Nono Capítulo



Anton Gabrielli vestia um terno negro, camisa branca e gravata cinzenta. Estava elegante, mas não conseguia ocultar a impressão de estar tenso. Na única foto do recorte de jornal que ela tinha, ele não parecia tenso. Parecia jovem e vital, muito semelhante a Harry.
Mas, a foto havia sido feita vinte anos atrás. Talvez em vinte anos a desilusão com a vida pudesse tornar Harry semelhante àquele homem, apesar de ela não desejar isso.
—Bom dia, signor — ela o saudou em inglês. — Creio que deseja falar comigo? — perguntou de maneira graciosa e polida, sem dar sinal de que soubesse qualquer coisa sobre ele.
Ele não respondeu ao cumprimento. Na verdade, não fez mais do que estreitar os olhos para examiná-la como a um espécime raro. Ela se contraiu quando percebeu-lhe o rosto como talhado em pedra e sua boca fina, esquecida de sorrir.
—Você é filha de Anastasia! — ele finalmente exclamou, depois do acurado exame.
—Sim — ela confirmou. — Foi por causa da minha mãe que desejou me ver?
Ele demonstrou intranqüilidade.
—Sim — ele respondeu. —E não — acrescentou depois. — Pela sua resposta, presumo que saiba de mim?
—Do seu caso com a minha mãe? Sim. Ela não via razão para esconder.
Ele balançou a cabeça.
—Talvez tenha sido lamentável a forma como nos encontramos na noite passada.
—Lamentável? Acho que o choquei — ela considerou. — E sinto muito por isso.
Ele tinha uma expressão cínica diante do pedido de desculpa.
—Até vê-la, acreditava que as pinturas de Draco Malfoy se tratavam de sua mãe. Mas, até então, não sabia que você existia.
Pela primeira vez, alguém presumira o certo em relação ao modelo de Draco. Era irônico perceber que ele estava agora mudando de opinião em relação ao que os outros acreditavam.
—Nós éramos extremamente parecidas — ela disse. — Poucas pessoas podiam notar a diferença.
—Onde...? — ele perguntou repentinamente, sem forças para concluir seu pensamento.
—Minha mãe morreu dois anos atrás — ela explicou.
—Sinto muito — ele murmurou polidamente.
—Obrigada — ela replicou.
Aquela formalidade começava a incomodar Hermione. Ela não deveria estar sentindo alguma coisa? Não deveria sentir pelo menos alguma ligação genética, por menor que fosse? Percebendo que ainda estava de pé na soleira da porta, ela adiantou-se. Percebeu que ele reagia como um homem em guarda. O que ele estaria imaginando? Que iria atacá-lo fisicamente?
—Até no andar, vocês se parecem — ele afirmou.
Hermione ofereceu-lhe um leve sorriso. Ele não ia dizer nada que ela já não soubesse. Parecia-se com a mãe, andava como ela...
—Não gostaria de se sentar — Hermione o convidou educadamente. — Aceita um drinque, um café, ou...
—Eu sou o seu pai — ele disse inesperadamente, fazendo com que ela parasse de falar. Depois, com um estalar de dedos, prosseguiu: — Agora, podemos falar francamente, sem qualquer cerimônia. O que quer?
—Como disse? — Hermione perguntou atônita.
—Você me ouviu — Anton insistiu. — Quero saber o seu preço.
Hermione não podia acreditar no que estava ouvindo e o criticou.
—Mas foi o senhor quem veio me procurar — ela o recordou. —Eu não...
—É o que se chama fogo de encontro. Seria só uma questão de tempo você ir me procurar — Anton a interrompeu. — Por isso estou aqui. — Ele encolheu os ombros. — Tudo o que quero saber é quanto vai me custar o seu silêncio.
Hermione olhou para ele sem poder acreditar. Ele havia ido procurá-la porque achava que ela iria chantageá-lo?
—Mas, eu não quero...
—Gente da sua espécie sempre quer.
Hermione sentiu dificuldade até para respirar.
