CAPITULO IV



CAPITULO IV
Draco segurou-a, até que os soluços sumissem aos poucos, lentamente, chegando ao silencio.
- Sinto muito – ela falou enfim, tentando sorrir – Já disse isso antes, não disse? E não paro de interferir em sua vida e não paro de esperar mais e mais de você. E não paro de lhe pedir desculpas.
Draco não respondeu. Em vez disso a fez afastar-se um pouco, com as mãos nos ombros dela, para poder fitá-la melhor.
- Más noticias então? – ele perguntou
- Encontraram o tumor de fato e oh...Eu não lembro o nome...- ela suspirou – Poderia ser pior, suponho, não é maligno, mas está localizado numa região perigosa. E eu não quero nem pensar – disse passando as mãos pelo cabelo.
- Hermione, calma. É normal se assustar num caso desses, e você precisa e controlar. Como você está de finanças, sei que hospitais trouxas são bem mais caros.
- Ai meu Deus, esqueci completamente, o seguro da minha mãe não cobre um preço tão alto, mas não importa, eu venderei a casa se for preciso.
- Sabe perfeitamente bem que não precisa se preocupar com dinheiro Hermione. Eu posso cuidar disso. Tudo que você tem a fazer...
- Tudo o que tenho a fazer é m casar com você – ela disse amargurada.
Por um momento, Draco não falou nada. Depois, segurou-lhe o braço com força e a fez encará-lo.
- Droga, Hermione! Você realmente acredita que eu lhe ofereça um negócio cujo preço é a vida da sua mãe?
Ela ficou horrorizada, nunca o viu tão furioso na vida e involuntariamente deu um passo para trás.
- Você disse uma vez que não sou o tipo de pessoa que cede a chantagem em negócios. Bem, não lanço mãos de chantagem nem na minha vida privada, Hermione.
- Eu sei que não – ela sussurrou – Sinto muito pelo que falei.
A voz dela era rouca, o sorriso não chegara aos olhos, mas o ultraje se fora da voz quando disse:
- E lá vem você com suas desculpas.
- Se você quiser me emprestar um dinheiro – ela disse agora, com cuidado – Aprecio seu ato mais do que você poderia imaginar.
Por segundos, Hermione achou que ele não iria responder, mas ele disse:
- Tudo o que você tem que me fazer é dizer quanto você precisa, porém sugiro que você não diga a sua mãe que foi um empréstimo. Ela não gostaria da idéia, mais do que vender a casa.
- Talvez seja melhor dizer que foi um bônus. Se você me dá licença, preciso ir vê-la agora.
- Você está bem?
- Estou assustada, claro, mas posso disfarçar na frente dela. Draco...
Ela hesitou. Como poderia não lhe agradecer mais uma vez? Draco a deixara, chorar, esbravejar e tremer de medo; e no momento, graças à paciência dele, ao calor humano, e à ajuda, poderia voltar a encarar a mãe com segurança de um sorriso nos lábio.
E, sem prensar uma segunda vez, Hermione pos uma das mãos no braço dele e, na ponta dos pés, beijou-lhe a face.
Quis que fosse um beijo de amiga, um beijo de gratidão, nada mais que isso. Mas algo saiu mal. Draco virou a cabeça no instante errado, e os lábios de Hermione roçaram nos dele, e grudaram.
Sua mão continuava apoiada no braço de Draco, mas não havia outro ponto de contato exceto o daquele doce, quase terno beijo. Draco nem se moveu para abraçá-la, e o que fora destinado a ser não mais que um gesto discreto, de gratidão, e agradecimentos, transformou-se na caricia mais sensual que Hermione experimentara na vida. Seu corpo vibrou violentamente com a força do desejo.
Ela estivera certa, e errada, acerca de suas especulações sobre as técnicas de beijar. Draco era em todos os aspectos tão eficiente como esperara; jamais conhecera um homem que pudesse conseguir tanto em tão pouco esforço. Mas ele é muito mais do que apenas competente.
Hermione tremia quando se afastou de Draco, e não o segurou. Sabia que encontraria um meio de lhe pedir desculpas de novo, dessa vez por haver calculado tão mal o beijo.
Mas admitia que, no fundo, não desejava pedir desculpas. Adorara o erro de calculo.

Hermione entrou no quarto onde sua mãe se encontrava. Ela suspirou e abriu os olhos.
- Querida – falou – Disseram-me que você tinha ido para casa. Mas não me parece muito descansada.
- Talvez seja porque eu fui trabalhar.
- Trabalhar? Mas o ministério não poderia te liberar, você mal dormiu a noite.
- Não, eles foram bem compreensivos, eu que quis ir.
- Mione, essa operação, é muito arriscada?
- Por que pergunta?
- Porque os médicos não quiseram me falar nada.
- Isso, porque você tem pressão alta, e precisa se acalmar.
- Eu ficaria calma se soubesse o que está acontecendo, há tantas coisas que eu queria fazer...
