Enlaces e desenlaces

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Um apartamento comum, bastante empoeirado, infestado por teias de aranha e vazio. Esse era o loft de Sirius Black.

- Não me leve a mal, Sra. Tonks...

- Andie - a bruxa corrigiu Harry apressadamente.

- ... Andie, mas isso não é um loft. Um loft não tem paredes!

- Harry, querido, em quantas moradias bruxas você já esteve em sua vida?

Ele tentou lembrar de todas, mas todas eram apenas duas: A Toca e a Nobre Mansão dos Black.

- Esse loft também não tinha paredes. Foi Sirius quem as criou. Hum, pensando bem, deve ter sido Emengarda.

- Emengarda? - Harry deu de ombros. Nunca tinha ouvido falar em nenhuma Emengarda.

E continuou sem ouvir, porque em vez de saciar a curiosidade do garoto, Andrômeda Tonks estava encantando uma velha vassoura - que Harry não sabia de onde tinha vindo - para que iniciasse a limpeza. Remo e Ninfadora tinham ficado do lado de fora do prédio, vigiando e observando a vizinhança.

Harry, por sua vez, começou a desbravar cada canto daquela sala estranha, sem quadros, sem fotos, sem sofás. Apenas uma mesinha de centro bastante baixa era visível.

Tinha encontrado a palavra certa. A mesa era o único objeto visível, pois ao tentar andar pela sala descobriu que ela estava atulhada de coisas que ele não conseguia ver.

- Cuidado, Harry! Não vá se machucar - Andrômeda advertiu enquanto apontava a varinha para um canto e outro sem nenhum efeito aparente.

- Er... os móveis são invisíveis? - Harry se arriscou após dar um passo cauteloso para trás.

- Invisíveis? - Andrômeda estranhou e de repente algo fez sentido, porque ela sorriu de volta para o menino. - Os móveis não estão invisíveis, Harry. É apenas poeira mesmo.

Diante da cara abismada de Harry, ela balançou a varinha repetidas vezes, como se tivesse um espanador na mão. Assombrado, Harry foi vendo o lugar ganhar uma cor escura de madeira. Os contornos lhe davam a impressão de que ali havia uma gaveta.

- Sabe, Harry, existem dois tipos de poeira. A comum, que sua tia devia se empenhar em tirar todos os dias, afinal trouxas costumam realmente se importar com poeira, e a poeira "sumideira". Este é o tipo de poeira que se acumula em locais esquecidos, tratando de apagar cada vestígio do que já passou por ali um dia. Se espalha de tal forma, que se ninguém voltar ao lugar, ele desaparecerá para sempre! Mas normalmente leva uns cinqüenta anos para isso acontecer. Eu estou acostumada a "ver" esse tipo de poeira. O quarto de Ninfadora vive coberto com ela, pois ela passa tempos sem entrar lá. Nunca vi alguém gostar tanto do sofá da sala!

- Ah, certo... lógico.... ok - e passou a mão rapidamente sobre o vazio tentando encontrar alguma coisa, sem sucesso.

- Se quer ajudar, vá até a cozinha e traga panos úmidos.

Enquanto ia até a cozinha, escolhendo com cuidado o lugar onde ia pisar, Harry ouviu um assobio alto. Uma única distração e tropeçou num dos objetos empoeirados.

- Iauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!! - ele segurou o joelho ralado de leve, porém dolorido.

- Harry, eu te assustei? - Andrômeda correu até ele, sem sequer esbarrar em nada. O garoto achou aquilo um verdadeiro milagre.

Fora da cozinha, os dois ouviram um barulho de porta batendo:

- Chamou, mãe? Yaaaac! Que apartamento mais imundo!

- Ela também vê! - Andie piscou para Harry, e num tom de voz mais alto para que a filha pudesse ouvi-la: - Lembra seu quarto, não acha?

- Me chamou só para mostrar como o apartamento de Sirius se parece com meu quarto, mãe? - Tonks parou na porta da cozinha, mascando chicletes como sempre.

- Preciso de ajuda. Como você mesma disse, a casa está imunda! Os esfregadores estão naquele armário.

Ninfadora deu um suspiro e murmurou algo do tipo "tenho 22 anos, sou uma auror, mas tenho que me sujeitar a trabalhar de faxineira! Que abuso!". Enquanto isso, Andrômeda balançava a varinha sobre o joelho de Harry que subitamente estava coberto com gaze e esparadrapo.

- Pode tirar em uma hora. Curativos da Sindolor são ainda mais rápidos que as poções de Madame Pomfrey - ela disse levantando-se.

Harry ainda ficou alguns minutos sentado, sem saber o que fazer, apenas olhando as duas mulheres limparem a casa. Era impressionante como a cada nova esfregada num canto aparentemente vazio, algo novo parecia, e aos poucos ele testemunhava.

- Quer fazer o favor de ajudar, Sr. Potter? - Ninfadora chamou-o. - Quis deixar o Largo Grimmauld, não foi? Pois agora pague o preço! - e jogou um esfregão na direção do menino com um feitiço de expulsão.

O bruxinho levantou-se e passou a cutucar o nada com o esfregão até encontrar algo aparentemente sólido. Ao ver os primeiros contornos de um sofá, ele sorriu. Estava acostumado a fazer serviço de casa, afinal, sua tia Petúnia nunca o poupara, mas agora tudo tinha um novo gosto. Ali estava escondido todo o passado de Sirius e, com certeza, uma parte do passado de seus pais também.

Pafff!

- Ninfadora! - Andrômeda esbravejou com a filha.

- Foi mal - a auror coçou a nuca e mordeu os lábios, olhando de soslaio para Harry como que pedindo ajuda.

A bruxa mais velha andou até o retrato de tamanho médio que a filha derrubara. Consertou-o num toque de mágica e recolocou a moldura onde estava, advertindo a auror para que tomasse cuidado. Mas Ninfadora não ouviu uma palavra:

- Mas... mas esse é o papai! - ela pegou o retrato nas mãos para ver de perto.

A essa altura Harry já estava do lado de Ninfadora, curioso para saber como era o Sr. Tonks. Então veio a surpresa:

- Esse não é seu pai, Tonks! Esse é Sirius, tenho certeza! Eu o vi numa memória de Snape no começo do ano. É Sirius.

- Mas não é mesmo! Eu reconheceria meu pai mesmo que estivesse fantasiado de porquinho cor-de-rosa num livro infantil trouxa! - a auror assegurou e então os dois ouviram as primeiras risadas de Andrômeda.

- Ninfadora está certa, Harry. Esse é meu marido. No dia de nosso noivado. A idéia foi de seu padrinho, mas nessa hora ele provavelmente devia estar apostando corrida de vassouras na casa de seu pai.

- Eles eram tão parecidos assim? - Harry ainda estava confuso.

As duas bruxas riram. Um nova história estava porvir.








Não sei se você gosta de astronomia, mas posso dizer que esse é um tipo de conhecimento que parece impregnado na família Black. Não sei quando nasceu o costume de batizar todos os herdeiros com nomes de estrelas, galáxias e constelações, mas sei que essa tradição vem de longa data.

Bellatrix vem da constelação de Órion; meu nome é o mesmo de uma constelação e da galáxia perdida dentro dela; Narcisa... Bem, já contei a história de Narcisa. Minha mãe não era uma Black, e sim uma Avery, com os cabelos loiros longos e os olhos azuis típicos daquela família, mas, por uma coincidência do destino, também tinha nome de estrela: Diadem. Meu pai se chamava Circinus e meus tios eram Mirach, Elladora e Alphard. Sirius e Regulus não escaparam dessa mesma sina, ainda assim acho que era uma das poucas coisas admiráveis em minha família. Ter o nome de uma estrela parecia nos dar a certeza de que seríamos eternos como elas.

- As estrelas um dia se apagam, Andie! - Sirius me alertou certo dia das férias, enquanto eu comentava meus pensamentos com ele.

- Será que você nunca vai deixar de ser pessimista? - eu ralhei sem tirar os olhos do céu.

- Ah, sim, só preciso voltar para Hogwarts. Dentro dessa casa é impossível ter pensamentos felizes - ele sorriu tristemente, pensando que as férias tinham apenas começado. - Falando em Hogwarts, alguém finalmente se livrará de Bellatrix! - ele mudou de assunto, agora sim com um tom mais animado.

Eu olhei para trás para ter certeza de que estávamos a sós.

- Não estou nem acreditando que ela se formou e vai se mudar para Oxford. Pena que o Ted também se formou! - eu me deitei na grama, invadida pela melancolia.

Sirius ficou quieto e sentou-se ao meu lado. Não tínhamos mais nada para dizer, por isso ficamos contemplando o céu numa daquelas raras noites em que não há neblina.

Sei que Dumbledore não deixava que você saísse de dentro da mansão, mas tínhamos um jardim absolutamente maravilhoso. São as pequenas preciosidades que a magia proporciona: ter um bosque repleto de flores e arbustos variados ao lado de uma movimentada rua trouxa sem que ninguém lá fora pudesse sentir o aroma ou ver o colorido que enfeitava aquela casa. Tio Mirach, o pai de Sirius, conhecia feitiços invejáveis para esconder lugares dos trouxas. Acho que era reflexo da xenofobia - quanto mais longe os mantivesse, mais digna seria sua casa.

Era num clarão desse bosque que eu e Sirius costumávamos conversar desde que nos tornamos amigos. E isso só aconteceu depois de eu ir a Hogwarts. A curiosidade de meu primo sobre a escola era tanta que ele aproveitava todos os feriados para infernizar a mim e a Bellatrix com perguntas. Minha irmã, em sua rabugice interminável, nunca respondeu uma pergunta. Eu, entretanto, passava as noites naquela mesma clareira contando a Sirius sobre todas as crianças bruxas que moravam na escola e todas as maravilhas que Hogwarts guardava.