A voz dele demonstrava desprezo, seus olhos também. Ele odiava até mesmo vê-la! Mesmo sem conhecê-la, ele a estava julgando uma mercenária. Gente daquela espécie? Lembrou-se da mãe de Harry usando a mesma expressão, demonstrando a mesma superioridade arrogante que imaginavam lhes dar o direito de tratá-la daquela maneira!
—Anastasia me abandonou! — ele exclamou, demonstrando ressentimento. — Você não deveria estar aqui. E o mais penoso é que temos de manter esta conversação.
Será que ele sabia o que estava dizendo? Começou a sentir um aperto no coração.
—O senhor esperava que minha mãe voltasse para a Inglaterra e se livrasse de mim simplesmente porque era o que o senhor queria?
—Anastasia exigiu dinheiro — ele explicou. — Imaginei que ela iria usá-lo para solucionar o problema.
O problema?
—Eu não era um problema para minha mãe! — ela exclamou. —Você, sim! Ela precisava de dinheiro para sobreviver! Deus, ela se sentia tão mal. O senhor foi embora, fechou a conta no banco, retirou-a do apartamento em que ela vivia, tudo!
—É assim que essas coisas funcionam — ele disse sem um mínimo de arrependimento. —E você vai perceber quando o seu momento chegar.
Era assim que ele tratara a sua mãe na confrontação final? Teria sido aquela a razão por que ela nunca recobrara a auto-estima?
Como pudera amar aquele homem?
—O senhor me faz mal — ela sussurrou.
—Não me venha com pruridos de moral, signorina! — ele exclamou. — Pois está vivendo com um homem que a torna tema de conversa de toda a Milão! — Sua face estava impenetrável novamente, a voz fria. — Antes de falar pense se preferiria que eu anunciasse para todo o mundo que a amante de Harry Potter é a filha bastarda de Anton Gabrielli! E que a Mulher do Espelho é, na verdade, a prostituta da sua mãe!
Ao ouvir aquele insulto à mãe, Hermione o esbofeteou com força. Frente a frente, ambos demonstravam profundo antagonismo, e ela não sentia o menor remorso pelo que fizera. Ele alisou a face, e seus olhos a fuzilaram de ódio.
—Soube o que Isabella Potter fez para você na noite passada —ele disse. — A galeria inteira estava comentando o incidente. —Sorriu quando a viu empalidecer. — Acha que vai continuar aqui se esta situação se tornar pública? Imagina que ao se declarar filha de um pai tão rico quanto os Potter, eles fecharão os olhos para a realidade de quem você seja?
—Como pode querer me acusar quando os seus próprios pecados saltam à vista? —Hermione perguntou. — E por que vem aqui, se não se importa que conte tudo aos outros? O senhor tem uma esposa. Os sentimentos dela não contam para nada?
—Minha mulher morreu — ele disse. — Você não pode feri-la. Mas eu posso atrapalhar a sua presença neste ambiente de luxo, se você ousar tornar público o nosso parentesco.
—Não entendo por que o senhor imagina que eu queira fazer isso! — A situação toda se tornara tão contraditória que ela não conseguia acompanhar a lógica dele.
—Eu não estou certo — ele explicou. — Só queria me certificar de que você entende qual é o seu lugar aqui. — Ele tornou as coisas claras. — Eu não tenho serventia como trampolim para o seu casamento com Potter. Na realidade, constituo o maior empecilho. Mas estou disposto a aceitar a idéia de que você possui um certo direito de me criar algum tipo de problema — ele admitiu. — E tendo em mente que um dia Potter se cansará de você, concordo que lhe devo algum tipo de recompensa para se manter em silêncio sobre mim quando isso ocorrer.
—Quero que saia daqui! — ela exclamou, sentindo-se descontrolar.
—Esta casa não é sua para me mandar sair daqui — ele respondeu, repetindo a pergunta que tinha em mente desde que chegara. — Diga-me quanto...