- Mãe, não seja ridícula, você vai ficar bem.
- E o dinheiro, não sei como faremos pra pagar o hospital, a operação...
- Não se preocupe, isso já foi resolvido...
- Por isso você foi ao escritório? Para pedir dinheiro, ao seu colega? Ou há algo nisso que eu deveria saber?
O bônus conte do bônus. Mas antes que pudesse falar qualquer coisa. Sua mãe disse:
- Quero lhe dizer uma coisa sobre o homem: não perde tempo. Viu o que ele me mandou? Foi através e magia.
- Quem? Draco?
Tarde demais, Hermione observou o interesse que brilhou nos olhos da mãe quando o nome foi pronunciado. Mas nada comentou, somente apontou para um vaso de plantas, não flores que estava na cômoda ao lado da cama.
Plantas, muito mais fortes que flores que murchariam em dias e que depois seriam jogadas foras, mas uma planta com raízes profundas na terra, e galhos pendurados, tocando em tudo. Algo que duraria.
Um simbolo de recuperação. Que maravilha Draco dissera sem palavras, pensou Hermione.
- Caso a operação não seja um sucesso Hermione – começou a mãe.
- Isso é bobagem mãe, pense em coisas alegres.
- Não é bobagem, depois do divórcio eu arrumei tudo para que você não tivesse problemas, mas eu nunca falei onde deixei os papeis.
Hermione sentiu o pânico crescer. A ultima coisa que a mãe deveria fazer era se preocupar com essas coisas. Mas fazer parar? Distração, essa era a chave...Hermione levantou a voz:
- Bem, acho ridículo perdemos tempo falando de um funeral que não acontecerá tão cedo, isso quando tenho novidades para lhe contar.
Hermione não sabia de onde vieram aquelas palavras; para seus ouvidos, a própria voz soara quase estranha. E como iria fazer o que dissera? Como sair daquilo?
A porta se abriu e uma enfermeira entrou:
- Seus anestesiologista se encontra a caminho sra. Granger.
E a enfermeira saiu.
- Bem, e quais são as novidades emocionantes?
Ela precisava de algo positivo em que pensar, Hermione disse a si mesma. Algo que a faça olhar para frente. Algo que fique na cabeça dela enquanto for para cirurgia. Algo que a faça desejar voltar à vida...
Passos se aproximavam. Deveria ser o anestesiologista. Hermione pensou logo no que dizer à mãe e arriscou:
- Draco me pediu em casamento. E eu vou aceitar.
A mãe não parecia chocada, ou surpresa. Tampouco parecia alegre. Claro, qual mãe ficaria alegre ao descobrir que iria casar com um homem que nem ao menos vira.
E quando o perigo passasse, ela poderia desfazer desse falso compromisso e Draco não descobriria nada e sua mãe poderia ocupar a cabeça com outra coisa. O homem que imaginaram ser o anestesiologista entrou. Porém não usava avental e nem estetoscópio. Vestia um terno cinza escuro que Hermione vira muito recentemente...
- Olá, sra. Granger – disse Draco – Espero que minha visita não a incomode – ele nem ao menos olhou pra Hermione.
- É claro que sua visita não me incomoda – respondeu – Estou encantada em conhecê-lo finalmente. Em especial desde que, segundo me parece, podemos nos tratar de agora em diante pelo nome de batismo.
- Considerarei isso uma honra Jane – ele disse, mas sem entender bem o que aquilo significava.
Nesse instante o quarto se encheu de médicos e Hermione teve que sair. Draco a seguiu e quando estava caminhando ele perguntou
- Quer me contar o que foi que você falou a sua mãe?
- O que eu inventei? A noticia do casamento?
- Isso mesmo. Exatamente o que pensei. Por que? Há alguma coisa sobre a qual devo ser prevenido?
- Não posso pensar em nada mais – Hermione sacudiu a cabeça, num gesto negativo.
- Agora acho melhor você me contar como ficamos noivos sem ela saber.
- Não sei ainda, preciso pensar. A razão de tudo isso foi que minha imaginou que eu iria emprestar dinheiro de alguém e preocupou-se quando não poderia ter preocupação no momento. Ela jamais acreditaria na história do bônus. E já havia começado com uma história diferente, com uma conversa de recomendações finais, pois não imaginava sair viva da cirurgia. Eu tive de inventar alguma coisa que prendesse sua atenção. E assim...
- Porém isso me deixa com uma pergunta – disse Draco – Desculpe-me por interrompê-la. Mas onde eu fico? Continua firme em sua idéia? Ou aquilo foi simplesmente para ocupar a mente de Jane por agora?
Hermione fechou os olhos a fim de refletir melhor. Sim, naturalmente a coisa sensata a dizer que inventara aquilo apenas para ocupar a mente da mãe. Passa da cirurgia e quando ela melhorasse, tudo seria desmentido.
Contudo...
