A promessa



Estava frio. Muito mais frio do que de costume dentro daquele túnel.

Iluminava o corredor de pedras com uma tocha que teve a precaução de pegar antes da busca. Estaria ali? Tinha que estar ali! Onde mais estaria? Era onde se escondia, se fechava para tudo e todos... para onde fugia.

O círculo de luz da tocha iluminou a porta do final do corredor. Antiga, e muito resistente. Refugio e esconderijo para os tempos de guerras. Mas agora era apenas um lugar abandonado, que se tornou o lar de alguém que também fora abandonado.

Ele encostou seu ouvido na madeira, na esperança de ouvir algum sinal de vida do outro lado. Nada. Nem ao menos um ratinho correndo. Se afastou, olhando-a desanimado. "Abra!" Ordenou com o pensamento. Inútil, ela não obedecia quem não era mais bem vindo.

Desistiu, e suspirando cansado, estava retomando seu caminho quando uma voz fraca ecoou pelas paredes de pedra:

_ Sei que está aí.

_ Por favor, _ ele voltou para a porta _ deixe-me entrar!

_ Não. Dessa vez foi de mais.

_ Não falaram sério!... Nunca falam sério!

A voz riu. Um riso fraco e cansado como a própria voz.

_ Não ria! Falo sério! Você só vai fazer mal a você mesmo!

_ Não... não faço mal algum para mim. Ao contrário, faço por mim o que vocês NUNCA FIZERAM... _ uma réstia de luz roxa surgiu por debaixo da porta. A voz falou novamente, agora forte e determinada _ ...Estou me dando um chance de viver! De ser tudo o que não pude ser vivendo na sua sombra! _ riu novamente, mas agora era uma risada aguda e descontrolada.

_ NÃO! _ largou a tocha e se jogou na porta tentando abri-la sem resultado. _Não faça essa besteira! _ A luz aumentou, a porta começou a tremer. _ Não faça isso!

_ Eles não vão perceber que eu não estou mais entre a família. Nunca perceberam que eu existia!

_ Mas você existe! _ ele batia desesperado tentando fazer sua voz sobrepor o som de ventania que vinha por de trás da porta _ Eu sei que você existe! E POR ISSO VIM AQUI TE EMPEDIR DE FAZER ISSO!

_ Não... _ a voz falava com raiva e desprezo _ você veio aqui pelo seu próprio interesse. Você quer ir no meu lugar!!!

_ Não! Apenas quero que você volte e me ajude a tentar mudar essa realidade!

_ Realidade? Ilusão? Qual é a diferença? O que ganho vivendo desse jeito? Eu vou voltar um dia!... E você não poderá fazer nada para me impedir!!! _ O som aumentou ainda mais, quase o deixando surdo. A força do vento era tanta que arrancou a porta do seu lugar e a arremessou longe. Por pouco, ele escapou de ser atingido, mas a luz ofuscaste que vinha da sala não o permitiu ver nada. Se desequilibrou e foi jogado pela rajada de vento que saiu uivando de lá de dentro. Bateu a cabeça com força no chão e tudo ficou escuro.


***

"... realidade...ilusão... Eu vou voltar um dia...realidade...ilusão... E você não poderá fazer nada para me impedir

...realidade...PESADELOS!!!"

_ NÃÃÃO!!!

_ Meu filho? o que aconteceu? _ a porta do quarto se abriu de repente e uma mulher com longos cabelos loiros entrou correndo e o abraçou _ Você estava sonhando de novo?

_ Sim. _ ele respondeu sentando-se na cama _ De novo e de novo e de novo. Todas as noites!

_ Eu sei que não foi fácil para você. Mas não se preocupe, amanhã você volta para a escola, e quem sabe esses sonhos parem de te perseguir.

_ Não vão parar mãe. E em Hogwarts vai piorar. Todos vão me perguntar: O que aconteceu com sua irmã? Onde ela está? E eu vou te que dizer: Minha irmã? Nada. Ela só se matou nesse verão. Ela tinha complexo de rejeição e não suportava mais. Resolveu se pulverizar!

_ Não fale assim!

_ Mas era assim, mãe! _ Ela achava que vocês não gostavam dela por ela ser diferente.

_ Não era desculpa para fazer o que ela fez! _ o tom de voz da mulher se transformou _ Sua avó era assim! E ela se matou por acaso?

_ Ela era deixada de lado por acaso?

_ Como assim?

_ Nunca reparou mãe? Ela ir para a Corvinal, viver atolada em livros?... ela era muito mais inteligente que qualquer outro aluno da escola, as melhores notas eram delas! Na escola ela era admirada por todos, mas em casa nunca prestavam atenção nela. Por que só tinham tempo para o herdeiro da família!!!

_ Não! _ ela começou a chorar _ ... n-não diga isso! Não é verdade!

