Vergonha



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Dr. "Potter, M.D."
—Eu falo latim pré-arcaico ou algo assim? Harry! Dr. "Harry, M.D."! — Harry brigou, ainda olhando as desagradáveis inscrições na porta de vidro. — Já começou mal. —Completou, abrindo a porta do escritório.
O carpe era azul escuro e agradável aos olhos; ao canto, havia uma pequena cozinha aberta, com pia, cafeteira elétrica e armário. Havia uma mesa de vidro de seis lugares, ao centro, enfeitada por um pequeno objeto de cristal em seu centro.
Haviam outras duas portas de vidro ali: Uma conduzia a uma outra sala, com computador, uma estante de livros e duas poltronas de chintz; a outra dava numa sacada curta, protegida por barras de ferro escuras e cromadas, que podiam refletir o sol perfeitamente no sofá de couro, encostado na parede atrás da mesa, no qual Harry se sentou.
—Maneiro! — Falou alegre, o rosto parecendo feliz, mas ainda assim sem sorrir — como foi que conseguiu isso? — Perguntou à calada Taylor.
—Na verdade, os últimos médicos que usaram este lugar morreram em poucas semanas... Era perfeito: Ninguém queria o lugar, sem contar que ainda posso ter esperanças de que você... — Ela passou o indicador pelo pescoço e soltou a cabeça para o lado, virando os olhos para cima e entreabrindo a boca...
—Só acho que deveriam tirar aquele enfeite idiota da mesa.
—Aquilo é um crucifixo...
—Pegue-o para você. Não preciso do INRI me olhando quando salvo vidas... Sem a ajuda de Deus.
—Isso é um tanto egoísta. — Ela falou, pegando o crucifixo de cristal de sobre a toalhinha branca de crochê da mesa.
—Talvez eu seja. E preciso de uma lousa... Aqui... —E desenhou um quadrado no ar nas proximidades da pia.
—Seu próximo fetiche da Andropausa é querer ser professor?
—Mas aqui não é o Colégio Saint Mungus para Crianças e Adultos com Deficiência Mental, minha adorável aluninha? — Caçoou ele — E, aliás, quer ir lá em casa conhecer o "Andropausa"? Ele é tão grande quanto o nome...
—Não, obrigada... Tenho o "Anticonstitucionalissimamente" lá em casa... — Ela falou, áspera — E você percebeu que há uma sacada ali? É para você se jogar, essas barras de aço custaram uma fort... Ai Meu Deus!
Se Taylor não fosse uma mulher durona, Harry imaginou que ela teria desmaiado com o susto. Até o coração dele disparou quando viu aquilo.
Uma garota, loira e vestindo uma camisola branca do hospital, acabara de aparecer ali, caindo livremente e só parando ao bater com as costas na barra de ferro da sacada de Harry.
Taylor correu imediatamente até a porta de vidro que levava à sacada, mas Harry ficou sentado por um tempo, tentando decidir entre salvar a menina e poupar-se da dor do joelho.
Catherine a arrastou para dentro assim que pôde, fazendo um rastro escuro de sangue no carpe.
—Por que tinha que vir uma suicida hospitalar bem na minha sacada?! Olha só o meu carpe! Enfermeira! — Gritou ele, mas não pareciam ter ouvido, pois ninguém veio atendê-lo — Enfermeira!
—Vamos — Taylor falou com a voz trêmula — Segure ela aqui, vou buscar ajuda...

HARRY, M.D.
02. VERGONHA



—Oxigênio, rápido! — Harry gritou. Uma das enfermeiras, que agora seguia a maca onde a garota jazia asfixiada, obedeceu-o de imediato.
Ele empurrava a cama móvel pelos corredores do hospital com destreza, mesmo que o joelho esquerdo doesse miseravelmente. A garota abriu os olhos lentamente, e Harry não se surpreendeu ao ver que eles eram azuis.
A figura da garota, exceto pelos vários ossos quebrados, era muito atraente. Seus cabelos loiros desciam até os ombros, o rosto bonito se encaixando perfeitamente sobre o pescoço, de modo simétrico.
Não devia passar de um e setenta e cinco de altura e dos cinqüenta e oito quilos. A camisola do hospital cobria seu corpo nu, mostrando assim suas curvas com suficiente precisão. Harry deu uma ultima olhada no rosto dela, ainda imaginando o por que ela teria se jogado da janela dentro de um hospital, quando viu uma coisa.
A pele dela — antes pálida — agora assumia um estranho tom esverdeado. Ninguém mais ali parecia ter notado isto. Manobrou a cama até a enfermaria que Taylor mencionara e entrou, quando viu então outra coisa assombrosa.
Havia uma pequena multidão ali dentro. Um amontoado de seis pessoas, entre elas duas mulheres — E sendo uma delas, para o extremo espanto de Harry, a própria doutora Taylor.
—O que é isso, agora?! — Perguntou, assustado — Por um acaso estão distribuindo pirulitos grátis aqui?
Todas as pessoas ali riram, salvo um homem magro e de estatura mediana, que usava um jaleco engomado e muito branco e calças sociais fechadas sobre o umbigo, de modo que suas meias amareladas apareciam. Tornando sua aparência mais ridícula, ele usava um aparelho extra-oral afivelado em três lugares diferentes da cabeça.
