A busca no Expresso Hogwarts
As férias foram muito tranqüilas. Convidei Lennox para passar uma parte lá em casa, e depois eu fui para a dela. A única pessoa que não encontramos pessoalmente foi Hagrid, que nos mandava um montão de cartas para compensar. Rapidamente, chegou o dia de retornar a Hogwarts. Já tinha encontrado Lennox e Hagrid em frente à passagem entre as plataformas nove e dez, e nós três zanzávamos procurando vagão, e eu lembrei do ano passado, do Esquisitão e tudo o mais. Pensei em ficar no mesmo vagão que ele de novo, sabe, só em nome dos velhos (uau, um ano atrás) tempos. Mas não acho que ele acharia muito legal, nem Lennox e Hagrid, principalmente agora que já estávamos bem a par da rivalidade Sonserina versus Grifinória, então senti que ele provavelmente não toleraria tão bem quanto da última vez, simplesmente porque agora ele sabia usar magia. Quero dizer, acho que o único motivo pelo qual ele não fez meu nariz explodir ou algo assim no ano anterior, foi que ele mal sabia fazer algo levitar.
Lennox chamou a mim e à Hagrid, avisando que tinha encontrado um vagão. Murmurei algo que nem eu mesma pude ser capaz de entender, e me joguei lá dentro. Já tinham passado o que pareciam anos, Hagrid e Lennox dormiam que nem bebês e eu era a única acordada, eu e Animalzinho, que pela primeira vez não parecia com tanta vontade de me partir ao meio, e se distraía com um bichinho de plástico que eu havia dado de presente para ele no natal. Foi ai que, sem realmente pensar no que estava fazendo, abri a gaiola dele. Puxa, eu estava entediada. E esse era o tipo de coisa que eu fazia quando estava entediada. Ele parou, e me olhou por alguns segundos. Achei que ele estava bolando algum plano de última hora para se aproveitar de minha momentânea fraqueza, me atacar e acabar comigo, quando, antes que eu pudesse evitar, ele pulou de um modo que nunca achei que ele seria capaz e saiu voado da cabine, cuja porta estava semi-aberta. Puxa vida, esse gato realmente me odiava. Como era uma menina extremamente generosa e piedosa, e amava aquele bicho como ninguém, mesmo sabendo que não era correspondida, me levantei e fui atrás dele. Sai do vagão, chamando:
- Animalzinho! Animalzinho-o! Você está sendo muito injusto, sabe. Eu te dou a liberdade, para que você aproveite com responsabilidade e sabedoria, ou talvez comece a retribuir o amor que tenho por você, e você vai lá e dá o fora. - fui dizendo, débilmente, enquanto percorria o corredor vazio. Se algum professor me pegasse ali, já era, colega.
Se pelo menos Animalzinho soubesse como estava me arriscando por ele.
Mas ele não sabia, e tenho a impressão de que, mesmo se soubesse, não daria a mínima.
Enfim, meu amor não-correspondido falava mais alto, então me abaixei, como se ele fosse surgir por debaixo de alguma porta ou algo assim, ainda chamando-o. Fui andando engatinhada, o que era uma cena bem patética. Eu engatinhada gritando 'Animalzinho!', eu quero dizer. Mas minha busca estava indo perfeitamente bem, até que algo sólido surgiu na minha frente, e senti que minha cabeça bateu nela com uma força incrível, que me fez desequilibrar e tombar de lado, o que tornou tudo ainda mais patético, se é que era possível. Olhei pra cima, com medo do que veria. Quero dizer, estamos falando de mim. Sempre que tem eu na jogada, algo que inclui extremo azar normalmente está no pacote.
E não poderia estar mais certa.
A coisa sólida que me fez tombar, onde minha cabeça bateu, era nada mais do que a perna direita do Esquisitão, Sr. Gosto-De-Ficar-Sozinho, Tom Riddle.
Sério, não é piada ter todo esse azar. E agora não podia ser diferente. Logo o cara que eu tentava me mostrar superior, ou pelo menos legal, interessante e coisa e tal, tinha acabado de me ver engatinhando por aí.
E ele estava com Animalzinho no colo. Ele tinha achado Animalzinho. E ele nem se engatinhou ou se arriscou como eu. E Animalzinho estava lambendo alegre as mãos dele. Vou te contar, esse gato é realmente um cretino.
Sim, lá estava ele, sorrindo desdenhosamente para mim, com meu pequeno bicho de estimação na mão. E, mas que droga, ele me deixava nervosa. Péssima hora para ter os hormônios já semi-desenvolvidos. Demorei uns dois minutos para recuperar o controle, e me levantei, tentando fazer uma cara de desinteressada, que tenho certeza que foi por água abaixo quando bati meu joelho na porta de um vagão que estava do meu lado, ao levantar.
- Isso é seu? - Perguntou, com um desdém que me irritou profundamente. Poxa, não gosto quando tratam meu gato com desdém. Não quando eu acabei de engatinhar por ele.
