Capítulo VI



Hermione abriu os olhos e, por alguns instantes, custou a entender onde estava.

A constatação de que acabava de despertar, após sua primeira noite de férias numa cabana, nas motanhas, em nada a aliviou.

Uma terrível sensação de frio, como jamais experimentara antes, a dominava por completo. Sentia as mãos e os pés dormentes, como se de repente deixassem d lhe pertencer, de obedecer ao comando do cérebro.

Hermione tentou abrir e fechar as mãos... Em vão. Elas estavam enregeladas assim como o resto de seu corpo. Os pesados cobertores pareciam não fazer efeito algum, para atenuar aquela sensação terrível.
Erguendo-se sobre os cotovelos, com gestos trêmulos, Hermione tentou entender o que estava acontecendo. Respirou profundamente e foi então que sentiu um forte cheiro de fumaça.

Só havia uma explicação, ela concluiu, com o coração aos saltos: o aquecedor, que ficava na sala, havia se apagado. A fumaça se espalhava pela cabana.

Levantando-se, Hermione vestiu um agasalho sobre o pijama e calçou os chinelos. Seu corpo inteiro ainda parecia dormente, recusando-se a obedecê-la. Fazendo um intenso esforço para mover-se o mais rápido possível, Hermione saiu do quarto e foi até o de Jamie, que estava vazio.

- Jamie!- Ela chamou, aflita, caminhando pelo corredor.

- Estou aqui, titia.- Uma voz trêmula débil, naa sala.

- Oh, Jamie!- Hermione precipitou-se naquela direção. A sala estava tomada pela fumaça.- Cadê você?

- Aqui...- Jamie respondeu, num tom um pouco mais forte.

Hermione olhou o vulto encolhido do sobrinho, em um canto. Correndo para lá, tomou Jamie nos braços e apertou-o com força.

- Santo Deus, você está gelado, meu anjo!

- O que aconteceu, titia?- o menino perguntou, assustado.- De repente, tudo ficou frio e cheio de fumaça...

- O aquecedor se apagou- Hermione respondeu, antes que um acesso de tosse a dominasse.- Precisamos de ar puro... E rápido!- ainda com o sobrinho no colo, ela começou a abrir as portas e janelas.
Um vento gélido soprou, fazendo com que ambos estremecessem. Mas, em questão de minutoa a fumaçase dissipou totalmente. Hermione sentia-se tão assustada, que tinha vontade de encolher-se a um canto, como fizera o pequeno Jamie.

Entretanto, não poderia se dar ao luxo de ceder ao medo. Ao contrário: tinha que assumir o comando da situação, com urgência... Antes que perdesse de vez a sensibilidade das mãos e dos pés.

A tarde anterior, antes de partir, Harry lhe falara sobre a hipotermia e suas terríveis consequencias. A hipotermia era a diminuição excessiva da temperatura normal do corpo. Se uma pessoa fosse submetida a essas condições, poderia chegar à morte. Mas Hermione não deixaria, nunca, que isso acontecesse. Se dependesse dela, a tituação seria revertida em poucos minutos.

“Preciso pensar rápido”, ela disse para si. Em primeiro lugar, necessitamos de calor...”. corrento para a cozinha, ainda com Jamie no colo, colocou uma vasilha de água para ferver, no fogão esmaltado. Em seguida, recomendou:

- Fique aqui, bem quietinho, enquanto vou acender o fogão a lenha.

- Quero ajudar, titia - Jamie afirmou, tremendo da cabeça aos pés.

- Certo. Então, vá quebrando esses pedsacinhos de lenha...- Hermione mostrou-lhe a pilha de gravetos, ao lado do fogão.

Cerca de meia hora depois, a situação já parecia menos assustadora.

O fogão a lenha, devidamente aceso, aquecia a cozinha. O chá quente, preparado por Hermione, ajudava a restabelecer as forças e a temperatura do corpo. Como acompanhamento, pão de centeio com requeijão e geléia. Sentados ao lado fo fogão de lenha, Hermione e Jamie tomavam o desjejum.

