Capítulo dois



 





 



 



Kaitlin alisou a barriga,
tocando-a de leve para ver se sentia alguma coisa, mas ela continuou parada e
intacta; era idiotice achar que o bebê ia chutá-la já, visto que ele não passava
de uma bolha flutuando calmamente dentro de seu útero. Por pouco tempo, se
dependesse de Kaitlin. A garota terminou de calçar a bota que ia até o joelho e
se encarou mais uma vez no espelho; o cabelo muito loiro brilhava, apesar de
fios ruivos já aparecerem na raiz. Precisava repintar, mas isso ficava para
depois. O malão estava escancarado a um canto do dormitório, com diversas roupas
jogadas de qualquer maneira. Não que ela de fato se importasse.



Iria deixar os livros em
Hogwarts, mesmo sabendo que havia uma pilha de deveres que os professores haviam
passado para o Natal. Natal... e ela iria para a casa dos pais. Havia muito
tempo que ela não passava o natal com os pais; não que ela fosse religiosa ou
acreditasse de fato naquela data, mas enquanto todos estavam reunidos com suas
famílias felizes, ela fugia da sua, trancada em Hogwarts. Kaitlin já esquecera a
última vez que se sentira bem em casa. Sempre competira com o irmão, o filho
perfeito
. E nos últimos tempos, os pais estavam claramente distantes,
chegava a ser difícil respirar o ar pesado que ficava entre eles. O pai estava
tendo um caso, tinha certeza.



Descobrira isso uma vez que o
pai saíra para 'trabalhar' nas férias de verão e voltara tarde da noite; ele
cheirava a cigarros e perfume francês. Naquela hora, ela se trancou no quarto e
chorou. Por cinco minutos consecutivos ela chorou e, então, abriu a bolsa e
tirou umas ervas. Rasgou um pedaço de papel do livro e enrolou-o sobre a erva. E
fumou. Fumou até se sentir zonza e os olhos lacrimejarem. E continuou fumando,
até que seus próprios pulmões vacilaram e ela teve que parar. Não conseguia
distinguir seu próprio quarto e caiu na cama, pesadamente.



Dormiu até quase duas horas da
tarde, acordando com batidas nervosas à porta e teve que esconder o saco cheio
de maconha correndo na bolsa, para que não desconfiassem, apesar da fumaça
perolar suavemente pelo ar.



Nunca mais teve uma conversa
verdadeira com a mãe. E muito menos com o pai. E passou a viver sua própria
vida, sob suas próprias regras.



Hogwarts até era interessante,
apesar de só ter uma amiga fiel, Anna. Quanto a namoros, ela cansara e resolvera
abrir mão deles. Seus dois últimos haviam falhado e deixado marcas muito
profundas nela; o primeiro, Ulysses White, fora o que pode se chamar de primeiro
e eterno amor. Ela nunca se sentira assim com alguém, tão completa e realizada.
E tudo, em um instante, parecera mais mágico, mais brilhante, mais cheio de
vida. O namoro durara um ano e meio e terminara quando Kaitlin se deixara levar
pelos bíceps bem torneados de Doug Durpos. Doug era um cara legal, mas muito
diferente de Kaitlin. Sem saber o porquê, ela se apaixonara por ele, e decidira
tentar um relacionamento. Algo que não durou mais que três meses. Três horríveis
meses. Três meses de puro arrependimento, regados apenas por uma atração
enlouquecedora, mas que não era correspondida por sentimentos verdadeiros. E o
último mês se arrastara com longas discussões, até que ela decidira se libertar
e voltara à sua vida de solteira.



Não completamente solteira;
agora, se habituara a puxar a blusa até que apenas um terço dos seios estivesse
coberto pelo tecido semitransparente e era só esperar até que algum garoto
viesse até ela; ela não se satisfazia da maneira de desejava, mas estava
parcialmente feliz daquela forma.



Abriu a bolsa e dela tirou um
cigarro, acendendo-o com uma estocada da varinha; a fumaça começou a encher o
cômodo com seu cheiro sufocante, mas ela permaneceu ali, olhos fixos nos flocos
calmos de neve que caíam do céu em espirais. Precisava ir para casa. Comprar
mais drogas. Se reabastecer de bebidas. E abortar o bebê. O natal prometia... e
ela precisava ser forte, ou não agüentaria.



