Quinze anos depois.



Quinze anos depois


(Narração de Bruna)


Eram altas horas da noite e mais uma vez nos discutíamos na sala. Fazia algum tempo que morávamos na Itália, em Milão. Lá eu tinha várias propostas de emprego.


- VOCÊ UM CIUMENTO. – eu gritava sem me importar com os vizinhos.


- NÃO SOU PORCARIA NENHUMA. SÓ ESTOU FALANDO A VERDADE, AQUELE CARA ESTAVA USANDO O COMERCIAL COMO PRETEXTO PARA SE APROXIMAR DE VOCÊ.


A cada dia nossas brigas ficavam mais freqüentes, e na maioria das vezes por motivos bobos. Nem parece aquele garoto romântico que conheci.


- O JHONNY TEM NAMORADA!


- E VOCÊ ADORARIA QUE NÃO TIVESSE?


- EU ADORARIA QUE VOCÊ PARASSE DE GRITAR! – nesse momento as lágrimas já caiam pelo rosto, borrando a maquiagem que eu usei para tirar algumas fotos mais cedo.


Quando estávamos juntos sozinhos, quase sempre estávamos discutindo, se não estivéssemos é porque estávamos na cama. Como deixei meu casamento chegar neste ponto? Noutros tempos nós não brigávamos por motivo nenhum. Nem quando tive que passar dois meses nos Estados Unidos. E mais uma vez foi desta forma que terminou a briga.


(Narração de Remo)


Eu a observava dormindo em meus braços, até parecia um anjo de cabelos loiros. Mas eu sabia que não era assim. Já faz quase dois anos que as brigas só pioravam. Outro dia ela quebrou um vaso de cristal, tive que sair de casa para deixar os pensamentos se organizarem. Comecei a lembrar de tudo que já vivemos.


Amor igual ao teu


Eu nunca mais terei


Amor que eu nunca vi igual


Que eu nunca mais verei


Pensei muito, cheguei à conclusão de não podemos continuar assim. Éramos muito jovens quando nos casamos, e na verdade ainda somos jovens o bastante para ter toda uma vida pela frente.


 


Amor que não se pede


Amor que não se mede


Que não se repete


 


Mas como dizer que não da mais? Já passamos por tantos problemas juntos. E justo agora que tudo poderia melhorar. Somos tão diferentes e ao mesmo tempo temos tanto em comum. Sou lobisomem e por isso tenho dificuldade de encontrar emprego. Ela pode esconder o vírus com facilidade, além de ser modelo e viver cercada por gente bonita e famosa.


 


Amor que não se pede


Amor que não se mede


Que não se repete


 


Me levantei em silêncio para não acordá-la. Olhei uma ultima vez para o seu rosto que agora estava no travesseiro. Depois desci as escadas antes que acabasse desistindo.


 


Você vai chegar em casa


Eu quero abrir a porta


Aonde você mora


Aonde você foi morar


 


Procurei uma caneta e um papel. Em cima da mesa da cozinha deixei uma carta de despedida marcada por uma lágrima teimosa que insistiu em ficar.


 


Não quero estar de fora


Aonde esta você


Eu tive que ir embora


Mesmo querendo ficar


 


Vou voltar para a Inglaterra. Dumbledore me ofereceu o cargo de professor de defesa contra artes das trevas. Espero que assim eu consiga um emprego que dure mais de dois meses.


 


Agora eu sei


Eu sei que eu fui embora


Agora eu quero você


De volta pra mim


 


Quem sabe um dia, quando tudo melhorar, posso até voltar se ela me aceitar. Talvez um dia ainda no futuro, poderemos ter o filho que planejamos quando ela terminasse a carreira.


 


Amor igual ao teu


Eu nunca mais terei


Amor que eu nunca vi igual


Que eu nunca mais verei


 


Mas se ela preferir, que seja feliz com outro. Alguém que não seja tão ciumento e que consiga encontrar um emprego melhor.


 


Amor que não se pede


Amor que não se mede


Que não se repete


 


Sai de casa olhando uma última vez para aquela sala em que discutimos tanto, mas que também já tivemos momentos felizes.


 


Amor que não se pede


Amor que não se mede


Que não se repete


Amor igual ao teu


Eu nunca mais terei


 


Antes de aparatar, tirei a aliança, beijei e guardei no bolso da calça.


 


Amor que eu nunca vi igual


Que eu nunca mais verei


 


(Narração de Herica)


Era mais um fim de tarde que eu passava longe dele. Novamente a saudade apertava o peito e dava um nó na garganta. Por causa dele já bebi e usei drogas que poderiam matar, pensei que minha vida realmente fosse acabar.


Quase todos meus amigos mortos ou loucos e o amor da minha vida preso injustamente. O primeiro ano foi o pior de todos, quase fiquei louca também. Olho o horizonte e o mar infinito como se ali estivessem as respostas para as minhas perguntas. Onde será que ele está agora que finalmente fugiu?


Foram tantas noites em claro e lágrimas que juntas formariam um rio salgado. Mas a saudade foi corroendo minha alma aos poucos. Hoje eu sou tão diferente daquela garota bagunceira que um dia já fui. Percebi que a vida tinha que continuar, e eu precisava seguir em frente.


Hoje tenho tudo que alguém pode querer uma linda casa, dinheiro e a profissão que sempre sonhei. Mas quem disse que eu queria isso? Ficaria muito mais feliz em uma casinha de madeira em um fim de mundo qualquer, mas que tivesse ele todos os dias ao meu lado.


Minha casa fica a uma quadra da praia, o único lugar que encontro um pouco de paz. Mas agora estou longe dela, vou indo rumo ao pólo sul conhecer o continente mais gelado de todos. Trabalho numa ONG nas horas vagas, pois como escritora eu posso escrever em qualquer lugar. Meus leitores nem imaginam como são reais os romances dos meus livros.


Aqui não posso chorar e nem beber. Para quem me conheceu nos últimos anos, sou uma pessoa fria, nunca me viram chorar e raramente rir. Vejo o sol tocar o mar, a imagem mais linda! Mas não posso sorrir, pois quem eu amo não está aqui comigo. Está distante, do outro lado deste mar. Vejo algumas montanhas aparecerem no horizonte, geladas como a minha pessoa demonstra ser.


Amanhã haverá um novo nascer do sol e com ele uma nova esperança. Quem sabe um dia eu o encontro e posso voltar a sonhar com a família perfeita. 


 


Soneto de Fidelidade 


 


De tudo ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto


Que mesmo em face do maior encanto


Dele se encante mais meu pensamento.


 


Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto


E rir meu riso e derramar meu pranto


Ao seu pesar ou seu contentamento


 


E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive


Quem sabe a solidão, fim de quem ama 


 


Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama


Mas que seja infinito enquanto dure.


 


(Até um dia meu anjo) Vinícius de Moraes

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