A conversa



Lílian havia ficado até mais tarde no Salão Comunal para terminar seu dever. Todos já haviam ido dormir, as chamas da lareira haviam diminuído, mas por incrível que pareça ela não sentia sono, ou cansaço. Apenas uma expectativa enorme que ela não sabia de onde vinha. Ela tentava se concentrar no dever, mas quanto mais obrigava seu cérebro a pensar em transfiguração, menos escrevia. O seu dia fora muito movimentado. Cheio de emoções diferentes, de pensamentos diferentes, de sensações diferentes... Lílian sentia – se em paz consigo mesmo, sentia – se feliz e acima de tudo sabia que havia dado o troco em Tiago. Mas nada disso a confortava. As marcas deixadas por Tiago, ainda não haviam diminuído, ou cicatrizado. Ainda estavam lá, vivas, fortes e abertas.
Ao ter esse pensamento, Lílian sacudiu a cabeça e tentou voltar para o seu dever. Sentou – se mais confortavelmente na poltrona, apoiou o dever nas pernas e tentou escrever alguma coisa.
Nesse momento, ela escuta passos descendo a escada, mas continua com a cabeça abaixada, e concentrada em terminar o dever. Lílian só esboça alguma reação, ao escutar uma voz tão conhecida dela. Pelo timbre, e pelas emoções de felicidade sempre tão transparentes. Mas hoje, a voz estava diferente. Estava séria, madura, e visivelmente triste.

- Lilly, precisamos conversar. – disse Tiago.

- Não tenho nada pra conversar com você, tá legal? – falou ela.

- Mas EU tenho coisas pra conversar com você. – disse Tiago. - Eu agi como um perfeito idiota nesses dias. Fui injusto e cruel com você, e sei que você nunca vai me perdoar ou esquecer isso que aconteceu. Você não merecia o que eu te fiz. Você é tão bonita, legal, sempre me tratou tão bem, e eu fui um perfeito... cavalo com você. E saber que você não quis que a July tirasse meu cérebro pelo nariz, me fez ver a pessoa que você é de verdade, e me fez ver a pessoa que eu havia magoado. Eu nunca me senti tão mal na minha vida até aquele momento, porque mesmo eu sendo um galinha, inútil e trapalhão, eu tenho sentimentos. Eu me senti horrível, horrível mesmo, quando a Mandy me disse como você tava. Eu não dormi, eu não senti mais fome...

- Pára! – exclamou Lílian, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. – Por que você está me dizendo isso? Por que?

Ele foi até ela, ajoelhou – se na sua frente e enxugou suas lágrimas.

- Porque eu não quero mais te ver chorar, porque eu não quero mais te ver triste, porque eu quero que você saiba que eu gosto de você, que eu me importo com você. – respondeu ele. – Eu quero que você me dê outra chance, pra ser teu amigo.

Ao sentir as mãos macias de Tiago, tocando seu rosto, fechou os olhos. Ela ouvia o que ele dizia. Seu coração lhe dizia pra perdoar e tentar esquecer, mas seu cérebro mandava aquele matusquela passear.

- Tiago, eu sempre acreditei no melhor das pessoas, que elas podem não ser aquilo que elas demonstram às vezes. E é por isso que eu vou te perdoar. Porque eu acredito que você é melhor do que tem sido nesses dias, e porque foi legal da sua parte vir aqui e esclarecer tudo. – disse ela.

Ele sorriu. Sorriu como Lílian nunca havia visto ele sorrir, sorriu com sinceridade.
Ele tirou o dever e a pena das mãos de Lílian, segurou – as e levantou – a da poltrona.

- Você não vai se arrepender de ter me dado essa chance. – falou.

Tiago então, abraçou – a. Não como namorado, mas como amigo.


Escondidos na penumbra das escadas, Remo, Sirius, Pedro, July e Amanda, sorriram ao ver aquela cena.

- Parece que finalmente vamos voltar ao clima de paz. – disse Amanda.

Pobre Mandy, não podia estar mais enganada.
Por que como todo bom bobão, eu consegui estragar tudo. Por que crianças de onze anos têm esse poder de estragar as coisas boas que conseguem?Que poder é esse que nunca pode ser usado para o bem? Isso é totalmente injusto sabia? Bem, o fato é que eu fiz as pazes com a Lilly, (pensei que) tirei a Melanie da minha vida. Estava tudo em paz, o que poderia estragar isso?


e no dia seguinte...

O clima de paz era palpável em torno dos 7 amigos. Eles estavam comendo em paz, falando de besteiras como normalmente faziam e todos sorriam. O esquema “melhores amigos” predominava e nada poderia estragar aquilo.
Ou quase nada...
Um aviãozinho de papel, jogado sabe – se lá de onde, caiu na mesa em frente ao Sirius. Que apanhou e leu em voz alta:

- Hahaha! Que ridículos os bobinhos comendo juntos e felizes. Aproveitem porque vai durar pouco essa melosidade de vocês. Vão pagar pelo o que o Tiago me fez! Morram imundos!

- Não preciso nem perguntar quem mandou o “festival baixaria”. – disse July.

- Isso é bem coisa daquela Melanie Greenbaum. – falou Pedro.

- Quero é ver ela tentar alguma coisa contra nós. – disse Sirius. – Ela morre, coitada!

- Não sei não... ela é louca! Só Merlim sabe o que ela pode fazer. – falou Lílian.

- Não precisa ficar apreensiva não Lilly. – disse Tiago, abraçando seus ombros com um dos braços. – Com ela eu me entendo.


na hora do almoço..

- Ei Melanie! – chamou Tiago quando ela ia entrando no Salão Principal. – Vem aqui.

- Diga Tizinho. – falou ela.

- Primeiro: meu nome não é Tizinho, é Tiago. E pra você é Potter, entende? Segundo: que bilhete foi aquele que você mandou hoje? Não sabe com quem tá se metendo não?

- Você quer dizer que não sou páreo pra você e seus amiguinhos, é isso? – perguntou ela indignada.

- É exatamente isso que eu quero te dizer. Acorda Melanie! Estou te fazendo um favor enorme te dizendo isso. A Mandy tem uma mira ótima à distância, sabe?

- Eu devo entender isso como uma ameaça? Eu devo entregar você de bandeja para a Foguinho? É isso mesmo?

- Só eu chamo a Lillly de Foguinho, ok? E outra, que me entregar o quê? Vai esquecer que eu existo, vai deixar meus amigos em paz, e isso não é uma ameaça, é um aviso.

E dizendo isso, Tiago entrou no Salão Principal.
Sentou – se entre Sirius e July e contou a conversa que tivera com Melanie.

- Nunca vi ela com tanta raiva na vida. – dizia Tiago. – Mas o recado já está dado. Se ela vier com alguma coisa pra cima da gente, será em juízo.

- Onde você aprende a falar essas coisas? – perguntou July. – Parece o meu pai.

Tiago deu de ombros.

- A temporada de Quadribol começou. – disse Sirius. – Só ano que vem agora, Tiago.

- É, eu sei. Mas o Marco Dwight sai ano que vem. Daí ninguém vai segurar o Potter aqui. – disse ele.

- Você é bom mesmo, ou isso é só encheção de ego? – perguntou Amanda.

- O Tiago? O jogo com ele dura 10 minutos, a menos que a visibilidade esteja boa, daí são só 5. – respondeu July.

- Reflexos de gato, hein Tiaguito. – caçoou Sirius.

Todos riram naquele momento, e depois de comer o último pedaço de torta de maçã, subiram para as aulas.


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