Primeiras Estórias

Primeiras Estórias



- Você vai sair sem comer nada, Ninfadora?

- Não me chame por esse nome!! – a bruxa metamorfa transformou o rosto no monstro mais horrendo em que conseguiu pensar.

Sentados ao redor da mesa, Harry e Rony observavam a cena que seria comum se o local fosse a casa dos Weasley. A mãe de Rony vivia preocupada com os filhos. Só que desta vez as protagonistas da discussão eram a auror Ninfadora Tonks e sua mãe Andrômeda. Gui deu uma piscadela para os dois garotos a sua frente e comentou em meia voz: "Bom saber que eu não sou o único a ouvir esse tipo de coisa depois dos 20..."

- Mãe, pela última vez: eu sei me virar sozinha! E eu não estou com fome.

- Mas, Ninfadora...

- Grrrr... – a auror mais jovem do Ministério saiu pisando duro da cozinha.

- Crianças... – Andrômeda se deixou cair numa das cadeiras distribuídas ao redor da mesa. Seu rosto denotava aborrecimento e preocupação.

- São todas assim, Andie. – a Sra. Weasley acabara de mandar quatro panquecas direto para o prato de Harry e Ron. – Se acham adultos, mas, no fundo... Veja o Gui, por exemplo...

- Opa, tô atrasado – o filho mais velho de Molly e Arthur Weasley levantou-se depressa e desaparatou da cozinha antes que a mãe começasse a reclamar de seu cabelo.

- Eu não disse? – a Sra. Weasley resmungou. – Todos iguais. Deixou metade do suco de abóbora no copo...

Rony e Harry riram disfarçadamente. Ainda assim, era uma risada triste. Não agradava o garoto a idéia de ficar enfurnado naquela casa tão cheia de lembranças. Tudo ali resgatava a imagem de Sirius, e o pior, a de um Sirius triste e taciturno. Sem perceber, Harry deixou que seus olhos parassem no rosto da Sra. Tonks.

- Mãe, nós não vamos voltar para a Toca? - Rony coçou a cabeça enquanto encarava o prato de café da manhã. Panquecas lembravam-no de casa.

- Vamos sim, querido. Só estamos esperando a autorização de Dumbledore para que Harry possa ir conosco.

Rony sorriu para o amigo, contente. Sabia o quanto Harry estava detestando aquelas férias. Grimmauld Place parecia deixar o garoto ainda mais amargo que a companhia dos Dursley. Na Toca seria mais fácil distrair Harry.

O garoto de óculos devolveu o sorriso, porém sem muita empolgação. Queria deixar a antiga mansão dos Black o quanto antes, mas sabia que a simples mudança de endereço não apagaria a horrível sensação que tinha dentro do peito desde junho passado. Ele espetou o garfo na panqueca e, sem se dar conta do que estava fazendo, voltou a pousar os olhos na Sra. Tonks.

Harry não conseguia entender bem por que aquilo acontecia. A mulher tinha os olhos negros fixos no espaço e parecia estar com os pensamentos muito longe dali.

- A Tonks passou por aqui? – a voz de Remo despertou Harry de seu torpor.

- Já deve estar no Ministério – respondeu a mãe da auror, desgostosa. – E por que é que você não a chama pelo nome, Remo?

- Bem, da última vez que fiz isso, ela não reagiu muito bem... – ele tentou se explicar.

- Ai, ai. Achei que isso era rebeldia adolescente. Mas ela só gosta de ser chamada pelo sobrenome... Isso é tão impessoal... E Ninfadora é um nome tão bonito!

Remo riu com gosto da mulher, que o encarou brava. Então Harry entendeu o que lhe chamava tanto a atenção. Seu olhar era idêntico ao de Sirius, em todas as situações. Quando ela ria, quando ficava preocupada, quando esbravejava... O garoto lembrou das palavras do padrinho um ano atrás, naquela mesma casa. "Andrômeda era minha prima favorita".

- E então, teve progressos, Andie? - Remo sentou-se ao lado de Harry, e derramou um pouco de café dentro de uma xícara.

- Nada. Acho que minha tia deve ter jogado tudo fora... E, bem, se ela não fez isso, Monstro deve ter feito. De qualquer forma, estou pensando em procurar no loft.

- Nossa, eu não quero nem imaginar o estado que aquilo deve estar. Se você tivesse visto essa casa um ano atrás, Andrômeda.. E fazia só dez anos que sua tia tinha morrido. O loft está fechado desde que Sirius foi mandado para Azkaban.

- Loft? – Harry, que estava mudo até aquele momento, olhou com ar interrogativo para seu ex-professor de DCAT. Mas foi a Sra. Tonks quem respondeu:

- O lugar onde Sirius queria levar você para morar tão logo fosse inocentado, Harry! Ele morou lá desde que deixou a casa dos seus avós, um ano depois de fugir daqui...

Andrômeda deixou que os olhos corressem pela cozinha e Harry adivinhou que ela estava relembrando a antiga aparência da casa. Ela e Sirius eram primos e as famílias deviam se visitar freqüentemente... Se bem que o nome dela também tinha sido queimado, então provavelmente ela não devia ser muito benvinda àquela casa...

- Você não gostaria de ir lá comigo? - ela fitou-o com os olhos intensamente negros.

- Está louca, Andie? - Remo e a Sra. Weasley perguntaram ao mesmo tempo, e até Rony tinha os olhos arregalados de espanto.

- É claro! - Harry respondeu sem hesitar, antes que ela pudesse mudar de idéia.

- Vou falar com Dumbledore amanhã mesmo, na primeira reunião do dia. Você e Ninfadora podiam fazer a nossa escolta, não acha, Remo?

- Não! Lógico que não! - Remo estava quase fora de si. - O que deu em você? Tirar o garoto daqui? Isso é brincar com a morte, Andrômeda!

- Lupin está certo. Você não pode fazer isso! Parece até que tem o mesmo sangue impulsivo de Sirius.

- Isso eu tenho mesmo, Molly. E, bem, pode até ser que eu esteja mesmo arriscando a vida de Harry, mas... Por Merlim, eu não sei como vocês conseguem respirar dentro desta casa! - o tom de voz dela era quase de desespero.

- Você diz isso porque tem lembranças indigestas dessa casa, Andie. Harry... - Remo tentou contornar a situação. Tirar Harry de Grimmauld Place era um despropósito.

