Capítulo 5



Mas as coisas não lhe pareceram melhores na manhã seguinte.
Harry estava irascível e a olhava tão friamente que dava a impressão de odiá-la.
Hermione procurou se ocupar arrumando o equipamento, tentando não deixá-lo perceber o quanto a sua indiferença a feria, tentando esquecer o gosto daqueles lábios sobre os seus. Havia anos ela se amparava nos sonhos, e agora teria a lembrança de uma carícia na qual se agarrar. Porém, sonhos e lembranças não são suficientes para saciar o amor.
Depois de colocarem toda a bagagem no jipe, eles rumaram para a área-alvo. Desta vez ficariam acampados numa região com algumas árvores, junto a um riacho.
— É muito isolado por aqui. — Hermione observou, pensando em como seria, arriscado estar só, sem proteção alguma.
— Esta área costumava ser usada pelos apaches e eu me sinto em casa. No século passado, os prisioneiros brancos eram trazidos para cá. Espero que isso não a deixe nervosa.
— Eu não estou nervosa ... Oh! — Hermione levou um sobressalto ao ouvir alguns uivos e se aproximou de Harry, procurando proteção atrás daquelas costas largas e fortes.
Ele riu com prazer, saboreando alguns instantes de fragilidade raramente demonstrados pela "Senhorita Independente". Olhando-a com intensidade, falou bem baixo:
— É um coiote. Brigando ou acasalando.
Ela sentiu-se enrubescer e se afastou com o coração aos pulos. Não fora o que Harry tinha dito que a desconcertara, mas a maneira com que o fizera. Havia naqueles olhos verdes um brilho indisfarçável e a voz rouca soara acariciante como a de um amante.
— Você poderia armar a barraca enquanto eu trago o gerador portátil? — Hermione perguntou tentando esconder o tremor da voz.
— O que há de errado?
— Você é muito brusco. Gostaria que não se esforçasse para dizer coisas que me deixam embaraçada.
Harry permaneceu impassível, olhando-a com curiosidade.
— Eu embaracei você? Por quê? Acasalar é tão natural quanto respirar. Na verdade, algumas tribos não eram nem um pouco rígidas em se tratando da pureza das moças. Adultério, sim, era considerado pecado, não o ato de fazer amor.
— Para o seu conhecimento, os cheyennes eram fanáticos no que dizia respeito à virgindade e os apaches também não ficavam atrás...
— Bem, bem… — ele murmurou como se estivesse se divertindo. — Então você já leu alguma coisa sobre a história dos índios! E acha o assunto interessante?
Por nada deste mundo Hermione iria admitir que o assunto a atraía por causa dele e que já havia lido vários livros a respeito dos apaches.
Mas embora nada dissesse, Harry suspeitava do seu interesse.
— Você sabia que os apaches não gostam de crianças?
— Não é verdade! — ela respondeu sem pensar. — Eles chegavam a criar os filhos de inimigos mortos como se fossem da sua própria carne e do seu, próprio sangue...
Ele riu; seu rosto ficando ainda mais belo ao tornar-se menos severo.
— Sim, você conhece um pouco da história indígena. Por que o fato de ser curiosa a incomoda? Eu não me importo. Pergunte e lhe responderei tudo o que quiser saber sobre o meu povo.
— Eu nunca quis ofendê-lo. Você sempre se mostrou reticente a respeito dos seus ancestrais, especialmente comigo. Eu sei que ao conhecê-lo me portei como uma tola, rindo e cumprimentando-o à maneira dos índios, mas não conseguia controlar o nervosismo. Você me assustava. Nunca quis ofendê-lo.
— Eu lhe devo desculpas também. — ele murmurou, olhando-¬a nos olhos — É que me sentia igualmente assustado.
— Assustado? — Hermione estava atônita — Por quê?
Harry estava a ponto de responder, quando um barulho de pás de rotor de helicóptero chamou-lhe a atenção. No mesmo instante ele agarrou Hermione pelo braço, empurrando-a para perto do jipe e pegando a pistola automática que trazia sempre consigo.
A visão da arma a transtornou. Às vezes era fácil esquecer a profissão de Harry, embora soubesse que ele já havia sido baleado umas duas vezes no cumprimento do dever. Hermione estremeceu, pensando que preferiria não vê-lo correndo tantos riscos.