- Sente-se melhor, querido?- Hermione perguntou.

- Sim, titia. Puxa eu estava parecendo um picolé, de tão gelado.

- Quase viramos sorvete, não foi?- Hermione sorriu.

O menino acenou em concordância, enquanto dizia:

- Fiquei morrendo de medo.

- Eu também...

- Até pedi para aquele anjo lá da sala me ajudar.

- Que ando, meu bem?- Hermione perguntou, curiosa.

- Aquele que está pendurado perto da janela. Você não viu, titia?

- Sinceramente, não.

- É que ontem você estava muito preocupada em aprender aquele montão de coisas que o Sr. Potter ensinou - Jamie opinou, com uma expressào de seriedade no rostinho corado.- Por isso, nem teve tempo de reparar nos enfeites.

- Que enfeites, querido?

- Aqueles que estão lá na sala, ora.

Hermione sorriu, fitando o sobrinho com ternura. Mas, naturalmente, não acreditava no que Jamie estava dizendo. Sabia que era natural que as crianças, às vezes, misturassem fantasia e a realidade.

- A sala ficou bonita, com todos aqueles anjos, renas, estrelas...- Jamie começou a dizer..

- Creio que ficará ainda mais linda, depois que armarmos a árvore de Natal - Hermione apartou.

- E quando vamos fazer isso?- Jamie indagou, com uma expressão de alegre expectativa.

- Hoje mesmo, querido.

- Agora?

- Pode ser. Mas, antes, teremos de descobrir qual foi o problema com o aquecedor. Não entendo porque o fogo se apagou.

Quando acabaram o desjejum, Jamie propôs.

- Vamos ver os enfeites, agora.

- Sim - Hermione assentiu, pacientemente.

Tomando-lhe a mão, o sobrinho conduziu-a até a sala.

- Veja, titia...

O menino apontava para cima. Hermione olhou naquela direção e, por um momento, chegou a duvidar do que via. Como era possível que não tivesse reparado, antes, naquela singela decoração de Natal?

Presos no forro, por finos fios de nylon, havia vários móbiles com motivos natalinos : um trenó, renas, estrelas e anjos de cristal... Todos traziam detalhes em isopor e papel laminado, salpicados de purpurina. O efeito era tão belo quanto comovente: a claridade do dia, incidindo sobre os enfeites, fazia com que brilhassem, como que por um passe de mágica.

- E aqui, neste armário, tem mais - disse Jamie, apontando para uma pequena peça de madeira antiga.

- Como é que você sabe?- Hermione perguntou, sorrindo.

- Eu olhei, oras.- Jamie abriu a primeira gaveta da peça onde havia uma grande toalha de mesa, bordada com figuras de anjos. Havia também guardanapos, descansos de palha para pratos e copos.

- Que toalha linda- disse Hermione.- Vamos usá-la na ceia de Natal.- Ao desdobrá-la encontrou uma folha de papel. Desdobrando-a leu:

“Caros Hermione e Jamie: espero que estejam desfrutando bem de suas férias. Espero, também, que encontrem este bilhete antes da noite de Natal... Fui eu quem confeccionei esta toalha, quando Harry era um garotinho, talvez da idade de Jamie.
Abraços, Lílian Potter.”

- Qanta gentileza- Hermione comentou, emocionada.- Decidamente, a mãe de Harry é um doce de pessoa.

- Ele também é muito legal - Jamie afirmou, abrindo a segunda gaveta, onde havia várias estatuetas de pastores. Ao todo, eram doze. E cada um empunhava um insrumento diferente.

Cuidadosamente, Jamie colocou-os sobre o móvel de madeira, em semi-circulo.

- Veja, titia - disse, satisfeito.- Ficou bonito?

- Ficou lindo, querido - Hermione aprovou, satisfeita.- Vamos escrever um bilhere de agradecimento a Sra. Lílian Potter, quando partirmos. Ela foi simplesmente maravilhosa, deixando-nos esses enfeites.

