o simbolo da sua escola.

Tirando um dos pergaminhos e leu atentamente, juntamente com os outros.



Caro Mr. Potter,

Por favor, tome nota de que o novo ano escolar em Hogwarts terá o seu início no dia 1 de Setembro. O expresso de Hogwarts partirá da estação King’s Cross, plataforma nove e três quartos, às onze em ponto.

Irá haver uma visita de Estudo ao Egipto, que custará vinte galeões. Se tiver interessado que o seu educando vá, pedimos ao Encarregado de Educação para que o assine. Terá, também que comprar material novo para este ano e dizer se quer a nova disciplina.

Por favor, entregue a autorização assinada até ao dia 30 de Agosto e não se esqueça de levar a varinha para o Salão Nobre na festa de reinicio de aulas.

Atenciosamente,

Sub-Directora

Minerva McGonagall



-Uma visita de estudo!-exclamou Hermione, com os olhos a brilhar de felicidade.

- E quanto custa?-perguntou Mrs. Weasley.

- Er... vinte galeões.-respondeu Ron.- Posso ir, não é?-perguntou Ron, olhando apreensivo para a mãe.

- Bom, penso que eu e o Arthur vamos ter de pensar. Acho que a Ginny também vai.

- Onde está ela?-perguntou Harry, que nunca mais se lembrara da irmã do Ron.

- A Ginny?-começou Mrs. Weasley.- Está em Grimmauld Place.

- Grimmauld Place? Mas o que está lá a fazer ?

- Vai ter de lá ficar uma semana.-respondeu ela.

- Porquê?-perguntou Harry, cheio de curiosidade.

- Não interessa. Leiam a carta.-pediu ela, sem, no entanto, ser mal educada.- Quais são os livros que terão de comprar?

-Er...O Livro Crucial dos Feitiços, grau 6,-começou Hermione, bastante satisfeita por ter mais livros novos.-Um Guia para Transfiguração Avançada, Poções e Caldeirões, Os Ingredientes Mais Usados, O Guia do Auror e... A Magia Negra e a sua Auto-Protecção. E... oh que pena, já não é preciso levar todos os livros acumulados do primeiro ao quinto ano...

- Nem caberiam.-murmurou Ron, sorrindo, ao ver a expressão de Hermione.- Com todos aqueles livros do Lockhart...

- Sempre é bom pensar.-disse Hermione.

- Pensar?-repetiu Ron sem perceber.

- Sim, pensar antes de falar.-completou, enquanto Mrs. Weasley dava umas boas garagalhadas.

- Bom, na visita de estudo também vamos ter de comprar uma data de materiais, ouçam só:uma túnica de tuaregue, sete volutas de papiro, dois ou mais lascálamos, uma paleta, um gobelé e um saco cama. A maioria não faço ideia do que é.

-Posso ver?-pediu Mrs. Weasley, pegando num pergaminho de Ron.- Vão fazer uma visita de estudo ao Egipto, durante um mês, com comida e sítio da dormir, num total de vinte galeões. Que caro! E acho que a Ginny também vai à visita...

- E no dia de regresso às aulas teremos de levar a varinha para o salão. Que estranho.- comentou Ron.

- E se pensam que é muito ouçam só: Assinale, po favor, a disciplina suplementar que deseja para o próximo ano: Manuseação ou Meditação.

- Eu prefiro manuseação.-disse Hermione, enquanto Crookshanks tentava saltar para cima das suas pernas.

- Que é isso?-perguntou Harry.

- Criar magia com as mãos.

- Uau! E Meditação?

- É fazer o mesmo só que com os pensamentos.-explicou Mrs. Weasley-Sabiam que até os muggles conhecem a meditação? Mas também a usam para relaxar.

- Esses muggles!-comentou Ron, sorrindo.- Já repararam que neste ano veio uma data de sobrescritos? O Harry ainda tem uma.