- E eu decerto não tenho?

O garoto de olhos verdes brilhantes estava de pé, exalando impaciência por todos os poros. Já tinha quase 16 anos, não podiam ficar decidindo tudo por ele. E ele já estava resolvido: com ou sem a permissão de Dumbledore ele iria ao loft.

Rony assistia a cena mudo e desconfortável. Se ele próprio detestava aquele lugar, o que não devia pensar Harry de estar ali, com todas aquelas lembranças constantes da morte de Sirius, com o nome da assassina da única família que ele conhecera na vida estampada numa das paredes acarpetadas?

- Eu vou arrumar minhas coisas, Sra. Tonks. Vou com a senhora, quer Dumbledore queira, quer não.

- Espere aí, mocinho - ela olhou brava para ele. - Você vai obedecer Dumbledore, sim. De qualquer forma eu tenho um palpite de que ele deixará que você venha comigo. Eu repito o convite, Remo: venha conosco. Já que temos que lidar com lembranças, que sejam as menos dolorosas.

- Isso é muito perigoso, Andie - Remo tentava argumentar, mas no íntimo já estava convencido.

- Eu vou dar mais uma busca na casa - Andrômeda se levantou.

Os cabelos negros e curtos emolduravam um rosto triste e abatido. Mesmo assim, Harry pode notar um certo brilho nos olhos da prima de Sirius. Só naquele instante ele se perguntou qual seria o verdadeiro motivo pelo qual ela gostaria de levá-lo ao loft. Com certeza não era uma questão de ar puro - até porque, como a Sra. Weasley lembrara, o apartamento não era limpo há quinze anos. Além disso, tinham-no deixado morar com os Dursleys toda uma vida sem que se importassem no quão sufocante era a vida com os trouxas mais trouxas que Harry já conhecera. Por que então essa preocupação súbita em tirá-lo dali? Fosse o que fosse, parecia que a única pessoa a ter essa resposta era a própria Andrômeda.








- Minhas coisas já estão prontas, Sra. Tonks.

- Me chame de Andie, Harry. Era assim que seu pai e seu padrinho me chamavam. Você já me ouviu dizer que acho esse negócio de chamarem pelo sobrenome muito impessoal.

Harry sorriu e assentiu. Só então reparou na parede para onde a bruxa estava olhando antes que ele entrasse no quarto e a chamasse.

- Minha família... Quero dizer, o que um dia foi a minha família - ela levou o dedo indicador até a marca de queimadura da tapeçaria onde estava estampada a árvore genealógica dos Black.

- Sirius me mostrou da outra vez em que estive aqui... Disse que seu nome e o dele tinham sido apagados.

- Sabe, Harry, dizem que o filho do meio tende a ser rejeitado pelos pais. É comum que tenham orgulho do primogênito e não se cansem de adular o caçula. No meu caso, a definição se aplica perfeitamente - os olhos de Andrômeda fitavam estáticos a marca feita por brasa entre os nomes de Bellatrix e Narcisa.

O menino ficou calado. Sabia exatamente pelo que Andrômeda devia ter passado. Viver com os Dursley lhe dera a noção exata do que era ser invisível.

- Quando seu padrinho fugiu de casa - ela continuou -, foi um estardalhaço. Bem ou mal, meus tios queriam-no por perto. Eu não posso dizer o mesmo dos meus pais. Acho que desde que eu nasci eles não me achavam digna do sobrenome que me deram. - ela ficou um minuto em silêncio e por fim completou, adotando um tom de voz mais animado. - Por isso eu fiz questão de arranjar um que combinasse melhor comigo!

- Acho que eu posso dizer que te entendo.

Ela sorriu.

- É uma pena que você não tenha conhecido seus pais. Eram um casal e tanto. Eu ainda tenho uma das brigas mais estapafúrdias de Lílian e Tiago fresquinha na minha cabeça..

- Brigas? - o rosto de Harry ficou ainda mais sério. - Eles... eles se detestavam mesmo? Quero dizer... Eu vi uma lembrança do Snape acidentalmente, mas Sirius me garantiu...

- Bem, se você entrou nas memórias de Snape, você deve ter visto muitas das brigas de seus pais. Porque seu pai realmente gostava de aprontar com o Snape e sua mãe... Ah, Lílian... Sua mãe adorava implicar com seu pai.








- Eu juro que eu não entendo porque Tiago cismou com ela, Andie. Mas eu disse que ia ajudar, então, lá vou eu. - Sirius deu um suspiro, o rosto enfiado entre as mãos e os cotovelos apoiados na grande mesa da minha casa, a Corvinal, onde eu terminava de tomar o café-da-manhã.

- Ah, Sirius, Lílian tem seu charme. Mas na minha opinião, Tiago gosta dela justamente porque ela não é como as outras garotas, todas suspirando pelos corredores atrás do melhor artilheiro da Grifinória. Ou será que é atrás do melhor amigo do artilheiro? - pisquei e ele riu com uma vergonha fingida. Sirius nunca ficava envergonhado.

- Que é isso, Andie? Eu nem estou no time... - ele debochou.

- Imagine se estivesse... - falei e engoli mais uma colher cheia de mingau de aveia.

Mal disse isso e vi Regulus entrar no Salão, com a vassoura às costas. Vinha conversando com um colega de casa, o ar metido e arrogante que todos os membros de nossa família exibiam pelos corredores do castelo. Ele provavelmente iria treinar naquela manhã: era batedor da Sonserina.

- Bom, eu vou subir, Andie. Afinal, Tiago me arranjou um encontro, não é mesmo? Preciso começar a me arrumar... Olhe para as minhas unhas! E o meu cabelo!!! Acho que vou passar blonder... já tá cheio de raízes pretas!!! - ele falou em tom de deboche, imitando minha irmã caçula, Narcisa, e me fazendo cuspir o mingau, sem controlar a risada.

- Pois eu acho que a Dearborn merecia pelo menos um pouquinho da sua atenção... Olha lá o que você vai fazer com ela. - repreendi.

- Andie, eu não tenho a intenção de fazer nada com ela. Meu medo é o que ela acha que eu pretendo fazer... Já disse uma vez e vou repetir: não tenho o menor interesse na Dearborn. Só estou fazendo isso pra ajudar o Tiago com a Evans...

