Esclarecendo Algumas Questões

Esclarecendo Algumas Questões



Cap 3 – Esclarecendo Algumas Questões

Estou escrevendo durante a aula de História da Magia, mas tudo bem, porque o Professor Binns está falando pra meia dúzia de alunos acordados. Aliás, acabo de reparar que Liv, que está sentada ao meu lado, está pendendo o pescoço levemente pra minha direção, acho que em minutos ela vai desabar em cima de mim.

Eu estava pensando sobre o fato de Harry não ter falado comigo durante o café. Não que ele seja O tagarela, especialmente comigo, mas ele pareceu fazer questão de só responder as perguntas com um ‘Ah ram’ ou um simples balançar de cabeça.

Rony não parece ter notado isso, porque estava falando por todos, comendo e falando, devo acrescentar. Péssima mania, essa. Mas Hermione observava Harry e quando eu notei isso, nossos olhos se cruzaram e eu ergui a sobrancelha pra ela como quem diz ‘O que aconteceu?’, e ela simplesmente deu de ombros como quem diz ‘Não sei’. Vou falar com ela mais tarde. Ah, tenho que escrever outro lembrete (péssima, péssima memória):

”Falar com Hermione sobre Harry e sobre o livro.”

Ah, eu estava certa quanto a estar exausta demais para conseguir sonhar, ou me lembrar do sonho. Acordei até feliz por isso e escrevi um breve bilhete para mamãe comentando tal ocorrido, já que eu sei que isso a preocupa.

“Mamãe, como a senhora estÿ E o papai? Chegamos bem e só estou escrevendo pra contar que não tive nenhum tipo de pesadelo essa noite, portanto fique tranqüila. Isso é ótimo, não é? Já estou com saudades, Ginny”.

Vou, na hora do almoço, até o Corujal e aproveito pra fazer o pedido d’O Pasquim. Ainda bem que os gêmeos me deram algum ouro, ou então eu teria que esperar alguma boa alma comprar o Pasquim e me emprestar.

É, eu sei que estou levando essa história de Nessie, um pouco a sério demais, mas é que eu fiquei pensando...e se esse monstro tiver a mesma aparência do monstro com que eu sonhei? Ninguém nunca realmente viu esse monstro do Lago Ness, então como eu poderia saber, no sonho, qual o formato dele? E que bicho era aquele no meu sonho? É só que eu fiquei curiosa...

(pausa)

Certo, Liv definitivamente está dormindo. Ela agora estì claramente, com a cabeça apoiada no meu ombro e eu não sei como é que o Professor Binns não vê isso. Metade da turma se encontra roncando a altos pulmões e eu mal posso ouvir o que o Professor diz. Fora que eu não anotei nada a aula inteira.

Hum, dei uma olhada para trás e vi Jenn deitada sobre os braços apoiados na mesa, enquanto Kelly, estranhamente, não está dormindo. Ela está anotando tudo! Oba, estou salva. Mandei um bilhete pra ela que só dizia “Ah, eu amo você, amiga” (eu tinha certeza de que ela entenderia o que eu tinha dito) e ela ergueu uma sobrancelha enquanto escrevia e depois me devolveu o bilhete que dizia:

”É, certo, eu sei o que você está querendo dizer. E quero deixar bem claro que sou completamente contra a sua política de viajar durante as aulas. grande suspiro (Sim, ela escreveu isso!) Mas pelo menos você não está dormindo, então eu vou emprestar minhas anotações.

P.S.: É a Liv que está roncando tão alto aqui por perto? Jenn está fazendo um barulho que se aproxima ao de uma panela de pressão, chiando“.

Eu não pude deixar de rir, quando li. O problema é que eu ri um pouco alto e metade da sala (a que estava acordada) olhou pra mim, curiosa. Eu consegui, inclusive, acordar a Liv – ela não estava roncando como a Kel perguntou, mas eu fiz questão de esconder o bilhete – que olhava, confusa, para mim.

Eu estou, nesse momento, me fazendo de santa, e fingindo que estou copiando qualquer coisa, porque o professor pareceu acordar do próprio transe e notou que alguém tinha rido. Ainda bem que não percebeu quem. Opa, acabou a aula.


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Então, na hora do almoço, eu fui até o Corujal. O mais estranho, é que eu tive novamente aquela sensação de que tinha alguém me observando. O que provavelmente é uma grande alucinação da minha parte, porque não tinha absolutamente ninguém olhando especificamente para mim, durante o meu trajeto até o Corujal. Nossa, eu to ficando paranóica. Só pode ser isso.