Harry olhou para a sua carta e reparou que Ron tinha razão: Harry pôs a mão até mesmo ao fundo do envelope e retirou, para seu grande espanto, uma medalha dourada, onde estava gravado uma snitch e dois bastões de Quidditch. Vinha também um distintivo onde se podia ler Capitão da equipa de Quidditch dos Gryffindor. A boca de Harry abriu-se num enorme sorriso, os olhos bastante arregalados e a mão tremia-lhe. Quase não conseguia superar o entusiasmo que estava a sentir nesse momento, embora mantivesse uma expressão de pura perplexidade. Ron falava com a mãe e Hermione sobre a visita ao Egipto, mas Harry estava demasiado atento para ler a carta:


Caro Mr. Potter
Depois de excelentes resultados apresentados por si nos diferentes jogos desportivos de Quidditch realizados desde o primeiro ano, temos o prazer de informar-lhe que foi nomeado pelo conselho directivo da escola, pela professora de Voo e pela sua directora de equipa, capitão da equipa de Quidditch dos Gryffindors, com o âmbito de organizar, preparar e também ensinar o modo de jogar e praticar Quidditch. Lembrando também que foi demitido do cargo de seeker no ano passado pela desempossada Grande Inquisidora de Hogwarts, é agora de novo o seeker dos Gryffindors.

Vale apena também acrescentar que sairam alguns jogadores da equipa, tendo que duas semanas depois do inicio das aulas, falar com a directora da sua equipa para marcar as provas a realizar para arranjar novos candidatos.

Atenciosamente

Minerva McGonagall

Subdirectora




Harry releu outra vez a carta, com os olhos a brilhar de entusiasmo. Ia ser o capitão da equipa dos Gryffindors! Nunca, mas nunca tinha pensado nessa probabilidade, pois até achava mesmo que nunca mais iria praticar Quidditch.

- Estás bem Harry? -perguntou Mrs. Weasley olhando para ele.

Harry nada disse, lendo a carta de novo. Ron estendeu a mão e agarrou no distintivo de capitão e ficou mudo como um peixe.

- Capitão da Equipa de Quidditch?!-balbuciou Ron.

- A sério Harry?- perguntou Mrs. Weasley muito contente.-Parabéns. Posso?-perguntou, tentando pegar na medalha.

- Sim.- respondeu Harry, numa voz rouca.

Hermione sorriu a Harry. Ron continuava com uma expressão boquiaberta.

- Isso é fabuloso! -disse Mrs. Weasley, levantando-se.- O Charlie também foi capitão da equipa de Quidditch dos Gryffindors. Devias ver os prémios que ele ganhou.

- P...prémios?-murmurou Harry.

- Claro! Tens é que fazer boa figura perante a vossa professora de Voo e mostrar o que sabem fazer.- explicou ela, aproximando-se de Harry.- Parabéns!- e estendendo-lhe as mãos, abraçou-o, coisa que Harry pensou ser desnecessária. Deixando-o um pouco envergonhado, Mrs. Weasley afastou.-se.

- Já venho.- disse Ron, saindo de rompante pela sala.

Mrs. Weasly começou a arrumar a mesa, enquanto Hermione via com Harry todos os detalhes da medalha e do distintivo. Harry estava ansioso que Ron chegasse para ele poder mostrar-lhe a folha de pergaminho mostrando todos os truques e tecnicas que um capitão podia usar na sua equipa, o que Harry sabia que iria interessar bastante a Ron, visto que ele era o Keeper da sua equipa. Era engraçado, pois agora era mesmo a sua equipa: era o capitão que iria comandar, exercer todas as tecnicas e receber, no caso de ganharem a Taça, o grande prémio de cento e cinquenta pontos para a sua equipa.

- Desculpe, Senhora Weasley, mas não sabe mais nada sobre a Ginny?-pediu Hermione, olhando para a carta que devia ser entregue à irmã mais nova de Ron.

- Ela deve estar prestes a vir. Não digam nada ao Ron, por favor,-pediu ela, enquanto aproximava-se deles, murmurando,- mas pedimos ao Professor Snape, para lhe fazer um teste de Oclumância, ou melhor dito, um exame de Epilepsia. É um pouco diferente dos exames dos muggles, mas é basicamente parecido.

- E isso é grave?

- Não sei, mas estou bastante nervosa com o que possa acontecer. Mas temos de ter bons pensamentos com o que poderá acontecer, não é mesmo?

-Claro.-respondeu Hermione,- Mas a Ginny está doente?

- Poderá estar, não sei. Nem mesmo o Dumbledore sabe. Por isso mesmo, é que teremos de esperar pelos resultados.

-Mas não se pode ir fazer os resultados a S. Mungo?-perguntou Hermione.

- Claro que não! Essa doença pode implicar os assuntos da Ordem!

- Ai é?-admirou-se Harry, recolhendo todos os pergaminhos que tinha recebido.- Bom, agora vou ter com o Ron, quero-lhe mostrar uma coisa. Hermione ficas aqui?