Seus pensamentos se perderam
quando a porta abriu em um estrondo e um rosto apareceu entre a fresta
entreaberta.



- Você não vem? - perguntou
Anna; ela era uma garota bonita, de cabelo ruivo e muito curto. Olhos muito
azuis e um sorriso perfeito.



- Não sei - murmurou Kaitlin.
Ela se olhou mais uma vez pelo reflexo do espelho e viu que já estava toda
vestida, com as botas negras e longas reluzindo. -, não estou com muito espírito
para fes...



- Olha, Kait - começou Anna -,
nós estamos no quinto ano, temos quinze anos e temos muita coisa pela frente. E
essa é a primeira vez que você vai para a casa dos seus pais no Natal e seria
muito legal que antes que nós fossemos, houvesse uma comemoração... Por favor?



- Anna?



- Sim? - Ela se aproximou,
fechando a porta atrás de si ao passar e ficou defronte a Kaitlin, que tinha os
olhos muito vermelhos e o lápis preto em volta dos olhos ligeiramente borrado
pela umidade.



- Eu preciso te contar uma
coisa... - começou Kaitlin, alteando a voz fina. - Anna... eu... estou grávida.



- Ah... grávida... O QUÊ? -
ela berrou. - Grávida? Meu Deus... de quem?



- Sinceramente?... não sei -
murmurou Kaitlin, baixando os olhos para as mãos frágeis, que descansavam sobre
suas pernas. - Desde que eu terminei com o Ulysses e o Doug tudo pareceu meio
confuso e eu dormi com alguns caras... eu sei que é horrível - Anna tinha o
rosto muito vermelho e parecia sem ar. -, mas... aconteceu.



- E o que você pretende fazer
em relação a isso?



- Bom... para isso eu vou para
Nova Iorque - respondeu Kaitlin. -, vou abortar... é péssimo, mas... eu não
posso ter um filho agora.



- Ãah... eu sou contra o
aborto - sussurrou Anna, hesitante. -, mas... se você acha que isso é o melhor
para você... - Elas se abraçaram. - Eu só quero a sua felicidade, Potter.



Kaitlin sorriu e afastou uma
mecha loira de cabelo que caíra sobre seus olhos lacrimejantes; levantou-se e se
arrumou uma última vez, olhando o reflexo de relance.



- Eu não sei porquê - disse.
-, mas estou com um ótimo pressentimento. Vamos.



 



*-*



 



A Sala Precisa nunca estivera
tão animada, com luzes azuis coriscando o ar, uma bola prateada brilhante
flutuando a uns metros de todos e vários estudantes vestidos com traje esporte
fino se acotovelando na pista, ao som de uma banda de rock. Kaitlin conhecia a
banda e não era muito fã, para falar a verdade; era a banda de um dos jogadores
de quadribol, Neal Caldwell. Ela nunca gostara muito dele, mas ele até era
bonito e sempre tentava impressioná-la.



A pista estava cheia demais, o
que fez com que ela se afastasse para um canto, sentando em um dos muitos sofás
aconchegantes de revestimento preto. Cruzou as pernas e ficou ali parada. Todos
pareciam tão felizes, dançando, se beijando, bebendo. Bebendo. Ela tirou uma
garrafa fina e prateada da bolsa e bebeu um longo e reanimador gole; viu Anna
beijando um garoto que ela não conhecia e bebeu mais um gole.



Por que ela viera à festa?
Seria mais inteligente ter ficado em seu dormitório; dormir cedo para acordar
disposta no dia seguinte para a longa - e cansativa - viagem. Mas ela fora
cabeça dura. Ela sempre era cabeça dura.



Um garoto sentou a seu lado e
ela espiou rapidamente ele; os músculos se retesavam sob o tecido fino da camisa
de maneira que deu para perceber que ele era muito gostoso; tinha um cabelo
castanho claro, rareando. O rosto retangular parecia esculpido.



Ela trocou as pernas, e abriu
um botão da camisa branca, expondo mais ainda dos seios; bebeu mais um gole da
garrafa minúscula e balançou o corpo no ritmo da música, inquieta.



- Oi... qual seu nome?



- Kaitlin Potter - disse,
sorrindo muito e apertando a mão que ele estendera. - e o seu?