Eu sempre me senti culpada pela falta de envolvimento sério de Sirius com as outras garotas. Mas essa é uma outra história, que não tem nada a ver com Lílian e Tiago.

- Você ainda está aqui? - Tiago chegou falando em tom irritado. - Assim nós vamos nos atrasar...

- O que você fez no cabelo? - Sirius apertava os olhos, mirando Tiago. O cabelo negro estava estranhamente assentado.

- Eu? Nada! - ele fingiu não saber e depois deu um sorriso maroto. - Ficou legal, né? - pediu a aprovação do amigo.

- Hum... é... sei lá... achei que você gostasse dele bagunçado.

- Está ótimo, Tiago. - comentei e vi um sorriso enorme se abrir. - Mas...

A cara de Tiago exibiu o desapontamento instantâneo:

- Mas?

- Er... você ainda tem mais um pouco da poção? - mordi o lábio e desviei os olhos. Sabia o efeito que a verdade iria provocar.

Mas Sirius não parecia muito preocupado com isso. Tentando avaliar melhor a nova aparência do amigo, meu primo se pôs a dar voltas em torno dele. Só então percebeu do que eu estava falando e soltou uma gargalhada.

- Cara, teu cabelo continua todo em pé atrás!

O artilheiro levou a mão direita para a parte de trás imediatamente e, ao constatar que não era um deboche de Sirius, puxou o capuz das vestes.

- Xampu de trouxas ainda é o melhor método pra desfazer poções capilares, estou certo? - ele olhou para nós.

Eu confirmei, segurando a risada. Sirius, por sua vez, se contorcia de tanto rir.

- Anda, seu saco de risadas! - ele deu um chute de leve no tornozelo do amigo. - Marquei com ela às duas.

- Tiago, são dez horas da manhã!!! Andie ainda está tomando o café!! - Sirius protestou, com preguiça de subir as escadas até a torre da Grifinória.

- Nossa, você acorda tarde, hein? - Tiago olhou admirado para mim.

- Hoje é sábado, Tiago! - retruquei levemente irritada.

- Bah, só porque você passou a noite acordado, não quer dizer que os outros não possam ter seu sono da beleza, meu caro! - Sirius debochou e veio com o comentário que, naquela época me deixava mais vermelha que uma beterraba. Depois aprendi a levar na brincadeira: - E pra Andie continuar sendo a garota mais linda da escola, você há de convir que ela tem que dormir muito.

- Sem ofensas, Andie, mas você não é a garota mais bonita de Hogwarts... - Tiago discordou, com um sorriso besta.

- Eu nunca disse que era! - fiz cara de brava para Sirius, que olhava para outro canto do salão.

- Pois aí vem alguém que concorda comigo...

Eu e Tiago olhamos para o mesmo lado que Sirius. Seu pai deu uma risadinha debochada e eu fiquei roxa de vergonha.

Sirius continuou:

- Ted Tonks, o cara mais sortudo da escola. Priminha, melhor deixar ele de sobreaviso que se não te tratar bem, vai ter que se ver comigo.

- Quer parar com isso, Sirius. Eu não tenho nada com o Tonks. - e enfiei mais uma colher cheia de mingau de aveia com força na boca.

- Ah, então foi por isso que você ficou hooooras lá fora com ele no Baile de Primavera, antes das férias...

Nesse ponto o tom de voz de Sirius já estava um tanto amargo e teríamos começado a discutir se Tiago, prevendo o problema, não desse um ultimato. Bastou um olhar duro do amigo, para que Sirius se mancasse que estava passando dos limites e começasse a andar devagar rumo à torre da Grifinória.








- Hummm... eu acho que me lembro desse dia...

- Remo!!!! - Andrômeda colocou a mão sobre o peito, sentindo o coração bater acelerado pelo susto.

- Pensou que fosse quem? - ele entrou na sala sem cerimônias. - Tudo pronto, Harry?

O garoto confirmou balançando a cabeça levemente irritado com aquela interrupção. Voltou a olhar para a parede acarpetada, a marca de queimado ao lado do nome Regulus.

- Ele e Sirius se detestavam. - comentou Remo, ao perceber os olhos de Harry presos na marca. - Mas acho que não era sobre isso que Andie estava falando... - ele olhou por sobre o ombro para ver o sorriso da mulher.

- Estava contando a ele a Grande Briga! - Andrômeda riu de leve.

- Eu sei. Estava ouvindo desde o começo da narrativa. Mas eu acho que você não sabe como Lílian passou essa manhã.

- Como? - Harry, ávido por mais informações, interpelou Remo.

- Bem...








- O que você está fazendo enfurnado nesta sala em pleno sábado, Remo? - Lílian entrou um tanto descabelada na sala comunal naquela manhã.

- E onde você acha que vai de pijamas? - respondi, reparando na calça listrada que saía por debaixo de uma capa vinho cujas extremidades ela segurava com força. Perdi as contas de quantas vezes vi Lílian perambulando de pijamas pela Sala Comunal. Sempre esquecia alguma coisa e acordava tarde da noite para procurá-las. Ela olhou para baixo, fez uma pequena careta e deu de ombros.

- Não viu uma varinha perdida por aí? - perguntou, enquanto abaixava-se para procurar debaixo de uma poltrona.

- Você não devia estar numa daquelas intermináveis horas dedicadas à beleza e essas coisas que garotas fazem quando vão sair com um cara?

- Pra sair com Tiago Potter? - ela franziu a testa e se jogou num dos sofazinhos da sala Comunal. - Pois a julgar pelo que ele faz com o próprio cabelo, o estado do meu não vai fazer muita diferença!

- Lílian! Você ainda tá aí?

Eu segurei a risada ao ver a careta da sua mãe com o chamado de sua melhor amiga, uma loirinha de rosto redondo, bastante baixinha chamada Alice Dearborn. Só que ela não tinha me visto, e terminou de descer as escadas numa camisola cheia de dragõezinhos azuis desenhados e pantufas com chifrinhos de unicórnio nas pontas. A ponta do nariz estava toda melecada com um creme amarelado, que devia ser pus de bobuteras, ótimo remédio contra espinhas.

