Voltando a viver



Abriu os olhos rapidamente assim que ouviu pela terceira vez aquele barulho irritante. Levou a mão no criado mudo ao lado da cama, desligando aquele despertador. Bocejou e espreguiçou-se, amaldiçoando mais uma noite terrível. Nem lembrava mais quando tivera uma noite tranqüila de sono.

Virou-se na cama. Um sorriso formou-se em seus lábios assim que o olhou. Adorava vê-lo dormindo daquela forma. Parecia tranqüilo, como um anjo. Passou a mão entre os cabelos negros, descendo até seu rosto e acariciando de leve. Se pudesse ficaria assim o dia todo, apenas admirando-o dormir.

Aos poucos ele foi abrindo os olhos, sorrindo ao vê-la olhando-o. Sentiu os lábios dela tocarem seu rosto, em um beijo carinhoso:

—Bom dia querido!

—Bom dia. –Bocejou. –Porque me acordou há essa hora?

—Como assim por quê? –Ela o olhou perplexa. –Você tem que ir pra escola mocinho!

—Há não mãe. –Resmungou colocando um travesseiro sobre sua cabeça. –Não quero ir pra escola.

—Bryan Alexander Granger. –Sibilou Hermione em tom severo. –Ou você levanta dessa cama agora ou você vai ver sua mãe irritada ás sete da manhã.

—Eu não agüento mais isso! –Reclamou levantando-se e colocando os óculos. Hermione sorriu com a semelhança. –Minha vida não é essa.

—Vem cá. –Hermione o puxou para sentar-se na cama. Suspirou, olhando-o nos olhos. –Eu sei que é difícil pra você essa vida...

—Eu to cansado mãe. –Bryan a olhou chateado. –Cansado de dizer pra todos que eu sou Peter, que minha mãe se chama Helen e que meu pai morreu antes de eu nascer. To cansado de mentir. Eu queria falar a verdade pelo menos uma vez.

—Eu sei querido. Também estou cansado dessa vida. Mas você sabe que eu faço isso...

—Pra me proteger. Porque não sabe o que seria de você se alguma coisa de ruim acontecesse comigo. –Completou revirando os olhos.

—Eu te amo meu amor. Só quero te proteger. –Hermione o abraçou. –Eu prometo que um dia isso tudo vai acabar. E quem sabe você não recebe sua carta de Hogwarts?

—Hogwarts mãe! –Bryan se afastou. –Hogwarts pra mim é um sonho que eu já nem sei se ainda existe. E eu nem sei quem é o meu pai.

—Um dia você vai saber de toda a verdade. Um dia você vai conhecê-lo assim como eu.

—E quando esse dia vai chegar mamãe?

Hermione suspirou quando ele saiu do quarto. Caminhou até a janela, olhando o sol nascer. Sabia que ele estava farto de levar essa vida, assim como ela. Mas não podia perdê-lo. Tinha que protegê-lo. Ninguém podia descobrir de quem ele era filho.

*********
Andava de um lado para o outro, aflito naquela sala. Tudo estava escuro, apenas a luz da lua iluminava uma boa parte da sala. Bufou frustrado, sentando-se na poltrona. Já não tinha mais noção de quanto tempo estava ali. Mas aquela espera estava matando-o.

Levantou-se, pegando seu casaco e se preparando para sair. Foi então que se lembrou do que ele tinha dito. “Aconteça o que acontecer, não volte.”. Praguejou atirando o casaco no sofá.

Já fazia muito tempo que tinha deixado aquela batalha. Se um de seus homens não tivesse se ferido, se não tivesse que ajuda-lo, poderia estar lá lutando ao lado dele. Pelo menos não sentiria toda essa aflição que estava sentindo.

A porta foi aberta violentamente. Em um movimento rápido virou-se e mirou sua varinha, preparado para atacar:

—Pode abaixar isso, por favor. –Disse uma voz completamente irritada.

—Harry? Finalmente. –Rony suspirou aliviado. –Já estava quase de saída atrás de você.

—Eu não disse que aconteça o que acontecer... –Bradou retirando a capa.