Harry sentia-se estranhamente protetor em relação a Hermione e, observando o helicóptero se afastar, procurava acalmá-la:
— Está tudo bem, estão indo embora, não deixarei que a machuquem.
Satisfeita por Harry haver confundido seu medo de que ele fosse ferido com a preocupação quanto à própria segurança, Hermione perguntou:
— Você acha que estamos sendo seguidos?
— É muito provável. Para não corrermos nenhum risco, faremos uma fogueira sem fumaça.
— Suponho que sobrevivência no deserto tenha feito parte da sua educação. — ela falou sorrindo.
— Quando eu era menino, sabia como encontrar água, quais as plantas que podia comer e como me guiar na total escuridão. Você sabia que os apaches conseguem passar dois dias sem água, apenas sugando seixos?
— Sim... É que eu leio muito.
Harry não conseguia deixar de olhar para aquela boca delicada, lembrando da suavidade dos lábios que se abriram sob os seus. Hermione não era ó tipo de mulher que ele pudesse possuir, pelo me¬nos enquanto ambos trabalhassem para a mesma empresa. Um envolvimento entre ambos significaria que um teria de partir e isso não seria justo. Hermione era uma geóloga competente e adorava o trabalho. E ele, por sua vez, também gostava do que fazia. ¬O melhor seria evitar complicações.
— No que você está pensando?
Harry sorriu de leve antes de responder numa voz que era quase um murmúrio:
— Que cem anos atrás eu a teria jogado sobre o cavalo e leva¬do para a minha tenda. É claro que as minhas outras esposas poderiam bater em você ou apedrejá-la enquanto eu estivesse fora, guerreando.
— Outras esposas uma ova! Com poligamia ou sem poligamia, se eu vivesse com você, haveria apenas uma esposa, e seria eu! — Harry sorriu diante de tanta veemência. Era incrível como sob uma superfície fria e profissional, existisse uma mulher ar¬dente, capaz de vibrar de paixão. Seria possível imaginá-la com um rifle nas mãos, defendendo o lar de um ataque inimigo ou então com crianças brincando à sua volta... Harry olhou para aquele ventre perfeito e por um instante imaginou...
— Por que você está me olhando dessa maneira?
— É melhor montarmos o acampamento. — ele falou, fechando-se em si mesmo outra vez.
Hermione sentiu-se desapontada, pois por um momento acredita¬ra na possibilidade de que pudessem se relacionar amigavelmente. Mas Harry era Harry, um homem capaz de dominar os próprios sentimentos com extrema facilidade.
Preparando-se para enfrentar o trabalho, Hermione vestiu bermuda, blusa cáqui, meias grossas, botas e um chapéu estilo Indiana Jones. Uma coisa ela havia aprendido, anos atrás, quando estivera à procura de petróleo no Centro-Oeste: é impossível trabalhar sob o sol do deserto sem usar chapéu. Uma insolação lhe havia ensinado a lição e fora Harry que a havia encontrado caí¬da no chão, desacordada, e providenciara atendimento médico imediato.
Ao vê-la usando chapéu, ele comentou:
— Ah, então você se lembrou?
— Sim, como também nunca me esqueci de que você, provavelmente, me salvou a vida.
— Não quero a sua admiração.
— Mas não é admiração.
— Não? Então do que se trata?
— Fascinação. — Hermione falou com um sorriso atrevido. — Você é diferente.
Harry ficou tenso no mesmo instante, comparando-a a uma outra mulher branca que o considerara apenas um tipo exótico e nada a mais.
— Diferente. — ela enfatizou. — Cabeça dura, frio, gênio difícil, imprevisível e totalmente exasperante!
Percebendo que todas essas características não tinham nada a ver com o fato de ser apache, ele relaxou um pouco ao ouvi-la continuar: — Eu poderia enumerar várias outras particularidades, por¬que a lista é grande, mas tenho um trabalho a fazer.
— Eu não sou o único mal-humorado. Você também é difícil.
— Eu não ficaria de mau humor se você parasse de se despir perto de mim.
— E quando foi que eu fiz isso?
— No hotel.
— Oh! — Harry exclamou aproximando-se de Hermione. — Eu apenas queria ver se a perturbava. E parece que consegui.