—Doutor Harry... — Catherine Taylor começou, com um tom de quem se desculpava — Essa é a sua nova equipe médica. Vão servir para ajudá-lo exatamente como eu e Wilson tivemos de fazer na semana passada...
—Vão ser meus escravos? Maneiro! — Harry sorriu.
—Vão te auxiliar. Estão aqui para aprender com você. — Corrigiu ela.
—Todo esse povo? Não, quero só dois deles. —Falou, dando à garota verde uma boa dose de um líquido que muito se parecia com leite de vaca.
—Dois não. Fiz eles virem até aqui e não ou dispensá-los agora...
—Se ia fazê-los vir até aqui — Harry começou, desentortando o braço verde e quebrado da garota. Todos agora pareciam ter percebido o real estado dela. — Devia ter me consultado primeiro... Dois deles.
—Quatro, e não menos que isso. E você vai ter que pagar o custo das viagens e despesas daquele que você demitir...
—Três pessoas. Eu pago tudinho o que quiser para os dois... Mas só se você me pagar alguns meses de salário adiantado...
—Quer só três, então vai ter que se virar... Dê a resposta de quem vai e quem fica assim que curarem esta garota...
—Sim, senhora! — Ele prestou uma continência enquanto a olhava sair da enfermaria, hoje vestindo uma calça justa, uniforme do hospital.
—Há quanto tempo ela está verde? — Perguntou um homem barbudo e baixinho, que ao que pareceu a Harry, deveria ser descendente de árabes.
—Não tenho como saber. Ela estava sem oxigênio até agora há pouco, o que a deixou pálida e sem ar. Ela pode estar assim há dias... O que importa agora é descobrir de que doença ela sofre...
—Varíola de Dragão? — A única mulher do grupo sugeriu. Harry a olhou nos olhos: Eles eram negros, tal como os cabelos que lhe desciam até as costas. Seu rosto era bonito e sua pele clara.
—Qual é seu nome?
—Spencer, Jéssica Spencer. Sou polióloga.
—OK, rapazes... Você — Ele apontou para o barbudo — Qual é seu nome?
—Ralph Jackson.
—Pegue extrato de bobutuberas na farmácia. Não o pus delas, o extrato, e passe sobre os ferimentos que ela deve ter nos tornozelos... — Harry virou o pé dela e mostrou os ferimentos causados pela Varíola de Dragão. — Precisa ser de bobutuberas que ainda não amadureceram.
—Certo—O homem concordou, saindo da enfermaria.
—Você? — Harry perguntou, apontando para o único negro do grupo. Ele era careca, e mantinha uma expressão de quem estava incomodado.
—Curts, Jason. — Ele estendeu a mão para Harry, mas este não a apertou.
—Cuide de conversar com ela. Fale sobre ela ter se jogado e tudo o mais... E você, seria o...
—Daniel Park — Respondeu um homem que, ele não pode deixar de notar, era muito bonito. Ele tinha olhos verde-escuros e seus cabelos louro-acinzentados eram tão desgrenhados quanto os de Harry um dia haviam sido (ele teve uma vaga lembrança triste, de muitos anos atrás, mas esqueceu-a de imediato).
—Você conserta os ossos dela e cuida para que quando o anestésico perder o efeito alguém injete mais. Jéssica, você investiga o por que ela estava no Hospital e com que médico. E procure o histórico médico dela. Quando tiverem as respostas, mandem quem não estiver ocupado... — Harry deu um olhar severo ao médico com o aparelho extra-oral, a quem não incumbira de função nenhuma — me avisar... Estarei no térreo, cobrindo a minha parte clínica...


—Carol O'Brian...—Harry leu a ficha, observando as pessoas da sala de espera do hospital. Uma senhora muito idosa levantou-se lentamente, pegou seu andador de aço inox, e caminhou até o consultório 4. Harry, que mancava dolorosamente, quase desejou para si o andador da velhinha.
A senhora se sentou na maca e o olhou, um tanto envergonhada.
—O que você sente, exatamente? — O médico perguntou, lendo a ficha médica dela. — A senhora tem uma saúde de ferro... Nunca quebrou um osso e raramente adoece, e...
—Eu quero poder fazer sexo. Pelo menos uma vez antes de morrer...
Harry releu a terceira linha da ficha médica.
—Como?— Perguntou, realmente abismado.
—Não tenho mais o que perder, mesmo. Só quero que me ajude a poder sentir o prazer... Um remédio que desperte o fogo dentro de mim...
—A senhora tem certeza? Quer dizer, foi freira por quase sessenta anos... Como pode decidir mudar de idéia agora? Uma freira normalmente tem de morrer virgem...
—Eu arranjei um homem... Ele era o padre da paróquia perto da qual eu morava, no internato de freiras... Nós vivíamos um amor à distância... Quando nos conhecemos, começamos a trocar cartas e presentes... Às vezes nos falávamos escondidos, quando ele vinha trazer os mantimentos ou eu levava os doentes para a capela... Nos apaixonamos, fugimos ano passado para vir morar juntos em Londres... Construímos uma casinha num bairro afastado, mas até agora não...
—Consumaram o "casamento" — Harry completou — Você está mesmo disposta a pecar, então? Mesmo que esteja é meio difícil arranjar algum remédio para essa situação... Não um remédio convencional...
A mulher ficou visivelmente triste, mas Harry parecia animado.