- E os biscoitos, também.- Jamie se referia aos vários pacotes de bolacha recheada, deixados por Lílian na despensa da cabana.

E essas não eram as únicas guloseimas ofertadas pela adorável senhora. Tal como o própio Harry avisara, Lílian havia comprado provisões suficientes para alimentar um exército... Bolachas, geléias, cereais, leite.. A velha senhora não se esquecera de nada.

Fascinado com os pequeno pastores, Jamie anunciou:

- Vou buscar Melvin,para ele conhecer nossos novos amigos.

- Onde você o deixou, querido?

- Embaixo das cobertas. Ele estava morendo de frio, apesar de ser um urso.

- Bem, enquanto você vai buscar Melvin, vou acender o aquecedor- Hermione decidiu.

Jamie disparou correndo, na direção ao quarto, Hermione aproximou-se do aquecedor com uma expressão intrigada. Na véspera, antes de se deitar, ela verificara o fogo, que parecia firme o suficiente para durar até o amanhecer.

O que ocorrera de errado, afinal? Hermione começou a acendê-lo novamente, quando notou que a portinhola de ventilação estava fechada. Fora isso que causara a extinção das chamas, ela concluiu. Sem ventilação, sem oxigenacão, as chamas haviam se apagado. E a fumaça tomara conta da cabana.

- Minha nossa...- Hermione murmurou, estremecendo.

Ela e Jamie tinham corrudo um sério perigo. Poderiam ter sido sufocados pela fumaça... Ou algo ainda pior.

Com um leve meneio de cabeça, Hermione afastou esses pensamentos para longe. Ela havia cometido um erro. Mas não o repetiria mais.

- Queremos ajudar a acender o fogo- disse uma vozinha engraçada, um tanto fanhosa, atrás de Hermione.

Voltando-se, ela sorriu, enquanto dizia:

- Bom dia, Melvin... Dormiu bem?

- Passei muito frio.- Jamie imitava a voz do ursinho, enquanto mexia-lhe ambos os braços.- Pensei que fosse virar pinguim.

- Ora, os ursos não devem hibernar, no inverno?- Hermione retrucou.

- Hiber... o quê?- Jamie perguntou, ainda imitando a voz de Melvin.

- Hibernar...- Hermione repetiu, pronunciando bem cada sílaba.- É isso que os ursos fazem no tempo de frio, sabe? Comem bastante e depois passam a estação inteira dormindo em cavernas. Só acordam na primavera.

- Mas eu sou um urso diferente...

- Oh, sim, você é especial- Hermione concordou, lançando um olhar ao sobrinho - Não concorda, Jamie?

- Sim - o garotinho respondeu, sorrindo.

Cerca de uma hora depois, a temperatura no interior da cabana começava a aumentar. O aquecedor funcionava perfeitamente. E, dessa vez, Hermione havia tido um cuidado especial para que a portinhola de ventilação não se fechasse. Tinha até feito um pequeno calço de madeira para que se mantivesse aberta durante o tempo todo.

Hermione desfez as bagagens e, com a ajuda de Jamie, levou para a sala as caixas com os enfeites de Natal que trouxera. Por fim, levou a árore, desmontável, comprada por Penny no ano anterior.

- Onde vamos armá-la?- Hermione perguntou ao sobrinho.

- Ali! – Jamie apontou um canto, perto da janela, cujas venezianas estavam abertas, para que a claridade entrasse. Mas as vidraças permaneciam fechadas.

- É uma ótima sugestão, querido- Hermione aprovou.- Bem, podemos começar...

Puxando uma mesa de canto para o local, Hermione colocou o suporte da arvore sobre ela. Em seguida, encaixou e rosqueou o tronco da árvore, confecionado em aluminio leve, no centro do suporte.

Enquanto isso, Jamie ia abrindo as caixas com as bolas coloridas e demais enfeites. Desde que chegara à cabana, parecia ter recobrado parte da vivacidade perdida desde a perda da mãe.