— A maioria dos homens da sua idade são de um branco lei¬toso e flácido. — ela respondeu secamente. — Com certeza eu não sou a única mulher que o considerou fascinante, sem camisa.
"Não, mas ela é a única que me importa" Harry admitiu pa¬ra si mesmo.
— Olhe, pegadas de puma! — Hermione falou, excitada, ajoelhando-se no chão e apontando para algumas marcas na areia.
— De fato. Como é que você sabe? Rastreamento é um assunto que lhe interessa?
— Sim, desde que eu era pequena. Meu pai e eu costumávamos caçar e ele me ensinou muitas coisas.
— Inclusive a matar o Bambi?! — Harry exclamou fingindo-¬se chocado.
Hermione riu com a pilhéria e logo ele estava rindo também, ambos deitados na areia macia. Num impulso, Harry cobriu o corpo de Hermione com o seu e seus olhos brilharam de excitamento ao notar que a blusa dela estava ligeiramente aberta, permitindo-lhe enxergar o início dos seios perfeitos.
A respiração alterada traía o desejo que o consumia e eles se olharam com paixão.
Ao sentir o corpo musculoso de Harry tão junto ao seu, Hermione estremeceu de prazer. Ele era tudo o que ela sempre sonha¬ra encontrar num homem. Queria sentir aquela boca sensual esmagando a sua, aquelas mãos acariciando-a. A intensidade do desejo a torturava e, sem conseguir se controlar, Hermione tocou o rosto dele com as pontas dos dedos, roçando os lábios de Harry com um beijo tímido.
Ele estremeceu com a suavidade do contato e por um instante¬ de loucura pensou em entregar-se à paixão. Mas a razão prevaleceu e Harry lutou para manter o autocontrole, procurando aparentar uma indiferença que estava longe de sentir.
Num último esforço para conter a torrente de desejo que o alucinava, ele afastou os lábios e segurou os pulsos de Hermione com firmeza, falando secamente:
— Pare com isso!
Hermione sentiu a rejeição como uma punhalada. Estava claro que ele não a desejava; por que, então, não conseguia parar de se oferecer? Como podia ser tão estúpida se jogando nos braços de um homem feito de aço?
— Deixe-me levantar. — ela falou com a voz trêmula.
Porém, os dois sabiam muito bem o quanto eram vazias aquelas palavras e que bastaria um gesto, uma palavra de Harry, pa¬ra fazê-la se entregar com total abandono.
Entretanto, ele estava certo de que possuí-la uma vez só não seria o suficiente. A fome que sentia daquele corpo insinuante jamais seria satisfeita.
Harry ficou de pé, virando-se de costas para esconder a emoção que o atordoava, pensando que nunca seria capaz de esquecer o calor daqueles lábios à procura dos seus. Até quando conseguiria resistir?
Hermione também se levantou, sentindo-se exaurida, vazia de qualquer sentimento. Harry havia deixado bem claro que não sentia qualquer desejo e que nem mesmo a sua grande beleza o atraía. Fora a cena mais humilhante de toda a sua vida.
Tentando salvar um resto de orgulho, ela pegou as suas ferra¬mentas, murmurando num fio de voz:
— Eu devia estar trabalhando.
— O sol estará a pino em poucas horas. Vá recolher as amostras necessárias e então prepararemos alguma coisa para comer. Você está à procura de ouro? É por isso que essa operação é considerada secreta?
Hermione o olhou, ainda sentindo na boca o gosto daqueles lábios atraentes, que no entanto se haviam recusado a beijá-la.
— Não estou à procura de ouro. Estou atrás de um filão de quartzo.
— Quartzo? Mas quarto é um mineral sem valor!
— Talvez, porém a sua presença indica a possível existência de algo extremamente valioso: molibdênio, que é um elemento químico metálico, muito usado para tornar o aço mais resistente; daí o seu valor estratégico. E como foram descobertos novos usos para o molibdênio, a procura aumentou demais nos últimos tempos.
— Você disse que esta área parece promissora, então é melhor nos pormos a caminho. Mas e se no lugar de molibdênio você encontrar ouro, o que fará? Avisará o mundo inteiro?
— Oh, pelo amor de Deus! Você parece ter prazer em pensar o pior de mim! É claro que eu seria incapaz de espalhar a notícia aos quatro ventos, sabendo que estas terras pertencem à reserva indígena! Eu jamais atrairia a atenção de milhares de pessoas, pois sei muito bem o dano que poderiam causar ao local.