Devia ser cerca de nove horas da noite quando resolvemos voltar para nossos aposentos. Ou melhor, quando eu decidi me recolher, porque Sirius continuou ali dizendo que ainda não tinha acabado de contar as estrelas. Eu sabia que ele só estava esperando eu sair para desaparatar para a casa de Tiago Potter, como fazia todas as noites. Apesar de terem apenas 15 anos, ambos dominavam certos recursos mágicos de forma invejável e a aparatação era um deles.

Eu ia fazendo meu caminho quando reparei que as luzes da casa continuavam acesas. Talvez Bellatrix estivesse preenchendo os últimos formulários para ingressar na Academia de Artes Mágicas de Oxford e esquecera-se da hora, mas meu coração me dizia que era hora de começar a me afligir.

Entrei na cozinha com passos de gato. Ninguém poderia ter me ouvido, a não ser que estivessem me esperando. E estavam. Ao abrir a porta que dava para a sala de jantar, vi minha mãe e a prima Araminta sentadas carrancudas numa das extremidades da mesa comprida. Minhas irmãs exibiam sorrisos radiantes, mas algo nos olhos verdes de Bellatrix me dizia que sua felicidade nada tinha a ver com o noivo, Rodolfo Lestrange, de pé logo atrás dela. Ao lado dele estava Lucio Malfoy, com as mãos apoiadas nos ombros de Narcisa. Tia Elladora também estava de pé, conversando com tia Denebolla, a mãe de Sirius. Exatamente. A do retrato.

Regulus, meu outro primo, dormia e babava sobre a mesa de jantar. Meu pai estava acompanhado de outros senhores, um calvo de bigode, um moreno atarracado e outro do porte de um lorde sueco, mais dois rapazotes que eu conhecia da escola. Rastaban Lestrange e Sean Avery eram alunos da Sonserina e tinham a idade de Sirius e Narcisa. Por fim, três mulheres antipáticas, que me miravam com desdém, e pude reconhecer uma delas com uma prima de minha mãe.

- Onde você estava? - minha mãe se levantou do lugar onde estava, o rosto enfurecido.

- Lá fora? - respondi hesitante, percebendo que todos estavam arrumados como para uma festa.

- E o que a senhorita estava fazendo lá fora enquanto devia estar aqui dentro, sendo cortejada por seu noivo? - meu pai falou sem olhar para mim, a voz mais autoritária que de costume.

Tirei coragem não sei de onde e perguntei:

- Noivo? De que noivo vocês estão falando?

A primeira idéia que me passou pela cabeça foi que Ted estava ali, mas rejeitei-a logo. Meus pais nunca permitiriam que um nascido trouxa pusesse os pés dentro daquela casa. Então reparei em Sean Avery, que parecia bastante irritado com a minha pergunta. Seria ele o "noivo" de quem estavam falando?

- Como assim, que noivo? - se minha mãe não prezasse tanto a compostura e o ar nobre que os Black insistiam em manter, ela teria gritado comigo na frente de todos.

Bellatrix, entretanto, tomou as rédeas da situação, pensando que uma briga comigo poderia comprometer seu relacionamento com a família de seu futuro marido.

- Desculpem-me, Sr. e Sra. Lestrange, mas desde que minha irmã foi mandada para Hogwarts ela tem surtos desse tipo. Sabem, a coitadinha foi selecionada para a Corvinal e sente-se tão envergonhada disso que às vezes tem amnésia temporária, não é mesmo, Andrômeda? - e lançou para mim um de seus olhares fulminantes.

- Do que é que vocês estão falando? Ficaram loucos? - eu estava agindo irracionalmente. Nunca comprara briga com ninguém de minha família. Ao contrário, sempre acatava todas as decisões calada, para desespero de Sirius, que não se conformava com a minha submissão a meus pais.

- Estamos falando do nosso jantar de noivado! - Bellatrix respondeu furiosa.

- Nosso você quer dizer seu e dela - eu respondi apontando para Narcisa, que estava boquiaberta com o escândalo que eu estava provocando. - EU NÃO TENHO NOIVO NENHUM! - disse em alto e bom som, acordando Regulus.

- Não tinha! Pois a partir de hoje TEM! - meu pai encerrou o assunto. - Andrômeda ficará muito satisfeita em fazer parte da família Avery, Edgar. Seu filho pode considerar-se compromissado.

- Não pode, não! Eu já tenho um namorado! - retruquei sem pensar.

Todos os rostos estavam tensos naquela casa e todos os olhares eram direcionados a mim. Sem saber o que fazer, saí correndo da sala de jantar e subi as escadas trancando-me num dos banheiros, chorando de soluçar. Se ao menos Sirius estivesse ali...








- Até hoje eu não sei como ninguém arrombou aquela porta e lhe trouxe para baixo à força, mãe! - Ninfadora opinou quando a mãe deu um intervalo.

- O estrago já tinha sido feito, filha. Os Avery não iriam querer seu único filho casado com uma garota rebelde como eu... Rebelde... Hahaha, quem diria que um dia pensariam que eu era rebelde?

- Eu não entendi uma coisa - Harry objetou. - Você não sabia que estavam fazendo um jantar na sua casa?

- Harry, eu sempre fui a garota invisível e nunca precisei de uma capa da invisibilidade para isso. Narcisa e Bellatrix falavam nesse jantar dia e noite, mas até aí, eu não via nada de diferente. Era comum eu me ausentar das festas de família, passar noites de Natal no meio da neve e coisas do tipo. Se eu passasse uma semana no jardim, posso apostar que ninguém sentiria a minha falta. Achei que estaria fazendo um favor a elas me ausentando, pois certamente se eu estivesse no jantar e algo desse errado, Bellatrix diria que era minha culpa. Tinha até me esquecido de que haviam marcado para aquela noite. Além disso, ninguém me avisou que eu também teria um noivo.

- E eles deixaram assim, barato? - Harry quis saber.

- Ah, Harry, Bellatrix nunca deixa nada barato.








- Alohomorra!

Respirei fundo o máximo que pude ao ouvir as palavras mágicas destrancado a porta do banheiro umas três horas depois. Teria que preparar minhas desculpas em segundos, pois até então eu só havia conseguido chorar. Mas não eram meus pais, como eu pensava.

- Andrômeda? - Sirius arregalou os olhos e rapidamente levou a mão aos olhos. - Eu não vi nada! Juro!

Ele tinha colocado a mão na frente do rosto, mas os dedos estavam abertos o suficiente para que pudesse ver o que bem quisesse. Eu teria rido - ou ficado furiosa - se aquilo tivesse acontecido num outro dia. Sirius tinha o péssimo costume de nunca perguntar se havia alguém no banheiro do andar de cima antes de usá-lo. Realmente era raro que alguém o usasse, mas se uma porta está trancada... Ok, Ninfadora, eu sei que você já está cansada de ouvir sempre a mesma história, mas nunca é tarde para aprender a ter bons modos. Não que Harry não os tenha, mas... Ok, vamos voltar à história.

- Você estava chorando? - ele perguntou ao reparar no meu nariz inchado em meus olhos vermelhos.

Sirius olhou rapidamente para trás e então se trancou no banheiro comigo. Eu podia estar triste, mas ainda não tinha perdido meu juízo. Ficar trancada com um garoto no banheiro? Não me importava que fosse meu primo. Aliás, acho que isso era o que mais importava, pois a fama de Sirius com relação a garotas não era das melhores. Quero dizer, ele vivia rodeado por essas garotinhas, mas uma garota de respeito... Ninfadora, não me diga que você fazia esse tipo de coisa na escola!

COMO QUALQUER GAROTA QUE SE DÊ VALOR eu apontei minha varinha para a porta e a destranquei no mesmo instante, me levantando e procurando sair dali. Mas Sirius não deixou. Ele tinha o semblante sério e preocupado, e me segurou com força pelo braço:

- Você está me machucando! - reclamei e ele me soltou.

- Acho que mereço ao menos a consideração de saber o que está acontecendo - ele retrucou ressentido.

- Nada! Não aconteceu nada! - eu menti sem saber porquê. Menos de dois minutos antes, tudo o que eu mais queria era meu primo ao lado para poder desabafar.

Ele percebeu. Olhou para mim uma última vez e saiu andando de cabeça baixa para o quarto que dividia com o irmão.

- Sirius! - eu chamei, sentindo arrependimento. Mas já era tarde. Ele sequer olhou para trás.

Olhei para o outro lado do corredor. Não podia passar a noite toda ali. Talvez se fosse para os jardins... Mas por que eu tentava me enganar? Eu não iria escapar da fúria de meus pais e de minhas irmãs. Poderia adiá-la, mas escapar?

Assim, segui meu caminho pelo corredor mal-iluminado. Kreacher costumava apagar as velas assim que Narcisa e Bellatrix entrassem no quarto, sem nunca se importar se eu já havia me deitado.

Parei um segundo diante da porta do meu quarto, hesitando em entrar. Ainda havia tempo para fugir. Mas tudo parecia calmo. As luzes estavam apagadas e minhas irmãs já estavam dormindo. Pé ante pé, fui até minha cama e deitei-me sem me dar ao trabalho de trocar de roupa. Quanto menos ruído fizesse, melhor.

Arrumei o travesseiro de forma confortável, embora com a nítida impressão de que não conseguiria dormir. Recostei a cabeça e puxei as cobertas sobre o corpo. Só então senti o perfume.