Esse detalhe, por si só, já era suficiente para que Hermione se convessesse de que a longa viagem até aquela montanha isolada do resto do mundo, valera a pena.

Era verdade que Jamie ainda nào voltara a ser, totalmente o garotinho alegre de antes. Mas todo aquele entusisasmo, e os sorrisos que se tornavam mais frequentes, eram ótimos sinais. Depois de fixar bem o tronco da árvore no suporte, Hermione começou a armar os galhos, encaixando-os nos orifícios do tronco, até ficarem bem firmes.

Por fim, ela anunciou:

- Pronto, querido. podemos começar a pendurar as bolas coloridas e os outros enfeites.

- Oba!- Jamie exclamou, satisfeito. Colocando o ursinho melvin sentado no sofá, olhou para as caixas cheias de enfeites e escolheu a primeira bola, de cor azul:- Vou começar com esta aqui.

- Certo- Hermione assentiu.- Quanto a mim, escolherei esta verde.

- Ele á muito bonita, titia.

- Bem, onde estão os ganchos?

- Aqui.- Jamie apontou uma pequena caixa, ao pé da arvore.

Concentrados, ambos continuaram com o trabalho. Havia uma grande variedade de bolas coloridas, de vários tamanhos, com detalhes diferentes. Havia também várias miniaturas de Papai Noel, estrelas, bonecos de neve e outros enfeites natalinos. Depois de uma hora e meia, e de muitos comentários sobre os enfeites e os melhores locais para pendurá-los, a primeira parte do trabalho estava encerrada.

- Agora, falta fazer os cordões de pipoca, para completar a decoração da nossa árvore de Natal - disse Hermione.- Você se importa se deixarmos isso para depois do almoço, querido?

- Não...- Jamie respondeu, com uma expressão pensativa, quase melancólica.

Sentando-se numa poltrona, Hermione puxou-o para perto de si. Acariciando-lhe os cabelos, perguntou num tom suave:

- O que há, meu anjo? Você parece ter ficado triste, de repente...

- Estou pensando se Papai Noel vai trazer meus presentes...

- Quantos você pediu?- Hermione indagou. Naturalmente, Jamie não podia saber que ela havia lido sua cartinha, para depois guardá-la em sua pasta de documentos.

- Dois presentes- Jamie respondeu, com uma expressão de tamanha inocência nos olhos, que Hermione abraçou-o com força.

- O primeiro foi a neve, não?- ela perguntou, momentos depois, afastando-o delicadamente de si, para fitá-lo nos olhos.

- Não - Jamie respondeu, com ar compenetrado.- Esse foi o segundo.- Com um profundo suspiro, acrescentou:- Será que Papai Noel não vai se esquecer de mim?

Hermione hesitou. Não sabia muito bem como lidar com esse mito, no qual a amioria das crianças acreditavam. Por um lado não tinah coragem de quebrar a imagem que Jamie fazia, a respeito do bom velhinho... Por outro lado, porém não poderia garantir a Jamie que Papai Noel atenderia seus dois desejos. Mesmo porque, um deles era impossível de se tornar realidade.

- O que você acha, titia?- Jamie insistiu.- Ele vai me dar um Natal cheio de neve?

- Oh, aposto que sim, meu bem. Tanto que, para colaborar com Papai Noel, viemos até esta montanha, onde faz muito frio. Portanto...

- Pode cair muita neve, aqui- Jamie completou, sorrindo.

- Ah, assim está melhor.- Hermione ergueu-lhe o queixo, enquanto sorria de volta. – Não gosto de ver você triste, sabia?

- Eu não vou ficar triste - Jamie sentenciou.- Não se Papai Noel trouxer minha neve...

- Acho que ele fará isso, sim.- Hermione hesitou, antes de prosseguir.- Quanto ao seu outro pedido...

- É segredo meu e de Papai Noel - Jamie afirmou.

- É mesmo?- Hermione fingia-se surpresa.- Nem eu posso saber?

- Ainda não. Mas depois você verá, titia.