Num impulso incontrolável, Harry colocou os dedos sobre a boca de Hermione, silenciando-a.
— Está certo, eu a julguei mal. Desculpe-me.
Sem que desse por si, ele estava acariciando os lábios dela, sentindo o corpo ficar tenso ao notar que Hermione estremecia ao mais leve toque seu. Ela era tão vulnerável, e ele odiava magoá-la. Desejava-a com todas as suas forças, embora julgasse impossível torná-la sua.
Temerosa de fazer papel de tola outra vez, Hermione se retraiu, ainda ferida com a rejeição que sofrera havia apenas há alguns, minutos.
— Vou colher algumas amostras e estudar alguns mapas.
Harry ficou em silêncio por um longo tempo, observando-a trabalhar. Quanto mais a olhava, mais a desejava. E quando Hermione, cansada, espreguiçou-se para aliviar a dor dos músculos, ele quase gemeu alto ao notar curvas dos seios, delineadas sob o tecido fino da blusa. Saber que ela se entregaria com paixão servia apenas para aumentar-lhe o desejo e a dor da fome não satisfeita.
Harry procurou entreter-se com o equipamento de segurança, tentando desviar os pensamentos do corpo sensual de Hermione. Mas ao escurecer, quando já não havia mais nada a ser feito, ele esticou-se sobre o saco de dormir e pôs-se a ler, com o auxílio da lanterna.
Ao entrar na barraca, Hermione ficou fascinada ao reparar nos livros que ele trouxera, pois eram indecifráveis.
— Gosto de ler no original, acho que os livros sempre perdem um pouco na tradução. Este é em grego.
— Como você aprendeu grego?
— Viajando. Eu trabalhei para a CIA; ou alguém nunca lhe contou?
— Sim. Também sei que você esteve nas Forças Especiais, e que, por um curto período de tempo, foi mercenário. Você tem feito muitas coisas perigosas, não?
— Algumas. — Harry respondeu, recusando-se a levar o assunto adiante.
Ela desistiu e foi remexer na sua bagagem, à procura de uma camiseta e de um sutiã limpos.
— Já está escuro. Você acha que haveria algum problema se eu fosse até o riacho me limpar um pouco dessa poeira?
— Se você está pretendendo tomar um banho completo, eu não aconselharia.
— Irei apenas lavar o rosto e os braços.
— Então vá. Estamos relativamente seguros aqui e meus ouvidos são bons.
— Ok.
Hermione gostaria de ouvi-lo dizer que não iria espiá-la, mas por outro lado não havia necessidade de preocupar-se.
Harry vinha se comportando com tanta frieza, que mesmo se a visse nua não iria se interessar. Porém, seu amor próprio estava ferido com a ironia da situação: tantos homens haviam desejado possuí-la, e no entanto, o único que a interessava, não a queria.
A luz vinda da fogueira era suficiente para iluminar o caminho até o riacho. Hermione tirou a blusa e, depois de olhar em direção à barraca para certificar-se de que estava sozinha, tirou o sutiã também. A água fria escorria como um bálsamo na sua pele cansada e ela pensou nas mulheres índias que deviam ter se banhado neste mesmo lugar havia mais de cem anos.
Harry tentava se concentrar no livro, porém a idéia de Hermione sozinha, num lugar ermo, o incomodava, especialmente depois de terem visto um helicóptero sobrevoando a área.
Ele tentava convencer-se de que não queria espiá-la e que só ansiava por dar uma olhada lá fora porque fazia parte do seu trabalho protegê-la.
Sem conseguir conter-se mais, Harry saiu da barraca e caminhou em direção ao riacho, envolto pelas sombras da noite.
Hermione estava de costas, nua da cintura para cima e ele parou onde se encontrava, fascinado pela visão. Então ela se virou de lado, banhando-se com movimentos suaves. Seus seios eram grandes, firmes e os mamilos eretos e escuros ofereciam um contraste sensual com a pele muito branca. O corpo de Harry reagiu de imediato, seu membro ficando rígido de desejo. Havia anos sonhava em vê-la dessa maneira e a realidade era muito mais per¬feita do que qualquer sonho.