Percebi na mesma hora o que Bellatrix havia feito e isso só me desesperou mais. O delicado perfume de jasmim era pó de asa de fada. Você sabe para que servem, não? Não? O que eles ensinam em Trato das Criaturas Mágicas hoje em dia? Bem, o pó extraído da asa da fada solidifica sonhos e pensamentos. Vou tentar explicar melhor. É como se tudo em que você pensasse aparecesse numa nuvenzinha sobre sua cabeça, como num filme mudo. Ah, sim, eu sei o que são filmes; Ted me levou para ver alguns logo depois de nos casarmos. Mas isso não vem ao caso. O que importa é que a mais remota lembrança de meu namorado denunciaria seu rosto.

Eu não podia pensar. Não podia! Mas como é que alguém esvazia seus pensamentos? Escolhi não esvaziá-los, mas pensar em outra coisa. Em outra pessoa: Sirius. Passei a noite pensando em Sirius, em como eu o tinha magoado não contando o que havia acontecido. Nisso e em nossas conversas sobre as estrelas no jardim. Nisso e nas piadas que ele e Tiago contavam sobre sonserinos. Alternava lembranças boas e más, mas procurava pensar apenas em meu primo.

Vez ou outra eu percebia minha irmã mais velha se remexendo sob as próprias cobertas. Deveria estar louca de raiva por eu ter percebido seu plano. A única coisa que me intrigava era o fato de ela simplesmente não vir me sacudir e me obrigar a dizer quem era o rapaz que me dera coragem suficiente para enfrentar toda a minha família.

Pouco antes do amanhecer, Bella finalmente sentou-se na cama, olhando fixamente para mim sem qualquer nota de embaraço. O efeito do pó de fada já havia passado, de modo que fingi estar dormindo, mas minha irmã não era facilmente enganada. Eu sentia o calor furioso dos olhos de Bellatrix e poderia jurar que em mais alguns minutos ela usaria a varinha. Mas não usou.

- Como você é idiota, Andrômeda! - ela finalmente falou sem elevar muito o tom de voz, que parecia ligeiramente aborrecido.

Narcisa balbuciou qualquer coisa, provavelmente falando em seu sonho. Eu continuei fingindo que dormia. De olhos fechados, pude apenas sentir minha irmã sentar-se ao meu lado na cama e começar a acariciar meus cabelos.

- Eu achava que você era uma mulher forte... Com inclinações um tanto equivocadas, é verdade, mas uma bruxa de grande capacidade. E bruxas assim não podem ser subjugadas por homens, querida.

Ela sabia que eu estava acordada?

- Tanto trabalho para arranjar um homem estúpido o suficiente para que você pudesse controlá-lo e você tinha que estragar tudo com uma paixão idiota? - Bella esbanjava inconformismo na voz, mas continuava falando baixo.

Senti meus lábios tremerem. Eu tinha denunciado Ted? De súbito, Bella parou de mexer em meus cabelos e a frase que veio a seguir me deixou chocada e aliviada ao mesmo tempo. Aliviada porque tive certeza de que ela achava que eu estava dormindo e chocada porque...

- Mais uma coisa que temos em comum, Andie. Mas pelo visto você tem se saído melhor do que eu quando o assunto é Sirius Black - e senti uma ponta de amargura na voz dela.

Minha irmã interpretara meus pensamentos de uma forma que eu nunca viria a imaginar. Bellatrix pensava que o namorado a quem me referi no jantar era meu primo! Mas o pior não era isso. Ela voltou a acariciar meus cabelos, falando numa voz sussurrada.

- Ele poderia ter sido meu. Mas perto de Sirius eu seria sempre uma sombra. Foi esse o destino que você escolheu, irmãzinha. Viver à sombra de um homem. Você nunca conseguirá manipulá-lo. Eu não conseguiria... Ele pode negar quantas vezes quiser, mas é um Black. É um Black na alma.

O quarto ficou em silêncio alguns instantes e eu me apavorei com a possibilidade de Bella descobrir que eu estava acordada. Ela jamais falaria nada daquilo se pudesse imaginar que eu não estava no mais profundo sono. Ela deixou de brincar com meus cabelos e tomou minha mão direita, escorregando seus dedos finos e gelados por entre os meus.

- Você escolheu sofrer, Andie. Espero que saiba disso. Porque Black é incontrolável. Ele vai te trair, não tenha dúvidas, de todas as formas possíveis. Mas eu posso lhe ajudar... Não deveria, é lógico. Você sempre despreza todos os meus esforços pelo seu bem-estar. Mas desta vez tenho certeza de que você vai me agradecer. E vai me proporcionar a única chance de controlar Sirius.

No mesmo instante senti a prata gelada escorregando por um de meus dedos e ajustando-se perfeitamente a ele. Bellatrix tinha me dado um anel. Depois disso deixou minha cama e saiu do quarto junto com o canto dos galos.

Narcisa não levantaria antes do meio-dia e os ponteiros do relógio ainda marcavam oito horas.

Fiquei na cama por meia hora ainda, encarando o anel prateado que continha uma mensagem indecifrável. Sempre fui péssima com línguas, mas ainda que forçasse a memória, não conseguia imaginar um único idioma do mundo mágico que usasse códigos lingüísticos como aquele.

Havia também a dúvida se eu conseguiria encarar Bella sem denunciar que ouvira todo o seu desabafo daquela manhã. E meus pais... A coragem não vinha, mas o pensamento de que poderia fugir para os jardins antes de encontrá-los me animou a descer.

Narcisa grunhiu qualquer coisa ao ouvir o ranger da porta se abrindo, mas não dei importância. Corri descalça até a escada e revistei a sala por sobre o corrimão. Vazia.

- Buuu!

- Aaaaaaaaauuuuuu!

Meu coração disparou com o susto e me virei apressadamente para encontrar Sirius rindo da minha cara.

- Muito engraçado! - fiz cara de brava e olhei para baixo novamente: Kreacher tinha aparecido para ver quem ousava atrapalhar o café-da-manhã de seus senhores. - Obrigado por piorar ainda mais as coisas!

- Ei, quem está bravo com você sou eu! - ele pareceu se lembrar de repente e amarrou a cara também.

Desviei do olhar rancoroso de meu primo e essa fuga acabou me tornando ainda mais apreensiva. Num dos dedos da mão direita de Sirius estava um anel absolutamente idêntico ao que eu ganhara de Bellatrix naquela noite.

- O que... o que você está fazendo com... isso? - e peguei a mão dele.

Sirius pareceu não se abalar:

- Não entendi a surpresa. Pelo visto Bellatrix também lhe deu um! - ele retrucou olhando para a minha mão. - É a tal lembrança do noivado dela com o Lestrange, não é? O diacho é que esse raio de anel entalou no meu dedo, não sai de jeito nenhum.

Sirius forçou o anel mais uma vez, mas ele não ultrapassou nem o primeiro nó do dedo anelar de meu primo. Fez cara de desgostoso e voltou a olhar para mim, um pouco menos aborrecido ao ver que eu encarava meu próprio anel com ar interrogativo.

- Lembrança do noivado? Mas então por que...

Não tive tempo de falar mais nada. Bellatrix vinha subido a escada de cabeça erguida e triunfante, como sempre, aliás.

- Ora, ora, que linda cena! - ela disse ao chegar ao último degrau, olhando de mim para Sirius com um sorriso estonteante.

Os olhos esverdeados quase se escondiam sob as pálpebras, constantemente caídas, segundo Sirius, pela mania de minha irmã olhar todos de cima, como se fosse superior a qualquer ser existente na face da Terra.

Sirius e eu franzimos nossas testas perante o comentário. Eu tinha uma ligeira idéia do que ela queria dizer com aquilo, só não conseguia entender a ligação de tudo com as palavras dela ao colocar o anel em meu dedo.

Bellatrix não se importou com nossos rostos. Subitamente pegou em minha mão e na de Sirius e, olhando-me intensamente, falou numa voz leve e bastante incomum para ela:

- Não sou uma irmã tão ruim quanto pensa, Andrômeda. Na verdade, sempre quis seu bem acima de tudo. E o seu também, Sirius - ela se virou para ele.

- Ah, corta essa, Bella - ele quebrou o contato rispidamente e vi o rosto de minha irmã demonstrar por um segundo sua insatisfação para depois se render novamente a um sorriso meloso. - Os generais já tomaram o café para eu poder descer?

- Você vai ter trabalho com essa escolha, Andrômeda - Bella ignorou a pergunta de Sirius. - Mas ao menos escolheu um puro sangue.

- Como é que é? - Sirius arregalou os olhos para mim imediatamente. – Puro sangue? Do... do que é que vocês estão falando? Andie, não me diga...

Meus olhos também se alarmaram. Por um instante pensei que Sirius iria entregar meu namoro escondido com tanto esforço. Se Bella descobrisse que eu namorava um rapaz nascido trouxa era capaz de aconselhar meu pai e minha mãe a me prenderem naquela casa pelo resto de minha vida.

- Não, lógico que não... - eu respondi, olhando mais para minha irmã que para ele.

- Por Merlim, vocês já podem parar com esse fingimento! - Bella suspirou exasperada. - Conversei com mamãe e papai. Há tempos eu vinha desconfiando desse namoro e depois de ontem tudo ficou evidente. Não espere uma recepção calorosa para os dois depois do que você aprontou ontem. Papai e mamãe ainda lhe darão um castigo. Não falei que não era uma irmã má, Andrômeda querida?

- Meus tios aprovaram o namoro da Andie? Eu acho que não entendi direito essa parte... E o que foi afinal que você aprontou ontem? - ele se voltou para mim.

Eu sentia cada centímetro do meu corpo formigar. Sirius ia me denunciar sem querer e eu não tinha como evitar. Estava tão atônita que as palavras não saíam de minha boca. Eu precisava tirá-lo dali e explicar tudo.