- Certo.- Hermione fez uma pausa. Em seguida, tomou as mãozinhas do sobrinho entre as suas.- Sabe, querido, às vezes Papai Noel fica muito atribulado.

- O que é atribulado?

- Quer dizer muito cheio de compromissos. Afinal, ele tem que atender os desejos das crianças do mundo inteiro, por isso, em certos Natais, ele pede a colaboração de todos para...- Hermione interrompeu-se. O momento difícil da conversa havia chegado.

- Para quê, titia?- Jamie perguntou, curioso.

- Bem, às vezes ele manda avisar as criancas que não poderá atender todos os pedidos, pois seu trenó está superlotado. Assim, Papai Noel decide atender só um desejo de cada criança...

- É mesmo?- Jamie franziu a testa com ar intrigado.

- Diga-me, querido...- Hermione acariciou-lhe o rostinho.- Você não ficaria triste se Papai Noel lhe trouxesse só um dos presentes que pediu... Ficaria?

Jamie abaixou os olhos. Quando os ergueu, parecia francamente decepcionado.

- Puxa... Eu queria tanto que Papai Noel me desse os dois presentes.

- Sim, meu bem, seria maravilhoso. Mas você não vai ficar magoado com ele, se receber apenas um... Certo?

- Mas eu queria tanto ter um Natal cheio de neve.

- Você terá, Jamie.

- Não...- o garotinho negou, com um gesto ceemente de cabeça.- Se Papi Noel só vai me dar um presente, então não teremos neve.

- Como assim?- Hermione pergunou, sem entender.

Baixando a voz, Jamie segredou:

- É que ele já me deu o segundo presente.

- Já?

- Sim, titia.

- Mas como?

- Ele já me deu - Jamie repetiu, afastando-se em direção ao sofá. Pegando seu ursinho, dirigiu-se ao quarto.

Intrigada, Hermione tentava compreender o sentido das palavras do sobrinho. Se o outro pedido de Jamie para o Bom Velhinho era um papai, então como ele poderia dizer que já o tinha ganho..?

- Minha nossa!- Hermione exclamou, num tom abafado.

A conclusão chegou-lhe à mente com a rapidez de um raio. Então era isso...

Jamie achava que Papai Noel já havia lhe dado o primeiro presente pedido na cartinha: um papai. E esse suposto papai só poderia ser...

- Harry Potter!- ela murmurou, atônita.

O pequeno Jamie estava pensando que Harry era um presente de Papai Noel, para ele. Agoa sim, Hermione compreendia o comportamento estranhamente extrovertido do garotinho em relação a Harry. Isso explicava tudo... Mas não esclarecia nada.

Esfregando as mãos nervosamente, Hermione tentava encontrar uma saída para aquela situação terrivelmente confusa, na qual Jamie se envolvera. Mas como fazer isso, sem ofendê-lo?

Como explicar-lhe que a possibilidade de Harry Potter ser um papai enviado pelo Bom Velhinho era tão remota quanto a perspectiva de nevar no deserto do Saara? Mesmo porque, Harry parecia ser totalmente avesso a qualquer tipo de contato ou troca de calor humano... a despeito de ser um homem atraente, inteligente e carismático... E de tê-la impressionado bem mais do que qualquer outro homem já tivera, em apenas poucas horas. De qualquer forma, Hermione não tinha a menor intenção de se encolver emocionalemnte com um homem, nos próximos anos. Sua prioridade era Jamie. Não havia lugar para mais ninguém, em seu coração.

Levantando-se, ela foi até o quarto de Jamie. Encontrou-o recostado na cama, vendo um livro com ilustrações de animais, com o ursinho ao lado.

- Estou pensando em fazer o almoço, querido - ela anunciou.- Quer me ajudar?

- Eu já vou.

-Certo - Hermione aquiesceu.

Fez menção de sair, mais Jamie chamou-a.

- Titia?

- Sim, meu bem?

- Você gostou do Sr. Potter?

Pega de surpresa, Hermione levou alguns instantes para responder, hesitante.

- Bem, ele foi muito gentil em nos trazer até aqui e...