—Não volte. É eu sei. –Completou Rony. –E Voldemort?

—O que você acha? –Disse Harry após uma risada irônica, seguindo para o banheiro. –Fugiu claro. Como sempre.

—Como assim fugiu? –Rony o seguiu inconformado. Harry tirou sua camisa, revelando um corte em seu ombro esquerdo. –Nós elaboramos esse plano por três meses e...

—Eu não sei Rony. –Rispidou Harry frustrado. –Simplesmente estava lá e depois não estava mais. Desapareceu.

—Sabe o que eu acho? Que tem um espião entre nós. –Disse Rony pensativo.

—Você acha é? –Zombou Harry, pegando uma toalha e colocando um pouco de álcool nela. Respirou fundo antes de colocá-la sobre seu corte no ombro esquerdo. Fechou a boca com força para conter um grito de dor.

—Quem você acha que é? –Perguntou Rony ignorando o sofrimento do amigo.

—Não tenho idéia. –Respondeu com um pouco de dificuldade, já que seu ombro ardia como nunca. Sua cabeça começara a latejar forte.

—A gente precisa dela Harry! –Murmurou Rony. Harry o olhou surpreso. –Você sabe disso tanto quanto eu.

—Ela se foi Rony. –Bradou colocando sua varinha sobre o corte e murmurando um feitiço para que ele se fechasse.

—A gente podia procurá-la. Mandar alguém do ministério atrás dela...

—EU JÁ FIZ ISSO RONY! –Gritou Harry irado. –MANDEI OS MELHORES AGENTES PROCURÁ-LA ATÉ NO INFERNO. NINGUÉM A ENCONTROU. –Parou e respirou fundo. –Você disse que ela iria para Austrália, ninguém a encontrou lá. Ela... Ela simplesmente sumiu.

—Você não tem culpa Harry! –Rony olhou com pena para o amigo. Fazia sete anos que ela se fora. Harry sentia-se tão culpado por ela ter saído de sua vida, que não agüentava mais reprimir isso dentro de si. Não teve outra saída á não ser desabafar com Rony. Contar tudo o que tinha acontecido para ele.

—Ás vezes, eu acordo no meio da noite e... –Harry saiu do banheiro, caminhando até a sala e sentando-se na poltrona. –E me pergunto por que ela me deixou.

—Já parou pra pensar que Voldemort pode estar com ela?

—Não. Não está. –Disse Harry se levantando, apoiando-se no parapeito da janela de seu apartamento. –Se ele estivesse com ela teria pedido algo em troca. E ele nunca falou nada sobre ela durante todo esse tempo.

—Ela ainda vai aparecer cara. –Disse Rony dando leves tapas nas costas do amigo. –Você vai ver!

—É o meu destino não é Rony? –Harry virou-se para o amigo, os olhos cheios de água. –Primeiro meus pais, depois Sirius, Dumbledore, Gina. E agora Hermione. Eu sempre vou perder aqueles que eu amo.

—Harry seja franco consigo mesmo. Você amou a Hermione não amou?

—Não! –Harry suspirou. Rony o olhou surpreso. –Eu ainda a amo. Eu só queria saber se ela está bem. Só isso!

Harry virou-se para a janela, contemplando a lua. Até quando ia ter que agüentar essa angustia dentro de si por causa dela? Porque ela o deixara?

*********
—Tiffany deixei Peter na escola. Pode pega-lo pra mim depois? –Disse Hermione caminhando até sua sala com a secretaria logo atrás.

—Claro Helen. –Tiffany entregou alguns papeis para ela. –O Ministério de Londres mandou. Parece que o plano que você mandou para a captura de Voldemort fracassou.

—O quê? –Hermione olhou indignada para os papeis enquanto entrava na sua sala. –Como assim?

—Parece que tinha um espião dentro da equipe. –Tiffany sentou-se na cadeira diante a mesa. –O Sr. Potter ficou furioso com o resultado.

—Imagino. –Comentou Hermione após um longo suspiro, largando-se em sua cadeira e passando a mão no rosto.

—Algum problema?

