No Beco Diagonal



Aqueles dias na Toca foram inesquecíveis. Harry comia do bom e do melhor no mundo bruxo, enquanto praticamente passava fome com os Dursley. A senhora Weasley era como a mãe que Harry nunca teve, e queria que tudo estivesse perfeitamente bem para ele. Harry até achava que ela se preocupava demais, mas gostava disso porque era uma sensação que ele raramente experimentava. Hermione chegou alguns dias depois que Harry já estava na Toca. Ele queria muito treinar um pouco de quadribol, andava se sentindo enferrujado, e queria mais ainda fazer uma inspeção completa em sua Firebolt à luz do sol de verão. Mas Molly andava tão preocupada com os últimos acontecimentos que preferia que o trio permanecesse dentro de casa.

Hermione andava de segredinhos com Gina. Desde que a ruiva contara a Hermione que detestava o fato de que Gui iria se casar com Fleur Delacour, e mais ainda que a loira estivesse morando com eles, as duas começaram a ficar muito juntas. Harry achava que estava sendo ignorado por Gina. Não sabia explicar, mas tinha um bolo no estômago cada vez que pensava nela. No café da manhã do primeiro dia na Toca, Gina acordara radiante. Seus longos cabelos ruivos estavam mais brilhantes do que normalmente e a menina tinha um aspecto saudável e feliz. Seu corpo também mudou um pouco, tinha curvas arredondadas e traços mais femininos. “Gina está se transformando numa mulher... e uma mulher muito... digamos... apreciável...”. Harry se pegou observando Gina falar enquanto tomava seu café da manhã. A menina fizera perguntas triviais, como se Harry não fosse um dos bruxos que mais corria perigo com a volta de Lord Voldemort. Como se ele simplesmente não tivesse passado por tantos apuros e perdido o padrinho que tanto amava. Ela chegava a ser um pouco irritante com tantas piadinhas, como se para manter viva a presença dos gêmeos Weasley na casa. Aliás, Harry sabia que Gina tinha herdado dos irmãos aquele humor sagaz que o bruxo tanto apreciava, mas que era incapaz de ter. Perto dela, Harry se sentia como um velho ranzinza e reclamão, sem nenhuma graça.

Chegou o dia de ir ao Beco Diagonal fazer as compras para o novo ano letivo em Hogwarts. Harry precisaria de muitos livros, como sempre, e já imaginava como seriam as aulas com o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Slughorn, que ele conhecera na vinda para a Toca com Dumbledore. Harry estava animado com a perspectiva de um professor que talvez pudesse ser bom na matéria, embora fosse difícil encontrar qualquer um pior do que a sapa velha da Umbridge. E Harry se lembrava bem disso todas as vezes que olhava a cicatriz em sua mão: “não devo contar mais mentiras”. Ir ao Beco Diagonal era sempre uma diversão! Toda vez que Harry ia para lá, ele se sentia de verdade no mundo bruxo, como se todo o resto do mundo trouxa não fizesse o menor sentido quando se estava ali.

O Ministério da Magia destacou um carro para levar os Weasley, Harry e Hermione até o Caldeirão Furado. Artur disse que, por ter sido transferido para um novo departamento, com a volta daquele-que-não-deve-ser-nomeado, podia ter mais regalias no emprego. Mas Harry sabia que o carro era para sua segurança, e isso não o deixava nada feliz. Era como se eles estivessem tomando um cuidado exagerado, que ele achava desnecessário, embora soubesse que o perigo era iminente. Mas todo aquele tempo Voldemort estivera por perto e não conseguiu apanhá-lo de verdade, não por mérito de nenhum defensor, mas somente por mérito dele mesmo! Mas enfim... se a Ordem queria defendê-lo de todas as formas possíveis, que o fizesse. Ele já não se importava muito com isso. Afinal, a Ordem também havia tentado preservar a vida de Sirius e, no entanto, aconteceu aquilo tudo dentro do Ministério, debaixo do nariz de todos. Não que a culpa fosse de alguém que não Belatriz, e Harry a odiaria por isso para o resto de sua vida e com todas as suas forças, quase tanto quanto odiava Voldemort.