- Gostou ou não gostou?- Jamie a interrompeu.

- Por que essa pergunta, agora, querido?- Hermione indagou, constrangida.

- Porque eu estava pensando...

Jamie não terminou a frase. E Hermione o encorajou:

- Sim?

- A gente podia convidar o Sr. Potter para passar o Natal aqui.

Hermione fitou-o com espanto:

- Mas por que fariamos isso, Jamie?

- Porque o Sr. Potter foi bonzinho para nós.

- A mãe dele tem sido maravilhosa conosco, isso sim - Hermioneo corrigiu.- Aliás, o Sr. Potter foi nos buscar, lá no aeroporto, só porque ela pediu.

- Mas ele trouxe a gente até aqui.. E nós não podiamos chegar sozinhos.

Um profundo suspiro brotou do peito de Hermione. Armando-se de paciência, ela sentou-se na beira da cama de Jamie, enquanto explicava:

- Escute, meu anjo, acho que o Sr. Potter não gostaria de passar o Natal conosco.

- Por que não perguntamos a ele?

- Em primeiro lugar, não temos sequer o telefone do Sr. Potter. Em segundo, ele só virá nos buscar no dia dois de janeiro. Foi isso que combinamos, lebra-se?

- Sim - Jamie assentiu, não muito convencido, Mas logo voltou a argumentar:- E se ele quisesse parassar o Natal com a gente?

- Duvido. O Sr. Potter certamente prefirirá passar a ceia junto com a familia e...

- Mas a mãe dele está viajando.

- Isso não significa que ele não tenha amigos.. Ou uma namorada.

- Acho que não - Jamie opinou, muito sério.

- Como pode saber, querido?- Hermione sorriu, com melancolia.- Escute, você não deve se esquecer, nunca, que nossa família é formada unicamente por mim e por você. Entendeu meu bem?

- Sim. Mas o Sr. Potter..

- Já chega dessa conversa, querido.- Hermione perdeu o controle. Detestava quando isso acontecia, mas não suportava mais a insistência do sobrinho.- Vamos esquecer o Sr. Potter por alguns dias, está bem?

Jamie abaixou os olhos, evidentemente magoado. Num tom carinhoso, Hermione desculpou-se:

- Perdoe-me se estou sendo muito severa com você. Mas há coisas que você não entende.

- Os adultos sempre falam assim, quando não querem ouvir a gente - Jamie resmungou.

Hermione engoliu em seco. Talvez isso fosse verdade. Mas o fato era que Jamie, com toda sua inocência, realmente era incapaz de entender que o último homem no planeta com quem ele podia contar, como pai, seria Harry Potter.

A questão era: como explicar isso a um teimoso encantador e sensível garotinho de apenas cinco anos?

- Bem, querido, como já disse, Vou fazer o almoço.- Hermione e levantou-se.- Se quiser me ajudar, agradeço. Mas se preferir ficar aqui, com Melvin, não me ofenderei. Chamarei você quendo tudo estiver pronto.

O menino fez um gesto de assentimento, mas nada respondeu.

Hermione já estava saindo do quarto, quando jamie perguntou:

- Se o Sr. Potter vier aqui, antes do Natal, podermos convidá-lo para o Natal ???

- Sim - Hermione respondeu. Afina, tinha certeza de que Harry só apareceria depois do Ano-Novo.

-Oba!- Jamie exclamou, alegremente.

Voltando sobre os próprios passos, Hermione recomendou:

- Cuidado para não ficar com esperanças demais, querido. De repente o Sr. Potter não aparece e...

- Mas, se ele vier, vamos convidar - Jamie a interrompeu.- Certo?

- Certo.- Hermione aquiesceu, derrotada.

Talvez não devesse ficar tão abatida, ela se dizia, enquanto preparava o almoço. Afinal, Jamie, apesar de brilhante e especialmente sensível, era uma criança. E crianças, às vezes, tinham manias e obsessões... Das quais se esquecia, facilmente, em algumas horas.

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