- Sim.-respondeu ela.

- Então até já!-disse Harry, saindo da cozinha e subindo as escadas. Era realmente uma sensação maravilhosa: à uma hora nem fazia ideia que iria ser o capitão da sua equipa de Quidditch e agora até já tinha o distintivo!

Quando abriu a porta do quarto que partilhava com o Ron, reparou que o amigo estava sentado na sua cama, olhando fixamente para o solo. Achando tudo um pouco estranho, Harry fechou a porta e aproximou-se dele.

- Ron, vê bem isto! Vinte novos truques para bem defender a quaffle!-exclamou felicíssimo, sentando-se ao seu lado.

Mas, ao contrário das suas espectativas, Ron levantou-se e rodeou a cama, ficando virado de costas para ele.

- Ron... er... queres ler os truques?...

Ron ficou calado virou-se, olhou para Harry e, agarrando com toda a força num pedaço de pergaminho que tinha na mão, disse, num tom bastante caloroso, muito diferente da sua voz energética:

- Parabéns, Harry, - disse.- o novo capitão da equipa de Quidditch...

Harry nada disse, olhando atentamente para Ron. O que é que ele teria? Ron já era prefeito, para quê estava ele com rodeios?

- O que tens?-perguntou Harry, observando-o atentamente.

- Nada.- respondeu Ron, embrulhando os mantos para dentro da mala.

Harry abriu também a sua mala vazia, pensando nas palavras de Ron. Estava certamente a passar-se alguma coisa que Harry não tinha conhecimento. Ron estava tão bem disposto pela manhã, o que teria ele agora?

- Conta lá- arriscou Harry, hesitante.

- Eu estou óptimo.- respondeu Ron, embrulhando muito demoradamente o seu manto de Hogwarts, de modo a que não pudesse olhar para o amigo.

Harry pegou no seu livro de Poções e enfiou-o cuidadosamente para dentro da pasta. Já estava a ficar farto com a atitude de Ron. Se o amigo estivesse realmente furioso por Harry ter entrado para capitão da equipa para quê que não tentava superar esse sentimento em vez de estar com rodeios? Talvez Ron achasse que Harry seria um péssimo capitão de equipa. Bom, talvez tivesse um pouco de verdade.-pensou Harry, agarrando numa pena que estava caida no chão. O que é certo é que não achava nada engraçada aquela atitude do Ron. Será que teria de aguentar mais a inveja - se é que era isso - do amigo?

Ron deixou cair o seu distintivo de prefeito, o qual foi agarrado rapidamente por Harry.

-Toma.-disse Harry, tentando observar os olhos de Ron, coisa que ele não retribuiu.

- Obrigado.-respondeu Ron, fechando a mala.

- Olha, o que é que tens?-perguntou Harry, já farto de esperar que Ron tomasse a iniciativa de falar.

- Nada, já te disse.

- Não venhas com rodeios que eu já te conheço à mais de quatro anos! O que é que eu agora para ficares assim?-perguntou Harry, olhando mesmo para os olhos de Ron.

- Já te disse que não é nada.-respondeu Ron, olhando desta vez para os olhos de Harry, mas desviando o olhar rapidamente.

- Então porquê que quando recebi esta carta, ficaste mais mudo que um peixe e saiste logo da cozinha?

- Olha porque... porque... porque ESTOU FARTO DE SER POSTO DE PARTE!-escapou Ron, pondo um pé à frente e ostentando uma expressão de pura irritação- ESTOU FARTO DE SER A PESSOA QUE FICA DE PARTE, QUE TEM DE ATURAR A TUA FAMA E TEM QUE VIVER SEMPRE COM ESPERANÇA DA VIDA!-gritou Ron furioso, atirando com a mala para o chão e sentando-se na cama com as mãos na cabeça.

Harry ficou parado a olhar para o amigo, sem saber o que dizer. É certo que Harry já conhecia esse sentimento de frustracção que Ron sentia pela vida, mas também não esperava que o dissesse mesmo à sua frente.

- Olha Ron, também não é tudo assim.- disse Harry baixinho.

- Então é como?-perguntou Ron, numa voz rouca, ainda em cima da cama.

- Achas que é facil eu viver, sabendo que já morreram os meus pais, o meu padrinho, e talvez também vá eu morrer? Ou achas que eu vivo num mar de rosas, onde não há espinhos em lado nenhum?