Hermione percorreu a sala com os olhos, certificando-se de que estaria seguro ter aquela conversa ali:

—Bryan reclamou novamente dessa vida dupla. –Disse revirando os olhos. –Ele tocou de novo no assunto do pai dele.

—Acho melhor você reconsiderar os fatos logo. –Disse Tiffany jogando o jornal diante de Hermione.

Ela a olhou sem entender, olhando para o jornal em seguida. A manchete da primeira página dizia: “Você – Sabe –Quem declara fim ao chefe dos aurores de Londres.”.

—Hermione você sabe que a cada dia que passa a situação no mundo bruxo está pior. Potter está vivo hoje, mas quem garante que amanhã ele ainda vai estar? Ele tem o direito de saber que teve um filho.

—Ele não aceitaria o Bryan. –Murmurou Hermione encostando-se na cadeira.

—E porque você não tenta? Eu acho que ele não negaria o próprio filho.

—Harry perdeu tudo quando a esposa dele morreu. Perdeu até mesmo o filho. É claro que ele não aceitaria um filho da melhor amiga dele.

—Você mesma fala que Bryan é idêntico á ele. Em todos os sentidos. –Hermione sorriu concordando. –Bryan é uma criança fantástica. Conquista qualquer pessoa em sua volta. Como ele não conquistaria o próprio pai?

—Não sei. Eu tenho medo. –Hermione se levantou, andando de um lado para o outro na sala. –Não o vejo á oito anos. Não posso chegar lá e dizer que ele tem um filho. Não sei qual pode ser a reação dele.

—Eu acho que não custa nada se arriscar. –Disse Tiffany se levantando e caminhando até a porta. Antes de sair da sala, virou-se novamente. –Ia me esquecendo. O ministro quer você na sala dele em dez minutos.

Hermione assentiu, voltando a sentar em sua cadeira. Pegou o jornal que Tiffany tinha entregado. Observou atentamente a foto de Harry discutindo com um repórter. Sorriu, lembrando-se que ele nunca gostara de repórteres.

Talvez estivesse enganada. Ele podia continuar sendo o mesmo. A única que mudara fora ela. Mas será que mesmo durante todos esses anos ele ainda pensava nela ou vivia a lembrança da esposa?

*********
—Estávamos em três quando fomos atacados por Alan Walker. –Dizia um auror diante de várias pessoas sentadas em volta de uma mesa. Harry estava diante de todos, calado e escutando atentamente. –Ele derrubou um de nossos homens e não tivemos opção a não ser recuar.

—E porque diabos vocês não pediram reforço? –Perguntou um outro auror impaciente.

—Nós pedimos reforços. Mas ninguém quis nos ajudar já que estavam todos ocupados. –Disse o auror em tom de ironia.

—O que está insinuando Charle? –Sibilou o auror se levantando e puxando o outro pela gravata. –Que eu sou o espião de Voldemort?

—Eu jamais insinuaria isso John. –Zombou Charle. –Só porque seu pai era um comensal também?

—Insolente! –John levantou a mão, pronto para socá-lo.

—BASTA! –Gritou Harry levantando-se e batendo na mesa. John soltou o auror. –Por Merlin, podemos ter uma reunião civilizada alguma vez?

—Perdão Sr. Potter. –Desculpou-se Charle voltando a se sentar, lançando um olhar de fúria para John.

—Eu só quero saber quem foi que elaborou esse plano e não pensou que poderia haver uma falha! –Comentou Harry olhando friamente para seu secretário, sentado ao seu lado.

—Bom... –Steve começou a revirar alguns pergaminhos. –O plano foi mandado por uma auror do ministério da Austrália. O nome dela é Helen Watson.

—Eu juro que se encontrasse essa mulher na minha frente a amaldiçoaria por causa desse maldito plano. –Bradou Harry andando de um lado para o outro.

—Acho que o senhor vai ter essa oportunidade. –Disse Steve fazendo seu chefe e o restante dos aurores olharem curiosos para ele. –Helen Watson foi transferida. Provavelmente chegará aqui no ministério de Londres na próxima semana.