A porta se abriu mais uma vez e os médicos se retiraram do quarto e o principal perguntou:
- É a filha da sra. Granger? Tem alguma pergunta?
- Vão tratá-la com carinho, não vão? – foi a única coisa que conseguiu perguntar.
- É claro que vamos.
Nos cinco minutos seguintes, Hermione ouviu uma explicação de tudo o que poderia acontecer na sala de cirurgia na manhã seguinte. Só no fim do discurso ela notou que Draco não estava mais lá. Ela entrou no quarto e viu-o debruçado no leito de sua mãe, segurando-lhe a mãos. O que Draco estaria lhe dizendo?
Sorrindo, Jane comentou:
- Vocês dois sabem muito bem como tirar a mente de uma mulher de tudo o mais. Agora descansem ok? Draco, leve a Mione para jantar e faça-a comer. Tudo bem?
Hermione ficou sem fala. E depois foi beijar sua mãe. E quando estava saindo do hospital, Hermione resolveu falar.
- O que você falou para ela? E por que não esperou até eu poder entrar no quarto também?
- Porque você estava ocupada demais conversando com o médico e poderia demorar.
- Ela queria falar em particular com você?
- Aparentemente sim. Onde quer comer?
- Não estou com fome. Minha mãe pareceu suspeitar de alguma coisa?
- Não a conheço bem suficiente para saber. Eu conheço um restaurante ótimo por aqui. Vamos até lá.
No restaurante Hermione limitou-se a olhar para o cardápio e a sacudir a cabeça. Draco consultou o garçom, e minutos após, ofereceu um copo de vinho a ela.
- Beba isto ao menos – ele ordenou.
Hermione pegou o copo mais para fazer algo com as mãos do que por vontade de beber.
- Então aqui estamos – disse ela – Porque minha mãe mandou a gente jantar fora? Nunca pensei que você concordasse em obedecer ordens.
- Claro que você não esperava que eu discutisse com ela. Pondo de lado o fato de que sua mãe tinha razão, você precisa comer, querendo ou não. Precisa de toda sua força amanhã, e não há nada que possa fazer esta noite.
- Então decidiu, mimá-la?
- E agora está se perguntando até onde levarei isso. Muito longe, na verdade.
O garçom colocou uma cesta de pães na frente dos dois. O aroma fez com que o apetite de Hermione despertasse. Talvez estivesse com fome agora.
- Sua mãe perguntou se eu amava você – declarou Draco sem a encarar.
O coração de Hermione deu um salto.
- E você disse...
Draco pegou um pedaço de pão e colocou azeite e ervas em cima. E respondeu:
- Você não acreditaria se eu lhe dissesse que contei a ela que, entre todas as mulheres que tentaram ocupar a posição de minha esposa, você dói à única que apresentou boas referencias. Acreditaria?
- Quer dizer que você lhe contou o que ela queria ouvir?
- Na medida que pude adivinhar o que seria...sim.
- E ela acreditou em você, Draco?
- Só porque não tive sucesso, dias atrás, em convencer você de que eu era sagaz, lógico e sensato, isso não quer dizer que não posso ser razoavelmente persuasivo em certas ocasiões. – Draco deu a ela um pedaço do pão que preparara – Experimente. E ainda não respondeu minha pergunta Hermione, falou seriamente sobre a idéia de se casar comigo ou apenas mentiu em prol da paz de espírito de sua mãe?
Hermione pegou o pesado de pão, mas sem saber bem o que fazia. Olhou Draco e pensou em rosas vermelhas murchas e em vasos de cristal, em imagens e em realidade, em solidez e em sensibilidade, e em segurança.
Nós combinamos, ele dissera. Sim, eles consistiam numa boa combinação e poderiam fazer uma sociedade permanente...
Então, por que não?
Confiava plenamente em Draco. Voltara a ele a procura de conforto, de reafirmação, de ajuda, e ele estava lá, como que esperando.
Não era amor, por certo. Não era magia. Mas, o que foi mesmo que ele dissera sobre amor? Que a magia às vezes transformava em melodrama?
O que Draco propusera dar-lhe não fora um romance louco, exaltado, de tirar o fôlego. Fora uma sociedade que se esperava durar para sempre porque já havia sido provado pelo trabalho que faziam juntos no ministério.
O casamento que ele lhe oferecia não era um conto de fadas construído sobre espumas. Não era glamuroso e aparatoso, como a gloriosa rosa vermelha.
Mas rosas murcham, descoram, morrem. Espuma desaparece.
Nem tudo era assim. Algumas coisas não tinham o inicial glamour da flor aveludada, a elegância da espuma, mas não murchavam ou desintegravam. Eram construídas sobre alicerces muito mais sólidos. Duravam.
Coisas como o vaso de cristal de Draco, por exemplo.
Coisas como...O próprio Draco.
Hermione respirou fundo.
- Quis dizer exatamente o que falei – ela disse – Eu me casarei com você.

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