- É simples, Sirius - Bella interpretou minha mudez como emoção. - A partir de hoje vocês dois não precisam mais namorar escondido. Aliás, não entendo por que faziam isso. Deviam ter nos contado antes. Teria evitado todo aquele mal-estar na noite de ontem. Agora que já dei a notícia, preciso me arrumar para o almoço na casa de meus futuros sogros.

Sirius ficara tão mudo quanto eu e me olhava perplexo. Bella tinha ficado louca? Antes que ele se atrevesse a perguntar mais alguma coisa, fiz um gesto rápido para que se calasse e gritei para minha irmã:

- Bella, eu amanheci com isso no dedo hoje! - e levantei minha mão para que ela o visse: - Sirius acabou de me dizer que você deu um igualzinho a ele. Mas não conseguimos tirá-los do dedo.

- Ah, isso... - Bellatrix parou no meio do caminho, sem se virar. - Isso é um presente muito especial.

E continuou seu caminho para o quarto.

- Será que agora você pode me explicar o que está acontecendo? - Sirius parecia furioso. - Primeiro te pego chorando no banheiro, depois Bellatrix me enfia um anel a força no dedo, e agora, se eu entendi bem, acabo de receber permissão para namorar você.

- Er... Bem... - eu não sabia por onde começar.

- Isso até que não seria ruim, mas até onde eu me lembro você já tem um namorado, não tem? - ele reduziu o tom de voz nesse momento.

Eu sacudi a cabeça concordando. Então, peguei em sua mão comecei a descer as escadas. Sirius me acompanhou um tanto desconfiado. Entre o jardim e a porta de entrada, escolhi a porta.

- Você quer sair assim? - ele me olhou de alto a baixo quando encostei na maçaneta. - Tsc, tsc. Corvinais costumam ser mais prudentes.

Sirius tirou a varinha do bolso e transformou minha veste bruxa amarrotada em roupas trouxas. Ele já estava vestido dessa maneira, pois todas as manhãs de férias, Sirius fugia de casa e ia se esconder no movimentado mundo trouxa a frente de nossa casa no Largo Grimmauld.

Saímos. Eu continuei muda por umas três quadras e finalmente me senti segura:

- Bellatrix acha que somos namorados.

- Isso eu percebi, Andie. Eu só gostaria de saber como foi que ela chegou a essa brilhante dedução, e desconfio de que você sabe.

- Muito bem. Ela me interpretou mal, se é que você me entende.

- Não, definitivamente não entendo. Por que você não pára com tantos rodeios, Andie? - e me segurou pelo antebraço. - Sou eu, Sirius, seu primo e melhor amigo, lembra?

- Ontem - eu fechei os olhos e comecei. - Ontem, quando voltei para dentro, Sean Avery me esperava para celebrar o nosso noivado.

- Quê? - ele me soltou de imediato, atordoado com a informação.

- Pela primeira vez na vida, não consegui me conter e desafiei a família toda, dizendo que já tinha um namorado. Daí fugi para o banheiro, onde você me encontrou mais tarde.

- Mas o que isso tem a ver comigo? Quero dizer, de onde Bella tirou essa idéia maluca?

Eu o cortei. Contaria tudo o mais rápido possível. Nem mesmo a multidão e a confusão da cidade trouxa me davam segurança de que ninguém estaria me ouvindo.

- Quando voltei ao meu quarto, percebi o aroma de pó de fadas em meu travesseiro.

- Bellatrix! - ele deduziu.

- Não podia pensar em Ted. Acabei pensando em você.

- Pensando o quê? - ele subitamente perdeu o ar preocupado e passou a língua nos lábios.

- Nada do que você está pensando, né, Sirius! - eu ralhei com ele. - Estava pensando na nossa briga, quando eu não quis lhe contar sobre o jantar de noivado.

- Uma coisa tão boba! Não sei por que quis fazer segredinhos - ele fez muxoxo.

- Você me deixou nervosa ao trancar a porta do banheiro.

- Se você ficou nervosa foi porque maliciou o meu ato, e se maliciou o meu ato foi porque...

- Eu amo o Ted. Não se atreva a duvidar disso, Sirius! - eu quase enterrei meu dedo indicador num dos olhos dele.

- Deve amar mesmo, enfrentou a família inteira por causa dele. Sabe, acho que comecei a gostar desse sujeito.

- Bah, você só implica com ele por causa das detenções que ele deu a você e Tiago. Ele estava agindo como um monitor que sabe do seu dever.

- O Ted era um estraga-prazeres, isso sim, mas como ele fez você reagir, vou começar a vê-lo com outros olhos de agora em diante. Mas deixe-me ver se entendi direito. Você estava tendo pensamentos obscenos - auuu! Seus tapas doem, Andie - estava pensando em mim e a Bella pensou que eu fosse o seu namorado.

- Mas o mais estranho é isso - e mostrei o anel. - Ela colocou isso no meu dedo de manhã, achando que eu estava dormindo e disse... disse que assim eu poderia controlar você.

- Me controlar? - ele riu, incrédulo. - Coitada!

- Sirius, você e Bella nunca...

- Você quer saber se eu e Bella alguma vez... - ele me pareceu um pouco constrangido, mas logo percebi que era mais uma piada. - Espere um pouco, deixe-me ver. Impossível saber... Não consigo lembrar de todas as garotas que já passaram pela minha mão...

- SIRIUS! - e lhe dei outro tapa.

Ele retrucou rindo:

- Andie, de onde você tirou um absurdo desses? É lógico que eu nunca tive nada com a Bellatrix.

- Você costumava achar ela "mais linda que uma borboleta" quando era criança - retruquei usando suas próprias palavras.

- Eu devia ter uns cinco anos. E naquela época eu achava até mesmo que existiam bruxos sangue ruins e que trouxas eram contagiosos. Acho que minha concepção de mundo mudou um pouquinho desde então.

Eu sorri. Sirius se transformara completamente desde que pisara pela primeira vez em Hogwarts.

- Bom, ela disse que era um presente especial - Sirius contemplou seu anel e tentou tirá-lo outra vez. - Realmente impossível de tirar. Conhecendo Bellatrix, tenho certeza de que ela o enfeitiçou, só nos resta descobrir com o quê.








- Espere um pouco, Sra... Andrômeda - Harry se lembrou de que a prima de Sirius pedira para que fosse menos formal. - Você... Você não está querendo dizer que Bellatrix e Sirius...

- Não... - Andrômeda desviou o olhar. - Nunca da parte de seu padrinho. Mas eles sempre tiveram uma relação conturbada. Em especial depois que passaram a atuar em lados opostos. Sirius arruinou os planos de Bella muitas vezes. E ela os dele outras tantas.

- Ela finalmente conseguiu se vingar, então? - Harry encarou Andrômeda, que novamente evitou o rosto do garoto.

- Mas, mãe, eu realmente não consigo imaginar Bellatrix gostando de alguém além dela mesma.

- Você se esqueceu de Voldemort - Harry completou ríspido, a imagem repugnante da bruxa se humilhando perante Voldemort no último encontro dos três lhe veio a mente.

- Bella? Gostar de d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? Eu duvido - Andrômeda rejeitou a sugestão. - De início eu penso que ela o via como a escada para a glória, para o poder; depois, como sua única salvação. Quando você derrotou Voldemort, Harry, minha irmã era procurada em cada esquina do mundo mágico e do trouxa. Ela queria salvar a própria pele.

Harry discordava. Andrômeda podia ser a irmã de Bellatrix, mas nunca a tinha visto após Azkaban. Ela não tinha visto o rosto macilento, os olhos fantasmagóricos, a voz cheia de ódio. Não havia diferença entre a seguidora e seu ídolo. Mas pensar que algum dia Sirius pudesse ter tido algo com aquela que seria sua assassina parecia incabível para Harry. Assim, resolveu retomar o verdadeiro objetivo da história:

- Eu ainda não consegui entender o que tudo isso tem a ver com o retrato de Sirius - Harry franziu a testa.

- O retrato de meu pai, você quer dizer - Ninfadora o corrigiu de imediato.

- Muito bem... - Andrômeda se reacomodou no chão gelado e voltou à narrativa.








- Eu ainda não estou acreditando - Narcisa jogou-se na cama, espalhando as madeixas douradas sobre a colcha bordada. - Sirius, Andrômeda? Tantos rapazes interessantes na escola e você está namorando Sirius? Você tem idéia de quantos pares de chifres ele colocou em você só este ano?

Em frente à penteadeira, Bellatrix revirou os olhos e comentou em tom de desprezo:

- Não deve ser muito mais do que os que Malfoy colocou em você.

- Lucio nunca...

- Não seja ingênua, Narcisa - Bellatrix encerrou a discussão lançando um olhar amedrontador para minha irmã mais nova pelo espelho.

Eu a observava cada vez mais intrigada. Bella parecia realmente satisfeita com minha "escolha" e vinha me defendendo como nunca fizera com nada nem ninguém em toda a sua vida.

Creio que, acima de tudo, todos estavam aliviados. O futuro de Sirius sempre causou preocupações e cabelos brancos nos mais velhos. As mulheres escolhidas por Sirius e Regulus seriam as responsáveis pela continuação de nossa família, afinal apenas os garotos poderiam dar o sobrenome Black a seus filhos. A simples possibilidade de que Sirius escolhesse uma nascida trouxa e enxovalhasse o nome da família era absolutamente impensável. Melhor eu que outra qualquer: matariam dois morcegos com uma varinhada só.

A história deduzida por Bellatrix tinha se espalhado rápido na família e eu não me admirei quando fui informada por tia Elladora de que um novo jantar de noivado estava marcado para brindar meu futuro. Eu e Sirius decidimos levar a farsa adiante. Só um detalhe me preocupava. Nas cerimônias de noivado de minha família era comum selar o compromisso dos noivos com uma poção muito especial: Amoris Vitalis.