- Você prometeu me aju... Remo??? - Alice arregalou os olhos o mais que pôde, para só então lembrar de bater a varinha em suas vestes e fazer aparecer uma capa que lhe cobria o corpo e rosto por inteiro.

- Alice... - Lilian levantou a cabeça preguiçosamente, sem querer levantar da poltrona onde estava deitada. - É só o Remo...

- Como assim é SÓ o Remo? - fiquei realmente ofendido com o comentário. E não dêem risadas vocês dois.

- Francamente, Lílian. ELE é um dos amigos do Sirius!!! - e voltando-se para mim: - Você não vai contar nada pra ele, né? - ela puxou o capuz para conseguir descobrir se eu estava mentindo.

- Contar o quê? Que você fica ótima de camisola de dragão? - Lílian debochou, fazendo com que a outra garota atirasse uma almofada nela com um feitiço de expulsão.

- Não precisava ficar brava, Alice, não vou contar a ninguém chamado Sirius que suas pantufas têm chifrinhos - brinquei.

- Nhé - ela mostrou a língua. - Vou anotar no meu relatório da monitoria que você está atormentando pequenos inocentes, ouviu bem, Remo Lupin!

- Pequenos eu até concordo, afinal você não cresceu muito, Alice, mas inocentes? Depois de ontem eu tenho as minhas dúvidas - Lílian deu uma piscadela para a amiga, que mordeu o lábio inferior e deu uma risadinha marota.

- Pois nada vai estragar o meu humor hoje!! Eu vou sair com Sirius Black!!! - e deu um pulinho de felicidade, fazendo Lílian revirar os olhos e eu soltar uma risadinha abafada. - E você vai me ajudar ou não, sua preguiçosa?

- Não sei onde larguei a varinha, Alice - Lílian finamente se levantou e olhou para a sala, desanimada.

- Se você fosse um pouquinho mais desligada, entraria na Sala Comunal da Sonserina em vez de vir para a Grifinória, Lílian! Perder a varinha? - Alice olhava para a amiga inconformada.

- Achei - e a ruiva se dobrou sobre um dos braços de uma poltrona para alcançar a ponta da varinha que aparecia debaixo de uma almofada.

- Ei, Remo, o que é que você tanto escreve? - Alice perguntou curiosa ao me ver molhar a pena na tinta e rabiscar um pergaminho.

- O relatório, ué? - dei de ombros.

- Relatório? - a loura franziu as sobrancelhas.

- O relatório da monitoria, Alice! Temos reunião hoje, lembra?

Ela respondeu num tom de voz ligeiramente nervoso:

- Lógico que eu lembro. Até parece... Eu? Esquecer uma reunião dos monitores por causa de um encontro? Que tipo de garota você pensa que eu sou?

- Uma boba apaixonada? - Lílian sugeriu com ar maroto.

Alice voltou o olhar mal-humorado para a amiga que se escondeu atrás de uma almofada, fingindo medo.

- Sei como você é aplicada, Alice. Mas eu fui deixando e tive que passar a noite fazendo isso. Finalmente, o ponto final! - escrevi qualquer coisa no pergaminho pela ultima vez e o ofereci a Alice: - Quer dar uma olhada?

- Não! - ela respondeu rispidamente. - Vamos, Lílian.

- Você não vai corrigir a relatório dele? - a ruiva arregalou os olhos verdes: - Mas você SEMPRE corrige os relatórios do Remo!!!

- Com certeza está perfeito como todos os outros! Agora, vamos! - e começou a subir as escadas.

Lílian ainda olhou uma última vez para mim, complemente abismada com a atitude da amiga, e, enfim, seguiu Alice escadaria acima.








- E você não desconfiou de nada? - Andrômeda parecia admirada.

- Desconfiar do quê? - Remo perguntou: - Alice fazia atualizações diárias daqueles relatórios! Achei só que, uma vez na vida, ela estava dando prioridade pra outra coisa que não a monitoria.

- Ah, Remo... Eu não acredito que você não pensou...

Enfim os dois adultos perceberam o semblante curioso de Harry:

- Acho que você quer saber o resto da história, não é, Harry? - Remo comentou.

O garoto balançou a cabeça afirmativamente.










Há mais de cinco séculos, o Três Vassouras é o bar de maior tradição de Hogsmead. Desde sua inauguração o lugar parecia um ímã para os jovens alunos de Hogwarts, que lotavam as mesas do bar a cada final de semana livre para passeios. Naquele dia não era diferente. Eu tinha chegado cedo. Ia me encontrar com Ted pela primeira vez fora da escola.

Ele tinha se formado um ano antes, junto com minha irmã, Bellatrix, mas continuou na escola por mais um ano, como aluno especial da MacGonagall. Ninfadora herdou a metamorfomagia do meu marido. É um dom muito especial, mas que pede paciência para ser lapidado. Enquanto aprimorava a técnica ele ajudava os professores das aulas que mais gostava, servindo de assistente e monitor-chefe honorário. O que, ao meu ver, era algo muito interessante, uma vez que eu era também era monitora e namorada dele.

Você deve estar estranhando eu falar namorada após lhe contar um episódio em que eu quase dei um safanão em Sirius por insinuar que eu e Ted tínhamos alguma coisa. A questão era que nós namorávamos escondidos havia quase dois anos e Sirius era o único que sabia disso. Desde que Bellatrix se formara, ele me pressionava todos os dias para abrir o jogo com o resto da escola, ainda que isso incluísse os nada favoráveis ouvidos de Narcisa, minha irmã caçula.

Pois naquele dia eu finalmente resolvera seguir o conselho do seu padrinho. Era meu último ano em Hogwarts e o primeiro que eu estava aproveitando de verdade, pois finalmente não estava sob a vigilância constante de Bella. Mas eu queria um lugar lotado, onde seria mais difícil chamar a atenção e o Três Vassouras me pareceu perfeito naquela tarde. Eu e Ted escolhemos uma mesinha escondida, de onde podíamos ver o movimento, mas que se encontrava fora das vistas da maioria das pessoas. Me encolhi quando vi minha irmã entrar acompanhada pelo noivo, Lúcio Malfoy, e sentar-se com colegas da Sonserina.

Nem meia hora depois chegaram Sirius e Tiago. Não me lembro de ter visto seu pai tão impaciente como naquele dia:

- Tudo bom, Andie? - Sirius se aproximou, arrastando Tiago, que parecia mais preocupado em investigar onde estava Lílian do que em cumprimentar qualquer conhecido.