Ela ficou estarrecida ao ver que ele levava a mão ao bolso interno do paletó para sacar o talão de cheques! A raiva dominou a vontade de chorar.
Lá estava ele de pé, talão e caneta na mão esperando que ela mencionasse algum valor. Era irresistível não fazê-lo.
—Dê-me tanto quanto o senhor vale! — ela exclamou, vendo a expressão dele mudar. Dinheiro era o mais importante para ele.
—Oh, e também a reputação — ela acrescentou, uma vez que ele realmente não podia suportar a idéia de ser atormentado por um erro de vinte anos atrás!
Demonstrando irritação, ele disse:
—Acho que não entendeu...
Ao que ela retrucou, com um ar de ironia:
—Bem, deixe-me esclarecer as coisas, antes que haja mais confusão. O senhor não vale precisamente nada para mim, capisce? Dessa forma pode escrever no seu cheque: Dou à minha filha ilegítima Hermione Granger exatamente nada! — Havia desgosto em seu olhar. — Agora, desculpe, preciso ir — ela disse, dando-lhe as costas para sair da sala.
Se Harry estivesse lá, teria reconhecido o seu valor.
Mas ele não estava lá, e ela não pretendia esperá-lo voltar para casa. Se o próprio pai a via daquela forma, que esperança teria de ganhar o respeito de alguém enquanto continuasse a viver com Harry?
Tinha de ir embora e imediatamente, ela decidiu, antes que Harry tivesse a oportunidade de convencê-la a ficar! E o mais triste era que ela sabia que ele tinha esse poder, bastava apenas uma palavra, um toque, e ela ficaria ali para sempre.
Carlotta estivera por perto no corredor do hall. Ela parecia consternada, o que fez com Hermione imaginasse se ela ouvira alguma coisa.
Entretanto, mostrou-se controlada quando pediu:
—Por favor, atenda o signor Gabrielli por mim — ela lhe pediu, dirigindo-se para o quarto principal.

No mesmo instante em que ela estava se confrontando com Anton, Harry estava se confrontando com o seu pai na biblioteca da casa da família. Havia ali coleções de livros valiosos. A casa, em si, era um tesouro nacional. E, lá fora, estendia-se um vale inteiro coberto de vinhas que produziam o famoso vinho Potter, em uma liderança secular.
—Preciso da ajuda de vocês — Harry estava dizendo, com uma expressão fechada. — Não pretendo me indispor com os meus próprios pais, mas não espero que me pressionem a nada. — Era tanto um desafio como uma advertência.
—Está esperando que eu me indisponha com sua mãe nessa situação? — o senhor de meia-idade perguntou, dando uma risada irônica. — Sinto muito, Harry, mas estou muito doente e tenho juízo suficiente para não aceitar essa incumbência.
No entanto, ele não parecia tão doente quanto Harry imaginara encontrá-lo.
—O senhor está com melhor aparência — ele observou.
—Obrigado por notar — o homem respondeu.
Na altura, aparência, e em outros aspectos físicos, Harry se parecia muito com o pai. Entretanto, alguns meses atrás, um vírus havia enfraquecido a vitalidade de Federico Potter. Quando os médicos conseguiram estabilizar sua situação, ele já havia perdido metade do peso, sofrera complicações sérias em um pulmão, com conseqüências no coração, fígado e rins.
—Novas drogas — o homem disse com um tom de desprezo sempre que mencionava os medicamentos que o mantinham vivo. —Quem é essa mulher a quem sua mãe tem tanta aversão a ponto de destratá-la em público?
—O senhor sabe quem ela é — ele disse, com um suspiro impaciente. — Está vivendo comigo faz um ano.
—Está querendo dizer que ainda está com a mesma mulher?
Federico fingiu estar surpreso, mas não enganou Harry que, assim mesmo, sorriu. — Não é à toa que sua mãe está em pânico.
—Não é para tanto.
—Vou repetir a pergunta. Quem é ela? — o pai perguntou com audível ênfase no quem.