—Há, porém, alguns remédios que não são aprovados, mas que têm grandes chances de funcionar... Não posso escrever isso em uma receita há umas vagens cor-de-rosa, que você compra daqueles turcos que vivem aparecendo no Cabeça-de-Javali, um bar em Hogsmeade... Se plantar essas vagens e cozinhar suas folhas com um pouco de pimenta e limão, o caldo tem um efeito assim... Explosivo.
Harry falou, sussurrando. A velhinha sorriu para ele, mas ele nada mais disse ou fez além de observá-la saindo do consultório.
Estava a meio caminho de sair também quando a porta da sala se abriu novamente, e ele viu, para sua surpresa, o rosto jocoso e metalizado do médico de aparelho e jaleco engomado.


—Quais são as novidades, humildes servos?—Perguntou o Doutor Harry, os cinco médicos formando um semicírculo a seu redor.
—Ela reagiu ao caldo de bobutuberas. Teve convulsões e parada respiratória. Já normalizamos, mas essa alergia não é possível em bruxos... — Falou Ralph Jackson, não muito contente.
—Eu falei com ela, e ela diz que não se lembra de ter pulado. — Começou Curts. — Acho que pode ser Trauma.
—Ou ela está mentindo — Harry sorriu enfático — O que dá no mesmo.
—Os ossos já estão normais. O que causou a perda de oxigênio foram as costelas quebradas, que apertaram o pulmão, mas isso já dei conta de curar.
—Ótimo...Park?— O homem confirmou — E você, Jéssica?
—Ela estava internada com o doutor van Connery, da pediatria.
—Ela até que tem seios bem evoluídos para se tratar com um pediatra... Ele provavelmente é um velho babão com uma tara por ninfetas...
—Ele tem quase sessenta anos... E não me deixou ter acesso à ficha dela, apenas confirmou que a razão de ela estar aqui era a varíola de Dragão. Mas ele pareceu transtornado ao saber que ela estava com outro médico... Acho que ele vai tentar tira-la de você...
—Garanto que a Taylor vai preferir-me ao tarado por adolescentes... Então, vamos aos sintomas. — Ele pegou a caneta permanente do bolso da jaqueta de aviador que usava.
—Alergia ao caldo de bobutuberas, que só ocorre em trouxas. — Harry escreveu "Alergia" e "Trouxa" na parede branca da enfermaria.
—Perda da memória — Falou Jason Curts — Causada por um traumatismo no crânio.
—Ou pode ser Psicose associada à depressão, ou outro problema neurológico que a faça querer morrer e mentir — Daniel Park completou.
Harry escreveu "Perda de Memória" e "Psicose" na parede. Abaixo da perda de memória adicionou "Trauma".
Não precisou observar muito o quadro antes de distribuir as ordens.
—Curts e Park, vocês vão testar a Polial. — A Doutora Spencer inquietou-se: Era especialista naquela área — Procurem pelas Células de Magia: Coletem sangue e busquem disfunções.
"Jackson, teste para Lupus, é uma das possíveis causas da tal psicose. Procure por Traumas também. Jéssica, procure pelos pais dela e tente arrancar alguma coisa do doutor Van-Pedófilo: Estarei em meu escritório."
Ele terminou, virando as costas.
— Focê não fai falar comico?— Perguntou o médico magro com o aparelho extra-oral, eliminando grandes quantidades de saliva a cada palavra. Harry o olhou, com indiferença.
—Mostre-se eficiente em alguma coisa... Ganhe Meu respeito, ria das minhas piadas e engula a baba na hora de falar. — Harry respondeu, dando alguns passos em direção à porta, quando o joelho deu uma fisgada tão forte que ele foi ao chão.


—Senhor, este remédio só pode ser comprado sob prescrição médica. — Falou a atendente da farmácia a duas quadras do hospital.
—Eu sou médico. —Respondeu Harry. — E sinto dor.
—Vai ter de conseguir receita com outro médico que não você mesmo... Sinto muito, ordens da farmácia. Mas se você quiser eu tenho analgésicos e relaxantes musculares de venda livre...
—Você acha realmente que faria algum efeito?— Perguntou ele, com ironia.
—Talvez não faça toda a diferença, mas ia diminuir a dor, talvez torná-la suportável, senhor.
—Ou não. O que você tem ai? — Ele perguntou, enquanto a moça arriscava um sorrisinho e procurava no computador. Harry comprou os mais baratos, já prevendo que nada daquilo faria efeito, e voltou, caminhando para o hospital, tomando então dois comprimidos do remédio novo de uma vez só.
A sala de espera para consultas clínicas estava cheia de gente, como sempre, alguns com enormes furúnculos que expeliam pus colorido, enquanto outros apenas tinham um membro quebrado, e esperavam por uma dosagem de calcifix branca para já saírem com o osso novinho em folha.
Para Harry, era fascinante como doenças trouxas e bruxas podiam se cruzar, se entrelaçar e formar teias de sintomas tão complexas. Era uma dádiva para os trouxas não poderem sofrer das doenças bruxas, porém uma pena não poderem usufruir dos tratamentos mágicos sem piorar...
Harry continuou olhando para o garoto com o braço quebrado, mas parara de andar, seus olhos verdes estavam brilhando, penetrantes.