Nenhuma de minhas irmãs comentara nada a respeito dessa tradição. Sequer falavam do jantar de noivado, o que era realmente estranho, pois Narcisa não calara a boca até aquela maldita noite chegar. Repentinamente, minhas duas irmãs pareciam ter deixado de achar o casamento algo assim tão interessante.

- Bella... - eu sussurrei, ainda incerta se devia fazer a pergunta. - Como... Como foi o jantar de vocês?

A boa vontade dela desapareceu de repente. Narcisa levantou a cabeça me olhando atônita. Bella colocou a escova sobre a penteadeira e começou a me analisar pela imagem refletida no espelho. Eu podia ver os olhos verdes faiscando e naquele segundo me arrependi de ter perguntado. Meu rosto denunciava minha apreensão e, após um sorriso de satisfação por reconhecer meu medo, minha irmã mais velha se virou e me olhou nos olhos.

- Caso você não se lembre, passamos a maior parte da noite esperando por você, Andie querida.

Senti meu rosto queimar. Ela jamais perdoaria uma falha como aquela. Eu arruinara a festa de noivado de minhas irmãs e agora teria uma só para mim. O comentário de Bellatrix fora apenas um aviso de que ela não se esquecera. Eu ainda teria que pagar.

- Você é mesmo uma idiota, Andie. Trocar o Avery pelo Sirius... Muito idiota! E o panaca ainda é mais novo que você.

Estas foram as últimas palavras que ouvi Narcisa dizer após resolver me retirar do quarto. Bella voltara a pentear os cabelos negros vagarosamente. Não sentiriam minha falta.

Irritada e apreensiva com a falta de informações, eu desci as escadas rumo ao nosso quintal. No andar térreo da casa estavam apenas os elfos domésticos fazendo o serviço de casa. Minha mãe e minhas tias estavam no chá da Associação Feminina da Alta Sociedade Mágica, como acontecia todas as sexta-feiras por volta de cinco horas da tarde. Meu pai e meu tio Mirach provavelmente estavam fechando algum negócio lucrativo que tornaria minha família ainda mais rica. Tio Alphard estava viajando há quase um mês e eu torcia para que ele voltasse antes da famigerada festa; ele certamente nos ajudaria a contornar aquela situação.

Na verdade, ele me ajudaria, porque Sirius não estava nem um pouco preocupado.

- Você está fazendo tempestade em copo d'água, Andie. Seria tão ruim assim casar comigo?

- Essa conversa de novo não, Sirius.

Aquele se tornara um assunto habitual em nossas conversas noturnas. Eu sempre tentava explicar a Sirius que, por mais eu o amasse, não o amava como a Ted. Era um amor de primos.

A verdade é que, por mais que dissesse que gostava de mim, o que Sirius sentia era em parte orgulho ferido, em parte um medo absurdo de terminar sozinho. Nós sempre tínhamos sido o apoio um do outro, e no dia em que eu me casasse com Ted, ele estaria sozinho. Era assim que ele pensava.

Eu nunca havia dito isso, filha? Talvez porque só tenha começado a pensar nisso há pouco tempo. Eu disse há pouco que Sirius nunca tinha se interessado por Bella, não é mesmo? Me enganei. Quando éramos pequenos, bem antes de Hogwarts, ele era absolutamente vidrado em minha irmã. Sirius seguia Bella pelos lugares, como um verdadeiro cachorrinho; fazia-lhe as vontades e aprontava comigo, Narcisa e Regulus apenas para provocar gargalhadas em Bella.

Com o tempo, Bella foi perdendo o interesse nele e, ao entrar em Hogwarts, passou a tratar todos nós como seres insignificantes. Ela foi a primeira garota a rejeitá-lo. Eu fui a segunda. E com exceção de apenas mais uma outra garota, fomos as únicas.

Desde que Tiago cismara com Lílian Evans, Sirius parecia obcecado em encontrar a garota perfeita para si e, logicamente, esta era uma tarefa impossível. Todas pareciam bobas, ou chatas, ou burras, ou metidas... Então, numa de nossas de nossas férias, creio que quando estávamos prestes a entrar no 5º e 6º ano (6º ano? Mas ela não namorava o Ted escondido há 2 anos no tempo “atual”?) respectivamente, ele esbarrou nesse assunto pela primeira vez.

- Você gosta de alguém, Andie? - pela primeira vez na vida o tom de voz de meu primo parecia inseguro.

- Por que é que você está me perguntando isso? - eu desviei os olhos do livro que lia para passar o tempo.

- Gosta ou não gosta? - ele insistiu.

- Não... - eu respondi meio incerta. Paquerava alguns bruxos do sétimo ano por diversão, mas ainda não tinha me interessado por ninguém de verdade. Voltei a ler o livro.

- Você acha que seria muito difícil gostar de mim? - ele abaixou o livro e me olhou nos olhos.

- Acho que não. Tantas garotas gostam, não é?

- Você não entendeu... - ele franziu a testa. - Você gostaria de mim? Seria minha namorada?

- Que brincadeira boba é essa, Sirius? Você não tem nenhuma caixinha de recordações por aqui, tem? - eu comecei a revistar a biblioteca de nossa casa, certa de que aquela era mais uma das armações de meu primo.

- Lógico que não, Andie. Eu estou falando sério - ele retrucou levemente chateado. - É que eu estava pensando... Você é uma garota legal. Uma das poucas que existem, aliás. Não é fresca como Narcisa, nem grudenta como Alice, é bonita como Bellatrix...

- Bonita como Bellatrix? - eu estranhei, pois fora justamente para afrontar Bellatrix que Sirius fizera sua primeira má amizade com um "amante de trouxas". Sim, Harry, Sirius se tornou amigo de seu pai por causa dela. Mas essa é outra história.

- Ela é bonita, ué - ele deu de ombros. - Absolutamente intragável, mas bonita. Eu não sou cego. Voltando ao assunto anterior, você não é como as outras garotas de Hogwarts. Você seria uma namorada legal.

Eu comecei a rir.

- Não ria - ele esbravejou. - Estou falando sério.

- Sirius, você não namora alguém só porque acha a pessoa legal. Você precisa gostar da pessoa.

- Mas eu gosto de você... Ao menos eu acho - ele pareceu confuso.

- Tome! - eu enfiei um livro na cara dele.

- O que é isso?

- Um romance! Quem sabe aí você não descobre o que está faltando entre nós dois.

Ele olhou sem vontade para o livro e colocou-o de lado. Ficou quieto alguns minutos, matutando a melhor forma de retomar o assunto.

- Só me responda o seguinte, então: eu sou o tipo de cara que você namoraria?

- Depende - eu baixei o livro muito pouco, de forma que ele só podia ver meus olhos.

- Depende? - aquela não era a resposta que ele queria ouvir.

- Hum... deixe-me ver - eu finalmente desisti do livro. - Você é bonitinho...

- Bonitinho é feio arrumado. E arrumado é algo que eu não sou.

- ‘Tá bom, Sirius. Você é lindo, um deus grego e definitivamente eu não consigo achar nada em você que possa me causar repugnância - falei em tom de deboche, mas a verdade é que Sirius realmente era muito atraente.

Ele riu.

- E...

- E você é legal. É o primo mais legal que eu podia querer. É inteligente... Devia ter caído na Corvinal, como eu.

Ele fez uma careta. Adorava ser um grifinório.

- Mas...

- Mas?

- Mas você é muito estourado. Perde a calma muito fácil - eu repreendi. - É teimoso e chato quando quer saber alguma coisa. Como agora! E você passa muito tempo cumprindo detenção. Que tipo de vida útil teria um namoro em que uma das partes passa finais de semana limpando a biblioteca e proibido de por os pés em Hogsmeade.

- Isso não seria exatamente um problema - ele sorriu maliciosamente.

Agora, com toda a confusão envolvendo nossos nomes, ele passara a cogitar essa idéia seriamente. Perdi a conta de quantas vezes Sirius me perguntou se eu realmente gostava de Ted nas três semanas que antecederam nosso noivado.

E era na imprevisibilidade das atitudes de Sirius que eu pensava naquela tarde enquanto via o sol começar a sumir no horizonte. Estava tão longe que não percebi alguém se sentar ao meu lado.

- Fazendo todo mundo de bobo. Quem diria, Andie?

Senti meu coração acelerar com o susto.

- Regulus! Que droga! Por que é que você tem que fazer isso sempre?

- Susto? Onde é que seus pensamentos estavam que não me viram chegar? Pensando no sangue ruim do Tonks, priminha?

- E o que você tem a ver com o que Andrômeda pensa?

Vi a respiração de Regulus congelar no minuto em que ouviu a voz de Sirius. Nós dois nos levantamos depressa. Com a voz ainda hesitante, Regulus tentou se desculpar.

- Só estava tentando avisá-la...

- Você não tem que avisá-la de nada, seu idiota. Tem é que ficar de boca fechada. Se alguém ficar sabendo qualquer coisa eu não terei dúvidas de quem foi o dedo-duro. E você não quer comprar briga comigo, quer?

Um fiapo de coragem pareceu se apoderar de Regulus.

- Vocês dois se acham espertos, não é mesmo? Pois saibam que vão ter que tomar a poção. Bella e Narcisa tomaram - e voltando-se para mim: - Pensa que ele está do seu lado? Você vai ter que largar do sangue ruim para ficar com ele.

- Ora, cale a boca.

Sirius agarrara o irmão pela gola e estava prestes a dar-lhe um soco no olho. Fui eu quem impediu.