- Hm, é. Animalzinho. - Murmurei, fazendo sinal para pegá-lo de volta, mas ao ver minhas mãos se aproximando, o gato se encolheu nos braços de Tom.
Isso foi injusto.
- Ele não parece gostar muito de você. - Disse Tom, com um tom superior, que me irritou pra valer. Quero dizer, meu gato gostava de mim sim. Ele só, hm, demonstrava de outros modos.
- Claro que gosta. Ele só está, hm, atormentado. - Retruquei, arrancando o gato dos braços dele. Animalzinho fez um barulho que desejei nunca mais ouvir em toda minha existência. Tom deu um sorriso convencido que, se não tivesse me feito sentir arrepios em todas as partes do meu corpo, teria me irritado bastante.
- Talvez ele prefira Sonserinos. Nossa, cuide melhor das suas coisas, Lancaster. - Falou o garoto, com um tom de desdém ainda maior, ao ver Animalzinho quase arrancar meu olho com a pequena pata. Uma parte do meu cérebro teve que se segurar para nao dar o maior chute nos Países Baixos dele.
Mas a outra, a irracional, se encheu de felicidade quando notou que ele sabia meu nome.
- Não preciso de conselhos seus, Riddle. Cuido muito bem dele, ele só não aprendeu a valorizar às pessoas que o amam e que o tratam com carinho, é apenas um bebê. E ele nunca, nunquinha, iria preferir um Sonserino. Ele é um bebê, mas não é retardado. - Disse, em tom de desafio. Ele crispou os lábios, que antes sorriam debochados, e me olhou com um olhar que me fez, de verdade, tremer nas bases. Meio que levada pelo nervosismo, dei meia volta pra vazar dali o mais rápido que minhas pernas pudessem suportar, mas antes que eu desse um único passo sequer, ele segurou meu ombro, com uma força assustadora, para uma criancinha de doze anos.
- Cuidado com o que fala, Lancaster. Pode se arrepender depois. - Sussurrou o cara, num tom que, se fosse um pouquinho mais ameaçador e medonho, poderia ter me petrificado ali mesmo. Ele deu meia volta e se mandou dali, entrando em uma cabine qualquer. Apesar do medo e coisa e tal, foi realmente gratificante vê-lo irritado. Quero dizer, tem coisa mais divertida do que tirar pessoas irritadiças do sério? Posso te garantir que não.
Antes que eu pudesse perceber, o terceiro ano tinha chegado, e algumas coisas tinham mudado. Não muitas, e nada extremamente radical, mas, quero dizer, qual é! Já éramos semi-adolescentes. Lennox e eu já demonstrávamos claros interesses por seres do sexo oposto, e o mesmo podíamos dizer deles. Lembra a era do Meninos x Meninas? Aham, já era. E tínhamos crescido e desenvolvido bastante, também.
Tudo bem, pelo menos a Lennox tinha.
Digo, ela tinha crescido ainda mais, era sem dúvida uma das mais altas de toda a Grifinória, sem brincadeira. Mas não aquelas altas desengonçadas que não parecem ter o mínimo controle sobre o próprio corpo. Não, era aquele Alta-Tipo-Modelo. Ainda mais com toda aquela cabeleira loira e coisa e tal. Não que eu sentisse inveja ou coisa do tipo mas, puxa, porque eu tinha que ser toda, você sabe, normal, enquanto ela tinha toda essa beleza avassaladora? Não é fácil ter uma amiga que é tão mais bonita que você, falo sério. Pelo menos eu ainda tinha o Hagrid, que tinha tantos problemas amorosos quanto eu.
Quem tinha desenvolvido bastante também era, pra minha infelicidade, Tom Riddle. Caramba, quando você acha que ele não pode ficar mais bonito, ele fica. Falando sério, como ele consegue? Ele também tinha crescido bastante, e, comparado aos outros terceiranistas, ele era bem forte. Não que as vestes de Hogwarts colaborassem, mas dava pra ver como aquele suéter com o brasão da Sonserina estava bem preenchido, se é que me entende. Do jeito que ele é, também, não duvido nadinha que tenha feito algum feitiço para tornar-se mais, sabe, tonificado na região peitoral. Mas eu tentava não reparar muito. Eu sabia que ele com certeza não estava reparando em mim, então não ia perder meu tempo reparando nele. Até porque ele tinha conseguido se tornar insuportável. No primeiro ano, ele era apenas um garoto quieto e esquisito. Agora ele era um arrogante que praticamente mandava na escola, e tinha só treze anos!
E eu nem consigo mandar no meu gato.
Bem, continuando, ele sempre andava por aí com Arnold Jerkins e outro garoto cujo nome nunca lembro, dois sonserinos que eu desprezo com todas as forças, se sentindo o melhor de todos (bem, talvez ele fosse mesmo) e esbaldando arrogância. Além do mais, parecia que por onde quer que ele fosse, iam umas vinte garotas atrás.
Não que eu me importasse, sabe como é.