Ele subiu as escadas que levavam até o primeiro andar com um pouco mais de velocidade, seu joelho doendo do mesmo modo que doía antes do remédio. Caminhou o mais rápido que pôde para o corredor da enfermaria onde a garota estava, e, no caminho, encontrou os quatro homens que Taylor chamara para sua equipe.
—Coletamos o sangue, estamos indo examiná-lo, e... — Começou Jason Curts.
—Ela está acordada?
—Sim, mas os pais dela estão lá.
—Certo, vão, façam os testes
Harry falou, enérgico e autoritário, e mancou até a porta da enfermaria fechada, sem nem mesmo perceber que andava escorado pela parede.
—Olá! — Ele falou, ao entrar no quarto. — Eu sou o doutor Harry, e estou encarregado de salvar você. Tenho certas perguntas para lhe fazer, E alguns exames básicos também... — Completou, se sentando.
—Você por um acaso teve algum acidente com algo pontiagudo ultimamente? Ou uma queda brusca, antes da de hoje de manhã... Alguma coisa que possa ter ferido de algum modo a sua Glândula Polial?
—Não, eu... O que é uma Glândula Polial?
—Ela é... — Harry começou a falar, mas naquele momento ouve um movimento rápido e um "Não" Cortou a sala. Foi então que ele reparou nos pais da garota, bruxos muito elegantes, vestidos em suntuosas capas roxas.
—O que? Desculpe, sou surdo desse ouvido... — Ele falou, sério, mas sua voz exalava sarcasmo. — Em todo o caso, a Polial é uma glândula... — Houve nova tentativa de interrupção, mas ele ignorou — Que só é presente nos bruxos. Abortos nascem com uma Polial não desenvolvida, a chamada de "Polial Ruim". Trouxas não possuem esta glândula, todavia ela pode acabar se desenvolvendo através de algumas anomalias genéticas em seus filhos.
"A Polial é responsável pela emissão dos hafnócitos ou Células Sangüíneas de Magia, que, no caso, permitem à pessoa utilizar-se de magia. Em situações de raiva ou desespero, podemos estimular a Glândula Polial a produção mais freqüente destas células".
—O doutor Van Connery falou que não era para falar nada a ela ainda!
—Não era para falar o que? — A garota perguntou com raiva — O que é que estão me escondendo? O que é que a doente aqui não pode saber?
—Que você não possui doença alguma! — O pai dela, um homem alto, de cabelos e olhos castanhos, gritou com tanta força que todos lá se calaram e o olharam.— Você é um aborto.
A garota soltou um gritinho baixo e começou a chorar, com raiva. Harry pensou em contradizer o pai, mas, ao invés disso, amarrou novamente o elástico que os outros médicos haviam acabado de usar no braço dela e retirou mais uma boa quantidade de sangue dali.
—E você... — Harry apontou a seringa para o pai dela, fingindo se importar — Você é um insensível! — E saiu da enfermaria.


—Curts, venha ver isso aqui... — Daniel Park chamou. Ralph Jackson foi logo atrás. Jason Curts olhou na tela do microscópio eletrônico e não se surpreendeu ao ver que a coloração que pontilhava a área vermelha era azul-clara.
—O meu deu assim também... Leucócitos, Hemácias e Plaquetas normais, mas um nível anormal de CSM... Não está nem quase zerada, como abortos, mas também não chega aos níveis de bruxos normais e sadios, que possuem muitas... Este azul-claro está muito estranho...
—Olá, rapazes. — Harry Potter entrou no laboratório, pouco contente. Todo o grupo ainda cercava o microscópio, menos o médico do aparelho, que observava sozinho o microscópio que Curts acabara de deixar. — Tenho sangue fresco para vocês. Procurem só pelas CSM...
Antes dos outros fazerem menção de andar até ele, o médico do aparelho extra-oral já pegara a seringa de sua mão.
—O que deu no teste? — Perguntou aos outros.
—Taxa anormal de CSM... Baixa para bruxos, alta para abortos...— Park respondeu.
—Implica em ela ser uma das duas coisas com alguma deficiência... Uau! Como ela estava quando tiraram o sangue? — Harry perguntou, interessado. — Dormindo, suponho.
—Sim. — Jackson falou. — E não há trauma algum.
—E Lupus?— Harry perguntou, lembrando-se de suas ordens horas atrás.
—Lupus... Eu... Eu... Eu esqueci de fazer o teste.
Harry o olhou com os olhos arregalados: Nunca havia visto um médico simplesmente "Esquecer" de fazer um teste, sem motivo algum.
O homem olhou nos olhos dele, tentando parecer sério, mas tinha vergonha. O olhar de Harry penetrou no dele, sem nem ter o que dizer.
Ralph Jackson virou as costas e saiu pela porta do laboratório, deixando Harry com a suspeita de que ele não ia mais voltar. Curts o olhou, receoso.
—Ele recebeu um telefonema, parece que era a namorada. Ele não a avisou que viria para Londres, e ela terminou com ele... — Explicou o médico negro, enquanto Harry e Park o ouviam atentamente.
—Ah, sim, isso justifica tudo... — O loiro falou, sério. — Vou culpar o canal pornô pela morte de meus pacientes... Estava tentando lembrar do filme de hoje e acabei esquecendo de usar o desfibrilador...
—Vai ser um filme bem ruim, já vi duas vezes... É um sobre o papai Noel e uma de suas renas... Blahg! — Harry respondeu, com o mesmo sarcasmo, e Daniel riu. — Em todo o caso, como se chama aquele rapaz ali?