- Jura, Reggie? Elas tiveram que tomar Amoris Vitalis? - perguntei me colocando entre ele e Sirius.

- Todos os quatro. Bellatrix não parecia nada satisfeita. Na minha opinião ela se acha muita areia para o caminhãozinho do Lestrange.

- Grande novidade! Ela se acha boa demais para qualquer um - Sirius soltou o irmão, parecendo um pouco abalado com a notícia. Com certeza não mais do que eu.

Amoris Vitalis era a poção do casamento eterno. Quem tomasse uma dose no dia de seu noivado estava fadado a viver o resto da vida ao lado da pessoa com a qual dividira o copo. Se eu e Sirius dividíssemos aquele copo, seríamos obrigados a ficar juntos. Por quê? A Amoris Vitalis era uma espécie de poção da fidelidade. Entre outras coisas, quem repartia o copo sentiria dores terríveis toda vez que o parceiro tivesse qualquer contato mais íntimo com uma outra pessoa. Ignorar as dores do outro provocaria a morte de ambos; a do traído pela multiplicação das dores, e a do traidor logo em seguida, pois uma vez morta primeira pessoa, o efeito passa a agir sobre aquele que o origina.

Ignorando a rivalidade entre meus primos, eu comecei a chorar compulsivamente sem encontrar uma solução. Não vi Regulus saindo dali, mas logo senti Sirius me envolver num abraço morno.

- Nós não vamos tomar a poção, Andie. Eu vou pensar em alguma coisa, ok?

- Vai mesmo, Sirius? - eu retruquei ressentida. - Não é justamente isso o que você quer? Você já sabia da poção, não é? Essa insistência toda em saber se eu gosto mesmo do Ted... Eu nunca vou aprender a gostar de você, está me entendendo? NUNCA!

- NÃO SEJA ESTÚPIDA! - ele agarrou meu braço antes que eu fugisse. Sirius nunca tinha gritado comigo. Estava furioso. - Eu disse que vou pensar em alguma coisa.

Ele me soltou bruscamente e voltou para dentro da casa. Eu continuei chorando como uma idiota sem perceber o quanto tinha sido injusta. Sirius nunca tinha falhado comigo.

Ele não voltou a me procurar até a véspera do jantar de noivado. Passara duas semanas carrancudo, evitando fazer as refeições com a família. Durante as noites, não se refugiava no jardim como eu. Regulus aparecia ali vez ou outra tentando descobrir apenas de olhar para mim como faríamos para escapar da enrascada em que tínhamos nos metido. Naquela noite, após ver Sirius sair para a rua trouxa, ele se arriscou a conversar comigo.

- Vocês já sabem o que vão fazer amanhã? - ele perguntou deitando-se ao meu lado na grama.

- Para que você quer saber? Para ir correndo contar para meus pais? Ou foi Bellatrix quem andou lhe rondando?

- Eu já disse que não vou contar nada.

Era lógico que ele não contaria. Sirius daria cabo dele, sem mágica, no minuto em que ele terminasse de contar aquele segredo e Regulus era medroso demais para arriscar a própria vida.

- Na verdade eu estou com pena de você - ele continuou. - Se por um lado você se livra do sangue ruim (eu senti meu sangue ferver), por outro Sirius acaba com você. Ele não vai se contentar com uma única garota. Ele vai enjoar de você, como enjoou das outras.

De repente meu primo parecia triste.

- O que houve, Regulus?

- Comigo, nada.

- Você está mentindo! Não me diga que...

A situação relampejou em minha cabeça. Regulus era apaixonado por uma garota da Corvinal. Margarida Oliver era uma bruxa puro sangue do quarto ano bastante graciosa e chamava a atenção de garotos de todas as casas. Sirius não devia ser exceção e com certeza chegara até a menina antes do irmão.

- Ouvi mamãe me chamar. Boa sorte, Andie! Você vai precisar!

Tudo agora dependia de Sirius. Eu já estava quase arrependida de ter recusado a proposta de Ted. Meu desespero era tão grande que na última semana me arrisquei a mandar uma carta para meu namorado, contando sem muitos detalhes o que minha família decidira por mim. Nós nunca nos mandávamos cartas, com receio de que fossem interceptadas por alguém. O primeiro impulso de Ted foi aparecer na lareira de meu quarto.

- Ficou louco, Ted? Se Narcisa ou Bella estivessem aqui... - mas ele não queria me ouvir.

- Você vem comigo. Agora! Tome. É Pó de Flu. Ande logo! - estava decidido a me tirar dali naquele mesmo instante.

- Ted, eu sou menor de idade! Se eu fugir com você vão lhe prender - eu tentava pôr um pouco de razão na cabeça de meu futuro marido.

- Eu não me importo. Nós vamos para bem longe. Outro país, outro continente, sei lá. O que você não pode é continuar aqui - e ia me puxando pelo braço para dentro da lareira.

- Eu não vou, Ted! Não posso. Sirius disse que vai pensar em alguma coisa.

- Sirius... - ele soltou meu pulso de imediato. - Você acha realmente que seu primo vai lhe tirar dessa, Andie? Ele pode ser muito bom para fugir de detenções, mas não acho...

- Eu confio nele, Ted - tentei acreditar com todas as forças em minhas palavras.

Um pouco enciumado, mas principalmente preocupado com a gravidade da situação, Ted mordeu o lábio inferior e desaparatou de minha casa sem me dar tchau.

Eu depositara todas as minhas esperanças em Sirius, mas ele parecia cada dia mais zangado comigo. Teria se esquecido de sua promessa?

Passei aquela noite acordada, o que fez com que Narcisa se horrorizasse com minhas olheiras na manhã seguinte. Para meu, espanto minha irmã mais nova resolvera ser simpática e benevolente comigo em meu "grande dia".

- Coloque sobre os olhos. Vai relaxá-la - disse me entregando dois chumaços de algodão embebidos com poção revitalizante. - Venha, deite aqui.

Deitei na cama de Narcisa, a cabeça repousando numa almofada em seu colo. Enquanto ela deslizava os dedos entre meus cabelos, o líquido morno do algodão escorria pelo meu rosto camuflando minhas lágrimas.

- Acha que seremos felizes?

Eu estava ouvindo bem? Narcisa estava preocupada com o futuro? Sempre pensei que ela tivesse certeza de que Lucio Malfoy era o homem de sua vida, mas naquele momento ela não parecia tão decidida assim. Não respondi nada. Também acho que ela não ouviria minha resposta. Tinha muito a desabafar.

- Tenho tanto medo, Andrômeda. Lucio é fino, educado, vem de uma ótima família, mas... Às vezes acho que ele não gosta o suficiente de mim. E se ele me trair...

- Ele não fará isso, Narcisa - Bella entrou no quarto naquele segundo. – E, se fizer, dê o troco. No minuto em que ele sentir o efeito do Amoris Vitalis, pensará duas vezes antes de lhe trair novamente.

Bellatrix nunca era solidária com nossas preocupações. Parecia sempre ter uma solução lógica para todas as situações. Bem, nem sempre lógicas, mas sempre soluções.

- Fácil para você dizer isso - Narcisa reagiu com despeito. - Conseguiu enganar a todos...

- Enganar? - eu tirei o algodão dos olhos e mirei minha irmã mais velha com os olhos empastelados.

- Ora, vocês duas não acharam que eu ficaria presa o resto de minha vida a um idiota como Lestrange, acham? Ele é apenas o primeiro degrau da escada - ela disse isso olhando dentro dos meus olhos. - Ninguém vai roubar minha independência, Narcisa. O mesmo não podemos dizer de você.

Os olhos azuis de Narcisa se avermelharam. Ela segurava o choro claramente. Desde pequena o que sempre fizera fora obedecer a ordens. Ordens de meus pais, de minha irmã, de meus tios. Em breve estaria obedecendo às ordens de seu marido. Mas isso não me importava naquele momento. Bella escapara. Ela não tomara a poção.

- Como você conseguiu? - eu estava praticamente suplicando pela resposta.

Bellatrix deu um sorriso calmo e me olhou quase com ternura naquele minuto.

- Eu poderia lhe ensinar, Andie. Podia lhe contar o que fiz, mas isso seria pior para você. Enquanto estiver protegida pela poção, Sirius não a trairá. Ele certamente tem escrúpulos demais para vê-la sofrer.

O desapontamento estava estampado em meu rosto. Deixei minha cabeça cair novamente sobre o colo de Narcisa. Não havia mais nada que eu pudesse fazer se não me entregar a meu destino.








- Nossa, mãe, você não estava sendo trágica demais, não? - Ninfadora interrompeu a narrativa a certo ponto.

- Ora, Ninfadora, achei que você fosse contra casamentos arranjados! E não se esqueça de que...

- Já sei, já sei. Se isso tudo não tivesse acontecido eu nunca teria nascido. Ao menos não do jeito que eu sou hoje.

- Posso continuar? - a mãe fitou a filha com uma irritação fingida.

- Pode - Tonks sorriu.








Sirius havia sumido ainda de manhã, mas deixara com Regulus a missão de avisar que não tinha se esquecido do compromisso.

- Disse que estará aqui, pontualmente, 15 minutos antes do início da festa - ele informou durante o almoço servido no jardim.

Meus pais e meus tios se entreolharam desconfiados e tia Elladora se dispôs a procurar pelo sobrinho em sua bola de cristal. Tia Denebolla, totalmente incrédula nas artes da adivinhação, recusou a oferta com sua amabilidade fingida.

Quando finalmente pude me retirar da mesa, Regulus me chamou a um canto.

- Tenho um recado para você também.

Eu parei no mesmo minuto.

- Sirius?

Já do alto da escada, Narcisa me chamou:

- Vamos, Andie. Você precisa se arrumar.

