Suicídio?



“Now I will tell you what I´ve done for you


Fifty thousand tears I´ve cried


Screaming, deceiving and bleeding for you


And you still won´t hear me”


(Going Under – Evanescence)


No dia seguinte ela levantou-se bem cedo e dobrou o lenço lavado e passado de Draco (não queria dar-lhe motivos para lhe encher o saco) e desceu calmamente as escadarias que levavam até o dormitório da Grifinória, passando pelo retrato da Mulher Gorda, relembrando de tudo que havia passado na noite anterior. Porém no caminho para o salão principal ela se viu forçada a parar ao notar uma voz conhecida.


- Malfoy você é um idiota, como pôde pensar que eu deixaria barato o que me fez? Dar em cima da minha namorada... E tem sorte por eu só ter lhe deixado esse arranhãozinho, isso foi só um aviso, pois da próxima vez você não escapa.


- Acho que sua massa encefálica foi toda para os músculos do braço, babaca. Eu só estava conversando com ela, mas se você se sentiu tão ameaçado deve ser porque não confia em você mesmo, ou então sabe que nenhuma garota resiste ao meu charme._ Draco despejava as palavras com cuidado, todas muito bem calculadas para atingir o adversário, preferia ataques intelectuais a físicos.


- Eu só não te mato agora porque pode aparecer alguém, mas na primeira oportunidade você me paga..._ falou o garoto claramente sem resposta para as insinuações do loiro.


Gina não pôde deixar de se preocupar ao ouvir isso, a menina se perguntava se o garoto não estaria muito machucado, odiava ver pessoas feridas, mesmo alguém como Draco Malfoy, decidiu que só havia um jeito de descobrir as respostas para suas perguntas, indo até onde o garoto se encontrava. Esperou até que os outros garotos se afastassem para que pudesse tentar uma aproximação.


- Malfoy? Você está bem? Nossa esse corte na sua mão está enorme e sangrando demais, espere, deixe-me ajudá-lo._ ao falar isso, Gina tirou do bolso o lenço que havia recebido do garoto na noite anterior e começou a secar o sangue que corria das mãos de Draco, em seguido enrolou o lenço em sua mão de forma a estancar o sangue.


Draco espantou-se, pois não sabia a razão da ruiva estar sendo tão gentil com ele que sempre a tratava mal, não sabia o porque de ela aparecer para lhe ajudar quando ele se machucou, nunca ninguém havia tratado o garoto daquela forma e ele estranhou isso.


Os cabelos da menina caíam por seu rosto deixando-o encoberto, o que podia ser considerado sorte, pois ela estava muito envergonhada o que a deixava rubra.


Enquanto isso uma voz na cabeça de Draco lhe perguntava porque ele deixava que ela lhe tocasse, pois a menina era uma Weasley, e o loiro fora criado para odiá-la, ele a achava suja, e nojenta, e decidiu que não podia deixá-la aproximar-se dele daquele jeito.


- Solte-me Weasley nojenta, o que é isso? Estás arranjando um pretexto para me tocar, é? Eu não preciso de sua ajuda e nem vou precisar jamais, agora saia daqui._ falou em tom de ordem.


- Eu só estava tentando ajudar, mas se quer continuar machucado tudo bem, eu não me importo e nunca vou me importar com um Malfoy, nem com ninguém mais._ falou a ruiva, em seguida pegou seus livros e desceu ao salão principal, onde se sentou afastada dos demais já que não queria ver Harry, pelo menos durante um tempo.


Draco não parava de pensar no porque de ter se deixado levar, não conseguia descobrir o que tinha aquela garota para que o fizesse baixar a guarda durante um tempo, mesmo que fossem apenas alguns segundos, ele ainda se sentira ameaçado com a presença de Gina. Ao que baixou o olhar para o chão notou que nele estava um laço de fita vermelho, que supôs ser da menina, pegou-o e guardou no bolso das vestes tomando assim o rumo da enfermaria.


Durante a tarde, quase todos iriam para Hogsmeade, mas Gina estava decidida a ficar em Hogwarts, já que não teria companhia para um passeio como aquele. Resolveu ir para o jardim onde poderia sentar-se na beira do lago e escrever o que ela sentia, era o que ela sempre fazia quando se sentia triste, no que sentou encostada em uma árvore começou a pensar para quem escreveria:


- Nossa para quem eu escrevo? Eu não tenho ninguém para quem escrever e falar sobre mim! Tudo bem, se ninguém se dispõe a me ouvir vou escrever para um amigo imaginário.