Inconsciente de que estava sendo observada, Hermione terminou de lavar-se e arqueou o corpo num gesto sensual, empinando ainda mais os seios como se os quisesse oferecer à lua.
Embora não tivesse pretendido trair a sua presença, Harry ouviu-se dizendo:
— Nos velhos tempos, a pena para um guerreiro apache que espiasse uma mulher no banho era a morte. Eu correria esse ris¬co agora, Hermione. Jamais vi nada tão belo quanto você neste momento.
A voz dele a sobressaltou. Ela virou-se, tão surpresa e choca¬da por vê-lo que nem ao menos teve a presença de espírito de tentar cobrir-se.
Harry a olhava fixamente, sem esconder o quanto estava alterado.
— Seus seios são lindos. — ele falou num sussurro carregado de emoção. — Muito maiores do que eu supunha. Brancos como as nuvens ao amanhecer, tocadas de leve pelo sol.
Poesia; ele a estava cortejando com poesia! Durante todo o dia ela se sentira observada e agora, ao vê-lo extasiado diante de si, Hermione sentiu-se mais segura e ficou de pé, orgulhosa na sua seminudez, desejosa de saciar a fome que via naqueles olhos verdes. Sim, ele a queria!
Sentindo-se confiante com a descoberta, livre de inibições, ela caminhou em direção a Harry.
Ele ficou tenso, temeroso de perder o último vestígio de lucidez ao vê-la se aproximando.
Hermione jamais havia imaginado ser capaz de tomar uma atitude dessas, mas agora tudo lhe parecia a coisa mais natural do mundo. Ela o olhou cheia de expectativas, pois embora pudesse parecer o contrário, era uma mulher inexperiente, enquanto ele estava longe de o ser.
Harry permanecia imóvel, o rosto indecifrável.
— Você está pedindo por algo que talvez não seja capaz de controlar.
— Você me... machucaria?
— Talvez. Há muito tempo que não possuo uma mulher e nem sempre sou gentil. E você não tem muita experiência com os homens. Está surpresa com a minha perspicácia? É difícil fingir sofisticação. — Harry sorriu com suavidade. — Você está enrubescendo e teve de se esforçar para não cobrir os seios quando eu os olhei. Também está lutando para não se afastar, antes que eu lhe dê aquilo que você pensa que quer.
— E o que eu quero?
Harry estendeu a mão e tocou um dos mamilos numa carícia lenta, sensual.
Hermione deixou escapar um gemido e se retraiu.
— Está vendo? Se eu a cortejasse um pouco mais, você, se entregaria a mim; entretanto, seria incapaz de fazê-lo a sangue frio. Sei que não está acostumada a esse tipo de intimidades com um homem.
Insegura, ela cruzou os braços sobre os seios, trêmula e hesitante.
— Vinte e sete anos e tão inibida. O que aconteceu, Hermione? Será que a primeira vez foi tão traumática que lhe roubou a coragem de tentar de novo?
— Você não tem o direito de me fazer perguntas desse tipo...
Harry a segurou pelos ombros, falando secamente:
— Você se ofereceu a mim e isso me dá o direito. A primeira vez foi difícil?
Ela não podia dizer-lhe que ainda não houvera uma primeira vez, seria humilhante demais.
— Difícil o suficiente. Por favor... eu sinto muito. Gostaria de me deitar agora.
As coisas eram como ele havia imaginado. Hermione tinha me¬do de estar com um homem de maneira íntima, porque alguém a havia magoado. Harry sentia-se irritado ao pensar que um homem fora capaz de feri-la. Ele jamais o faria embora a desejasse com uma paixão avassaladora.
Com um suspiro profundo, Harry a tomou nos braços e a car¬regou até a barraca, depositando-a sobre o saco de dormir. Tímida, Hermione tentou cobrir os seios com as mãos.
— Não faça isso. — ele falou com suavidade — Não se cubra. Deixe-me olhar para você, pois é a única coisa que eu me permitiria fazer neste momento.
— Você disse que não me queria...
— Sim, eu disse isso. Meu Deus! Será que você não tem instintos em relação aos homens? Você não sabe que...
Ele sentiu-se incapaz de continuar, inundado por sensações poderosas ao vê-la no mais completo abandono. Entretanto, não a tocou. Apenas olhava-a, como se quisesse gravar na mente cada detalhe daquele corpo bem-feito.
