Os fios de ouro



A manhã de
Sábado acordava fresca e com um céu temerosamente nublado, ao contrário do dia
anterior, onde o sol reinava. Harry, já acordado, recordava melancólico tudo o
que tinha acontecido naquela sexta-feira. E de facto não era pouco. Intrigava-o
especialmente o que poderia ter em comum com o loiro que dormia profundamente,
na cama ao lado da sua. Era público o ódio que as suas famílias tinham. Sendo
assim, as hipóteses de terem algo em comum eram cada vez mais remotas. Havia ainda
o misterioso “DHAD”, com quem ainda não se tinham preocupado. Era de facto
muito importante descobrir quem era essa pessoa, mas Harry não tinha a mínima
ideia de quem poderia ser. Nem ele, nem Draco.


Olhou o
relógio da mesinha de cabeceira. Marcava as 9 horas. Levantou-se, tentando
fazer o mínimo barulho possível, pois tudo o que menos queria era acordar
Malfoy. Este faria um escândalo, mal disposto como era. Mas algo subitamente o
fez olhar de novo para a mesinha. Ao invés de duas pastas, existia agora apenas
uma. Diferente de qualquer outra que lá tivesse estado antes. Com o coração a
bater a um ritmo desenfreado, Harry pegou na pasta, se sentando na cama logo de
seguida. Era acastanhada e brilhava. Harry olhava maravilhado para ela. À vista
de outras pessoas, parecia extremamente normal, uma pasta como as outras. No
fundo, também o era para Harry, por isso não compreendia o que tanto o prendia.


- O que você está fazendo? - Draco resmungou, com cara de poucos
amigos - Onde estão as nossas pastas?


- É uma boa pergunta. Onde você as
colocou ontem?


- Em cima dessa mesa aqui, uma por
cima da outra.


- Estranho… Muito estranho. Não
estavam lá quando acordei. No lugar delas estava essa. Que não é vermelha nem
verde. Tem um tom acastanhado, muito fora do vulgar.


- Quem sabe essa cor não seja a que
se obtém quando se junta o vermelho da Grifinória com o verde da Sonserina. Mas
espera… E o que diz a etiqueta?


- Draco Malfoy e Harry Potter.


Não foi
preciso dizer mais nada. Draco saltou da sua cama, se sentando ao lado de Harry
na deste. O moreno pode reparar que as mãos do loiro tremiam. Retirando a pasta
das mãos do garoto da cicatriz, Malfoy tentou abri-la. Desta vez, com sucesso à
primeira tentativa. Respirou fundo. Nada, nada lá estava dentro.


- Ah, não! Porra, isso não é
possível. Tanta enrolação e nada? Nem uma pista?


Draco não
escondia o inconformismo e parecia perto de atirar a pasta à parede. Pelo menos
foi isso que pareceu a Harry, que tratou de a tirar das mãos do loiro.


- O que vai fazer com isso? Não vê
que não tem nada dentro?


- Calma, Malfoy! Eu não tenho
culpa! Estou tão bravo como você, mas temos de raciocinar.


- Então tá! Você é o esperto, me
diz o que tenho que fazer!


- Não sei…


- Me dá essa bosta aqui…


E então,
Draco tentou puxar a pasta de novo da mão de Harry. Este, prevendo o que iria
acontecer, não cedeu, puxando-a para si. Foi aí que uma luz amarela invadiu o
quarto. Luz esta que partiu do interior da pasta.


- O que você fez?


- Eu acho que a gente acabou de
descobrir a maneira dessa pasta ter algo cá dentro. Lembra da primeira carta,
aquela que dizia que a gente tinha que descobrir tudo sempre juntos?


- É… O conteúdo da pasta só
apareceu quando tocámos os dois nela!


- Foi isso que eu pensei…


- Ah, Potter… mostra logo o que era
essa luz e deixa de papo.


Harry
abriu a pasta de novo. Lá dentro reluziam dois fios de ouro, cada um com um
coração. Os dois garotos entreolharam-se, um mais confuso que o outro. O que
significava aquilo?


Draco foi
quem recuperou primeiro. Esticou o braço e puxou um dos fios para fora da capa.
O brilho que aquele objecto imanava era impressionante, quase que ofuscava os
olhos de quem olhava para ele.