Enfiando a mão no bolso interno do paletó, Harry retirou uma fotografia, tirada no casamento do seu melhor amigo. Depositou-a sobre a escrivaninha na frente do pai. Federico pegou-a e a estudou.
—O seu bom gosto nunca foi posto em dúvida — ele disse, com ironia.
—Mas? — Harry o interrogou
—Posso não ter participado de muitos eventos sociais nesse último ano, mas vi a pintura — Federico disse. — Ela tem um corpo lindo e olhos tristes.
Harry nada disse, apesar de que poderia ter se aproveitado daquele momento para contar a verdade. Talvez não fizesse diferença...
Hermione estava certa, ele percebeu. Quem olhasse para a mãe nua estaria vendo a filha nua, por isso não importava o que se contasse para as pessoas.
Harry tinha o direito de escolher o próprio futuro, e Hermione tinha o direito de ser aceita como sua esposa. Se seus pais não quisessem aceitar, então...
Então o quê, ele se perguntou.
—Bom para se distrair, bom para se aproveitar... — seu pai murmurou. — Mas, só isso, Harry.
Harry pegou a foto e a colocou de volta no bolso.
—É a sua palavra final?
Seu pai lhe lançou um olhar severo, e se levantou para sair. Antes, porém perguntou:
—Ela está grávida?
Algo interessante, Harry ponderou cinicamente e sorriu com tristeza. Uma criança Potter concebida fora do casamento...
—Não — respondeu simplesmente e acrescentou: — Mas não é difícil que isso aconteça.
Com satisfação viu o pai voltar-se, um ar de preocupação estampado no rosto.
—Sente-se — Federico Potter ordenou.
Harry obedeceu, mas somente porque aquela era a reação que pretendera provocar.
—Agora, explique-me por que essa mulher, quando poderia ter qualquer outra que quisesse?
Todos ali tinham a mesma arrogância no sangue. Hermione teria adorado ouvir seu pai dizer aquilo.
—Quero apenas ela — ele declarou simplesmente. Depois, inclinou-se para frente e olhou o pai diretamente nos olhos. — Ela é a única que pretendo ter — afirmou com uma seriedade desconhecida. — Compreende...?
O silêncio durou cerca de uns trinta segundos. Depois, Federico Potter inclinou-se para trás na cadeira, soltou uma gargalhada e sacudiu a cabeça, dizendo:
—Bem, venham aqui no próximo fim de semana. Vamos oficializar isso.
—Grazie — Harry o agradeceu, quase não se contendo de alegria. Entretanto, o pai ainda não havia terminado. Seus olhos adquiriram um brilho malicioso quando disse:
—Agora, tudo o que tem a fazer é convencer sua mãe.

Quando Hermione chegou ao quarto, Carlotta já o havia arrumado. Nada estava fora do lugar, nada que demonstrasse que aquele cômodo havia sido usado. Aproximando-se do closet, pegou a maleta de couro. Não se surpreendera quando Harry pusera todas as coisas de novo no lugar. Ordem masculina. Ordem da sua governanta. Tudo em ordem em seu lugar. Aquele quarto era o refúgio de Hermione.
Dessa vez, não houve nenhum homem raivoso para interrompê-la na sua tarefa de acomodar as coisas. A maleta foi fechada com um estalido e, quando ela a depositou no chão, ouviu uma batida na porta e Carlotta entrou.
Não havia como esconder a maleta. A governanta logo saberia de tudo.
Carlotta olhou rapidamente para Hermione.
—Não, signorina, a senhora...
Algo a fez calar-se. Uma percepção do seu lugar na ordem das coisas? A aceitação de que, para Hermione, ir embora era a coisa mais certa a fazer?
Desviando os olhos, aproximou-se.
—O Signor Gabrielli me pediu para lhe entregar isto — ela disse, estendendo um cheque para Hermione. Voltou-se e saiu sem mais nem uma palavra.
Sem nem mesmo olhar para o cheque para constatar quanto o seu pai achava que ela valia, Hermione o rasgou em pedacinhos e saiu para o terraço.