Houve um daqueles momentos de silêncio brusco que Harry tanto gostava de interromper.
—Ei, cara metalizado! — Ele chamou, e o rapaz olhou. — Como está indo aí? Vai me dizer que o sangue apareceu em níveis normais agora?
—Como é que você sabe?
—Sou Legilimente. — Falou Harry — Ou apenas deduzi que, quando ela estava com raiva, a taxa de CSM aumentaria...
—Mas, como isso poderia nos ajudar? Só sabemos que ela tem uma disfunção, mas não sabemos qual é.
—Hora de fazer mais testes... E onde está a Jéssica?
—A última vez que a vi estava dando dinheiro para dona Sandra, a faxineira...— Daniel respondeu, deixando Harry feliz.
—Essa garota é uma... Excelente profissional. Mas vamos adiantando as coisas por aqui... Ah, droga, minha lousa ficou lá na enfermaria... Vou ter de usar as paredes por enquanto...
—Vamos começar pela psicose — Park sugeriu — Continua podendo ser Lupus.
—Ou mentira. Ela é um aborto, esqueceu? Ou pelo menos os pais pensam que ela é. Eles pelo jeito diziam que era uma doença, ela pode ter suspeitado do suposto real motivo e tentado o suicídio... Só Deus sabe o que se passa pela cabeça de uma garota de 17 anos... —Harry Falou.
—Mas de qualquer jeito, se Lupus não explicar a Psicose, explica a disfunção na Polial... — Daniel sugeriu, e Harry escreveu "Mentira" e "Lupus" na parede de vidro do laboratório com sua caneta permanente.
—Mas Poliose e Mentira explicam tão bem quanto Lupus. — Curts disse; Harry escreveu.
—Pode ser Sarcoidose — Falou uma voz feminina que acabara de chegar. — A taxa de CSM está baixa, certo?
—Doutora Spencer, que prazer em revê-la! — Harru anotou "Sarcoidose" — Pode ser. Descobriu isso no escritório do Van-Helsing?
—Sim — ela riu — e a propósito, ele não é pedófilo. — Harry arqueou as pestanas — É homossexual. Encontrei algumas fotos comprometedoras na gaveta dele... Mas achei também alguns exames lá. Talvez não estivessem todos, mas descobri que a taxa de CSM está baixa...
—O que já sabemos. — Ele interrompeu, apontando para o pequeno monitor, que mostrava o sangue pontilhado pelo azul-claro.
—E que ele já examinou para Lupus, e deu negativo... O que significa que é "Mentira". Ela pulou mesmo.
Harry riscou Lupus e olhou para todos.
—Ninguém tem mais sugestões? — Houve um silêncio pesado.— Bem lembrado, doutor Nerdson! Masl de Córner é uma boa alternativa!
O médico do aparelho olhou para Harry com um pouco de revolta.
—Façam uma Tomografia ou Ecografia ou Radiografia ou qualquer outra grafia que quiserem... Menos aquela uma lá... — Ele, Park e Curts riram. — Procurem por uma massa na Polial. Mal de córner é causado por um acúmulo de CSM na saída da Polial, o que faz com que as células mágicas não possam mais entrar no sangue e acabem ficando lá dentro. Com o tempo, estas células vão se cristalizando e grudando umas nas outras, formando uma grande barreira que Tranca a Glândula e impede a Polial de funcionar corretamente.
—Vamos torcer para que não seja isso, ou... — Jéssica Spencer deixou a frase no ar.
—Ou ela nunca mais vai poder fazer magia... Ops,ela nunca fez magia mesmo! — Falou irônico.— Me avisem quando tiverem o resultado. Se não aparecer Córner, procurem pela sarcoidose. Vou estar no meu escritório.— Ele ordenou, mas ao invés de tomar o rumo do escritório, se dirigiu à Direção do hospital, à sala de Catherine Taylor.
—Com licença — Falou, abrindo a porta e entrando. Se surpreendeu ao ouvir vozes conversando. Uma era a voz suave da Doutora Taylor, enquanto a outra era enjoada e arranhava os ouvidos de Harry.
—Ah, Doutor Harry! Estávamos justamente falando em você! — Catherine exclamou. Harry pôde então ver que a mulher que falava com ela lhe era estranhamente familiar.
—Quem é essa? — Perguntou, interessado.
—Wanessa Alisson.
—Na verdade, a pronúncia correta é "hU-a-næ-za", do francês. — Ela corrigiu, e Harry então se lembrou com extremo desgosto da última vez que a vira.
—Você é a mãe do duende com gripe irlandesa, certo? — Harry perguntou, se sentando em uma das cadeiras do escritório, aliviando assim suas pernas, especialmente a direita, que heroicamente vinha sustentando todo o peso do corpo nos últimos dias.
—O garoto que o senhor ofendeu aquele dia... E hoje também. — Tayolr falou, e ele a olhou nos olhos.
—Qual o problema então? — Perguntou para a mais baixa e feia das duas mulheres.
—Vários, na verdade... Desde que meu esposo saiu de casa para morar com uma piranha e...
—Qual o problema com o... garoto... ? Dá para ir direto ao ponto? Pessoas estão morrendo enquanto você fala... Eu não tenho o dia todo, e mesmo que tivesse não o desperdiçaria com você...
