O sótão






SEGUNDO CAPÍTULO

O SÓTÃO






"O que estás fazendo?", bocejou Alvo que havia sido acordado pelo barulho que seu irmão estava fazendo no quarto. Se os garotos tivessem olhado o relógio, eles veriam que eram quase duas horas da manhã.

"Nada!", sussurrou Tiago, "Volta pra cama".

"Ainda to na cama... Mas por que estamos falando baixinho?"

"Porque não quero que a mamãe e o papai acordem", disse Tiago ainda remexendo numa pilha de coisas.

"O que estás procurando?"

"A vela que o tio Jorge me deu..."

"E porque precisas dela agora?"

"Se eu te disser tu prometes ficar quieto?"

"Prometo!"

"Promete de verdade?"

"Verdade verdadeira!"

"Ok... Lembra que eles sempre dizem que o Papai Noel desce pela chaminé pra deixar os presentes?", Alvo concordou e Tiago disse, "Bem, nossa chaminé está tapada! Eu ouvi a mamãe reclamando outra hora..."

"Então ele não vai entrar!", disse Alvo levando as mãos ao rosto.

"Então, eu vou até o sótão e, se ele realmente existir, eu vou dizer pra ele que ele precisa entrar pela janela este ano".

"Se eu te ajudar a achar a vela eu posso ir junto?"

"Só se prometer não fazer barulho!"

"Ok!", então Alvo correu até a cama dele, procurou embaixo dela e disse, "Aqui!"

"Por que a minha vela estava embaixo da tua cama?"

"Porque daí eu não preciso ter medo do escuro...", disse Alvo assoprando a vela para acendê-la. Este era a nova invenção da loja do tio Jorge, 'adequada para dar luz às traquinagens de jovens bruxos, como ele costumava dizer.

"Ok... Melhor a gente ir, ou o Papai Noel pode chegar lá em cima antes da gente"

"Ok"

Então os garotos saíram do quarto, pé ante pé, tentando fazer o mínimo de barulho possível, Tiago à frente com a vela e Alvo logo atrás dele. Eles caminharam pelo corredor e, ao alcançarem as escadas que levavam ao sótão, uma garota de cabelos vermelhos apareceu ao lado deles, "Também não conseguiram dormir?"

"Quieta, Rosa!", cochichou Tiago, "Não conte pra ninguém, mas nós vamos esperar o Papai Noel lá no sótão".

"Por que no sótão?"

"Porque ele vai chegar lá antes, duh! Pra poder escorregar pela chaminé".

"Eu sempre achei que ele usasse o Pó de Flu".

"Então achou errado. Agora a gente vai subir. Boa noite".

"Eu vou com vocês!"

"Não vai não!"

"É... É só eu e o Tiago", disse Alvo.

"Ok... Então acho que vou ter que contar pra tia Gina..."

"Não podes!", disseram os dois garotos.

"Então me deixem ir junto!".

"Tudo bem... Mas fique quieta!". E, com isso, as três crianças subiram as escadas até o sótão. Eles estavam todos se enchendo de coragem, já que tinham lhes dito que fantasmas moravam ali e até talvez um vampiro. Estava escuro e empoeirado, já que já fazia algum tempo que alguém havia subido ali. Eles sentaram num pequeno sofá esquecido e esperaram.

Depois de alguns minutos em silêncio, já tendo eles checado todos os arredores com os olhos e agora tendo certeza que nada horrível estava prestes a acontecer, Alvo disse, "E o que fazemos agora, Tiago?"

"Não sei..."

"Olhem! Tem alguns livros ali atrás!", disse alegremente Rosa, "Tu podias ler um pra gente". Os três foram até lá e começaram a folhear a pilha de livros amarelados. Como tudo ali em cima, eles haviam sido esquecidos a alguns anos.

"Eles são velhos e chatos...", reclamou Alvo. Ele parou de mexer nos livros e achou um velho baú. Ele o abriu e cuidadosamente passou a olhar o que havia dentro. O baú estava cheio de brinquedos e cartas, alguns enfeites, um telefone e discos com um gramofone. De alguma forma, esta mistura de palavras esquecidas com melodias não mais ouvidas, chamou a atenção dele e, logo depois, as três crianças estavam concentradas ali. E, como apenas mágica pode fazer, aquelas palavras escritas pareciam vivas quando nas mãos deles. E, com cada carta que eles abriam, um pedaço do passado era revelado. E sentando ali eles começaram a ler e a magia do Natal começou mais uma vez a ser lançada.

"Esta diz assim 'Oi, Maninha. Estou escrevendo para te contar sobre o primeiro Natal da minha garotinha. Eu apenas gostaria que tu tivesses aqui pra ver o que aconteceu...'", Tiago começou a ler a carta que estava em suas mãos, enquanto os outros dois o ouviam atentamente.




Era uma noite clara. As estrelas estavam brilhando no céu de veludo e a lua estava iluminando o homem que estava no jardim com uma pequena garotinha. Era a primeira vez que ele ficava ali assistindo aquela pequena coisinha sardenta brincar com a neve. Ela estava com tanto medo da neve a apenas alguns minutos, mas ele a convenceu aos poucos a colocar ali suas mãos. E agora ali estava ela, dando risadas e tentando caminhas sobre a neve fofa, seus passos incertos a fazendo cair o tempo todo e gerando ainda mais risadas. Hoje era o primeiro Natal dela. Hoje também era o primeiro Natal dele como pai. Ele estava pensando em como sua vida havia mudado por causa de uma criatura tão pequena quando ele foi surpreendido por algo extraordinário:

"Pelas barbas do mago!", ele não podia acreditar em seus olhos, então ele chamou, "Hermione!"