Avistou Milão ao calor de um outro dia de verão. Lá embaixo, o tráfego estava calmo e silencioso. Ao olhar em redor, a primeira coisa que viu foi a forma de Harry impressa nas almofadas da espreguiçadeira que ele usara. Carlotta devia ter se esquecido de limpar o local porque um sanduíche e um copo de vinho tinto estavam sobre a mesa.
Sem conseguir conciliar o sono na noite passada, ele devia ter ido à cozinha para preparar aquele lanche noturno. Mas ele a havia visto adormecida na outra espreguiçadeira. Comida e vinho haviam sido esquecidos em favor de algo mais energético.
Esquecidos tão rapidamente como a recusa de Hermione que, sem hesitar, voltara aos seus braços e sua cama.
Hermione esforçou-se para não chorar. Lembrou-se da corrente de ouro e do pingente de diamante. Procurou-os e os achou justamente no lugar onde os havia deixado. Voltou ao quarto para guardá-los, quando viu o bilhete de Harry dobrado.
—Não me preocupe, cara — ele dizia. — Esteja aqui quando eu voltar.
O primeiro soluço chegou sem ela notar, e logo foi seguido de outro, mais outro. Sentando-se em frente à penteadeira, cobriu o rosto com as mãos e chorou desesperadamente.
Quando terminou, ergueu-se. Levou alguns minutos para se recompor e decidiu o que seria preciso fazer antes de ir embora...

Harry estava sozinho na biblioteca do pai, usando o telefone para fazer uma ligação para a Galeria Romano. Queria falar com Draco Malfoy.
Rosetta Romano atendeu.
—Onde ele está? — Harry perguntou
— Vai viajar para Londres, esta tarde — Rosetta lhe disse. —Pensei que você soubesse que ele só permaneceria aqui na primeira noite da vernissage. O que quer que eu faça com a pintura da signorina Granger? — ela perguntou. — Draco não disse nada e a signorina Granger desligou o telefone antes que eu pudesse lhe perguntar o que fazer, quando ela telefonou procurando Draco há uns dez minutos.
—Empacote o quadro e mande entregar no meu apartamento — ele instruiu. —Hermione disse o que queria com Malfoy?
—Não. Ela só perguntou onde ele ia estar e desligou. Foi tudo. Harry também desligou. Não era com Draco que ele estava preocupado, ele ponderou consigo próprio. Apressou-se em se despedir do pai, para depois se dirigir ao helicóptero que estava esperando. Só lhe ocorreu que deveria ter telefonado para Hermione, para saber como ela estava, quando já estava no ar.
Está bem, ele disse a si mesmo, queria se certificar de que ela realmente esperava por ele! Não confiava nela. Poderia confiar nela? Ela já lhe havia dito, durante a noite de amor, que conhecer a verdade não mudaria nada entre eles. Em um impulso, pegou o celular. Um olhar de censura do piloto o fez largá-lo, relutantemente.



—Você tem de fazer isso por mim, por favor! — Hermione estava com Draco, e suplicou. — Deve-me isso, depois do fiasco da noite passada!
—Isabella Potter se arrependeu da maneira como agiu — ele lhe disse.
—Isso não me importa! — Gritou enquanto soluçava. — Não faz diferença alguma. Já resolvi, estou deixando Milão.
—E Harry também? — ele perguntou.
Ela engoliu as lágrimas e fez que sim com a cabeça.
—Estas são as chaves — ela disse. — Tudo o que tem de fazer é pagar o aluguel e depois pegar as minhas coisas para levá-las para Londres com você.
Draco se recusou a pegar as chaves.
—O que aconteceu depois que você foi embora com ele? — ele perguntou, demonstrando impaciência.
Ela se recusou a dizer.
—Conto depois. Tenho de pegar o avião.
—Ele sabe para onde você está indo? — Draco perguntou.
Ela não respondeu. Ele deu um suspiro.
—Querida, já lhe disse algo semelhante antes, mas vou repetir. Harry Potter não é um homem com quem se deve cruzar espadas.