Ron permaneceu calado, tendo que ser Harry a continuar:

- Estava eu no final do ano passado feliz pois sabia que tinham ganho a taça de Quidditch. Também sabia que ainda havia momentos dificeis para passar, mas nunca que iria adivinhar que ia ter um Verão horrível, pois tinha-me morrido a pessoa que mais me fazia falta na vida! Achas que eu gosto que a minha vida seja assim?

Ron continuou calado e frustradíssimo em ter que responder disse:

-Não.

-Então para quê que estás com essas tretas?! Se sabes que a tua vida é melhor que a minha, para que ficas a gastar o teu latim?

- Mas não é bem assim!-respondeu-lhe Ron, chateado, levantando-se e olhando para Harry.- Eu sempre vivi na Toca, com os meu irmão todos, fui gozado e chateado por eles e...

- Mas pelo menos tens irmãos! Eu nem pais tenho!

- Não interessa, tu não sabes oque é que é ter a mentalidade de tentar ser melhor que os nossos irmãos e no fim...

- .. não conseguir?-completou Harry.

- Exactamente.-explicou Ron, acalmando-se um pouco. -O meu sonho sempre foi e é chegar a ser capitão da equipa dos Gryffindors...

- Ai é?-perguntou Harry, sentando-se.

- Quando... quando entrei para keeper na equipa dos Gryffindors, tive a secreta esperança de chegar a capitão. So que...

- Não sabia.-disse Harry sinceramente.

- Pensei que soubesses... tu viste o meu desejo no Espelho dos Invisiveis.

- Pois... Olha, a sério, desculpa pelo que te fiz... não sabia...- desculpou-se Harry estendendo a mão. Ron olhou para ele e sorriu, apertando a mão de Harry.

- Eu é que te tenho de desculpar.- disse Ron.- Por estas palavras iniciais que disse.

Nesse momento a porta do quarto abriu-se.

- Harry! Ron! A Ginny já chegou!-disse Hermione, saindo a correr, deixando a porta aberta.

Harry e Ron ( a carta estava esquecida em cima da secretária) foram a correr até ao Hall de entrada, onde Mrs. Weasley estava bastante aliviada, á beira de Ginny, fazendo uma entrevista para saber como é que ela estava.

- ...já lhe disse, o professor Snape arranjou um Oclumentoscópio, e analisou-me o modo que eu tinha de falar e de pensar.

- Mas não tens nada de grave, pois não?

- Não, na verdade nem estou doente.

- Ainda bem!-exclamou Mrs. Weasley felicíssima.- Bill, podes ir descascando as batatas, enquanto eu ajudo a Ginny a preparar-se para irmos todos à Diagon-al?

- O.k.-respondeu Bill, afastando-se.

Nunca tinham visto Mrs. Weasley tão contente durante esses dias. E para o cúmulo, Ginny tinha sido nomeada prefeita, o que deixou a mãe de Ron mais que feliz.

Se pudesse escolher um dia das férias de verão que tivesse sido o melhor teria certamente escolhido aquele...


- Bem me pareceu má ideia virmos todos juntos.-reclamou Mrs. Weasley, enquanto era espalmada contra aparede do metro, à espera de irem para a Diagon-al. Nessa tarde o tempo parecia estar mais bem-disposto, pois pelo menos não havia sinal de chuva. O céu era carregado de nuvens, o que era complicado para avançarem.

Harry achava cada vez mais estranho aquilo tudo. Há algum tempo, andavam todos atrás do Harry, sempre a vigiá-lo e a ver se era atacado por alguém. Agora, no entanto, não parecia haver o mínimo sinal de preocupação, pois até para a Diagon-Al, ele já não era escoltado por ninguém. Isso era mais agradável, mas intrigava-o um pouco.

Quando Mrs. Weasley, Ron, Hermione e Harry tinham entrado na Diagon-al, nunca que imaginariam que iam ter de assistir a uma conversa que não lhes agradava nada... Ou melhor, depois de terem saido da Flourish and Blots, foram obrigados a parar, pois uma pessoa relatava em cima de um pequeno estrado, mesmo ao lado de Gringotts. Era Fudge, que nesse dia tinha-se esquecido do seu chapéu de coco.