- Tudo - eu disfarcei um sorriso bobo quando Ted segurou minha mão.

- Até que enfim vocês resolveram assumir... - falou no tom arrogante costumeiro que quase sempre me deixava irritada.

- Tudo a seu tempo, Black - Ted respondeu olhando pra mim. Por ele nunca teríamos escondido nada de ninguém mas eu morria de medo do que minha família poderia fazer.

- Vocês não viram a Lílian e a Alice? - Tiago finalmente falou conosco.

- As pessoas costumam falar "oi" antes de sair bombardeando perguntas, Tiago! - eu ralhei de brincadeira.

- Oi. E então? Viram?

- Não. - eu e Ted respondemos em coro.

- Senta aí e sossega, Tiago. Mulheres demoram séculos pra se arrumar. - Sirius puxou uma cadeira e sentou-se displicentemente.

- Elas marcaram às duas da tarde! - Tiago insistiu. - E nós chegamos atrasados!!! Talvez elas já tenham ido embora.

- Pontas, nós estamos atrasados cinco minutos!!! Se elas não esperaram cinco minutos então...

- Elas não passaram por aqui, Potter. Tenho certeza absoluta. - Ted deixou-o um pouco menos tenso, como se isso fosse possível.

Menos de um minuto depois Alice entrava no Três Vassouras, sozinha, apertando as mãos nervosamente e olhando para todas as mesas. Tiago olhava para trás dela, procurando um sinal do cabelo vermelho de Lílian perto da entrada e só não se levantou para conferir de perto, porque Sirius o segurou.

- Fica aí! - e acenou para que Alice o notasse.

A menina deu um sorriso envergonhado e caminhou depressa até nós.

- Oi! - cumprimentou a todos.

Eu conhecia Alice desde o ano anterior. Extremamente aplicada, ninguém tinha dúvidas de que seria a monitora-chefe do próximo ano. Não era exatamente bonita, mas as covinhas que se formavam nas bochechas quando sorria lhe davam uma graça a mais.

- Cadê a Lílian? - Tiago não esperou para perguntar.

- Ela... Ela vai se atrasar um pouquinho, Tiago. - ela começou a se explicar. - Só um pouquinho!

- Mas ela vem? - ele parecia realmente preocupado.

- Vem. Lógico que vem. - ela se apressou em dizer, creio que com medo de que ele levasse Sirius embora caso Lílian não viesse.

A primeira meia hora custou a passar. O papo entre Sirius e Alice não fluía. Eram dois opostos: ela, a menina aplicada, certinha e meticulosa; ele, o garoto largado, bagunceiro e despojado em excesso. Eu e Ted bem que tentávamos puxar conversa com ambos, sem resultados. Tiago só olhava para a entrada.

A meia hora seguinte foi ainda pior. Sirius tentava deixar uma assinatura datada na mesa em que estávamos usando uma pena de açúcar e Alice olhava alquilo com verdadeiro nojo, vendo o melado de doce se grudar na mesa e nas unhas do meu primo. Depois começou a limpá-las como se fosse um gato, ou seja, lambendo os dedos. E eu sabia que Sirius estava fazendo aquilo de propósito. Não tinha o menor interesse em Alice Dearborn e faria a menina perder todo o interesse que tinha por ele ainda naquela tarde, nem que para isso tivesse que fazer coisas tão nojentas quanto aquela. Tiago continuava quieto e vigilante, mas seu olhar parecia mais cansado e decepcionado a cada minuto que o relógio contava.

Uma hora e meia depois, chegou Frank, outro colega da monitoria. Frank e eu estávamos no último ano e éramos os monitores-chefes da escola.

- Oi pra todos! - e parou os olhos em Alice. - Não recebi seu relatório. Você sempre entrega adiantado... Teve algum problema?

- Eu? Não. Nenhum. Deixei com Remo. Ele estava com algumas dúvidas... - ela respondeu um pouco nervosa.

- Ela não vem. - Tiago interrompeu a conversa sem se dar conta, tirando Sirius de seu passatempo.

- Até que enfim você percebeu isso. - meu primo levantou os braços, como se aquilo fosse óbvio.

- Ela vem sim! - Alice se desesperou. Seu encontro nem começara e já estava acabando.

- Ela quem? - Frank olhou para mim, tentando entender.

- Lílian Evans - respondi e indiquei Tiago.

- Hum... Acho que ela não vem mesmo tão cedo... - ele coçou a nuca. - Parece que tinha uma pilha de tarefas atrasadas e sequer tinha chegado à metade.

- Eu sabia! - Tiago estava revoltado. - Quer saber? Cansei. Eu vou é me divertir.

- Assim que se fala! - Sirius deu todo o apoio, louco para sair daquela mesa e do encontro arranjado, sem dar a menor bola para a cara de decepção de Alice. - Sete horas, Pontas.

Tiago se virou automaticamente ao ouvir o "horário". Aquele era o meio dele e Sirius dizerem que havia uma mesa cheia de sonserinos a 210º de onde estávamos. A mesa de Narcisa.

- Qual é a deixa? - Tiago sorriu.

- Banho!!! - Sirius esfregou as mãos, visualizando antecipadamente o resultado e saiu da mesa, deixando Alice desolada. Nunca tive tanta pena de uma garota, mas sem querer menosprezar meu primo, foi melhor para ela.

Tiago também deixou a mesa, mas foi em outra direção. Nós assistíamos de camarote a encenação de Sirius:

- Ora, ora, mas se não é a minha priminha Centopéia...

Acho melhor explicar isso pra você antes de continuar a história. Você já deve ter percebido que todos na minha família tem nomes de estrelas, galáxias e outros entes celestes. Todos menos Narcisa. Na verdade, minha irmã mais nova também tinha o nome de uma constelação, Cassiopéia, e ainda teria esse nome até hoje se não fosse Sirius. Os dois têm a mesma idade e entraram em Hogwarts no mesmo ano. Só que ter parentes tão próximos pode ter lá suas desvantagens, especialmente quando um desses parentes é sarcástico como Sirius Black.