Ela ergueu o queixo, os olhos brilhantes com uma expressão que ele nunca vira antes. Era um cinismo amargo.
—Essa é a sua maneira de dizer que você não quer cruzar espadas com ele?
—Meu Deus! — Draco exclamou, pegando as chaves. — Vá —ele disse. — Se conseguir uma passagem, vou amanhã. Mas vá se é preciso.
—Obrigada — ela sussurrou, beijando-o e deixando o hotel, sem olhar para trás.
Se Hermione tivesse se voltado, teria hesitado porque Draco tinha um olhar determinado a matar qualquer um que ousasse prejudicá-la.
E ela não queria que Draco matasse Harry. Precisava saber que ele estava vivo e feliz. De fato, para ela era essencial saber que Harry permaneceria exatamente igual, alto e elegante, suave e sofisticado, dono de um sorriso verdadeiramente sensual. Queria lembrar-se dele rindo com os amigos, falando seriamente sobre arte. Ou deitado em uma espreguiçadeira no meio da noite com um copo de vinho tinto e um sanduíche. Sentindo falta dela...
Oh, sim, gostaria que Harry sentisse falta dela, ela admitiu, enquanto o táxi enveredava pelo tráfego caótico de um sábado em Milão.
Ela conseguira reservar uma passagem em um vôo que saía do aeroporto de Linate, que ficava umas quatro milhas de Milão. Quando o táxi finalmente chegou ao perímetro do aeroporto, ela olhou para fora em tempo de ver o sol brilhar na fuselagem de um helicóptero que pairava no ar pronto para aterrissar.
O meio de transporte preferido de Harry quando ia para a casa de seus pais, ela se lembrou, com um sorriso triste. Desviou os olhos, não querendo pensar nele, justo naquele momento quando ainda poderia ser tentada a mudar de idéia.

Harry viu o trânsito quando aterrissou e o amaldiçoou. Iria demorar uma eternidade para voltar à cidade, no meio daquele caos. Agradecendo ao piloto, saiu do helicóptero e se dirigiu para o edifício central. Em qualquer outra ocasião, ele estaria se dirigindo para o estacionamento dos executivos, a fim de pegar o carro. Entretanto a Ferrari tinha sido mandada para a manutenção naquela manhã, e ele teria de usar um táxi. O que significava que teria de atravessar todo o interior do aeroporto para chegar ao ponto de táxi.
Se tivesse se lembrado, teria usado o Lótus e economizado tempo, uma vez que tinha muito que fazer, pessoas para atender, antes de voltar para ver Hermione.
Pegando o celular, tentou ligar. Foi quando percebeu que havia se esquecido de carregar a bateria na noite anterior. Com um suspiro de resignação, guardou o aparelho.
O aeroporto estava cheio de turistas que transitavam por ali, parecendo perdidos. Harry seguiu pelo caminho mais curto para a porta de saída e teve de se esgueirar por entre as pessoas carregadas de malas. Foi nesse momento que se lembrou de ir até a ala de partida para ver se via Draco Malfoy. Entretanto, como o tempo era pouco, continuou a andar em direção a saída.
A fila para tomar o táxi era longa. Cheio de frustração ficou esperando, vendo os carros que chegavam e partiam.
Finalmente, chegou a sua vez. Sentando-se no banco de detrás, informou o taxista sobre o seu destino e fechou a porta. Foi quando teve a estranha sensação de estar sentindo o perfume de Hermione.
O aroma estava na sua roupa ou na sua pele? Sempre estivera impregnado daquele perfume? Gostou da idéia e sorriu, enquanto o chofer se encarregava de enfrentar o trânsito, para chegarem ao destino.
Primeiro ao Buccellati, em busca de uma jóia especial para dar para Hermione. Depois precisava realizar uma tarefa muito menos agradável, falar com sua mãe.

Quando Hermione foi informada de que o horário do vôo havia sido transferido, ficou novamente imersa em dúvidas. Não queria partir, e, ao mesmo tempo, não queria ficar. Na realidade, não sabia o que fazer!