_ Aceite mãe. Nada disso teria acontecido, se tivesse dado mais atenção à ela! _ Ele saiu da cama e se afastou, olhando com uma mistura de raiva, medo desespero para a mãe _ Vocês são os culpados!!! E NÃO QUEREM ACEITAR ISSO!!!

A mulher saiu do quarto correndo fechando com força porta.

_ Eu, mãe, fui o único que fez alguma coisa para ela. Eu fui o único que tentou ajudá-la. Hoje eu vou voltar!.. e vou procurar por ela.


***

Tudo estava do mesmo jeito que aquela noite depois da discussão. A porta caída ainda estava impedindo a passagem no corredor. Agora com sua varinha em mãos, ele iluminou a sala. Estava totalmente destruída, não havia nada inteiro. Pedaços de vidros de todas as cores enfeitavam o chão como um mosaico disperso. Pilhas de papéis e livros atirados por todos os lados.

_ Onde está? _ ele começou a revirar os livros _ Tem que estar aqui!

Estava jogado em um canto, com uma fina camada de poeira de uma semana. Ele pegou o pequeno livro roxo e o limpou com as vestes. Começou a procurar de novo e achou, embaixo de um pedaço de madeira, a outra coisa que estava procurando: um livro mais grosso com capa de couro.

Nunca tinha pensado em tocar nesse livro. Demorou um tempo para ele criar coragem e conseguir pega-lo.

_ Um livro antigo... _ abriu e o folheou _ ... tão negro quanto o couro da sua capa.

Ele achou a página com o que precisava. Montou com pedaços de madeira um lugar para colocar o livro aberto. Colocou o livro roxo e pôs a mão esquerda sobre ele. Pronunciou as palavras do feitiço. Que língua seria aquela? Latim? Não. Ele sabia a pronunciar, embora não fizesse a mínima idéia do que estava falando.

Por debaixo da sua mão a luz, roxa como a daquela noite, começou a brilhar. Ele sentiu a mão queimar, mas não mexeu um dedo. A queimação foi diminuindo até cessar, junto com a luz.

_ Incendio! _ ele apontou a varinha para a lareira e chamas vivas apareceram _ Nunca mais ninguém vai fazer o que você fez, minha irmã! _ ele jogou o livro negro dentro dela e esperou, até que o fogo o consumisse inteiro.

_ Agora... basta esconder esse livro em algum lugar seguro. _ ele olhou para o livro roxo com o formato de sua mão impressa nele _ E se um dia você voltar, eu estarei a aqui.


***

Dois séculos depois disso, mas no mesmo local.

_ O que é isso? _ Draco remexia em um baú velho e antigo, que achara em uma das numerosas salas cheias de coisas que seus antepassados acumularam durante séculos.

Era seu último dia de férias. Já havia comprado todos os materiais que iria precisar para o quinto ano em Hogwarts. E, como sempre, não tinha nada para fazer. Resolveu procurar nas bugigangas guardadas algo proveitoso para mais um ano de escola. Proveitoso para as aulas, é claro. Aquele baú estava repleto de antigos livros, roídos por ratos e perdendo folhas.

Porém esse baú parecia não Ter nada do que ele estava procurando. Eram todos na maioria livros de culinária mágica ou alguns do tipo: "Como fazer pequenos consertos e 3 lições". O céu já estava escurecendo, e a sua paciência em procurar algo também, quando um pequeno livro lhe chamou a atenção. A capa era recoberta por pele de Dragão roxa e havia uma pequena escrita em baixo: "Realidade e pesadelos - O livro dos descontentes". Também tinha uma marca negra com o formato de uma mão impresso na capa. Draco colocou sua mão em cima da impressão e viu que ela era exatamente do mesmo tamanho e formato que a sua. Uma tontura começou a escurecer sua visão, ele retirou a mão e a tontura passou.

_ ... livro dos descontentes? _ leu ele novamente em voz zombadora, abrindo o livro _ Vejamos se esse... _ ele não teve tempo de concluir a frase.

O livro saiu de suas mãos e começou a flutuar alguns centímetro acima de sua cabeça.

_ Ei! Que história é essa?!

As folhas começaram a ser viradas como se um vento estivesse passando por elas. Uma risada aguda ecoou pelo local e Draco olhou para os lados procurando seu dono.

O livro se iluminou com uma luz roxa e Draco sacou sua varinha se preparando para o quê quer que fosse. Mas antes que pudesse reagir, toda a luz roxa se juntou em uma bola luminosa e o atingiu na cabeça.

Ele caiu desfalecido no chão e com o olhar embaçado, viu que alguém se aproximou dele.

_ Quem é você?

A pessoa deu um riso abafado e sussurrou sibilando as palavras:

_ Seu pesadelo querido! _ sumiu.

_ Espera eu... eu... _ Draco não tendo mais forças para falar, desmaiou.


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