—Você falou que ele nunca iria fazer sexo, lembra? Ele ouviu aquilo e agora esta traumatizado.
—Quantos anos ele tem?
—Cinco.
—E você acha que ele sequer sabe o que é sexo? — Harry desafiou.
—Se sabe eu não sei, mas ele diz agora que quer fazer... Sabe, essas crianças não podem ouvir um não...
Harry ficou calado por um tempo, depois apanhou o bloquinho de papel azul para receitas de Taylor e anotou algumas palavras. Destacou os dois papéis em que escrevera e entregou-os à ela.
—Sabe ler?
Ela olhou com cinismo e começou a ler em voz alta:
—Duende, Castigos dolorosos toda a vez que falar a palavra "Sexo", ou três vezes ao dia se por ventura ele não falar. Atenção, não utilizar a Maldição Cruciatus na primeira fase do tratamento, salvo se estreito...
—Estritamente— Harry corrigiu.
—Necessário. Ù-áà-nusgá : Arranjar um emprego ou qualquer tipo de ocupação que não seja pentelhar médicos atarefados, como o que se encontra perdendo seu tempo com a senhora, no presente momento.
Catherine segurou o riso, mas a mulher olhou irada para Harry.
—É isso, então?
—Sim... Quer dizer, não... Faltou eu assinar... — Ele arrancou os papéis das mãos dela, escreveu um palavrão cabeludo na última linha e rabiscou com a caneta várias vezes sobre a palavra.
—Tchau — Dispensou-a — Doutora Taylor, me concede alguns minutos de sua tão requisitada atenção? — Perguntou ele, ao ver a outra mulher saindo da sala.
—Você se lembra o que eu disse a respeito da má-conduta?
Harry não respondeu, mas manteve o mesmo sorriso sarcástico, o que deu à diretora a certeza de que ele não ia mudar seu jeito de ser.
—O que é que você quer de mim? — Ela perguntou, ocupando suas mãos com os papéis que organizava.— Suponho que seja sobre o nome na porta do escritório, se for isso, já mandei trocá-lo.
—Isso era um dos pontos... Depois vem a lousa.
—Aah, isso. Você sabe o que vão nos custar aqueles rabiscos na enfermaria? — Ela perguntou com raiva. Parecia uma mãe brigando com ele. Mãe. Aquela palavra formigou dentro de Harry, e algumas lembranças tristes tentaram vir, mas ele as afastou.
—A ausência deles poderia acarretar a morte daquela garota... Até que ela ia gostar. Mas você acha justo?— Perguntou, em um daqueles momentos em que tentava fazer a pessoa se sentir culpada. Taylor se calou, mesmo sabendo que o único objetivo da frase era a culpa, não defender qualquer tipo de moralismo.
—Se você quer uma lousa, vá comprar. O hospital paga a lousa, pois é para ele e não para você... Mais alguma coisa?
—Sim. Eu quero que você me receite algo para o joelho.
—Há tantos remédios para dor que não precisam de receita, à venda na farmácia...
—Não funcionam. Geram apenas um pequeno conforto, mas é momentâneo... Logo a dor volta... Só uma receita, vai... Fazendo favor!
—Procure um médico do Hospital e faça os exames, ele vai te dar a receita que julgar necessária. — Ele sorriu.
—Eu sou muito tímido para isso... — Falou, sério.
—Ah, como é... —Ela riu — Mais alguma coisa?
—Sim. Já passou das quatro, e eu não comi nada desde o café-da-manhã... Você gostaria de vir comigo até o restaurante almoç... — A frase foi interrompida por um barulho rápido de porta abrindo.
—Ah, meu Deus, Freio de Burro, o que é agora? — Perguntou ao médico que acabara de entrar.
—Primeiro: Sou o Doutor Robert Lane, não o "Freio de Burro" nem o "Cara Metalizado". Segundo: Achamos uma massa.
Harry olhou para Catherine, que ria da cena, com desapontamento.
—Acho que nosso almoço vai ficar para a próxima...


—Legal! Há alguma coisa aqui, mesmo! E olhe só: Não é Mal de Córner! — O Dr. Harry exclamou, mordendo o sanduíche vistoso que comprara antes de vir, na lanchonete do Hospital. — E a sarcoidose, ao que velo, deu negativo! Logo, o que pode ser isso? — Ele escreveu três palavras na placa que emitia luz para se ver os resultados das tomografias, em uma sala do quarto piso.
—Câncer...
—Câncer...
—Ou Câncer. — Os três homens que restavam leram.
—Só isso?— Jéssica questionou
—Não, que cabeça a minha... Esqueci de colocar "Engoliu uma bola de golfe, que misteriosamente foi parar no fígado". Quem vota no câncer? — Harry ergueu a mão brincando, depois pegou os exames que estavam nas caixas de luz. — Vou levar para Wilson, o oncologista.
Falou, mancando até a porta.
O escritório de Wilson ficava no segundo andar, o que significava para Harry descer mais quatro dolorosos lances de escadas. Estava na metade do caminho quando sentiu mais dor do que havia sentido em todos os últimos quinze anos juntos. Ao se abaixar para agarrar o joelho, vulnerável, lembrou-se da gargalhada maligna que em sua adolescência sempre acompanhara os momentos de maior dor, tendo sua tortura então apenas aumentada.