"Qual o problema, querido?", ela disse ao correr para onde ele estava.

"Olhe", ele apontou para sua filha. Pequenas bolas de neve estavam flutuando ao redor dela enquanto ela tentava pegá-las. Elas não eram bolas perfeitas, pareciam mais pequenos pedaços de neve flutuante, mas mesmo assim... Era atordoante. Os dois pareciam embasbacados.

"Quem fez isso, Ron?", perguntou Hermione fracamente, "Ela não pode estar fazendo... Ela é só um bebê! Ron! Ela ainda nem tem um ano de idade!"

"Eu sei! Não é uma maravilha?", ele então correu até sua esposa e a abraçou começando a girá-la, "Nossa filha é uma bruxa!", ele gritou. E com isso a pequena menina começou a choramingar até que sua mãe a pegou nos braços. A felicidade estava ao redor deles, porque naquela véspera de Natal, a magia estava livre.





"Acho que tu és esta menina, Rosa", sorriu Tiago, "Tem uma outra carta junto com essa. Querem que eu leia ela também?" Os outros dois balançaram a cabeça em concordância e Tiago pegou a outra folha de papel e começou a ler, "Querido irmão. Estou impressionada com o que acabaste de me contar! Especialmente por causa de uma outra coisa que aconteceu por aqui ontem também..."




Dentro da casa no topo da colina, a árvore de Natal estava brilhando como as estrelas lá fora. As crianças estavam brincando com seus pais na sala após uma ótima ceia de Natal.

"Acho que devemos levá-los pra cama, Gin", sorriu o pai.

"Parece que sim", Gina disse ao se levantar do chão onde estava sentada com seus filhos e, ao pegar Alvo no colo, ela disse para seu outro filho, "Venha com a mamãe, querido!"

"Eu cuido do Tiago pra ti", disse seu marido ao se levantar e pegar a outra criança do chão.

"Obrigada, Harry".

"Sem problemas".

Eles subiram para o quarto das crianças e Gina colocou seu bebê no berço após trocar suas fraldas enquanto Harry ajudava o outro menino a colocar seu pijama e a escovar os dentes. Depois disso, Gina foi até a cama de seu filho mais velho para lhe dar um beijo de boa noite.

"Quando é que minha irmãzinha chega?", perguntou Tiago para a mãe enquanto se ajeitava na cama.

"Do que estás falando, querido?", ela perguntou surpresa, "Que irmãzinha?"

"Essa aqui, mamãe", ele disse ao colocar sua pequena mão no ventre de sua mãe.

"E quem te contou que uma irmãzinha está morando ali, Tiago?"

"Um anjo...", ele disse ao cair no sono.

Gina ficou impressionada com essa conversa. Ela precisava de algum tempo para pensar, então ela foi até a janela do quarto e sento na cadeira de balanço e ficou a observar as estrelas. Esse era o seu período preferido do ano. Verdade! Desde que ela era pequena ela sempre esperava o ano todo por este dia. O motivo, ela sempre dizia, é porque tudo pode acontecer na véspera do Natal. Ela observou as estrelas, elas estavam brilhando e dançando, como se elas tivessem algo a dizer. Sua mãe costumava dizer que elas eram sonhos do passado, mas Gina sempre pensou nelas como olhos para o futuro. Ela suspirou e lembrou do que seu filho tinha acabado de lhe dizer. Ela estava se sentindo estranha a alguns dias, mas não havia contado a ninguém. E sim, tinha passado por sua cabeça a possibilidade de estar grávida, mas ela guardou isso pra si. E agora Tiago lhe diz que não só ela estaria carregando um bebê, mas que também seria uma menina... O que ela iria dizer a Harry? Eles não tinham planejado outra criança, estes dois já davam bastante trabalho... Mas, por outro lado, Harry sempre quis uma menina.

Se isso fosse verdade, ela tinha certeza que seria por causa da mágica que envolve o Natal, onde tudo é extraordinário, nada é deixado a ser ordinário. Uma lágrima solitária de alegria correu por seu rosto no mesmo momento que uma estrela brilhou forte, e então ela soube que tudo ficaria bem.





"E eu acabei de voltar do Curandeiro! Eu estou realmente esperando um bebê! Como ele sabia eu não sei, mas Harry e eu decidimos que se realmente for uma menina nós a vamos chamar de Lílian", Tiago leu a carta e, ao terminar, eles ouviram um relógio batendo numa longínqua torre. Alvo se levantou e foi até a pequena janela e olhou para o céu estrelado.

"Achas que elas realmente são pedaços de sonhos?"

"Não sei...", disse Tiago.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos até que Rosa disse, "Estou com sede. Vou pegar um pouco de água..." e então foi até a porta.

"Só tente não acordar eles", disse Tiago ao recomeçar a mexer nas coisas que ainda estavam dentro do baú.





N/A: Espero que tenham gostado deste capítulo! Peço desculpas pela demora, mas estive longe da internet até hoje! Se puderem deixar comentários eu agradeço! Beijos!

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