- Caros Feiticeiros, eu estarei sempre do vosso lado, quando estiverdes mais tristes ou infelizes por algo não vos ter ocorrido tão bem. Podemos todos dar as mãos para lutarmos contra as Trevas, podemos conversar sobre o mundo em que nos encontramos, eu posso ajudarvos nas vossas dificuldades, desde que a vossa confiança seja depositada em mim, o que levará à melhoria do sistema político do país e consequentemente à melhoria do modo de vida.

Alguns feiticeiros vaiaram-no , mas a maioria bateu palmas. Mrs. Weasley murmurou entredentes: “interesseiro
e entrou para uma loja de roupas.

Harry ia com intenção de segui-la, mas Ron agarrou-o.

-Tenho uma ideia melhor.-retorquiu.- anda a uma loja que eu conheço.

Curiosos para saber o que Ron queria, Harry e Hermione seguiram-no, enquanto Ginny e Bill entraram numa loja de animais. Enquanto andavam o Ron nada dizia, mas tal foi o espanto dos dois amigos, quando olharam para um letreiro de uma loja bastante moderna e bonita: Magias Mirabolantes Dos Weasleys. A montra tinha bastantes objectos e uma grande espalhafato de cores que davam um ar de movimento à loja. Entraram pela porta e viram-se dentro de uma grande sala, onde objectos estavam pendurados nos tectos, muitos estavam em funcionamento e uma série de tapetes azul e violeta estavam a enfeitar o chão, que tal como o resto da loja, tinha um tom azul-bebé. De resto, foram olhar para o balcão e entre sorrisos, viram os dois gémeos Weasleys a olharem para eles divertidos. Tinham agora um sobretudo azul, a condizer com a loja e que tinha um cartão com o nome de cada um.

- Seja bem vindo à nossa loja. O que desejam, Senhores e Senhora?

- Por enquanto nada, obrigado.- disse Harry, divertido.- Muito elegante a vossa loja.

- Bom, o cliente tem sempre razão. O que pensa disto, Patrão George?

- Tenho a dizer que o nosso cliente tem bom olho. Ou melhor, boas lentes.

Harry sorriu, enquanto Hermione perguntava:

-Conseguiram muito lucro com a loja?-perguntou ela.

- Não tenciono chegar ao ponto da má-educação, mas a menina não deve fazer essa pergunta.- Mas o que acha destes óculos longitudinais?

- Muito engraçados. Só não sei para que servem.

- Óh, não servem para nada. É só para o cliente ser roubado.

- Oquê?-exclamou Hermione alarmada.- Vocês fazem isso com as pessoas?

- Evidentemente que...-começou George.

- ...não! Estes óculos servem para ver ao longe, minha cara amiga dos negócios. São uma pechincha, 1 galeão cada lente. Se não ficar totalmente satisfeita devolveremos a totalidade do seu valor num prazo de quinze dias.

- Bem, acho que o melhor será...

Entrou um cliente na loja. Era gordo e tinha cabelo ruivo.

- Boa tarde, meus senhores. Bendem penas enganadeiras?

- Concerteza, meu caro. Aqui estão. São vinte leões.

O homem pegou na carteira e retirou algumas moedas.

- Bolas, não tenho trocados.

- Eu dou-lhe!-disse Harry, querendo facilitar o negócio aos Weasleys.

- Muito obrigado. És uma boa pessoa.-disse o homem enquanto pagava e perguntava distraido.- Como te chamas?

-Harry Potter.-disse normalmente.

O homem quase ia tendo um ataque. Atirou com as moedas e esquecendo-se delas, perguntou.

- Harry Potter? O famoso Harry Potter?

- Er, sim.-disse Harry, pensando que já era famoso à tanto tempo e ainda se entusiasmavam daquele jeito.

- Um autógrafo. Oh sim, como poderia eu esquecer-me disso?-e deu-lhe uma folha de pergaminho, que embasbacado Harry assinou.

- Bai ficar contentíssimo.-disse o homem.- Óh, se bai. Eu próprio estou feliz.

O homem deu-se conta do que dizia e olhou para Fred que não sabia o que comentar.

- Er, pode dizer o seu nome para o livro de clientes?

- Richard.- disse apressadamente.-Tenho que ir.

E saiu da loja sem mais nem menos. Que coisa mais estranha.

Sairam lá para fora. Fudge ainda continuava a discursar. Talvez o dia seguinte, o dia em que ia voltar para Hogwarts, fosse o mais normal possível, pensava Harry. Porém, nem sabia o que lhe esperava...

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