De qualquer forma, eu mandei o bilhete pra mamãe e o pedido de compra d’O Pasquim. Sabe, o corujal é realmente agradável – exceto pelo chão sujo e (o que eu suspeito que fossem) esqueletos de ratinhos - porque não tem vidro nas janelas e dá pra se ter uma ótima visão de toda a Hogwarts lá fora.

Enquanto eu voltava pro Salão Principal, eu fiquei pensando no quanto Hogwarts é grande. Não só o terreno, como eu tinha acabado de observar pela janela, mas o castelo em si. Tenho certeza de que nem Dumbledore conhece todos os lugarzinhos desse castelo.

De repente, me lembrei da Câmara Secreta e estremeci. Quer dizer, quase ninguém conhecia aquele lugar, nem sequer tinha ouvido falar dele, antes de tudo aquilo acontecer. Quantos outros lugares como aquele haveria ali, em Hogwarts?

Uma idéia começou a se formular (SOZINHA, devo dizer), na minha cabeça, mas tive que interromper o processo, porque estava com fome e tinha acabado de chegar ao Salão, onde as meninas já estavam sentadas, almoçando.

Depois disso, lembro de ter me juntado às meninas a caminho da aula de Transfiguração, quando vi Simas, com cara de bobo, conversando com Hermione. Ela parecia estar explicando algo (normalmente, você percebe isso de longe já que ela fica com uma cara de êxtase e faz amplos movimentos com as mãos), mas ele parecia estar pensando em qualquer coisa, menos no que ela explicava.

Eu olhei mais adiante e vi Harry olhando pra Mione, depois para mim e logo em seguida ele sorriu. Por um segundo eu não entendi, mas ele inclinou alguns centímetros a cabeça e eu pude perceber que ele apontava para Rony, que parecia mais vermelho do que o próprio cabelo. Eu abri um amplo sorriso, pensando ‘O Rony é tão bobo!’, e me dirigi para a aula.

No entanto, o que eu fiquei pensando depois não foi em Rony, mas em Harry. Ele não parecia mais que estava me ignorando (e, de repente, eu me perguntei...será que alguma hora ele fez isso mesmo?). Mione teria conversado com ele? ARGH, eu preciso me lembrar de perguntar isso também para ela. Eu só preciso arrumar tempo, não é, afinal ainda é o primeiro dia de aula e olha o tanto de coisa que eu já fiz.

Na aula de Transfiguração você raramente conversa, então ela parece demorar mais a passar, mas tudo transcorreu bem. Jenn, inclusive, ganhou cinco pontos para a Grifinória por responder uma pergunta. Nós entregamos nossos deveres de férias e na próxima aula, receberemos as notas. Tenho que estudar mais, sabe? Afinal de contas, eu preciso tirar boas notas, ou não terei muitas opções sobre escolher uma carreira, no futuro. Isso é algo sobre o que eu ainda preciso pensar, inclusive.

Quando as aulas terminaram, eu pensei em procurar Luna, mas estava me sentindo cansada. Fui direto à Sala Comunal da Grifinória e me joguei lì num canto qualquer, com as meninas. Lembro que Liv me perguntou alguma coisa sobre eu ter visto Ernesto Macmillan aquele dia, mas eu estava olhando em volta, procurando Mione. A avistei sentada perto da lareira, com Rony e Harry, tentando, pelo que me parecia, fazer uma longa lista de exercícios. Me afastei das meninas e fui até eles.

“Hum, Mione, eu posso falar com você um instante?”, pedi, enquanto Rony olhava pra mim aquela cara típica de ‘O que ela pode saber que eu não posso? Eu sou seu irmão!’. Ignorei propositalmente e Mione veio comigo até o dormitório. Assim que chegamos, ela disse:

“Eu imaginei que você queria conversar comigo, mas eu também vinha querendo te perguntar uma coisa. Harry não quis nos contar o que aconteceu lá no Expresso, antes de vocês voltarem pra nossa cabine. Afinal de contas, o que houve?”.

Não vou dizer que não fiquei surpresa por Harry ter omitido uma coisa – por mais boba que fosse – deles, mas, bem, ele era o Harry e quantos segredos será que eram possíveis dele manter? Então eu contei a ela o breve importuno que passamos com Malfoy e repeti, também, o que Harry tinha dito sobre Lucio Malfoy (não diretamente sobre ele, mas...ah, você entendeu).

Hermione franziu as sobrancelhas e disse “Bem, isso não é típico do Harry...mas não é só ele que está sendo atípico. O Malfoy também. Acredita que hoje, nós cruzamos com ele umas quatro vezes e ele não fez um único comentário, sobre nenhum de nós? O máximo que ele disse foi um ‘Saia do meu caminho, Potter’”, ela disse, ainda pensando a respeito. “Até o Rony percebeu e você sabe o quanto ele é desligado”, ela completou.