Engoliu três comprimidos para dor de uma vez e desceu os últimos degraus agarrado no corrimão, a dor insuportável ainda o atormentando.
Quando chegou à porta do escritório de Wilson (Dr. Wilson, M.D. Departamento de Oncologia), Percebeu que ele estava conversando com uma paciente. Harry reconheceu-a como a garota que consultara em seu primeiro dia de clínica, quase duas semanas atrás.
Wilson falava sério com ela, enquanto a morena apenas chorava. Quando Wilson falou sua última palavra — "Inoperável" pelo que Harry leu através do movimento de seus lábios — a garota soltou um gemido ou grito de pura tristeza, e o abraçou com força. O médico retribuiu o abraço, e aquilo fez Harry entrar.
—Wilson, seu pervertido! Olha essa mão boba!
A mulher o soltou e olhou para Harry com espanto, depois voltou a olhar Wilson, seus olhos estavam vermelhos.
—Érica, esse é o Doutor Harry.
—Eu s-sei, ele f-foi quem m-me encaminhou para o s-senhor... Em todo o c-caso, t-tchau.— Ela o olhou uma última vez antes de sair.
—Em que diabos estava pensando? Ela vai morrer, e logo, sabe? E olha o que você fez... Isso já passa do ponto... É insensibilidade.
—Mas... — Harry mudou de assunto — Me diga se isso — Ele lhe deu os exames — É mesmo um câncer ou não.
—Há uma grande probabilidade de ser... Adomas não saem assim nestes exames, o que nos leva à tumor no fígado. Por sorte dela o tumor só atingiu a Polial. Se não for câncer, descobriremos o que é ao abri-la.
—Você faz a cirurgia? Tenho quatro assistentes prontinhos para te ajudar.Só não faço mesmo por que meu joelho está doendo pra...
—Vai ter que dar a notícia... Tente ser carinhoso e pode até ganhar um abraço...
—Ela está verde! — Falou, fazendo careta de desgosto.
—Mais sorte na próxima vez, então...
Harry sorriu, mas por pouco tempo, pois logo seu joelho deu uma ferroada horrível. Quando saiu do escritório, olhou com medo para a escadaria que teria de descer para chegar térreo, onde era o quarto da garota.
Mas antes de descer, num súbito e desesperado momento de loucura, deu um giro no ar sobre o joelho bom, pensando com todas as suas forças naquela enfermaria fechada, mas logo viu o quão inútil fora a sua tentativa de aparatar, pois não só não se movera como ainda se desequilibrara e tivera de jogar o peso sobre a perna dolorida.
Enquanto descia as escadas, duas palavras revezavam a prioridade em seu cérebro: Bengala e Remédio poderiam acabar de vez com a sua dor. Mas andar de bengala seria uma confirmação de que estava ficando velho, e o Remédio ele não conseguiria a menos que algum médico o receitasse.
Levou dez minutos para conseguir finalmente chegar à enfermaria, onde então se sentou em uma cama vazia.
—Doutor Potter — Falou o pai da garota, que a olhavam, tristes. — Ela está dormindo agora... Um de seus colegas a sedou. Ele também fez uma coisa para que ela parasse de esverdear... Ela já está voltando à cor normal...
—Doutor Harry. Quem a fez dormir?
—O negro e alto. —Falou a mãe dela, pensativa.
—Preciso que me dêem licença. A menos que ela queira que vocês fiquem, vocês devem esperar lá fora... Querem que eu pergunte?
—Não, Não, nós saímos. — O pai apressou-se, envergonhado.
Harry injetou um pouco de um líquido semitransparente no soro da garota, que agora estava quase em sua coloração natural, o que a deixava bonita.
—Bom dia!
—Ah, oi, doutor Harry — Ela falou, sorrindo.
—Como foi que conseguiu acertar meu nome de primeira?
—Os médicos falaram que a diretora...
—Taylor? — Ele ajudou.
—Isso. Ela lhes recomendara que chamassem pelo primeiro nome... Eles acham que você é perverso...
—Eu pareço mau?— Harry deu uma risada maligna.
—Assustador—Ela sorriu—Mas, por que o senhor me acordou?
—Queria ouvir você discutindo com seus pais, mas eles saíram antes disso...
—Não vou mais discutir. Não acho sequer que vou falar com eles tão cedo... Eles têm vergonha de mim...—Ela falou, os olhos distantes brilhando aquosos — Sempre tiveram. No começo, eu me lembro, eu conseguia fazer magias... Ms eles nunca acreditavam quando eu contava... Uma vez brigaram comigo por que o filho do vizinho ficou mudo, acharam que eu tinha batido no moleque... — Ela riu de um modo molhado.
—Mas então, você parou de fazer magia.
—Sim. Eles falaram que aquilo era normal, que depois iria voltar, e que eles me ensinariam magia em casa. Mas isso durou um ano e eles também desistiram. Me disseram então que era uma doença, e que assim que conseguissem dinheiro iriam pagar um médico para tratar de mim. Mas eles nunca conseguiram o dinheiro.
—Mas o St. Mungus não cobra nada por seus serviços...