Eu e, principalmente, Bellatrix nos irritávamos fácil com as frescuras de Cassiopéia, e quando isso acontecia, costumávamos trocar seu nome por Centopéia. E certo dia ela resolveu ter um ataque de frescura na escola, durante uma aula. Para quê... Sirius lembrou do apelido na mesma hora e a partir daquele dia todos os alunos começaram a chamá-la de "centopéia preta", juntando o nosso sobrenome. Isso aconteceu logo no primeiro ano e no primeiro feriado ela voltou para casa com a idéia fixa de trocar de nome. Escolheu Narcisa, para poder conservar o sentido do nome anterior, que, segundo ela "traduzia sua beleza e auto-confiança" e obrigou o quadro do meu tatataravô, um ex-diretor de Hogwarts, a baixar um decreto que determinava que, após o Natal, o aluno que a tratasse por outro nome seria punido com uma noite na Floresta Proibida. Acho que foi por isso que nunca conseguiu inibir Sirius... Ele adorava aquela Floresta! Mas funcionou com os outros alunos, e até comigo.

Voltando ao Três Vassouras...

- Esqueceu-se que eu sou monitora agora, Sirius? Pode não ter medo da Floresta Proibida mas eu me encarregarei de fazer com que você nunca mais repita essa grosseria - ela retrucou em tom afetado.

- Bah, você é uma reles monitora, Narcisa! E monitores não dão detenção a ninguém. Se você chegasse a monitora-chefe, eu poderia até lhe dar alguma atenção, mas não consigo imaginar você tendo uma idéia melhor do que como retirar o rímel e o blush sem usar removedor mágico.

- Se você ofender minha noiva mais uma vez eu vou... - Malfoy se levantou, erguendo a varinha.

- Vai o que, seu almofadinha? Peraí, Almofadinhas sou eu. - ele coçou a cabeça, fingindo estar desconcertado. - Outra hora em penso num apelido pra você... E eu não vim aqui para falar com o casal puro-sangue!

Se fosse uma outra pessoa, teria partido para cima de Sirius, mas Malfoy sempre foi covarde. E ele sabia que, mesmo já tendo se formado, Sirius devia conhecer o dobro dos feitiços que ele conhecia. Já que não tinha vindo falar com eles, Malfoy é que não ia comprar uma briga perdida.

- Vim falar com o Ranhoso. - e Sirius sorriu para Severo Snape, sentado sozinho na mesa ao lado, lendo um livro e tomando cerveja amanteigada.

Nunca entendi a repugnância que Tiago e Sirius sentiam de Snape. Era tão asqueroso quanto os outros sonserinos, mas era apenas mais um deles, sem absolutamente nada de especial. Na verdade, era tão sem atrativos, tão "nada" que nem mesmo na Sonserina havia quem lhe apreciasse, além de ser extremamente antipático. Fora isso, era ótimo aluno, com um desempenho excepcional em tudo que se referia a Artes das Trevas, fosse uma poção, fosse um duelo.

Ao ouvir o apelido "carinhoso", ele acabou virando o copo de cerveja amanteigada muito rápido e molhando o nariz. Sirius balançava a cabeça, desaprovando a falta de jeito do rapaz de cabelos ensebados.

- Não te ensinaram bons modos, Ranhoso?

Estudantes adoram confusão e quando Sirius puxou uma cadeira para se sentar em frente a Severo Snape, todo o bar olhava para eles. Parece que estou vendo o rosto enrugado pela apreensão e o braço tenso, prestes a puxar a varinha que estava em cima da mesa. Mas Sirius foi mais rápido:

- Você não vai precisar disso, - ele disse, atirando a varinha longe, para trás do balcão. - Só vim lhe dar um conselho.

Quando Sirius disse essa palavra todas as canecas que estavam em nossa mesa começaram a levitar. Seguindo a trajetória delas, vimos que outras tantas já estavam no alto, próximas ao teto. Procurei por Tiago. Era ele mesmo que estava acumulando o maior número possível de canecas de cerveja amanteigada bem acima da mesa onde estava Snape. Sirius só o estava distraindo. E todos os presentes, num pacto silencioso, viam suas bebidas desaparecerem sem dar um pio. Inclusive nós monitores.

- Sabe, Ranhoso, minha priminha Centopéia costuma pintar o cabelo...

Narcisa soltou uma interjeição de indignação:

- Meu cabelo é louro natural!

- E eu acredito em Papai Noel - Sirius retrucou: - Até parece que uma Black não ia ter os cabelos negros do resto da família...

- A sua família inteira podia ter cabelos cor-de-rosa que não faria a menor diferença para mim - Snape resmungou em resposta e começou a se levantar.

- Eu ainda não acabei de falar! - meu primo usou um feitiço para prendê-lo à cadeira. - Como eu ia dizendo, a Centopéia pinta o cabelo, mas você pode ver, o serviço é bem feito! Tem o cabelo sedoso, bonito! Até parece que é louro de verdade.

- Ele É louro de verdade! - Narcisa protestou, mas deixou escapar um sorriso por conta do elogio de Sirius.

- Mas isso só acontece porque ela tem uma receita mágica, Ranhoso. Mas eu estou disposto a partilhar esse segredinho com você, porque, francamente, eu o estava observando... Esse seu cabelo derrama óleo em todos os lugares! Pode até contaminar alguma das mesas e ninguém quer deixar de vir ao Três Vassouras, não é mesmo? Por isso eu resolvi te ensinar esse feiticinho.

Sirius se levantou e procurou um lugar seguro para não ser atingido. Enquanto isso, continuava seu discurso.

- E só rodar a varinha e... Tiago, como era mesmo a palavra mágica para executar esse feitiço?

Tiago pulou o balcão, atrás do qual estivera escondido até poucos segundos antes, e começou, tirando a varinha do bolso. Snape, a essa altura, já tinha visto as canecas sobre sua cabeça e se balançava desesperadamente tentando livrar-se do feitiço de Sirius.

- Como você pôde esquecer, Sirius? É tão simples - e apontou para o alto: - Ba...

- Tiago Potter! É essa a idéia que você faz de um encontro? - Lílian Evans estava parada na entrada do Três Vassouras. O rosto mais sério e contraído do que nunca.

- Eu disse que ela vinha! - Alice passou pelos dois, emburrada, e caminhou até a amiga.

