CÁPITULO IX



CÁPITULO IX
Hermione foi a primeira a chegar no escritório na manhã seguinte. Esperava que Sarah estivesse lá, aguardando-a. Teria Sarah chegado e se retirado? Desistira de persuadir Draco achando que não haveria chance de perdão e decidindo ser inútil se humilhar suplicando pelo emprego?
Mas alguns minutos mais tarde Sarah aparecia. Estava pálida, olhos fundos.
- O sr. Malfoy já chegou? – ela quis saber.
Hermione sacudiu a cabeça.
- Draco já tinha saído quando eu acordei. Mas me deixou um bilhete dizendo que ia jogar quadribol e que chegaria mais tarde.
Sarah não disse nada, porém Hermione sabia perfeitamente como a pobre mulher se sentia, metade aliviada, metade desapontada. A mesma mistura de sentimentos que Hermione experimentara ao acordar pela manhã e ao se ver sozinha na cama. Desaponto ao encontrar apenas um recado flutuante, frio como o recado que encontrara na manhã após seu casamento, para lembrá-la que tinha um marido. E também sentira-se aliviada por não ter de encará-lo com um sorriso nos lábios depois da festa que fora um sucesso. Mas não para ela.
- Meia hora mais cedo, meia hora mais tarde, não fará muita diferença – Hermione comentou.
- Eu sei. Só que eu queria me ver livre disso logo.
Hermione a deixou sozinha e foi para a própria sala e, alguns minutos mais tarde, ambas ouviram passos. Passos firmes, decididos, definitivamente de homem.
E de homem furioso. Draco tinha ido jogar quadribol. Porém ele poderia ter ido até o escritório de Daniel MacDonald em função de negócios.
Se Draco começasse a gritar, Hermione pensou, ela iria em defesa de Sarah. E contaria que o que fizeram tinha sido para tentar transformar uma horrível situação em algo mais fácil de ser contornado.
Mas não foi a voz de Draco que ela ouviu logo depois, e sim a de David.
- Maldita seja você Sarah – ele dizia – Não funcionou.
Hermione ficou parada na porta do escritório, mas David não a viu. Toda sua atenção estava focalizada em Sarah. Ele sacudiu ao rosto dela a poção de Stewart, que lhe foram dados na véspera.
- Você não devia ter vindo aqui – disse Sarah com voz trêmula.
- Como uma mulher pode ser tão idiota assim? Não percebeu a falsificação, Sarah? A coisa não funcionou.
Hermione deu um passo à frente.
- Não grite, David. Todo o prédio pode ouvir seus berros e temos seguranças que o prenderão em dois minutos.
- E você fique fora disso, srta. Pureza! Ninguém pediu sua colaboração. Eu devia ter adivinhado que a preciosa Sarah não faria nada sem sua aprovação. O que você desejava, Hermione? Poder? Ou talvez uma parte do dinheiro? – David berrou – Bem, não ganhará nada, porque o maldito plano não funcionou.
Nenhum deles percebeu quando Draco chegou. Hermione nem mesmo soube que ele estava lá até ouvir-lhe a voz firme, calma, ao declarar:
- Naturalmente que não funcionou David. Ou realmente pensou que iríamos lhe dar os ingredientes verdadeiros? Pensou, David?
Draco não precisou de uma explicação sobre o que acontecia no escritório; mesmo David não tendo sido claro, Draco fora ao âmago do assunto. Não havia surpresa em sua voz, apenas um tipo de tristeza. Obviamente, ele não apenas sabia que os planos de Stewart estiveram em mãos erradas, como sabia com exatidão quem os pusera lá...
E ele vai achar que estou enterrada nisso até o pescoço, Hermione pensou. O que, sem dúvida, ela estava. Sua tentativa de mitigar estragos saíram mal.
Hermione olhou para Sarah que parecia terrivelmente confusa. E virou a cabeça exatamente quando dois seguranças uniformizados apareceram.
Estamos perdidas, ela admitiu.
Draco deu um passo na direção de David.
- Bem – disse – Você não é tão ingênuo assim a ponto de imaginar que Hermione e Sarah lhe dariam os verdadeiros desenhos.
Hermione respirou aliviada. Tudo vai acabar bem, disse a si mesma. Draco devia ter percebido que os ingredientes fora sabotado.
Só que...Draco não poderia saber.
Ele poderia suspeitar o que ela fizera mais não podia ter certeza. Não havia evidência, ela cuidara para que não houvesse.
Mesmo que Draco virasse o escritório de pernas para o ar, algo que ele não tivera oportunidade de fazer após sua volta de viagem, não encontraria nada além dos verdadeiros ingredientes.
Portanto, se Draco não tinha certeza do que elas haviam feito, simplesmente blefara ao dizer a David que os desenhos não eram os autênticos?
Mas Hermione não pensava assim; o tom de autoridade da voz dele, bastante seguro, não parecia estar afirmando uma falsidade. Não, Draco simplesmente falava a verdade.
Que os planos de David não haviam funcionado, não existia a menor dúvida. Mas talvez o fracasso não fora conseqüência das mudanças que ela fizera...mas por algo mais.
Hermione ainda refletia sobre todas as possibilidades quando Draco confirmou sua dúvida.
- O que você tem aí David, são os ingredientes não aproveitados, foram feitos novos testes com novos ingredientes e antes que fosse liberados, eu fiz pequenas alterações.