- Ruben Herbes. Não nos
conhecemos?



"Nossa, Ruben... essa é muito
velha"



- Não, acho que não - disse
Kaitlin, calmamente. -, você é de que casa?



- Corvinal. Somos da mesma
turma de Feitiços - informou Ruben, enrubescendo.



- É? - Kaitlin vacilou. Nunca
o vira na vida. - Aah. Claro, eu já te conhecia.



- Você quer dançar?



- Adoraria.



Ele guiou-a para o meio da
pista, segurando sua mão com uma ternura suave; das enormes caixas de som,
irrompia Forever Young, na voz melancólica de Neal. Ruben deslizou os
dedos nodosos por suas costas, pousando-os alguns centímetros acima das nádegas
e puxou-a para si, fazendo com que seus corpos ficassem muito próximos; ela
podia sentir a sua respiração pesada e o seu coração batendo em compassos largos
e lentos. Seus olhos lacrimejaram por alguns instantes e ela deixou a cabeça em
seu ombro.



 



Let's dance in
style



Let's dance
for a while



Heaven can
wait we're only watching the sky



Hoping for the
best but expecting the worst



Are you gonna
drop the bomb or not



 



- Você não precisa me enganar
quanto a me conhecer ou não - murmurou Ruben, em seu ouvido. -, pois deu pra
perceber que você nem sabia meu nome...



- Ficou tão evidente assim?



- Acho que você não sabe
mentir...



- Desculpe - ela disse. -,
mesmo.



- Tudo bem... - disse ele, com
um sorriso sincero. - O passado agora não importa mais... só o presente. E o
futuro.



- Você está me cantando?



- Ficou tão evidente assim?



- Acho que você não sabe
disfarçar...



 



*-*



 



Hermione sorveu com
sofreguidão a vodca gelada, as mãos trêmulas envoltas na garrafa. Ela voltara às
suas origens afinal; por que não havia final feliz para ela? Por quê? Por que
aquilo tudo tinha que acontecer depois de tudo o que eles haviam passado? Depois
de Kirsten... Depois de toda aquela vida... Ainda podia se lembrar da noite em
que eles haviam se mudado para aquele mesmo apartamento, e ficaram sentados no
tapete com Peter nos braços sob a luz bruxuleante da lareira. Mas agora ela
estava sozinha. Ridiculamente sozinha; em um apartamento amplo e cheio de luzes
piscantes. Luzes coloridas que nada tinham a ver de como ela se sentia;
apagada... sem vida.



O efeito relaxante do álcool
começou a circular com mais rapidez através de seu sangue e ela desabotoou a
camisa, deixando os seios nús.



Onde Harry estava agora?
Hermione balançou a cabeça negativamente e reformulou a pergunta. Com quem
o Harry está agora? Isso. Quem seria a vadia da vez? A Kirsten da vez? A imagem
de uma mulher com seios muito grandes e quase de fora, unhas enormes e
escarlates, roupas mínimas para esconder só o básico lhe veio à mente e seus
olhos lacrimejaram de raiva; é, devia ser alguma mulher assim.



Maldita hora que Kaitlin
resolvera vir para casa; ela não estava em condições psicológicas para lidar com
a filha. Kaitlin e seus diversos problemas; Kaitlin e as suas discussões
diárias. Mas tudo bem. O milagre do Natal - e o milagre de Kaitlin vir para o
natal - iria ajudá-la a enfrentar tudo - mesmo que não acreditasse mais em
milagres. E natais.


 


 



N/A: Primeira vez que eu venho falar né xD e
bom... já tem uma semana desde que eu postei o primeiro capítulo e SÓ duas
pessoas comentaram .-. isso é triste ~: MAAS. tudo bem, eu venho postar um
capítulo. agora, só posto o próximo se 3 pessoas comentarem :b eu também mudei a
capa. até que gostei dessa o.o' eer... enfim. a escrita da fic tá progredindo
bastante, muitas idéias e o capítulo quatro tá evoluindo. agora. será que é
pedir muito que vocês comentem? ._.' por favor? ~:  bom. natal vem aí e
provavelmente eu vou sumir por alguns dias. mas como todo mundo viaja no
natal/ano novo praticamente, nem faria muito sentido eu postar. enfim... *: e
comentem e façam um pobre fanwriter feliz



 


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