O que ela não havia percebido é que na mesma árvore, somente do lado oposto, Draco também estava sentado e podia ouvir sua voz, prestando atenção a cada verbalização de seus pensamentos e até mesmo demais sons e compreendendo a direção do vento, ficou-se ali a planejar onde poderia usar dos fatos narrados para irritá-la qualquer que fosse o dia.


Querida July,


Eu sei que você não existe, afinal maluca eu não sou, mas como não tenho amigos a única solução é escrever para você que será minha amiga durante o dia de hoje. Espero que sejamos boas amigas!


Nossa eu não sei o que deu em mim para gritar com o Rony daquele jeito, afinal ele é meu irmão e merece um pouco de privacidade, longe de mim essa garota estúpida, mesmo assim eu só queria que eles me aceitassem como eu sou, independente de qualquer coisa.


Eu estou muito triste, pois eu vi o Harry e a Cho se beijando ontem e não pude fazer nada, mas afinal do que eu estou falando? O que eu iria fazer? Bom, se eu não posso ser feliz que ao menos a pessoa que eu amo seja, mesmo que seja longe de mim, o que não é uma surpresa afinal todo mundo fica longe de mim!


O que eu mais achei estranho não foi o fato de ele ter beijado a Cho, porque eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, não, o que me surpreendeu foi o fato de que quando eu comecei a chorar, Draco que estava na mesma sala ofereceu o lenço dele para que eu pudesse secar as minhas lágrimas, e apesar do olhar dele ser frio como o de sempre, o tom de voz dele foi na medida do possível gentil, eu realmente não esperava isso dele.


Porém... Hoje mais cedo um garoto lhe machucou, cortou a sua mão, eu ouvi o menino falando com ele e resolvi ajudá-lo, não sei porque July, afinal ele é um Malfoy, mas mesmo assim fui ajudá-lo, peguei a sua mão machucada e enrolei o lenço dele nela, no início ele pareceu que iria deixar, mas depois ele começou a me insultar e eu vi que tudo era como antes, sorte que ele não viu meu rosto porque eu fiquei morrendo de vergonha! E eu que pensei que ele tinha sentimentos, que ele não era de todo tão mal assim, que talvez ele só não tivesse carinho das pessoas, e que por isso não soubesse amar.


Aqui estou eu sendo idiota de novo, porque eu sempre tenho que ver o lado bom das pessoas não importa o quanto elas pisem em mim? Por Merlim, eu só queria ser aceita, mas vejo que não sou, talvez eu não venha a te escrever de novo, porque eu perdi a vontade de viver, não tenho mais motivo, aliás nunca tive. Acho melhor eu acabar logo com isso, com essa existência miserável que eu chamo de vida, mas você não se importa mesmo, afinal você não existe, pelo menos você tem um motivo razoável para isso, as pessoas normais não se importam sem motivo, talvez quando sentirem minha falta, uma semana depois com certeza, já não mais estarei aqui nesse mundo onde nunca serei aceita...


Adeus July,


Você apesar de tudo me ouviu, a primeira pessoa que fez isso, ironia não?
E então ela se levantou, pegou sua varinha, queimou a carta, e saiu rumando a um caminho já programado em mente...


“Eu realmente não imaginava como essa garota se sentia, como ela consegue ser tão doce?” Pensava Draco, mas ao mesmo tempo em sua mente passavam pensamentos que lhe diziam que ele não deveria se penalizar, afinal ela era uma Weasley, era pobre e ele sempre fora criado para odiar essa gente. “Mas ela vai cometer suicídio, eu tenho de fazer algo, ela pode ser desprezível, mas eu vou me sentir culpado se não salvá-la. Droga, porque ela me faz sentir pena?”. Pensando nisso Draco saiu correndo para procurar Gina e impedi-la de cometer tal loucura.


Ela já estava no alto da torre de astronomia quando ele a encontrou. Em pé em cima do parapeito, ela olhava para baixo, o vento batia em seu rosto e cabelo fazendo com que eles voassem, uma sombra de medo e dúvida passava pelos seus olhos, provavelmente pensava em toda sua vida, e provavelmente por isso tomou uma decisão, ia se jogar quando...