- Já estou indo - respondi e esperei que ela retomasse seu caminho para o quarto. Bella ainda estava na sala de jantar. - Lá fora! - e puxei Regulus comigo para a rua trouxa.

- Ficou louca! - meu primo retrucou ao ver cada transeunte reparar em nossas roupas.

- Anda! O que Sirius falou? - eu não estava ligando para o que os trouxas pensavam. Queria saber o que Sirius decidira.

- Bem, ele me man... pediu para lhe dizer que, se você realmente gostar do sangue ruim...

- Pare de chamar o Ted de sangue ruim, Regulus!

- Se você realmente tiver o péssimo gosto de gostar do sangue ruim - ele insistiu -, apenas se você realmente...

- Eu AMO o TED! - eu teria berrado se estivesse numa situação mais segura do que aquela.

- Você tem certeza absoluta disso? - meu primo caçula abriu um sorriso.

- É lógico que tenho!

Regulus começou a rir desenfreadamente enquanto eu ia ficando cada vez mais nervosa.

- Quer parar de rir? - eu estava realmente zangada.

- Eu não disse que ela não ia desconfiar de nada? - e ele sorriu, sorriu de uma forma que apenas uma pessoa que eu conhecia sorria.

- Ted? - o rosto de meu primo começou a se transfigurar e seu corpo a crescer para dar lugar ao rapaz da Lufa-lufa que eu começara a namorar no ano anterior (decida-se XD~).

- Que demora, Andie! - e então vi Sirius e Tiago saírem de debaixo de uma capa da invisibilidade. Estavam bem ao lado de Ted. - Eu disse que pensaria em algo, não disse?

- Sirius? Tiago? Mas o que eu significa isso?

- Foi a ótima idéia do Sirius. Não sei como não pensamos nisso antes.

- Na verdade eu tinha pensado em Poção Polissuco - meu primo corrigiu. - Mas quando o namorado da sua prima é um metamorfomago, isso é desnecessário.

- Eu ainda não estou entendendo... - minha ficha demorou a cair. Estava tão atordoada por ver Ted na minha frente que as coisas simplesmente não faziam sentido.

- Ora, Andrômeda, se o Ted pôde enganar tão bem você e a família toda agindo como Regulus, pode fazer a mesma coisa no meu lugar.

Meus olhos brilharam e, ignorando meu namorado, agarrei Sirius distribuindo beijos e mais beijos em seu rosto. Tudo era tão simples, tão sim...

- Regulus! Que você fez com Regulus, Sirius? - ele olhou de esguelha para Tiago, que não segurou o riso.

- No armário. Fique tranqüila, ele não vai te dedar. Ainda estou pensando se deixo ele assistir ao nosso noivado... E mesmo que dedasse, bem, depois de tomar a poção não há nada que o clã dos Black possa fazer de concreto para separar vocês dois, a não ser matá-los - disse como se isso fosse algo sem importância. - Agora eu e Tiago temos que ir. Soubemos que a Zonko's do Beco Diagonal recebeu alguns artigos novos.

Não tive tempo para me despedir de meu primo ou agradecê-lo novamente. O barulho dos dois amigos desaparatando provocou surpresa em alguns passantes que devem ter pensado que estavam vendo e ouvindo coisas. Eu e Ted nos escondemos próximos a uma árvore para conversar um pouco:

- Desde quando vocês estão tramando isso? - perguntei.

- Naquela mesma tarde em que apareci aqui, Sirius me procurou. Disse que tinha tido uma idéia, mas que antes precisava ter certeza de que você estava disposta a passar o resto da vida ao meu lado. O nosso grande teste foi agora. Eu fingiria ser Regulus e ficaria te azucrinando para saber se você tinha certeza da sua escolha. Não posso dizer que não me deu um friozinho na espinha, mas... bem... eu também confio em você. Sabia que não ia me decepcionar - os olhos cor-de-mel me encarando com ternura.

Minha vontade era passar o resto da tarde a beijar meu namorado, mas tinha uma festa para a qual me preparar.

Quando voltei para meu quarto, não conseguia esconder minha felicidade. Era tão contrastante com o meu humor de antes do almoço que despertou suspeitas.

- O que foi que Regulus lhe falou para te deixar assim tão contente? - Narcisa queria satisfazer sua curiosidade.

- Que eu sou a mulher da vida dele - percebendo a besteira que havia dito. - De Sirius, quero dizer, não de Regulus.

- Sirius mandou dizer que você é a mulher da vida dele? - Narcisa estranhou.

Eu não estava me importando. Apenas peguei a minha veste de noivado e comecei a rodar com ela pelo quarto, provocando olhares assombrados em Narcisa.

Fora minha irmã mais nova quem escolhera meu vestido. Passei a semana tão apavorada que deixei que ela decidisse todos os detalhes por mim. Se tivesse sabido antes que aquele seria o meu noivado com Ted, teria me entregado aos preparativos com prazer. De qualquer forma, Narcisa sempre teve muito bom gosto.

A tarde correu rapidamente e no início da noite eu já estava dentro de uma veste realmente linda, azul marinho com pequenos apliques de estrelas que giravam à minha volta enquanto eu andava pelo salão de festas de minha casa. Usava o cabelo trançado com fitas da cor do vestido, que quase desapareciam sob a escuridão das madeixas.

O vestido de Narcisa era branco e salpicado de gotas de orvalho que evaporavam ao menor toque. Os cabelos dourados estavam presos num coque-banana por uma borboleta de ametista, seu presente de noivado. Mas a mais bonita de nós três era Bellatrix, que usava uma veste simples de um tecido verde-escuro acetinado, bem ajustada ao corpo. O cabelo estava solto e selvagem, dando-lhe naturalidade e imponência. Seus cabelos eram como sua personalidade, rebeldes, indomáveis, jamais se submeteriam a presilhas e fitas.

A casa parecia um formigueiro de pessoas e elfos domésticos subindo e descendo as escadas.

- Andie!

Eu quase não acreditei quando meus olhos pousaram em meu tio Alphard, sujo, barbado e coberto de poeira entrando pelo hall de entrada na mansão. Saí correndo em direção a ele, pronta para lhe dar um abraço apertado quando senti meus pés se negarem a me obedecer, criando raízes no chão cuidadosamente encerado.

- Você não quer estragar sua roupa, quer, Andrômeda? - Bellatrix me paralisara com um feitiço. - E você - disse se dirigindo com desprezo para meu tio - podia tomar um banho antes de aparecer na festa, não acha? O banheiro lá de fora está vazio.

- Bella, aquele é o banheiro dos empregados - eu tentei reagir, mesmo pregada ao piso.

Meu tio sorriu. O sorriso de quem reconhecia a casa que tinha deixado anos atrás por causa de minha irmã. Sirius costumava dizer que essa fora a única implicância de Bellatrix que resultara num grande benefício para sua vítima. Eu sentia muitas saudades dele, uma vez que tio Alphard aparecia apenas nos dias de festa ou em algumas tardes das férias para me levar ao Beco Diagonal ou se aventurar com Sirius pela cidade trouxa. Éramos seus sobrinhos favoritos, talvez os únicos naquela casa que realmente nutrissem alguma afeição a ele. Naquelas férias ainda não havíamos nos encontrado; ele estava viajando pela África.

- Sem problemas, Andie. Bellatrix está certa. Essa será uma festa especial e eu também devo estar apresentável. Por favor, peça a Sirius para me procurar em meu antigo quarto, está bem? - e piscou para mim.

- Sirius só chegará em cima da hora para a festa - Bellatrix não me deixou responder. Continuava olhando duramente para o homem cansado que carregava duas malas em direção à área de serviço.

- Você não precisa falar assim com ele.

- Ora, Andrômeda, não venha com essas bobagens melodramáticas. Ele sabe que não é bem-vindo a esta casa. - Bella fez um aceno de varinha e soltou meus pés.

- Lógico que ele é bem-vindo. Só porque você...

- Andie!

Eu fiquei quieta, confundida pela imagem de Sirius logo atrás de Bellatrix. Seria Ted? Se fosse, ele estava adiantado.

- Você ainda não está pronto? - Bellatrix se virou de imediato, reparando que Sirius estava com as roupas trouxas com que costumava explorar o mundo fora da Nobre Mansão dos Black.

- Não torra, Bellatrix. E você vem comigo.

Ele fez um meneio de cabeça, me convidando para ir ao jardim.

Eu o segui ainda incerta. O modo como respondera a Bellatrix me deixara certa de que aquele era meu primo.

- Sirius, você...

- E então, feliz?

- Você não faz idéia do quanto.

Ele olhou para baixo e começou a estalar os dedos.

- O Tonks vai vir pela rede Flu. Na lareira do meu quarto. Entro lá dizendo que vou me vestir. Sai ele. Achei melhor cumprimentar a parentada antes para ele não se sentir perdido.

- Tio Alphard veio - eu disse mostrando um sorriso de felicidade.

- Por Mérlin. Ele deve achar que essa história é séria! - pela primeira vez Sirius se importava com o que viriam a pensar sobre aquilo.

- Bella o destratou - meu sorriso se apagou.

Ele olhou para dentro de casa e de repente olhou para nossas mãos.

- Ainda não conseguir descobrir o que esse raio de anel faz. Eu e Tiago testamos todos os tipos de feitiços para alargá-lo, derretê-lo, cortá-lo. Nada funciona.

O anel. Eu já tinha me acostumado com aquela peça metal em minha mão. Tinha me resignado. Até agora parecia não ter efeito algum.

- Bom, não deixe o Tonks conversar com tio Alphard. Ele perceberia na hora e Bellatrix com certeza passará metade da festa vigiando-o. Um deslize comprometeria tudo. Diga a Ted que ele deve parecer arrogante e entediado com tudo. Acho que o tédio ele nem precisará fingir, você sabe como são essas festas. A partir de quinze para as nove não serei mais eu, certo?