Mas ele também parecia nem notar. Pelo que eu percebi, ele ainda gostava bastante de andar sozinho quando podia. Vai entender.
Não tínhamos nos falado desde aquele incidente do trem (sabe, depois que ele me viu, hm, engatinhando, achei melhor manter distância, pra ver se ele esquecia, ou algo assim), mas ele também não fez muita questão de me procurar.
Enfim, era véspera do primeiro passeio que faríamos à Hogsmead. Eu, Hagrid e Lennox estávamos vibrando. Passamos praticamente a noite toda falando sobre isso, aonde iríamos primeiro, o que faríamos, essas coisas. Eu mal podia esperar, afinal, ia conhecer uma comunidade inteiramente bruxa pela primeira vez!
E aqueles doces da Dedosdemel mal podiam esperar por mim.
Fomos dormir às duas da manhã, mas quando acordei parecia que eu tinha dormido apenas alguns segundos. Se não fosse Hogsmead, eu provavelmente daria um soco no nariz da pessoa que me acordou (Lennox) e voltaria a dormir. Mas ao invés disso, me levantei rapidamente, e fui pro banho, para depois me arrumar.
- Ai, qual blusa eu uso? A verde ou a azul? - Perguntou Lennox, com duas blusas lindas na mão. Encarei-a furiosamente.
- Como se alguma fosse ficar ruim em você. - Resmunguei. Ela sorriu orgulhosamente e perguntou, de novo, 'sério, qual?'.
- A azul combina com seu olho. - Disse, nem ligando muito pro caso. Quero dizer, eu ainda tinha que escolher a minha roupa. Era uma ocasião especial, e no meu malão só pareciam ter roupas de 150 anos atrás, nenhuma bonita o suficiente. Pensei em ir do jeito que tava, você sabe, de toalha e pantufas. Sentei na cama, bufando, e Lennox perguntou se eu queria alguma roupa emprestada.
Como se uma roupa de uma semi-modelo de 1,73 fosse ficar boa em uma garota comum de 1,55 como eu.
Mas, puxa, não ia recusar. Ela tinha cada roupa linda.
E ela disse, quando resmunguei o problema da altura e tudo o mais, que sabia um feitiço que ajustava roupas ao corpo, pois ela mesma tinha muitos problemas de encontrar roupas que ficassem boas nela.
Claro, encontrar roupas para garotas altas e magérrimas, deve ser mesmo muito difícil.
De todo o modo, ela me empurrou o malão e falou pra eu ficar à vontade.
Remexi tudo, era uma escolha realmente difícil. Tudo ali era simplesmente magnífico. Como o dia estava bem ensolarado, peguei uma blusa de um tecido fresco e superbom de passar a mão, que não sei exatamente como se chama, que tinha um decote em V na frente e vermelha, que fez com que meu cabelo castanho e liso parecesse levemente acobreado, destacando meus olhos castanhos-claro. Combinei-a com uma calça jeans escura que encontrei, do tipo skinny, que modelava tão bem o corpo que parecia que eu tinha feito dois meses inteiros de academia só naqueles minutos. Lennox fez um pequenos cachos nas pontas do meu cabelo extremamente liso, e, antes que eu pudesse evitar, cortou minha franja, na altura dos olhos, escondendo toda a minha testa. Olhei no espelho.
Eu tava gata. Muito gata.
Pela primeira vez na vida, aparentemente. Pois quando saí do dormitório e desci para o Salão Comunal, vários olhares se viraram para mim, com um olhar tão espantado e surpreso que fez com que eu me sentisse meio mal. Caramba, eu era mesmo tão ruim assim?
Descemos rapidamente e encontramos Hagrid já no Salão Principal, e ele também me elogiou bastante. Sabe, daquele jeito dele.
- Nossa, você tá o máximo! Parece até um Jinxo Egípcio na época do acasalamento!
Jinxo Egípcio? Hm, tá.
- Hm, é. Obrigada.
- Alunos, gostaria de ter a sua atenção, por favor. - ouvi o prof. Dumbledore chamar, naquela voz tão calma que irritava. Caramba, o cara convivia com milhões de crianças e adolescentes desgovernados e sedentos por confusão e destruição, e ele nunca parecia estar irritado. Mas eu gostava do cara, de verdade. Com aquele olhar bondoso dele, dava até vontade de abraçar. Não que eu fosse fazer isso, é claro. E também ele parecia ser o único professor que não morria de amores pelo Riddle, e isso já era mais um ponto vantajoso, se quer saber. - Iremos sair agora para o passeio à Hogsmead. Queria pedir que os monitores de cada casa organizassem filas, para que o nosso zelador possa verificar as autorizações sem maiores problemas.
Assim que ele terminou de falar, os monitores começaram a arrumar as filas, enquanto eu tirava minha autorização do bolso, com os olhos brilhando. A fila começou a andar, eu entreguei minha autorização para o mal-humorado zelador, e saí em direção às carruagens, com Lennox e Hagrid logo atrás.
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