Eu posso jurar que nunca vi Sirius mais desapontado. Tiago perdera o momento de executar a brincadeira por causa de Lílian Evans. Seu pai, por sua vez, abaixou a varinha no mesmo segundo tentando encontrar alguma desculpa, enquanto Alice parava ao lado da amiga ruiva, cruzando os braços e fechando a cara.

- Eu... eu... Você veio... - Tiago disse com ar de desalento.

- Não!!! Eu estou na sala comunal!!! - Lílian retrucou visivelmente irritada. - Se eu disse que vinha é porque eu vinha! Eu costumo me resignar com as crueldades que o destino me impõe - ela desdenhou.

- Crueldade? - Tiago franziu a testa.

Mas Lílian não deu ouvidos, apenas virou-se para Sirius:

- Vocês dois fizeram um trato comigo, Black! - disse em tom acusador.

- E cumprimos esse trato! - meu primo saiu da mesa de Snape e foi até Lílian. - Quem furou o acordo foi você!

- Eu estou aqui! - ela berrou com Sirius.

- Com uma hora e meia de atraso - ele devolveu na mesma altura.

- Lílian, de que trato você está falando? - Alice a interrogou, desconfiando do que a amiga havia tramado.

- A gente conversa sobre isso mais tarde, Alice. Eu te prometo! - de repente Lílian ficara apreensiva.

A verdade é que certa noite, cansado de ouvir nãos, Tiago disse que Lílian podia fazer qualquer exigência em troca de um único encontro. Se depois de sair com ele, ela nunca mais quisesse lhe dar "oi", ele não insistiria, o que eu acho que Tiago não conseguiria cumprir. É, eu sei que você tem certeza disso, Remo.

Bem, Lílian por sua vez, estava cansada de tentar persuadir Alice de que Sirius era um idiota. Convencida de que se Alice passasse uma tarde junto de Sirius todas as ilusões dela acabariam... Como ela sabia que Alice iria se decepcionar? Hum... Uma vez eu dei uma detenção conjunta para os dois. Lílian e Sirius, digo. Ou ele a irritou falando de Tiago a noite inteira ou então... Bem, eu convivi com Sirius boa parte da minha vida. Ele consegue ser insuportável quando quer. Assim, Lílian disse a Tiago que sairia com ele, caso Sirius saísse com Alice. Mas sua mãe não ia deixar barato:

- No nosso trato não havia nada dizendo que vocês passariam a tarde azarando o Ranhoso!

- Você está chamando o Ranhoso de Ranhoso?? - Sirius se admirou.

- Só queríamos acabar com a monotonia desse lugar. - Tiago deu de ombros, tentando explicar. - Nós nem chegamos a fazer nada com o Snape! Agora que você chegou...

Três rostos surpresos (fora os de todas as outras pessoas no bar) miravam Tiago incrédulos. Ele estava querendo "reiniciar" um encontro que já tinha dado errado? Mas não tiveram muito tempo para isso. Uma voz amarga chamou seu pai:

- Potter?

- O que você quer? - Tiago respondeu mal-humorado para Snape.

- Banho!

E todas as canecas de cerveja amanteigada derramaram-se sobre Tiago, Lílian, Sirius e... Não, Alice não se molhara. Frank Longbottom, prevendo o desfecho, a puxara um segundo antes...








- Isso aconteceu no exato minuto em que eu entrei no salão, acompanhado de Rabicho. - Remo acrescentou à narrativa de Andrômeda.

A bruxa tentou continuar, mas não conseguiu. Lembrava-se da cena perfeitamente, mas como poderia descrevê-la sem favorecer Sirius. Tinha o péssimo hábito de sempre defender o primo

- Remo, eu não vou conseguir...

- Eu conto.








A expressão de fúria no rosto de Lílian, olhando para os cabelos e roupas encharcadas podia ser considerada cômica. Ela não conseguia se decidir se torcia as madeixas vermelhas, balançava as mãos ou sacudia a barra da calça.

Eu e Pedrinho apenas nos aproximamos, sabendo que aquela era uma ótima oportunidade para continuarmos calados. Era a primeira vez que eu via Sirius e Tiago sem reação. Desde o primeiro ano eles vinham aprontando com Snape, e nas poucas vezes em que levavam a pior, nunca havia ninguém para testemunhar o ocorrido. Entretanto, Snape conseguira humilhá-los em frente à escola toda.

- Severo Snape, você vai cumprir detenção por essa brincadeira de mau gosto - Frank retirou um caderninho do bolso. Como monitor-chefe, podia aplicar correções a qualquer aluno da escola.

- Cumprirei sem problemas, Longbottom - Snape respondeu e sorriu para Tiago e Sirius, enquanto deixava o bar. Tinha vencido.

- Seu... seu... - Sirius estava ficando vermelho como um tomate e desconfio que a raiva não lhe permitia dar ordens concretas a seu próprio corpo, ou teria transformado Snape em qualquer coisa mais nojenta que um sapo.

Mas Tiago... Tiago não tirava os olhos de Lílian. Parecia infinitamente miserável. Seu encontro tinha ido "cerveja" abaixo.

- Você... Você está bem? - em vez de tentar retrucar algo para Snape, Tiago aproximou-se de Lílian.

Vi Lílian endurecer feito uma estátua, enquanto dobrava a barra da calça deixando os tênis vermelhos à mostra. Ficou alguns segundos em silêncio e, quando Tiago ia se abaixar também, ela levantou de súbito, largando o tecido ensopado de qualquer jeito.

- Se eu estou bem?

Ela olhou dentro dos olhos dele e eu senti um arrepio. Imagino que todos naquele lugar sentiram o mesmo, pois Lílian encarava Tiago de tal forma que qualquer um podia sentir o ódio que ela sentia.

- Você perguntou se eu estou bem, Potter? - e cuspiu. - Não, eu não estou bem, Potter! - cuspiu novamente. - Eu estou encharcada e fedendo a cerveja amanteigada por sua culpa, Potter. - deu outra cuspida. - Estou nesse estado porque num momento de insanidade eu considerei a hipótese de sair com você, Potter - e cuspiu de novo. - E eu só fiz isso porque meus amigos são as pessoas mais importantes pra mim, Potter. Eu passei metade da minha tarde escrevendo um relatório de uma monitoria que não é minha pra que a minha melhor amiga não tivesse que faltar ao encontro pelo qual ela espera desde que entrou nessa escola, Potter! - cuspiu mais uma vez.