Todos se acomodaram no carro e partiram para o Beco Diagonal. Harry ficou com Hermione e Rony, enquanto os outros foram fazer suas compras. Avistaram Draco Malfoy e seguiram o garoto até a Travessa do Tranco, onde descobriram que ele estava tramando alguma coisa. Ele queria que o vendedor da Burgin & Burkes explicasse como consertar um objeto que os garotos não conseguiram ver o que era. Harry ficou bastante desconfiado com essa atitude de Malfoy, e sabia que não ia sossegar até descobrir exatamente o que o menino estava tramando. Ele sabia que, com a volta de Voldemort, os Malfoy estavam novamente confiantes e do lado das trevas. Por isso, podia temer qualquer atitude estranha como aquela vinda de Draco. Hermione e Rony não ficaram tão preocupados quanto Harry, e logo ficaram afim de tomar um sorvete. Harry acabou deixando que os dois se afastassem um pouco e voltou à Travessa do Tranco para ver se conseguia avistar Malfoy novamente. Mas, na verdade ele avistou alguém que não esperava: Sibila Trelawney, a professora de Adivinhação, matéria que Harry menos gostava em Hogwarts. Ao avistá-lo, a professora já fez uma cara de quem ia fazer mais uma de suas previsões sobre a morte horrível e trágica de Harry Potter. O bruxo julgava que esse fosse o passatempo preferido de Trelawney: predizer a sua morte de todos os jeitos possíveis e em todos os momentos. Mas, na verdade, ela não disse nada. Ficou olhando para Harry, e o menino podia sentir o cheiro de xerez barato para cozinhar que a professora exalava.

- Olá, Potter. O que faz andando sozinho por estas ruas? Não é bom ficar aqui com esses tempos difíceis que estamos enfrentando, ainda mais você. Soube que o Ministério prende qualquer um que tenha uma atitude suspeita nesses dias. Mas o que estou falando? Afinal, o Ministério não prenderia o grande Harry Potter! Tenho lido no Profeta Diário que você é O Eleito, Potter. Claro que eu já sabia disso muito antes de todos, é o meu poder oculto. Mas vamos, vamos voltar ao Beco Diagonal, talvez possamos tomar algo no Caldeirão Furado... você me acompanharia?

- Ah... é...bem... – Harry não sabia se deveria ir com Trelawney, mas alguma coisa dentro dele o impulsionava a seguí-la, mesmo sabendo que ele se irritaria facilmente com as conversas da professora. – Bom, eu vou com a senhora, professora. Quem sabe assim não encontro o Rony e a Hermione pelo caminho?

- Ah, sim, Harry. Sua amiga Hermione, aquela que não assistia às minhas aulas. Realmente, vê-se de longe que ela não foi agraciada com a visão.

Trelawney adorava repetir impropérios sobre Hermione desde o dia em que esta abandonou a aula dizendo que tudo aquilo não passava de besteiras. Hermione igualmente se irritava com Adivinhação, e preferiu fazer aulas de Runas Antigas e Aritimancia, que julgava serem tipos de magia mais precisa que a Adivinhação. Harry tirou apenas um Péssimo em seu NOM de Adivinhação, e não pretendia continuar com as aulas agora que estudaria para ser auror. Mas até essa ambição estava um tanto quanto impossível, porque ele sabia que Snape não o deixaria estudar Poções com apenas um Excede Expectativas. Ele se lembrava bem que o professor havia dito que apenas quem tirasse Ótimo nos NOM´s poderia estudar para os NIEM´s com ele. Tudo bem, Harry já não suportava mais ter aulas com Snape desde as tentativas frustradas de aprender Oclumência.

-...E depois Dumbledore me disse que eu podia voltar a ensinar, mas que eu ia dividir as minhas aulas de Adivinhação com aquele... aquele... cavalo! É como se manchasse o nome da minha família de grandes adivinhadores e uma ofensa a minha visão interior...

Harry não conseguia prestar atenção ao que Trelawney dizia. A voz da professora fazia com que ele ficasse com sono. Chegaram ao Caldeirão Furado, onde Harry pediu uma cerveja amanteigada e Trelawney uma dose de whisky de fogo. “Bom, ela já está de fogo mesmo.” – Harry pensou. No momento em que se sentaram um pouco afastados dos outros bruxos presentes no bar, Trelawney se calou. Foi como se o ar ao redor deles tivesse se tornado mais pesado. Harry sentiu dificuldades em respirar e calafrios percorreram sua espinha. Trelawney revirava os olhos e gotas de suor apareceram em seu rosto. A professora fechou os olhos e, por um instante, pareceu a Harry que ela havia parado de respirar. Foi quando ela abriu bruscamente os olhos e começou a falar com uma voz estranha, mais grossa do que o normal, como se não fosse ela mesma. Por um momento, Harry achou estranho, até que conseguiu divisar as palavras em meio aos resmungos:

- Sete vezes o Lord das Trevas irá tentar, sete vezes ele terá a chance de matar. A última pode representar a morte daquele que o desafiar. Do sete ele veio, no rubro ele perecerá. A mistura do alvo e do preto o vermelho resultará. E assim a outra profecia terminará...

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