— Você me parece tão indefesa e estremece a cada vez que eu a olho, ou a toco. Há alguma coisa que você me negaria?
Hermione balançou a cabeça sentindo-se lânguida entregue.
— Mas ainda assim, você não quer fazer amor comigo....
— Eu não posso. — Harry respondeu de modo evasivo, não querendo deixar transparecer quanto a desejava. — Não estou preparado.
— Preparado?
Ele acariciou-lhe os cabelos com carinho, antes de responder:
— Eu poderia engravidá-la. Fazer amor é uma coisa, deixá-la grávida é outra. Filho é um assunto muito sério e não deve acontecer apenas porque duas pessoas foram descuidadas.
— É verdade. — Hermione concordou, querendo dizer-lhe que não só o desejava, mas também a um filho seu. Ela o amava e esse sentimento era profundo, eterno. Incapaz de controlar as sensações, implorou num murmúrio:
— Oh, por favor, você não podia...
Harry tinha a respiração alterada e mal conseguia desviar os olhos dos mamilos intumescidos.
— Você me quer tanto assim?
— Muito... — ela sussurrou. — Mais do que você jamais saberá.
Harry sentia-se a ponto de perder a cabeça, pois Hermione era tudo o que sempre sonhara. Porém, apesar do desejo que o enlouquecia, apesar da urgência que o consumia, ele conseguiu se controlar e inclinou-se, beijando-a muito de leve, enquanto murmurava:
— É melhor que você durma.
Sentindo o corpo em fogo, Hermione enlaçou-lhe o pescoço, puxando-o para junto de si, negando-se a deixá-lo se afastar.
Harry gemeu, incapaz de resistir:
— Hermione, você não entende... Oh, Deus!
Num impulso, ele se inclinou e beijou-a com paixão, entregando-se ao prazer de se apossar daqueles lábios que se ofereciam. Ao sentir os seios nus e os mamilos rígidos de encontro ao peito, Harry estremeceu numa doce agonia e a aconchegou ainda mais, sua língua ávida tentando penetrar a boca macia de Hermione. Ao senti-la enrijecer-se, levantou a cabeça e fitou-a, surpreso:
— Você não gosta de beijos mais íntimos?
— Eu... nunca beijei ninguém assim antes. Você poderia... me ensinar?
— Sim. — ele falou com a voz rouca. — Posso ensiná-la.
Numa carícia lenta e sensual, Harry deslizou a ponta da língua sobre a boca de Hermione, num carinho cheio de delicadeza. Ela suspirou e entreabriu os lábios, enterrando os dedos nos cabelos negros daquele homem capaz de excitá-la além da imaginação.
— Você está pronta? Então me deixe sentir o gosto da sua boca.
Extasiada, ela gemeu alto, enlouquecendo-o de desejo. Ele sugou-lhe a língua com avidez, deixando-a sentir o ardor que parecia devorá-lo, como se quisesse possuí-la com os lábios. O gosto de lágrimas naquele beijo, os tremores incontroláveis que a sacudiam e a intensidade do abandono dela fez com que Harry recuperasse os sentidos.
Num movimento repentino, ele se afastou, tentando empurrá-la para longe de si, usando toda a sua força de vontade para calar a emoção.
Hermione ainda tentou segurá-lo, incapaz de vencer o torpor sensual que a envolvia.
— Meu Deus, você não compreende? Eu sou apache e você é branca. Pertencemos a mundos diferentes! Tudo isso é impossível, Hermione!
Depois de alguns segundos, ela finalmente percebeu o que es¬tava acontecendo. Ambos haviam estado a ponto de perderem a cabeça e por alguns breves segundos ele a havia tocado, acariciado, beijado...
— Você está me escutando? Hermione?
— Sim, eu... o ouvi. Mas não consigo parar de tremer... — ela murmurou, surpresa com as sensações que haviam sacudido o seu corpo. — Oh... eu quero você!
— Psiu. — Harry sussurrou com delicadeza. — Eu sei. Dói em mim também, mas não posso correr o risco.
Ele tomou-lhe uma das mãos e a levou aos lábios. Hermione es¬tava chorando e Harry se inclinou, secando-lhe as lágrimas com um beijo.
— Respire fundo, garotinha. Vai passar.
— As minhas coisas. Eu as deixei junto ao riacho.