Baixou a cabeça e deixou que as lágrimas caíssem. Tinha a maleta no colo. Quando a abriu para pegar lenços de papel, deparou com uma foto que havia sido feita no aniversário de casamento de Luna e Rony. Nela, estava de pé ao lado de Harry que tinha o braço passado pela sua cintura. Ela parecia feliz e ele também, apesar de que não pelo mesmo motivo. Ela demonstrava felicidade por amá-lo, ele por... contentamento sexual.
Estava certa em partir, disse para si própria. Entretanto seus lábios começaram a tremer e as lágrimas se tornaram mais copiosas ainda.
Draco achava que ela estava cometendo um erro. Ficara desapontado com ela.
—Ele vai reagir com violência — ele a havia advertido na festa de aniversário dos Weasley.
Oh, sim, por favor, que ele faça isso, ela pediu em pensamentos, como tola que era. Que ele venha atrás de mim, deixe-me trancafiada em seu quarto e jogue a chave fora. Não me importo! Gosto de ser a amante dele!
Hermione pensou em sua mãe e em Anton Gabrielli... Depois, mudou de idéia. Não, ela negou para si mesma com veemência.
Não é verdade. Se eu ficasse grávida, Harry não...
Como saber se ele não o faria?
Ela não sabia, e existia uma real possibilidade que a mantinha presa à poltrona na sala de espera do aeroporto ao invés de sair correndo para ir se encontrar com ele. Percebeu que Anton Gabrielli plantara muitas tristezas em seu coração. O desprezo, as acusações, a crença automática de que não conseguiria nada. Ele desprezara sua mãe justamente por ser mãe! E ele a desprezava da mesma forma. Assim como a mãe de Harry.
Subitamente, ergueu o rosto. Sentiu uma estranha sensação, como se alguém a houvesse livrado de todos os males.
Só uma mãe poderia fazer aquilo. Só uma mãe teria o poder de remover todas as aspirações de outra mulher em relação ao seu filho. Talvez fosse devido ao desprezo de Isabella Potter que ela ainda se mantinha sentada naquele lugar. Porque, dali em diante, sem sua bênção, não haveria mais relacionamento algum com Harry que não pudesse ser considerado sórdido.
Não sentira sordidez na noite que passara com ele. Havia sido uma bela noite, fora especial. Harry a fizera especial.
Esteja aqui quando eu voltar.
Hermione sentiu um aperto no coração, e todo o calor e sentimento de amor voltaram. Olhando para baixo, viu a fotografia ainda em suas mãos. As lágrimas voltaram, assim como a indecisão. Gostaria que anunciassem o seu vôo. Precisava partir, ir embora dali!

Harry entrou no edifício de apartamentos e se dirigiu diretamente para os elevadores. Aquele não fora um bom dia definitivamente. Um verdadeiro golpe de estado! Gastara muito tempo entre compromissos profissionais e o trânsito e agora estava ansioso por ver Hermione.
Enquanto o elevador o conduzia com a suavidade costumeira, ele se flagrou sorrindo quando sua mão apertou a pequena caixa de anel em seu bolso. O elevador parou, e as portas se abriram. Ele saiu do elevador, pensando que aquele era o momento mais importante de toda a sua vida!
Estranhamente, nunca se sentira tão bem.
Entrando em casa, viu o grande embrulho de papel marrom apoiado contra a parede. Era o retrato de Hermione que lhe havia sido entregue pela Galeria Romano. Em seguida viu Carlotta que estava de pé torcendo as mãos. Harry se sentiu gelar.
—Hermione! — ele exclamou, com a voz rouca. — Onde ela está?
Os olhos da governanta estavam cheios de consternação.
—Ela foi embora, signor — a senhora murmurou.

Nem tenho perdão possivel, eu sei. Demorei demais! Passem tambem em Deusa Proibida... sim, tambem vou atualizar a fic como recompensa. Desculpem a demora.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.