**********
—Como é? –Perguntou Hermione surpresa. –Como assim fui transferida?

—Helen você é uma ótima auror. –Explicou o homem de certa idade, fitando a mulher na sua frente. –Uma de nossas melhores agentes. Seus planos são excepcionais. Mas ao que me parece, o ministro da magia não gostou nada do seu ultimo plano ter falhado.

—E o senhor deixou que isso acontecesse sem me consultar? –Hermione já estava ficando impaciente.

—Acredite Helen. Fiz de tudo para que eles voltassem atrás com essa transferência. Como eu disse você é uma de nossas melhores agentes. Mas nada foi capaz de fazê-los mudar de idéia.

—Eu não posso voltar para Londres. –Hermione se levantou. –Meu passado todo está lá. Meu futuro é aqui.

—Lamento querida. –O homem se levantou e a abraçou. –Lamento muito. Mas não há mais nada a se fazer. Prepare-se o mais rápido possível. Você volta para Londres na semana seguinte.

Hermione suspirou saindo da sala. Enquanto percorria o caminho até sua sala, inúmeras coisas passavam em sua cabeça. Pensara que nunca mais teria que voltar a Londres. Afinal, sua vida toda estava ali em Sidney. Seus pais estavam morando ali após o acidente que acontecera com eles. Os amigos que fizera durante esses anos. Até Bryan adorava aquele lugar.

Foi então que parou e apoiou-se na parede ao pensar em algo. Ele estaria lá. Ele trabalhava no ministério, era chefe dos aurores. Iam se encontrar e ele saberia de toda a verdade.

Assim que chegou a sua sala foi surpreendida com Bryan vindo correndo em sua direção e a abraçando na cintura. Hermione olhou preocupada para Tiffany, como se aquele olhar já dissesse que ela precisava conversar:

—Como foi seu dia querido? –Perguntou Hermione ajoelhando-se diante do filho.

—Foi ótimo. –Bryan sorriu.

—Bryan? Não está se esquecendo de nada? –Questionou Tiffany olhando séria para o afilhado. Hermione o olhou confusa. –Bryan quebrou os vidros da janela da sala de aula enquanto brigava com um colega de turma.

—Filho você fez isso? –Hermione o olhou surpresa. Bryan abaixou a cabeça e assentiu. –Por quê?

—Hoje é dia dos pais aqui. E ele estava caçoando de mim por não ter pai. Fiquei irritado e quando vi tudo tinha quebrado.

—Eu sinto muito amor. –Hermione o abraçou. –Lamento por passar por tudo isso.

—Você não tem culpa mamãe. –Disse Bryan enxugando as lágrimas do rosto dela e a beijando na testa. –Eu vou ir atrás do Marc, ele ta me devendo um pomo de ouro em miniatura.

Hermione sorriu. Ele era a copia exata de Harry. Em todos os sentidos, até mesmo em se preocupar com ela. Enxugou seu rosto e respirou fundo, sentando-se no sofá que tinha ali:

—O ministério me transferiu. –Tiffany a olhou boquiaberta. –Volto pra Londres semana que vem.

—Eu não acredito! –Murmurou surpresa, com lágrimas nos olhos. –Vão me deixar aqui sozinha? Você e o Bryan são minha única família.

—É claro que não Tif. –Hermione a abraçou. –Você vai junto comigo. Não deixaria minha melhor amiga, madrinha do meu filho aqui.

—E você está preparada para voltar?

—Ainda não! –Respondeu Hermione após um longo suspiro. Mas não tinha outra opção. Teria que encarar todo o seu passado e ele principalmente.

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N/A: Desculpem a demora do post. Esse capitulo tava prontinho. Só que o meu pc estragou e eu perdi tudinho. Tive que digitar tudo de novo.
E claro q ficou muito mais pior. Não gostei desse capítulo. Mas fazer o q né?
Desejando um feliz 2008 pra todo mundo. Muita paz, saúde, sucesso.

Talvez essa semana eu poste na Eu Disse Que Te Amo E Juro Que Amo.

Agora comentem o.k?
Bjos
*BYE*

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