Por isso os ingredientes às vezes pareciam errados, sem coerência. Eram apenas preliminares. Em resumo, os ingredientes que caíram em suas mãos e na de Sarah eram falsos.
Não admirava, portanto, os inomináveis de Daniel MacDonald não os aprovarem; haviam sido sabotados muito antes de Hermione ter trocado um ingrediente aqui e ali.
Draco não contara a Hermione o que pretendera fazer. Apesar de estar junto nisso, apesar de ser uma inominável, Draco não confiara nela o suficiente para lhe contar o que se passava.
Por isso não parecia ansioso em descobrir como vazaram as informações, mesmo depois do desastre. Simplesmente não quisera contar a Hermione que, a seu modo, ele testara a honestidade do pessoal, deixando que os ingredientes com informações falsas percorressem livremente as salas.
Draco chamou os homens da segurança.
- David – ele disse – Esses cavalheiros vão levá-lo até a porta de saída do prédio. Não ponha os pés neste escritório nunca mais.
A reação de David chocou Hermione.
Draco afastou-se para dar espaço aos seguranças e, aproveitando-se da distração do momento, David pegou sua varinha e apontou para Draco, ele devia ter esperado por qualquer reação desse tipo e ergueu a sua.
- EXPELLIARMUS!
David voou para trás e bateu na parede, os seguranças agiram rápido e o pegou levando para fora da sala inconsciente com um mobilicorpus.
Dirigindo-se a Hermione disse:
- Venha a minha sala. Agora.
- Mas eu...
Corajosamente, Sarah interferiu:
- Senhor, preciso falar com o senhor.
- Você será a próxima. Enquanto espera, pegue esses pergaminhos para que não caiam em mãos desonestas. Hermione estou esperando. Então você estava nisso também – ele disse a esposa assim que ela entrou.
Hermione não poderia negar o fato, pois estivera envolvida. Mas sabia perfeitamente bem que Draco não ouviria toda a explicação, não naquele instante, quando seu ódio vibrava, ou talvez nunca. Por isso apenas sacudiu a cabeça e não disse nada.
- Não admira você ter passado tanto tempo nos cantos com David e Sarah no coquetel de ontem à noite. Droga, Hermione! Eu sabia que a fonte do vazamento tinha de ter partido do topo. Mas pensar que você...
- Não espere que eu acredite que ficou chocado! Suspeitou de mim Draco, ou não teria agido em minhas costas, sua companheira de trabalho.
- Suspeitei que alguém, você ou Sarah, pudesse ter sido pouco cuidadosa. Por decisão do ministro e a minha decidi não deixar que ninguém soubesse dos falsos ingredientes. Mas nunca, em meus mais terríveis pesadelos, pensei ter sido intencional o descuido. A idéia de que você...
Hermione abriu a boca para falar, para se defender e a Sarah, mas sentiu pela expressão de fúria do rosto de Draco que não adiantaria nada. Por que haveria ele de acreditar em seus protestos quando tinha a evidência ante seus olhos?
E, mesmo que algum dia ele aceitasse a verdade, confiaria nela de novo?
Fizera aquilo tudo. Agira com a melhor das intenções do mundo, naturalmente, para impedir que David obtivesse as cópias autênticas, e para impedir que Sarah perdesse seu emprego.
Mas, tentando ajudar, Hermione não apenas sacrificara sua carreira profissional como infligira um golpe mortal em seu já problemático casamento.
- Por que diabos fez isso, Hermione? – Draco insistira – Por dinheiro? Ou por prazer talvez?
Hermione sacudiu a cabeça, mais por sofrimento do que tentando negar.
- Não por David – Draco acrescentou – Não pode estar apaixonada por aquele...
- Não! – ela quase gritou.
Errei, ela quis dizer. Mas fiz aquilo porque te amo...
E teria sua fraca explicação arrumado as coisas? Pensou com amargura. Se não aumentasse a ira dele, com certeza provocaria estrondosa e sarcástica gargalhada.
Seu orgulho lhe dizia que se retirasse antes de ser mandada embora.
- Importa-se se eu pegar meus objetos pessoais agora ou prefere mandá-los para mim mais tarde?
Draco não se moveu.
Hermione tirou do dedo a safira que ela amava tanto e a aliança e deixou ambos os anéis sobre a escrivaninha.
Ela estava quase na porta quando Draco falou:
- Hermione...Para onde vai?
- Não sei por que quer saber, Malfoy. A menos, claro, se pretende me evitar. Mas não se preocupe com isso. Tomarei todas as providências para não incomodá-lo com minha presença.
Ela saiu e fechou a porta. Ao passar por Sarah, esta disse:
- Vou contar tudo a ele, detalhe por detalhe.
- Mas não adiantará nada. Boa sorte para você, amiga.
A única coisa que Hermione pegou antes de sair foi o vaso de cristal de Draco, o tal da rosa vermelha. Um dia ela considerara o vaso o símbolo da solidez, algo que duraria para sempre. Agora enxergava apenas a fragilidade do objeto. Como era fácil se quebrar, ver aquela beleza transformada em cacos que feririam a pessoa que os tocasse.
Tal qual seu casamento se quebrara, deixando atrás de si apenas dor.
Hermione não pegou mais nada. O que deixara atrás sabia, não importava. Não precisava de lembranças materiais; suas lembranças seriam as recordações dolorosas dentro do coração.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.