“O que será que aconteceu?”, eu perguntei, enquanto me deitava na cama e olhava para ela “Quero dizer, eu imagino que tenha algo a ver com o pai dele, você não acha?”, eu perguntei e ela concordou com a cabeça. “Sei lì primeiro Harry denuncia o pai dele, aí o cara é preso, mas consegue fugir e, de repente, meio mundo está procurando por ele. Não deve ser muito agradável ser ‘abertamente’ filho de um Comensal, numa época em que todos estão tão empenhados em acabar com o primeiro que aparecer”, eu disse.

“É...”, Mione disse “Você reparou como o Malfoy parece estar evitando Crabbe e Goyle? Quero dizer, eles dois estavam sempre atrás dele, fazendo o que ele manda, rindo das piadas dele e agora...não sei, acho que eles não são mais tão 'inseparáveis' quanto eram antes”, eu confirmei com a cabeça, pois também havia notado isso “Hoje eu os vi conversando brevemente, mas o Malfoy parece não prezar mais pela obediência cega que aqueles ogros tinham por ele. O que é muito estranho, já que os pais deles dois também são fugitivos então não deveria haver razão para eles começarem a se excluir mutuamente”.

Mas depois eu fiquei pensando...mas e se de repente é só o Malfoy que quer se excluir? Tì eu realmente acho que ele precisa sempre de uma platéia para poder viver ‘feliz’, mas...as pessoas mudam. Não é? Depois de toda essa conversa sobre ele ter um pai Comensal, talvez ele esteja repensando os critérios da vida e toda aquela coisa filosófica. Puxa, eu realmente acho que eu viajei, agora, não foi? Quero dizer...Malfoy? Pensando na vida? Pffff...

Mas voltando a minha conversa com a Mione, por alguns momentos, nenhuma de nós disse nada. Eu fiquei olhando para o teto e Mione parecia estar olhando pra um ponto cego acima da minha escrivaninha, pensando no assunto. Nesse momento eu me perguntei, silenciosamente ‘O que será que ele está sentindo?’. Raiva? Dor? Solidão?... Então, eu parei, chocada. Eu estava sentindo pena de um Malfoy? Oh, Deus. Isso não pode ser verdade.

Graças a Deus, interrompendo o fluxo dos meus pensamentos, Mione levantou e disse “Bem, não vamos chegar à conclusão nenhuma, sentadas aqui”, ela disse, sorrindo levemente e então com cara de quem está se lembrando de alguma coisa, acrescentou “Ah e sobre Harry...bem, acredito que ele tenha percebido isso sobre o Malfoy também, porque ele teve várias chances de tripudiar dele, como fez no Expresso, mas ficou quieto. Talvez Harry tenha se arrependido, sabe? Ele realmente não é de fazer aquilo”, ela disse enquanto descíamos para a Sala Comunal novamente.

“Certo”, eu murmurei, imaginando se ela estaria certa sobre Harry ter se arrependido. Nos dirigimos para a mesma mesa, perto da lareira, que ela estava antes, e eu me sentei no sofì ao lado de Rony, que estava sentado no chão segurando um pergaminho todo rabiscado, como se ele tivesse feito muitos erros.

“E então?”, ele disse “Sobre o que vocês duas estavam conversando?”.

“Rony”, eu disse, gesticulando, enquanto explicava, “A idéia de sair daqui e subir para o dormitório foi exatamente para que VOCÊ não pudesse saber do que se tratava”.

“Isso significa que vocês estavam falando de meninos, não é?”, ele disse, com as orelhas vermelhas. Isso me fez lembrar do acontecido mais cedo e eu lancei um olhar ao Harry, que parecia estar fazendo um grande esforço para não olhar pra mim, mas pude notar que era porque ele estava tentando não rir.

“Estávamos, é claro”, disse Hermione, calmamente. Não que ela tivesse mentido, mas eu tenho certeza de que foi só pra provocar o Rony.

A isso, Rony se engasgou com o ar, imagino eu e, dessa vez, eu é que tive que olhar pra longe pra não explodir em gargalhadas. Então me lembrei do livro sobre Sonhos que Mione me dera e resolvi perguntar logo, antes que Rony ficasse roxo.

“Mione, acabo de me lembrar de uma coisa. Você se recorda de ter me dado um livro sobre sonhos e pesadelos, há algum tempo?”.

