Dito e feito



O corpo de Gina caiu inerte na escuridão da clareira. Voldemort utilizou toda a sua energia quando a possui para seduzir Harry a mata-la. As coisas haviam sido diferentes para o Lorde das Trevas, o que ele achou que seria sua dádiva, foi sua perdição, mais uma vez.

Harry caiu de joelhos ao lado da garota, olhava para ela, pensando em tudo o que compreendera naquele último momento. Agora tinha certeza de que as coisas seriam suportáveis.

Apesar de não ter Sirius para ajuda-lo naquele momento, apesar de não poder conversar com seu padrinho, as coisas seriam menos difíceis.

Ainda não se acostumara a idéia de nunca ter percebido seu sentimento por Gina. Todos aqueles anos, em que ela estava sempre por perto, e Harry sabia que ela o admirava, mesmo assim continuou a ignora-la. Ocupara-se na realidade com o quadribol, os estudos e outras tantas coisas para que não percebesse que ela estava ali. “Por quê, Merlin? Por que as coisas só são reveladas nos piores momentos?” pensava ele, e uma vozinha contraditória lhe respondeu “Talvez você tivesse que descobrir isso no momento certo, pois saberia o que fazer”.

Harry não se conformava de ter perdido tanto tempo achando que gostava de outra garota, enquanto a que ele realmente procurava estava ali, no seu nariz.

Enquanto Harry se perdia completamente em suas dúvidas e respostas, Rony e Hermione lhe alcançaram. Hermione parou a alguns passos, querendo ter certeza do que via. Mas Rony foi mais drástico, ao ver a cena correu para o corpo de sua irmã:

- Não! Não... não! Gina!!! Isso não é justo!!! Você não pode... estar... estar...

Harry se assustou ao ver o amigo ali debruçado sobre a garota, desesperado.

- Rony! Rony, espere, ela... ela não...

Então Gina se moveu, suas mãos tremeram rapidamente e ela abriu os olhos com a respiração descontrolada. Olhou a sua volta, mas ainda não entendia o que se passava. Quando por fim encarou Harry, este percebeu que ela pensava o mesmo que ele, afinal ainda estava consciente quando Voldemort compartilhara de seu corpo. Ele se sentiu desconfortável olhando para aqueles olhos que lhe passavam algo tão diferente.

- Gina!!! – gritou Rony, abraçando a caçula. – Gina, você... você está bem??? Tem certeza???

- Rony, calma!!! Eu... eu to bem, mas não sei direito o que aconteceu...

- Nem eu, Gina. Mas, Harry, ...? – e se virou para Harry, perguntando o que acontecera.

- Bom, aquela sombra, aquele vulto era mesmo o Voldemort - ouviu os suspiros dos outros e continuou: -, quando vocês mencionaram que ele tinha vindo pra cá, eu corri até aqui. Mas só Gina estava aqui.

- Então o... o V-Voldemort não...? – tentou Hermione.

- Ele estava compartilhando do corpo dela. Que nem ele fez comigo lá no Ministério. Ele queria que eu atacasse Gina, queria me confundir.

- Harry, você não fez nada, não é?

- Não, Rony, ele não conseguiu me influenciar desta vez...

- Ta vendo, Harry? Eu não disse que a Oclumência ia servir pra alguma coisa? – dizia Hermione energicamente.

- É. – falou vagamente.

- Mas não foi isso que me salvou, não é, Harry? – Gina procurou o olhar dele, queria que ele admitisse, ela precisava disso. Queria ter certeza de suas suspeitas, de seus anseios.

Harry olhou timidamente para ela, queria lhe dizer tudo o que sentia, mas era muito pior fazer aquilo na frente de Rony e Hermione. Por mais que eles fossem seus melhores amigos, aquele era um momento que só dizia respeito a ele e Gina.

- Não. – mas ele não disse mais nada, só continuou encarando Gina.

Hermione que não era nada boba, mas muito empática, percebeu que aquela conversa tinha que continuar em outro lugar e em outra hora, sem que ela e o namorado estivessem junto, por fim disse:

- Bom, o que importa é que Gina está bem e o tal lordezinho se foi daqui. Vamos para o castelo. Dumbledore precisa saber disso, acho que você e a Gina deviam falar com ele, Harry!

- Mas...

- Não, Rony, a gente não sabe praticamente nada do que aconteceu, a gente não tava presente.

Com aqueles pretextos Rony não pode competir, teve que ceder.


Harry e Gina continuavam em silêncio, enquanto Hermione iria avisar o diretor que os dois estariam lhe esperando no seu escritório.

Gina temia começar aquela conversa e Harry ainda não tomara uma iniciativa, mas não podia ficar ali sentado do lado dela sem dizer nada.

- Você deve estar se sentindo péssima, é horrível compartilhar o corpo com alguém como ele.

- É. Mas eu já tinha sido possuída antes, não é?

- Aham. – respondeu Harry, consentindo em sua iniciativa fracassada de falar sobre o assunto com ela, ele olhou profundamente nos olhos dela e falou: - Gina... eu...

Os dois ficaram ali, esperando que o outro falasse.

- Você...?

- Eu... você sabe, eu só consegui tirar aquele monstro de dentro de você, porque...

- Porque...? – incentivou ela.

- Porque eu percebi que... que eu gosto de você...quero dizer, pra valer. Se eu não... não tivesse te beijado...

- Ele iria acabar comigo e com você... eu sei.

Harry parecia ter encontrado alguma coisa realmente interessante nos olhos de Gina, pois não conseguia desviar o seu olhar, e nem ela. Havia chegado a hora, aquilo já havia esperado tempo demais.

E o beijo que Harry roubou dela naquele instante foi diferente de qualquer outra coisa que ele conhecesse a existência. Não foi como o outro beijo, que expulsara Voldemort e que havia tanta ternura e amor.

Mas este beijo foi mais que tudo, foi intenso, como todas as coisas que Harry fazia, como todas as coisas que Gina apreciava.

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