— Vou apanhá-las e então tomarei uma xícara de café lá fora, antes de me deitar. Faça um favor a nós dois e tente dormir, antes que eu esteja de volta. Essa viagem foi um acontecimento deslocado no tempo, mas a realidade está a nossa espera, em Tulsa. Temos um trabalho a fazer aqui. Vamos fazê-lo e deixar tudo isso para trás.
Hermione engoliu em seco, evitando encará-lo, lutando para aparentar uma calma que estava longe de sentir.
— Você está certo, é claro. Desculpe-me pelo que... pelo que eu fiz. Eu... eu não sei o que deu em mim.
Ele percebia o quanto ela estava embaraçada e julgou que tanta timidez se devesse à experiência dolorosa do passado.
— Você agiu assim por cansa da abstinência. Sei bem como é. Chega-se a um ponto insuportável de tensão sexual. Você não caiu no meu conceito por ter-me desejado. Ao contrário, sinto-¬me lisonjeado.
Hermione relaxou um pouco; pelo menos não estava sendo ridicularizada. Ele havia dito que ela era linda e a beijara com paixão. Entretanto, mantivera o controle, mesmo sabendo o quanto era desejado. Será, então, que ele a acariciava por piedade? Hermione não queria nem pensar nessa possibilidade, era dolorosa demais.
— E por quanto tempo você tem se mantido em abstinência? Posso lhe perguntar?
— Dois anos.
— É porque eu sou branca que você não quer correr o risco.
Harry a fitou por um longo momento, decidindo que o melhor seria pôr um ponto final na tentação.
— Sim. Jamais poderia pensar na possibilidade de uma criança ser gerada por causa do meu desejo por uma mulher branca.
Desejo. Apenas desejo. Hermione sentiu-se desalentada e de certo modo envergonhada, ao ouvi-lo admitir o que sentia por ela. Apenas luxúria e nada mais.
— E não é isso o que você sente por mim? — Harry murmurou dando-lhe as costas. — Vou checar o equipamento de segurança. Boa noite, Hermione.
Teria doído menos se ele a tivesse esbofeteado. Porém, ela não disse uma palavra, apenas deitou-se e fechou os alhos, tentando conter a mágoa. Pelo menos agora tudo estava bem claro: ele não sentia absolutamente nada por ela, exceto um desejo não muito intenso, já que fora capaz de manter o autocontrole até o fim. Harry nunca iria correr o risco de gerar uma criança, embora um filho fosse a que ela mais desejava, pois o amava acima de tudo.
Hermione estremeceu num misto de vergonha e amargo desapontamento. Talvez tivesse sido melhor se ele não a houvesse toca¬do. Agora, depois de ter experimentado o gosto daquela boca, seria muito mais difícil esquecê-lo, só lhe restando o tormento de imaginar como teria sido maravilhoso se tivesse sido por ele possuída.
Hermione levantou-se e vestiu uma blusa, ainda sentindo os seios sensíveis e intumescidos, pensando que, embora tórridos, os mo¬mentos de carinho entre os dois haviam sido bastante inocentes. Harry a olhara e beijara, porém não houvera uma intimidade maior. E Hermione chegara à conclusão de que ele não a desejava o suficiente para sentir-se disposto a fazer amor.
Do lado de fora, Harry fumava um cigarro, tentando acalmar-¬se. Suas mãos ainda tremiam e ele pensava que quase não havia sido capaz de manter o controle. Vê-la quase nua fora algo além das suas forças e seu corpo estava rígido e tenso com o desejo insatisfeito. Ela o queria também e bastaria um gesto seu para tê-la de volta em seus braços.
Mas seria um erro, pois apesar de desejá-lo, Hermione era me¬nos experiente do que ele havia suposto. Tímida e um pouco temerosa, porém faminta das suas carícias.
Mas em sua vida houvera uma outra mulher, linda e branca, que o quisera por considerá-lo único, diferente. E no fim, ele sentira-se usado. Hermione tinha beleza suficiente para escolher seu próprio homem, e Harry achava que seria posto de lado assim que ela satisfizesse a curiosidade. A situação era realmente hilariante. Em geral, são sempre os homens que pressionam as mulheres para um contato físico mais íntimo, mas neste caso era ela quem tomava a iniciativa.