Balancei a cabeça confirmando que havia entendido o plano. Voltamos para o salão, onde grande parte da família já estava presente. Na realidade, faltavam apenas os Malfoy e os Lestrange para que todos os convidados estivessem ali.

Sirius foi para seu quarto e exatamente dez minutos depois reapareceu todo arrumado.

O jantar seguiu bem. Eu e Ted tentávamos parecer um pouco constrangidos e contrariados com a idéia, mas estávamos realmente felizes. Difícil era evitar tio Alphard. Toda vez que ele pensava em se aproximar eu o mandava sumir. A rivalidade que meu marido sempre teve com Malfoy não foi preciso esconder. Acho que Ted se sentiu à vontade na pele de Sirius naquela noite, pois não precisava fingir amabilidade com nenhum de seus desafetos.

Regulus chegou por volta das onze horas parecendo extremamente zonzo. Mal chegou e ouvi tia Elladora brigar com ele por conta do sumiço de uma caixa de uísque de fogo. No dia seguinte Sirius me contou que ele e Tiago aplicaram-lhe um feitiço do sono e derramaram quase meia garrafa da bebida na boca de meu primo mais novo, para que ele realmente tivesse os sintomas.

Finalmente, quando era perto da meia-noite, chegou a hora da poção. Bellatrix, para estranhamento meu e de Narcisa, se ofereceu para buscar a bandeja. Eu e Ted teríamos que beber das duas taças. Uma continha um líquido verde, parecido em sabor, cor e aroma com um licor de menta; a outra nunca consegui descobrir, porque no momento em que me entregava a taça de prata, Bellatrix tropeçou em Kreacher, derramando o líquido nas vestes de Ted.

- Elfo desgraçado! - ela o chutou com força, parecendo mais raivosa do que nunca. -Era a última porção da garrafa...

- Como assim a última? - eu perguntei.

- Eu também gostaria de saber como aquela garrafa se esvaziou tão rápido - ela lançou o olhar cruel novamente para Kreacher. O elfo parecia mais miserável que de costume. - Estava cheia há três semanas atrás.

Meu pai se levantou, numa expressão ainda (ainda o que?)

- Pois eu ordeno que você, imundície, beba uma garrafa de ácido todas as noites por um mês. Que isto lhe sirva para que nunca mais se atreva a beber algo que não lhe foi dado. E suma daqui!

Ted estava indignado e pronto para defender o elfo. Sirius nunca gostara de Kreacher, jamais o defenderia de uma humilhação como aquela. Apertei sua mão com força, para que não reagisse e então me dei conta de que Ted não usava o anel.

Preocupada que minha irmã mais velha não notasse a falta dele, passei o resto da festa de mãos dadas com Ted.

Mas ela não parecia ter notado nada. Continuava exibindo sua revolta:

- Deviam ter dado a liberdade a esse elfo maldito. Agora não poderemos concluir a tradição!

- Não é necessário - eu e Ted dissemos em uníssono, sorrindo um para o outro. Ele continuou: - Nós nos comprometemos diante de todos os presentes que nos casaremos e daremos herdeiros a essa família, quando assim nossos pais acharem conveniente.

E então Ted me beijou na frente de todos. Ouvi o barulho da prata caindo no chão - Bellatrix derrubara a outra taça e durante o resto da festa pareceu mais mal-humorada que de costume. Seu noivo, Rodolfo, implorava algumas migalhas de atenção, mas eu pude sentir o calor de seus olhos postos em mim e Ted o resto da noite. Narcisa parecia um pouco mais feliz; Malfoy estava realmente muito atencioso com ela. Os convidados já tinham ido embora quando Tiago apareceu na casa.

- Oi, de casa! - ele começou a abanar as cinzas ainda dentro da lareira do salão.

- O que é que você... - Narcisa, já completamente descabelada e sem sapatos, olhou para a lareira e depois para Ted, pedindo explicações para a presença de Potter àquela hora da noite ali.

- Vim dar os parabéns ao meu melhor amigo, posso? - ele não esperou minha irmã acabar a frase para entrar no salão deixando para trás um rastro de cinzas.

- É lógico que pode! - Ted me soltou para cumprimentar Tiago, exatamente como eu via meu primo e seu melhor amigo fazerem todo início de ano letivo quando se encontravam em King's Cross.

- Não pode, não - Bellatrix veio de varinha em riste. - Você não foi convidado.

- A festa já acabou, Bella! - eu intervim.

- Ele NÃO foi convidado! - ela insistiu, jogando o olhar feroz para cima de Ted, que não se fez de rogado.

- Muito bem, Tiago! Você não pode entrar, mas eu posso sair. Vamos sair para comemorar! - e ambos desaparataram dali, me deixando indignada. Ted sequer tinha se despedido de mim.

- Eles sabem aparatar? - Narcisa arregalou os olhos ao ver os dois amigos desaparecerem. - Mas eles não têm licença.

- Como se Sirius desse importância para isso - Regulus resmungou do outro lado do salão, enchendo sua taça com um pouco mais de cerveja amanteigada.

Ao ver aquilo, Narcisa arranjou outra coisa com que implicar.

- Você acha que vai curar sua ressaca com mais álcool, Reggie? Que papelão! Atacar a despensa antes da festa! Tia Elladora me contou...

- Eu não roubei aquelas garrafas.

- Ora, Reggie, tia Elladora disse que você exalava uísque de fogo ao falar! Chegou duas horas atrasado! Eu tentei tirar você do seu quarto, mas você se trancou por dentro.

Bellatrix deu um bocejo de tédio e resolveu ir dormir. Regulus e Narcisa continuaram batendo boca enquanto eu fui para o jardim. Era uma linda noite de verão e minha constelação brilhava como nunca. Pouco depois ouvi um barulhinho. Alguém tinha aparatado ao meu lado.








- A foto, Harry, foi tirada nessa noite, durante a festa. É meu marido transfigurado na aparência de Sirius.

- Eu disse que era meu pai - Ninfadora sorriu, contente.

- Agora - Andrômeda começou a se levantar -, que tal voltarmos à limpeza?

Harry se espreguiçou de leve e pegou o primeiro escovão que avistou. Tinha um gosto de satisfação nos lábios, pois percebera que aquela casa renderia muitas histórias curiosas envolvendo Sirius e seus pais. Pequenas peças de um quebra-cabeça que lhe fariam entender melhor o porquê de todas os acontecimentos extraordinários de sua vida. Histórias que deveria ter ouvido da boca de seus pais e padrinho, mas que agora lhe ajudariam a construir uma imagem dessas personagens.

A limpeza tomou o resto da tarde de Ninfadora, Andrômeda e Harry, com Remo aparecendo pouco antes do jantar para garantir à auror que ela teria direito a uma boa noite de sono; ele ficaria vigiando.

Todos se deitaram cedo, exausto pelos esforços. O primeiro dia de trabalho não rendera muitos avanços para as buscas de Andrômeda, mas ainda assim a bruxa esmerara-se em deixar os quartos do loft habitáveis. Eram apenas dois, mas passariam algumas noites - talvez muitas - naquela casa e ela e Harry precisariam de boas noites de sono para levarem a busca com seriedade.

Ainda assim, ela não conseguia dormir, perturbada por uma inquietação. Contar a Harry sobre Sirius era manter uma parte dele vivo, e com isso viriam problemas. Lembranças adormecidas também podiam vir à tona.

A bruxa apoiou a cabeça no travesseiro e lembrou do único beijo que trocara com o primo, ainda naquela noite do noivado. A única vez em que hesitara em crer que Ted Tonks era o grande amor de sua vida.








- Sirius? É você?

- Sua boba. Achou que eu iria embora sem me despedir?

- Ted?

O rapaz se sentou ao lado de Andrômeda.

- Acho que tudo correu bem, não acha?

- Correu, sim. Foi uma pena que não pudemos tomar a poção. Hoje tive certeza de que quero você comigo para o resto da vida.

- Tem mesmo certeza disso, Andie? - o rapaz a olhava de modo estranho, parecendo triste em ouvir aquelas palavras.

- É lógico que sim. Ted, não diga... não diga que está arrependido - ela estava apreensiva.

- Não. Certamente que não.

E então ele se aproximou. Passou uma mão por trás das costas dela, enquanto a outra acariciava-lhe as madeixas negras. De olhos abertos e tensos, ele se aproximou para beijá-la devagar. Andrômeda deixou a saliva quente do rapaz umedecer-lhe os lábios. A respiração era lenta e compassada. Ted nunca tinha-na beijado daquela maneira, parecia até mesmo que não era ele. Ela sentiu a língua de seu namorado a acariciar a sua, finalmente deixando-se envolver por um torpor agradável. Beijaram-se ininterruptamente por longos cinco minutos.

- E você ainda tem alguma dúvida de que é o homem da minha vida? - ela perguntou ao separem os rostos.

Ele baixou o olhar angustiado.

- Ted, o que houve? - ela notou.

- Nada... Nada - avançou novamente para ela, procurando novamente a boca da garota.

A mão de Andrômeda procurou instintivamente a dele, tentando passar-lhe segurança, quando descobriu o que estava acontecendo. Seus lábios ficaram imóveis de imediato. O anel que Bellatrix lhes havia dado estava na mão dele.

Pego em flagrante, Sirius se afastou. Ainda sem coragem de encarar a prima, que continuava muda pelo choque, levantou-se.

- Só quero que saiba que, bem, eu estou muito feliz que você não tenha tomado aquela poção - e seguiu para o quarto que dividia com o irmão.

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