- Eu juro! Cada vez entendo menos o
que se está a passar!


- E eu não estou numa situação
muito melhor… Mas Malfoy, será que os dois fios são iguais?


- Só tem um jeito de saber, né?


Harry
pegou no outro fio e Draco estendeu o seu ao moreno. Este examinava-os
cuidadosamente quando sorriu, vitorioso.


- Eles são iguais sim, mas olha,
aqui… Têm umas pregas! Isso quer dizer que os corações se abrem!


- Tenho que dar o braço a torcer…
Você está ficando inteligente mesmo.


- Ah, eu não estou ficando, não! Eu
sempre fui!


O ambiente
era agora muito mais relaxado. Os dois garotos riam em conjunto. Quem visse
aquela cena e os conhecesse, acharia no mínimo estranho. Os sorrisos eram
francos e verdadeiros. Harry achava estranho que no espaço de um dia se pudesse
dar tão bem com alguém que odiava e que considerava grande inimigo. Claro, o
loiro continuava arrogante e convencido, mas era alguém com quem se podia
conviver. Não era o Draco Malfoy com quem ele convivia. E Harry sabia que até
ele estava sendo diferente. Nunca agia de forma normal em de Malfoy, era sempre
frio e mal-educado. Agora, estava diferente com ele. Draco não era o único
mudado.


- E então, vamos abrir ou não? - O loiro ainda sorria, mas os
olhos demonstravam impaciência. Harry estendeu um dos fios ao garoto, ficando
com o outro.


- Eu vou contar até três… Aí
abrimos os dois ao mesmo tempo. Creio que terá de ser assim.


- Ai, que coisa infantil…


- Você tem alguma ideia melhor? Se
tiver fala, sou todo ouvidos.


- Não, pode começar a contar.


- 1, 2… 3!


A precisão
foi exacta. Parecia que existia uma linha que os unia. Abriram os respectivos
fios exactamente ao mesmo tempo. Foi isso que permitiu aos garotos ficarem na
posse de mais duas cartas, que após comparadas, se descobriu serem iguais.


“Garotos,


Uma das provas está ultrapassada.
Digo isto porque têm esta carta em mãos, ou seja, conseguiram juntos descobrir
o primeiro dos muitos mistérios. De facto, não contem com a papinha toda feita.
Esse teste foi o mais fácil de todos. Provas difíceis viram.


No entanto, têm direito a uma
pista, uma só. Os fios onde estas cartas estavam escondidas são especiais.
Apenas existem dois no mundo. Foram criados para vocês, só. Presente de
nascimento, uma bênção especial. São a vossa chave do mistério. Será com eles
que vocês terão de andar sempre, a partir de agora. Cada prova que terão de
passar vos dará um pequeno texto, por vezes apenas frases, sobre esses fios. No
final, quando todas as frases tiverem sido descobertas, o mistério também o
terá sido.


Confuso? Talvez, é mesmo para ser.
Utilizem o fio fazendo algo que os dois gostam. Um gosto em comum. Quem sabe
não aparecerá nova pista.


Sem mais de momento,


DHAD”


O ambiente
que até há pouco tempo estava alegre tinha contornos diferentes agora. De
facto, parecia que o ar estava irrespirável dentro daquele quarto. Nenhum dos
dois falava, talvez porque não tivessem coragem para o fazer. Perguntas eram
muitas. Saltavam na cabeça de cada um, sem encontrarem resposta. Por fim,
passados talvez 15 minutos, Harry falou:


- Bem, pelo menos agora sabemos
mais sobre o que temos de fazer…


- Ora! Sei tanto quanto antes.


- Não, Malfoy. Esses fios são importantes,
e muito! Foram uma bênção especial, apenas para nós. Quem a terá feito, não
sei. Penso que isso agora seja irrelevante. Mas sabemos que a partir do momento
em que os tivemos em mãos, não os podemos deixar mais. E eu estive pensando…
Temos de descobrir rapidamente quem esse DHAD é, porque pode ser importante. E
um gosto comum, certamente teremos. Pode não saltar à vista, mas tem que
existir algo que interesse aos dois.