—É isso que me enraivece. Eles nunca acharam que eu tinha doença alguma, sempre tiveram a certeza de que eu era um aborto... Tinham razão, não? Mas eu não sabia disso, e sé pensava em fazer dezessete anos para começar a trabalhar e pagar um médico para me examinar. Eu percebia aos poucos o que ocorria... Eles tinham era vergonha de mim... Mandavam eu s-subir — ela começou a chorar — para o meu quarto quando vinham visitas. Diziam que era possível que eu piorasse com o contato com estranhos, e poderia passar minha doença para eles...
"Mas então, acabei ficando realmente doente: apareceram estes ferimentos no meu tornozelo... Eu tinha que vir para o hospital: fugi de casa, peguei carona com uns caminhoneiros e vim procurar o Doutor Van Connery, muito amigo do meu pai, mencionado sempre por ele. Quando eu falei o nome do papai para ele, no segundo dia de exames, ele não acreditou. Disse que nunca soubera que meu pai sequer tinha uma f-filha, e a única vez que a m-mulher dele engravi-dara a pobre criança morrera n-no p-parto-to.— Ela se debulhava em prantos.
—Foi por isso que tentou...
—S-sim... O doutor Van Connery tentou me tratar com a mesma coisa que o senhor, e também tive alergi-gia... Mas não fazia nem meios-esforços para me ajudar. Achava que eu mentia, assim como meus pais achavam quando eu dizia fazer mágica... Mas eu tenho certeza de qu já pude fazer magias antes... pena não poder p-rovar...
—Pode. Você não é um aborto. — Harry falou, olhando nos olhos dela de um modo paternal. Mostrou então o exame que mostrava um tumor redondo logo ao lado do fígado, pressionando a glândula mágica e assim impedindo o bom fluxo das CSM. — Você tem câncer. SE tivesse vindo antes aqui, talvez pudéssemos ter detectado a tempo... Sua sorte é que ele se desenvolveu lentamente, o que dá boas chances de você poder voltar a fazer magias...
—Não importa. Desde que eu possa provar a eles que nunca menti... Mas não posso dizer se vou perdoá-los... — Harry confirmou com a cabeça, mas antes que pudesse falar, estava sendo abraçado, de um jeito como não era havia muitos anos.


A Nimbus S300 de Harry Potter voltou a seu habitual local, encostado à parede. A jaqueta de aviador de couro foi lançada no sofá enquanto Harry ligava o chuveiro para aguardar a água esquentar. Ele então mancou até o forno de microondas e colocou o macarrão instantâneo ligado na água para ferver. O frio vinha gradativamente, e ele não dava duas semanas para que começasse a nevar. Acendeu então o fogo da lareira.
Aguardando todas aquelas coisas esquentarem, engatou seu baixo elétrico no amplificador — o violino estava muito alto para seu joelho — e tocou com o volume um tanto baixo, pois já era noite e a vizinha do lado adorava reclamar.
Os olhos permaneciam fechados, mas a música pesada não era a única coisa que ocupava a sua cabeça. A dor no joelho esquerdo ia a cada segundo ganhando espaço em seus pensamentos. Quando finalmente o joelho travou por completo e ele não conseguiu mais se equilibrar com o baixo nas mãos, repousou o instrumento novamente nos apoios de parede e se arrastou pelo sofá.
Antes de poder ligar a TV, porém, o telefone tocou.
—Alô.
—Oi, Harry, é a Taylor. A cirurgia na garota foi um sucesso, o tumor era benigno, graças a Deus.
—Não ponha Deus no meio... E ela como está?
—Ótima. Mas os danos à Polial foram permanentes. Mas por que quer saber? Você se importa? — Ela desafiou.
—É apenas trabalho. — Devolveu na mesma moeda, pensando sem pesar nos danos à garota.
—Então, o que decidiu sobre a equipe?
—Ah, meus vassalos... A Jessy, ela foi genial na hora de roubar aquelas coisas do médico... Teríamos perdido muito tempo procurando uma Lupus invisível... O Loiro, Park,não é? Gostei dele... E o... — Manteve-se em silêncio por um tempo. — Acho que se trabalharmos bem o psicológico do cara Metalizado, talvez ele nos seja útil...No final ele se impôs. Como é mesmo o nome dele?
—Robert Lane. Pode esquecer dele... Voltou para Nova Jersey por conta própria, logo depois que Wilson terminou a cirurgia... Disse que não trabalharia para você nem se fosse o maior curandeiro da Inglaterra... No final ele ficou em dúvida sobre você ser ou não o melhor, e isso deixou nossa conversa bem confusa...
—Certo. Já que o judeu vai esquecer de reclamar se não for contratado, melhor eu chamar o negro... Curts, né? É até bom, para que não pensem que sou racista... Mas ele que não venha me cumprimentar sem luvas!
Harry fez piada, mas Taylor não riu.
—Preciso de receitas, meu joelho travou de vez...
—Usa um relaxante muscular...
—Mas...
—Nada de receitas.
—A dor não é muscular... É ossal . De osso, entende? — Ele criou um neologismo, mas sua voz estava meio áspera.
—Procure um médico que descubra a causa e te receite algo! Enquanto isso use muletas... — Ela falou, e estava séria.
—Obrigado. Boa noite, Catherine.
—Boa noite, Harry.
Ele sorriu amarelo — pr mais que seus dentes continuassem brancos como sempre — e desligou o telefone.
—Accio Catálogo Telefônico. — Apontou a varinha para a estante.
O livro grosso chegou voando, e ele o apanhou.
—Barcos... — Murmurava ele — Bebidas... Bengalas.

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