Todos olharam para Alice, que ficou vermelha de súbito.

- Eu tentei ajudar Alice porque ela é apaixonada por Sirius desde que eu a conheço e ele nunca, NUNCA, olharia pra ela porque só consegue reparar numa garota quando ela tem os peitos grandes o suficiente para lhe atrapalhar a visão, Potter! - e cuspiu como todas as vezes em que pronunciava o nome de seu pai.

- Ei! - Sirius tentou protestar, mas Lílian o ignorou.

- Eu aceitei sair com você, Potter, (cuspiu) porque tinha que provar para ela que Sirius é um grande idiota, assim como você!

Se no início Tiago estava com pena e ouvia com certo remorso, agora seu rosto já parecia bastante perturbado.

- Então eu sou um idiota? É, realmente eu sou um idiota! Porque só um idiota ficaria esperando uma hora e meia por uma garota que prefere ficar fazendo o trabalho da melhor amiga a encontrá-lo! Sou um idiota porque só um idiota perderia a chance de revidar o que Snape fez por estar preocupado com você. Sou um idiota porque só um idiota convenceria seu melhor amigo a sair com uma garota sem sal como a Alice pra poder sair com você!

- Eu... Eu não acho a Alice sem sal. Eu só...- Sirius tentou se explicar, vendo a loirinha ficar vermelha outra vez e sair correndo do bar.

- Você é um insensível, Potter! - e dessa vez, ao invés de cuspir de lado, Lílian o fez no rosto de seu pai, antes de sair desabalada atrás de Alice.

- Você ainda vai implorar pra sair comigo, Evans!!! - E dando-se conta de que era alvo de todos os olhares, resolveu sair do bar.








- Eu não consigo entender! Juro que não consigo! Como foi que meu pai e minha mãe puderam se casar? Ela o detestava. - Harry sentou-se exasperado.

- Ah, não... Lílian não o detestava... - Andromeda falou calmamente.

- E o que foi que vocês dois acabaram de me contar? Uma história de amor? - os olhos exibiam um brilho raivoso.

- Harry, você é um garoto esperto... Não percebeu como Lílian distorcia as coisas?

- Ninfadora? - Andrômeda olhou para trás, vendo a filha encostada na porta fechada, mascando chiclete.

- Estou fazendo progressos! - ela não se zangou com a mãe. - Consegui entrar sem fazer barulho e sem que nenhum de vocês percebesse.

- Eu já tinha lhe visto - Remo alertou.

Ninfadora revirou os olhos e andou para perto de Harry, que a olhava desconfiado:

- Pelo que pude ouvir da história, temos o clássico caso da garota que gosta mas não quer demonstrar porque sabe que se fizer isso o cara de quem ela gosta a tratará apenas como mais uma. E ela desaprova o comportamento da amiga justamente porque ela dá uma bandeira descarada e com isso afugenta todas as possibilidades do garoto se interessar por ela! - ela explicou aceleradamente.

- Como é que é? - Harry encarou a auror boquiaberto.

- Seu pai devia ser popular, não é? Lembro de ter visto o nome dele na sala de Troféus uma vez... - ela botou o dedo na boca, pensativa. - Tiago Potter, eleito o melhor apanhador do Campeonato das Casas por três anos consecutivos!

- Campeonatos de 70, 71 e 72 - Remo lembrou-se com um sorriso na boca.

- Você lembra? - Andrômeda perguntou admirada.

- E como eu poderia esquecer... Após esses jogos participei das melhores festas que aconteceram nos meus anos de escola. - Remo sorriu para a bruxa.

- Ham-ham... - Ninfadora chamou a atenção e continuou: - Bem, sendo ele um cara popular, imagino que devia ter um bando de garotas para cima e para baixo atrás dele.

Harry duvidou:

- Eu também sou um bom jogador de quadribol e não tem um monte de garotas atrás de mim.

- Você tem certeza disso, Harry? - Tonks perguntou. - Nenhuma garota nunca convidou você para sair, ou para acompanhá-la a um baile? Nunca lhe mandaram um cartão de Dia dos Namorados?

- Er... bem... Sim, mas não são tantas assim e...

- Não é a mesma coisa, Ninfadora. - Andromeda discordou: - Harry é famoso por algo que amedronta as pessoas... Tiago era simplesmente... Tiago!

Harry não pôde deixar de pensar como gostaria de ser simplesmente Harry.

- E como você, Harry - ela continuou -, ele era um garoto capaz de interessar as garotas, não só porque era bom jogador, mas porque era esperto e bem-humorado. Isso sem falar na inteligência. Creio que era o melhor aluno da sala... Sem querer ofender, Remo.

- Não me senti ofendido, Andrômeda.

- Voltando ao meu raciocínio... - Tonks voltou a falar: - Tiago era popular e podia descartar as garotas quando bem quisesse, pois sempre haveria outra para ocupar o lugar da antiga namorada. Assim, Lílian não queria se envolver com ele pois receava ser trocada por outra rapidamente. O jogo duro dela deve ter feito seu pai se interessar, pois não era como as outras. Ou talvez fosse simplesmente o acaso, que faz com que gostemos de um e não de outro, sem um motivo explicável.

- Eu diria que era um misto das duas coisas - Remo comentou. - Com certeza a inflexibilidade de Lílian inquietou Tiago, mas se fosse apenas isso, ele teria perdido o interesse logo após o primeiro encontro.

- Ou seja, sua mãe evitava seu pai não porque não gostasse dele, mas porque temia ser apenas mais uma... - Tonks organizou os pensamentos.

- Havia também o fator irresponsabilidade excessiva... - Andrômeda completou. - Lílian era uma pessoa tranqüila, mas não tolerava abusos. E Sirius e Tiago viviam abusando...

- Ah, no fundo, no fundo Lílian gostava disso. - Remo acrescentou: - Afinal, na maior parte do tempo Sirius e Tiago aprontavam com os sonserinos e Lílian costumava ser o alvo preferido de Narcisa, Bellatrix, Malfoy e companhia.

- Ok. Mas como foi que meu pai convenceu minha mãe a finalmente sair com ele?

- Isso vai ter que ficar pra um outro dia, Harry! - Ninfadora adiou a nova história. - Agora temos que escoltar você e mamãe para o loft.

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