Enfrentando a verdade



Harry sentiu o desespero crescer dentro dele, da mesma forma que crescera quando Hermione havia sumido. Agora era Gina. Ele sabia quem estava por trás daquilo, esperava por aquilo, sabia que o sonho era um aviso, mas não achou que o Lorde das Trevas fosse agir tão rapidamente.

A primeira reação de Harry foi pensar na Câmara Secreta, mas era óbvio que Voldemort não iria para lá, seria previsível demais.

O mais estranho, na opinião de Harry, foi que ninguém ali naquele salão parecia ter notado a escuridão rápida e repentina e o desaparecimento de Gina Weasley. Todos continuaram a agir normalmente como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse havido uma interrupção.

Harry saiu pela porta de mogno que dava acesso aos jardins, mas pelo menos ali as pessoas tinham percebido alguma coisa diferente, estavam comentando agitadas umas com as outras. Rony e Hermione vieram correndo até ele:

- Harry, o que aconteceu, o que era aquele vulto que saiu voando daí de dentro?

- É ele. Voldemort. Rony, ele está com a Gina.

Rony reagiu como já era previsto: seu rosto ficou pálido como cera, seus olhos se estreitaram e ele ficou procurando pela orla da Floresta Proibida, esperando que Gina saísse por ali de repente.

Mas antes que ele ou Hermione pudessem lhe dizer que o bruxo se dirigira para lá, Harry correu. Correu mais do que já havia corrido em toda a sua vida, mais até do que quando fugiu do cão de tia Guida no quintal dos Dursley.

Harry sequer pensou em se vingar de Voldemort por lhe roubar seus parentes e amigos, não pensou em fazer nada disso. Só não queria perder outra pessoa que fazia parte da sua vida.

Cada passo que ele dava por entre as árvores, ele sentia o vazio dentro do peito, como se estivesse à beira de um abismo, pronto pra saltar e desistir de tudo. Aquilo era quase tão sufocante quanto chegar perto demais de um dementador, era quase insuportável. Quase.

Ainda talvez houvesse um fio de esperança, se ele tivesse sido tolo o bastante durante aqueles anos. Se ele não tivesse notado, não tivesse se tocado... talvez isso fosse uma esperança. Seria?

Será que estivera tão ocupado com seus problemas, com os estudos, o quadribol, o Torneio Tribruxo, o ressurgimento de Voldemort, os N.O.M.s, a morte de seus pais e de Sirius, a profecia, que não percebera?

Será que tudo aquilo era apenas uma desculpa para que ele não visse?

Harry parou ofegante, naquele mesmo local onde vira Voldemort cara a cara pela primeira vez, quando este ainda possuía Quirrell.

E ali estava Gina, de costas para Harry. Ele ficou parado observando com a varinha à mão, alerta para um ataque repentino, uma armadilha. Gina se virou lentamente, estava com olhos fechados e o cabelo ao vento. Ficou imóvel por alguns instantes e abriu os olhos. Mas aqueles não eram seus olhos, os olhos cor de mel que Harry fitara uma última vez antes que a escuridão os atingisse. Aqueles eram olhos cheios de maldade, olhos vermelhos que encararam os olhos verdes de Harry, fazendo sua cicatriz arder intensamente.

- Olhe para mim, Harry Potter, mais uma vez alcancei a sua amiguinha. E novamente estamos só você e eu. Desta vez não tem nenhum Alvo Dumbledore – disse a voz de Gina cuspindo no chão ao dizer esse nome. – para salvar a sua pele.

Harry continuou imóvel, esperando o melhor momento, não sabia exatamente o que fazer. Voldemort estava usando a mesma tática que usara com Dumbledore, usando o corpo de Gina como usara o de Harry no Ministério. Mas Harry nunca soube o que Dumbledore havia feito para tirar Voldemort de seu corpo, nunca lhe dissera. De qualquer maneira, ele teria de descobrir um jeito para tirar aquele ser maligno do corpo de Gina.

- Vamos, Harry Potter, me mate. Complete logo o seu destino, agora que você tem consciência da profecia e o que ela diz, deve saber o que fazer. Se deseja viver então me mate, Harry Potter. Me machuque. Eu quero sentir o ódio que você sente por mim.

Aqueles olhos fitaram Harry mais uma vez e ele ouviu dentro de si, na sua mente : “Ele nunca mais vai se esquecer desse dia, quando tudo se repetir, ele vai me odiar como nunca odiou alguém e esse ódio irá traze-lo até mim e vai torna-lo vulnerável.”. Então era isso que Voldemort queria, queria enganá-lo. Pois não iria conseguir, decidiu Harry, iria fracassar outra vez.

- Então é isso que você quer sentir?

- Sim. Faça logo. Me faça sofrer, Harry Potter, do mesmo jeito que você sofre.

Harry foi caminhando lentamente em direção a Gina, em direção aqueles olhos vermelhos. Sabia que o que iria fazer talvez não funcionasse, mas tinha que tentar, era sua única esperança.

Harry chegou bem perto, encarava profundamente os olhos cheios de maldade, e permaneceu assim consumindo a dor que sentia em sua cicatriz, e consumindo outra coisa também. Algo que até então nunca sentira.

Numa fração de segundo, quando nem Voldemort pode ser rápido o suficiente, Harry fechou os olhos, se aproximou e encostou seus lábios nos de Gina. Fez daquele beijo uma benção e uma maldição (para Voldemort). Tocou a garota com a maior ternura, o maior carinho, a maior amizade, o maior... amor. Encontrou finalmente o que havia procurado por muito tempo. Aquilo que Cho nunca conseguira lhe proporcionar, aquilo que seus pais e Sirius foram impedidos de lhe dar, aquilo por que sua mãe havia morrido. Suas dúvidas tinham sido finalmente respondidas.

Voldemort que nunca sentira nada parecido, foi obrigado a deixar o corpo de Gina, assim como perdera o seu próprio corpo quando tentara amaldiçoar Harry. Ali estavam todas as explicações. Todo o mal que havia poderia ser superado pelo amor que existia dentro dele. Era isso que fazia com que aquele vazio não se tornasse insuportável, ainda havia uma esperança no meio daquilo tudo. E junto com a certeza de que sempre há uma solução, o amor de Harry por Gina foi crescendo e ocupando todo aquele vazio, que agora não existia mais.

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