- Weasley não faça isso!_ falou Draco, um tom preocupado na voz.


- Porque não deveria? Ninguém liga!_ Gina respondeu, pois havia se surpreendido com a voz de Draco e com o fato de ele estar ali tentando impedi-la de se matar, quando ninguém mais o faria.


- Ora porque mais? Você vai sujar o chão com restos de Weasley. Hahaha..._
Draco deu uma gargalhada.


- É... Parece que todos vão pensar o mesmo. E justamente é essa a razão de eu querer cometer suicídio. Sabe, por um instante eu até pensei que estivesse preocupado._ Risada irônica...


- Não é por isso, eu sou um tolo, quando fico nervoso começo a fazer brincadeiras de mal gosto, me perdoe, eu realmente estou preocupado, não faça isso, não vale a pena!


- Quem é você para me dizer o que vale a pena ou não? E além do mais, você nem sabe como eu me sinto, para dizer se vale a pena._ respondeu a garota ferozmente.


- Posso não saber como você se sente, mas sei de uma coisa, nada é motivo para que você acabe com a sua vida, nenhuma coisa vale mais do que a sua própria vida, eu te garanto que tenho mais problemas que você e nunca recorri a essa opção.


- Acho que ninguém nunca ignorou sua presença, a minha já, o tempo todo, é difícil até que meus próprios pais saibam que eu existo, para você ver a minha realidade como é, eu estou aqui, fazendo confissões com meu inimigo.


- Você sabe como todos são comigo? Todos a minha volta me odeiam, eu não tenho amigos, só aquelas duas amebas crescidas que mais servem de guarda-costas, meus próprios pais me odeiam, sinceramente, eu preferiria ser ignorado!


Ao que percebeu que Gina havia sentado na janela para conversar e se distraíra um pouco, Draco tentou uma saída drástica, afinal era sua única saída para tirar a garota de perigo, com a agilidade que desenvolvera jogando quadribol todos os quatro anos de escola, lançou-se sobre a menina, derrubando-a para dentro da torre e subindo em cima dela de forma a deixá-la imobilizada.


- Ora seu... Eu queria me jogar, mas sinceramente eu nunca havia lhe visto dessa forma que você falou agora.


- Eu sei, ninguém nunca viu. Agora não adianta tentar se soltar porque eu não vou deixar você se jogar, nem que seja a força.


- Eu não vou me jogar agora, mas quando você não estiver olhando eu me jogo._ falou a menina rubra, pois ficar naquela posição com Malfoy a estava deixando cheia de vergonha._ Será que você poderia sair de cima de mim agora?


- Desculpe, foi o único jeito de te impedir. _disse o loiro enquanto se levantava_ E quanto a se jogar depois, você não vai fazer isso, porque eu ou grudar em você vinte e quatro horas por dia.


- Não, você não vai._ disse a menina em desafio.


Para que aquele foi um julgo momento em que ninguém poderia sequer imaginar os dois puseram-se a rir, juntos. Recompondo-se falaram ambos:


- Mas não pense que eu serei seu amigo por causa disso.


- Até parece que eu iria querer que um Malfoy fosse meu amigo.


- Eu só vou te seguir para impedi-la de fazer uma besteira.


- Não que eu queira também.


- Mas é necessário._ Draco deu a última palavra sobre o assunto.


- Mas me diga como você sabia que eu estava aqui?


- Eu não sabia, vi você aqui em cima e pensei que você tinha potencial para o ato._ jogou algumas palavras. O que poderia dizer, que estava sentado no lado oposto a ela, na arvore, próximo ao lago, e que ficou sensibilizado com as palavras sonorizadas. Que tolice...


- Tudo bem. Eu vou dormir. Vou mesmo, pode deixar que por hoje eu não vou tentar suicídio novamente._ acrescentou ela ao ver a expressão de desconfiança no rosto do garoto.


- Então está bem, se cuida Weasley.


- Pode deixar.


Assim os dois foram para seus dormitórios. Ambos pensando no que havia acontecido. Estaria surgindo uma nova amizade? Ainda não... Os dois pensavam no que tinham aprendido com suas famílias, na sua rivalidade. Enfim, ainda não gostavam um do outro, não o suficiente para serem amigos.


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