- Tá, tá bom. Quem sabe tudo o que
você disse está certo. Agora não tenta me fazer aceitar isso, porque eu não
consigo. É estranho demais. Esses fios feitos só para nós, lançada uma bênção
sobre nós, esses acontecimentos estranhos. É muita coisa para a minha cabeça.
Estou quase explodindo, por Merlin!


- Alguém já te falou que você é muito
esquentado?


- Já, e nunca você me viu realmente
nervoso. E acho que não vai querer ver… -
Draco ameaçou, mas no entanto não
soava sério. Aliás, estava até com um pequeno sorriso nos lábios. E aquilo o
irritava, por Merlin, como o irritava. Se havia algo que seu pai o havia
ensinado era odiar um Potter. E Draco havia comprido até à véspera. Sempre
havia insultado o “menino que sobreviveu”, tirado sarro dele e aprontado mil e
uma coisa. Mas agora, a vontade que sentia em Hogwarts de lançar um Avada Kadavra no garoto sempre
que se cruzava com ele, não existia mais. Por vezes, tal como acontecera no
carro, achava o garoto até que simpático. E aquilo o irritava, por Merlin, como
o irritava.


De súbito,
alguém bateu à porta. Assustados, esconderam a pasta rapidamente e se enfiaram
nas camas. Draco falou, numa voz rouca, algo parecido com entre e a porta
abriu-se. A mulher loira que Harry sabia agora ser a mãe de Draco no mundo
trouxa entrava no quarto, com o sorriso de sempre nos lábios e com um tabuleiro
nos braços.


- Bom dia, meninos. Como ouvi
vozes, deduzi que tivessem acordados e resolvi trazer o pequeno
almoço para vocês comerem na cama. Com o frio que está, não dá vontade
nenhuma de levantar, não é mesmo?


- Ahn… Mãe, óptima ideia. Realmente
eu estava ficando com fome.


De facto,
a loira havia caprichado. Havia suco de manga para os dois, e torradas barradas
por algo castanho, que nenhum dos dois conhecia e que ninguém se atreveu a
perguntar.


- Como eu sei que você gosta muito
de Tullicreme, eu resolvi trazer, Harry.


- Eer… Obrigada, Dona Milla!


- Ora, Harry, não tem de agradecer.
Você já é da casa. Bem, vou deixar vocês comendo e vou dar uma limpeza na casa.
Qualquer coisa me chamem.


Draco não
pode evitar o comentário da ordem quando a mulher abandonou o quarto:


- Com que então adora tullicreme, é?


- Ora, eu nem sei o que isso é!


- Mas se ela falou, quem sou eu
para duvidar?


- Como você é insuportável, por
Merlin!


O suco
estava divinal. Draco não conhecia a fruta manga, havia até perguntado se os
trouxas eram tão anormais ao ponto de triturarem alguma manga de camisola para
fazer suco. Quando Harry conseguiu parar de gargalhar, o que convenhamos, foi
difícil, explicou rapidamente que mangas eram uma fruta tipicamente
sul-americana que os trouxas consumiam muito, não conseguindo evitar de rir
novamente quando Draco respirou fundo e finalmente provou o suco. Quanto ao tullicreme, vieram a descobrir tratar-se de chocolate
derretido, com que se barrava as torradas. E Draco lá acabou por admitir, entre
gargalhadas, que os doces trouxas eram bons, mas deixou bem claro que preferia
a comida bruxa.


Quando
terminaram de comer, arrumaram o tabuleiro e se levantaram. Draco advertiu
Harry para colocar o fio, relembrando-lhe o teor da carta, enquanto que
colocava o seu. Não lhe agradava a ideia de usar um fio com um coração enorme,
mas já que era necessário e que ninguém que ele conhecia, além do Potter e da
Weasley nojentinha, o veria assim, não encontrou grande problema.


- Draco… Você acha que a gente vai
descobrir todo esse mistério?


- Potter! Eu confio na minha
inteligência e capacidades… Sei que você não as tem, por isso não pode confiar,
mas esteja descansado. Eu vou achar uma saída.


- Acho melhor achar a saída rápido,
antes que eu corra atrás de você e parta a sua cara.


Pronto,
era inevitável. Aquelas discussões iriam sempre acontecer, apesar do estranho
início de amizade que estava a ocorrer. Afinal, eles eram Harry Potter e Draco
Malfoy.

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