“Sim, é claro que me lembro. Porque? Você está tendo alguma dificuldade com ele, Ginny?”, Mione perguntou, prestativa.

“Sonhou com aquele monstro de novo, Gin?”, Rony perguntou com uma ruga na testa.

“Monstro?”, foi a vez de Harry perguntar.

“Sim e não”, eu disse, me virando de Mione para Rony com um olhar gélido. Procurei ignorar a pergunta de Harry, e disse para Mione “Eu estou tento dificuldades sim. Estou tendo dificuldades em aceitar que VOCÊ acredita naquelas coisas, Mione”.

Ela me olhou como se não entendesse e perguntou “O que há para não acreditar?”.

“Bem, pra começar”, eu disse “O autor diz que sonhamos com aquilo que tememos. Olha, eu temo várias coisas nessa vida, mas não sou a única. No entanto, não vejo o resto do mundo tendo pesadelos, assim, com tanta freqüência” , eu disse, me sentindo desconfortável.

“Bem, isso é verdade, mas você já chegou na parte em que ele fala sobre pessoas que passaram por grandes provações?”, concordei e suspirei, já tinha adivinhado o que ela ia dizer. “Aquela coisa toda com o diário, o basilisco, Tom Ridlle...bem aquilo, certamente foi uma provação e tanto”. Nesse momento, eu senti que Harry estava olhando pra mim, mas decidi ignorar isso também.

“Logo, as pessoas que passam por provações estão sujeitas a terem pesadelos com mais freqüência, mas, sabe, você não deveria encarar como uma coisa ruim” e aqui, eu arregalei os olhos para ela. Não encarar pesadelos como uma coisa ruim? Com licença, mas quem tinha pesadelos dia sim, dia não, era eu ou ela?

Ela pareceu adivinhar o que eu estava pensando, porque se apressou em dizer “Calma, eu só quis dizer que, concordo com o autor quando ele diz que você pode ler mensagens ocultas em seus sonhos. Você pode perceber o que tem de errado na sua vida, se você ficar atenta aos seus sonhos” ela finalizou.

Certo...aquela era Hermione e ela não estava totalmente errada, por mais que eu desejasse ser infantil e dizer que não era agradável ter sonhos estranhos e sem sentido ALGUM. ‘Procurar mensagens ocultas nos meus sonhos’, eu pensei tristemente ‘Certo’.

Eu decidi que por hoje bastava, me levantei e disse “Obrigada, Hermione. Vou pensar sobre o que você disse”, murmurei um tchau para o Harry e enquanto me afastava, notei que tinha alguém me seguindo. Rony.

“Olhe, Gin”, ele disse, quando me alcançou “Nem sempre Hermione está certa. Quero dizer, quase sempre ela estì mas, ah...Bem, eu só quero dizer que ainda prefiro ter fé nos gêmeos”.

‘Eu também’, eu pensei, enquanto sorria para ele. Ele sorriu também e já ia se afastando, quando eu, maldosamente me lembrei de perguntar “Ron! Espera, me diz uma coisa”.

“O quê?”, ele perguntou, curioso.

“O que você vai fazer com relação a Hermione? Porque você precisa fazer alguma coisa” eu disse, enquanto o via ficar azul. “Ela está a cada dia mais bonita, sabia? E não ache que foi só você que notou isso”, aqui ele estava púrpura “Porque, você sabe, se você não fizer alguma coisa, alguém VAI fazer”, eu acrescentei, profetizando o óbvio.

“Ginny! Eu não, eu...!”, ele balbuciou “Oras!”, eu o ouvi murmurar antes de voltar para perto de Harry e Mione.

Fiquei muito satisfeita comigo mesma. Ele precisava acordar, ora essa! Ele convivia com Hermione há tanto tempo e continuava a agir como se ninguém soubesse que ele gostava dela. E eu nunca pude entender, como é que Hermione, sendo uma pessoa tão bem- resolvida, conseguia agüentar essa lerdeza de Rony. Bem, ninguém podia esperar que Mione fosse boa em tudo, não é? Ela tinha que ter um ponto fraco e, certamente, ele era Rony.

Fui até a mesa em que as meninas ainda estavam conversando e comecei a copiar as anotações da aula de História da Magia, que Kelly havia feito. Quando ela me passou o pergaminho, eu olhei atentamente e...bem, a questão é que ele estava cheio de corações desenhados. Parece que a cada pausa que o professor fazia para tomar ar, ela desenhava um deles. Oh, eu pensei, foi ela quem conheceu o tal carinha.

Olhei pra ela e disse “Você. Lá em cima. AGORA”. Ela pareceu entender no mesmo instante (sempre achei que podíamos ler a mente uma da outra), porque juntou seu material de bom grado, sorrindo e subimos.