Outros homens, em seu lugar, poderiam tomar o que Hermione estava lhe oferecendo, mas ele não seria capaz, pois o que sentia em relação a ela ia além do desejo físico. Ele a respeitava como mulher, como cientista, como ser humano. Não poderia usá-la, mesmo que não houvesse barreiras culturais a separá-los.
Foi uma noite difícil para Harry e quando ele, finalmente, conseguiu dormir, já estava quase amanhecendo.
***
Hermione forçou-se a trabalhar, nos dois dias que se seguiram sem pensar no que havia acontecido; Harry também parecia entregue aos seus afazeres, tratando-a de uma maneira totalmente impessoal. Entretanto, ela continuava a desejá-lo, agora mais do que nunca.
Não confiando em si mesma, Hermione procurava refúgio no trabalho, passando horas a fio sob o sol escaldante, forçando seus limites de resistência até quase a exaustão.
Logo, a pesquisa de campo estava completa e ambos prontos para voltar a Tulsa e à realidade.
O silêncio e o retraimento de Hermione não haviam escapado a Harry e ele dava graças a Deus que assim fosse, já que se julgava incapaz de resistir a uma nova situação de intimidade. Nestes últimos dias mal conseguira disfarçar a intensidade do desejo que o consumia e as noites passadas na barraca haviam sido um verdadeiro tormento. Não conseguia se esquecer dos contornos daqueles seios, nem da suavidade dos lábios que se entregaram aos seus. Mas se Hermione se lembrava de como tinha se oferecido, nada deixava transparecer. Ela nem mesmo o encarava, como se sentisse vergonha do abandono com que havia se entregado àqueles breves momentos de prazer.
— Satisfeita por estar voltando para casa? — Harry perguntou tão logo entraram no avião.
Essa foi a primeira observação que não se relacionava a trabalho, feita por qualquer um dos dois nas últimas quarenta e oito horas.
— Sim. — Hermione respondeu sem fitá-lo. — Estou satisfeita.
— Então somos dois. Graças a Deus iremos voltar ao normal.
"Normal" ela pensou, "Como se minha vida pudesse voltar ao normal outra vez."
Agora que havia conhecido o ardor, as carícias e o gosto de Harry, tudo se tornaria ainda mais difícil. Não tê-lo seria morrer aos pouquinhos. Entretanto. ele não parecia nem um pouco afetado pelo que haviam partilhado. E por que estaria, sendo um homem experiente? Ela estremeceu, pensando no que poderia ter acontecido se Harry a houvesse possuído.
Se tivessem chegado tão longe, jamais seria capaz de deixá-lo sair da sua vida.
Hermione fechou os olhos, tentando dormir. Logo estariam em Tulsa e nunca mais viajariam juntos. Graças a Deus!
***
Esse pensamento reconfortante durou apenas até o momento em que Hermione viu-se de volta no escritório de Eugene, reportando a viagem.
— Sim, eu entendi. A terra que contém o filão de molibdênio pertence ao governo. Droga! Então só nos resta fazer uma coisa. Arrume uma mala com um belo vestido de noite e outras roupas elegantes. Você, Cynthia e eu iremos para Washington a fim de conversarmos sobre esse assunto com um dos nossos senadores. Sei que há uma nova lei sobre extração de minérios em propriedades do governo e um antigo colega meu poderá nos aconselhar. Não fique aí sentada. Vá se preparar. Viajaremos amanhã de manhã.
Hermione foi para casa fazer as malas, chateada por não poder voltar logo à rotina, o que, aos seus olhos, poderia ajudá-la a superar a paixão por Harry.
Mas havia mais uma surpresa aguardando-a. Na manhã seguinte, ao chegar ao aeroporto, já estava sendo esperada por Eugene, sua esposa, Cynthia, e Harry, parecendo tão irritado quanto ela própria.

E o destino quer juntar eles dois á força toda... rsrsrsrsrsrsrs capítulo bem intenso, bem caliente. Ok, voces devem estar furiosos porque eu demorei! Desculpem, sério! Aí... Volto em breve!

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Comentários (1)

  • Ri Granger Potter

    Oi!!!!!!!!!! Adorei a fic!!!!!! por favor, por favor, por favor, continua!!!!!!!!Mau posso esperar para os proximos capitulos. bjssss 

    2012-04-25
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