Conversamos por horas e ela me contou toda a história. Bem, eu vou fazer um resumo: ela o conheceu enquanto passava as férias na França (essa era a única coisa na história toda que eu sabia, porque o que aconteceu por lá ela omitiu em todas as cartas que me escreveu. Cachorra!...Mas tudo bem, ela disse que foi porque tudo aconteceu rápido demais) e, aparentemente ela se apaixonou por esse tal Sam Rutledge logo que colocou os olhos nele e, antes que se desse conta, teve que voltar para a Inglaterra (enquanto ele ficou lì por estudar na Beauxbatons). Ela me contou isso tudo soando um pouco triste, mas já parecendo conformada. Eu não me agüentei é claro.

“E então? Ele é bonitão, romântico e tem verdadeira paixão por animais?”, eu perguntei, enquanto ela, que estava sentada na ponta da minha cama, sorria largamente.

“Acentue o romântico e troque o ‘paixão’ por ‘aversão’. Ele parece ser alérgico a um número enorme de bichos. Acredita que ele nem mesmo pode usar o correio-coruja? É o irmão dele quem recebe e despacha todas as cartas” ela disse, soando divertida.

“E bonitão?”, eu perguntei.

“Sim, positivamente bonitão”, ela disse com um sorriso ainda maior.

“Certo, me apresente o irmão dele, urgentemente.”, eu brinquei.

Ela jogou uma almofada em mim e gritou “Ele tem onze anos, sua depravada!”. Depois disso, caímos na risada e só depois de uns bons minutos conseguimos voltar ao normal.

“Você sabe, agora aquela máxima ‘quanto mais você gosta de alguém, mais longe de você essa pessoa está’ faz todo o sentido para mim”, ela disse, enquanto se deitava de barriga pra cima na sua própria cama e descosturava a ponta do seu cobertor.

“O que ficou decidido entre vocês?”, perguntei, tomando um pouco da melancolia da Kel pra mim.

“Que vamos tentar não pensar em nós mesmos como, bem, como um casal. Você sabe, caso alguém conheça uma pessoa especial e tudo o mais”, ela disse, meio descrente. Kelly deveria estar pensando que já tinha encontrado essa pessoa. “Nos correspondemos desde que eu voltei pra Inglaterra, mas sempre nos tratando como amigos, é claro”.

“Você parece conformada com isso”, observei.

“Bem, eu não posso pedir a ele que espere por mim um ano inteiro, até que possamos nos ver de novo” ela disse, como se aquilo fosse óbvio.

“Mas é justamente isso que você deveria estar fazendo”.

“Ah, Ginny. Você sabe que não é assim que as coisas funcionam. Ele é um cara super legal, é realmente bonitão...imagina o número de garotas que dá em cima dele diariamente! Eu ia ficar louca, aqui, imaginando aquelas assanhadas se jogando em cima dele”.

“Ceeerto, porque você não está imaginando isso agora, de qualquer modo, não é?”, eu disse, soando o mais sarcástica possível. Ela suspirou e me deu um sorriso triste.

“Lembre-me de nunca tentar ganhar uma discussão de você”.

Eu engatinhei até a ponta da sua cama e disse “Ei, ânimo! Ele está longe sim...mas não pra sempre. E já que vocês são dois bobos que não percebem o tamanho da tolice que estão fazendo...tente apenas não sofrer demais, sim? Sofrer por algo que nem mesmo está acontecendo”, eu disse, me referindo ao fato de que ela não deveria ficar pensando nele com outras garotas, já que ela se auto declarara não-namorada dele. Se ela não acordasse com aquilo, eu não sei o que mais teria que dizer.

“Você sabe ser cruel, não, é Ginny? Mas ao seu modo doce e gentil”, ela disse, com os olhos tristes, mas pude ver que não estava chateada com o que eu disse. Nós somos amigas há tempo suficiente para não nos chatearmos com nossas pequenas manias.

“Certo. Você pegou o espírito da coisa”, eu disse. “Você vai descer para jantar?”, eu perguntei, andando até o banheiro. “Eu acho que não tenho coragem de descer aquelas escadas, sabe, é muita ginástica para essa hora da noite”.

“É, acho que já vou dormir”, ela disse, olhando pela janela.

Eu tomei banho e quando voltei, disposta apenas a escrever no diário e dormir imediatamente depois, ela já estava dormindo.

(pequena pausa)

Jenn e Liv já voltaram também. Estão aqui pedindo, praticamente implorando, para que eu apague a luz. Certo, certo.

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