Fiuuns sob a chuva



Já era sexta-feira, a semana passara muito depressa. Como sempre, Mariana foi a primeira do seu dormitório a acordar. Ela se espreguiçou demoradamente e se vestiu.
Ao descer a escada caracol, a primeira coisa que pôde ver foi um pergaminho roxo pregado no quadro de avisos. Aproximou-se para ler os seguintes dizeres:
“E aí, galerinha mais ou menos!
Vocês não sabem da última: eu vi a Marcela Westenra beijando o Longhi atrás de uma estufa ontem. Os dois pediram para eu prometer que não ia contar à ninguém – mas eu não prometi (fofoqueiro é a mãe!).
ass: Forge Weasley! =D
Ah, só mais uma coisinha: EU TE AMO, ALÍCIA!!!”
Mariana sorriu para o bilhete e passou pelo buraco do retrato, indo em direção ao Salão Principal. Não havia muita gente lá, mas ela pôde ver sua amiga Penelope acenando para ela da mesa da Corvinal.
- Bom dia, Penny! – cumprimentou sentando-se ao lado da amiga.
- Bom dia. Será que o correio vai demorar muito? Estou esperando uma carta do Percy.
- Quando foi que você escreveu para ele?
- Ontem de manhã.
- E acha que ele já respondeu?
- Não, provavelmente não. Anda muito ocupado. Mas não custa esperar, não é? – perguntou Penelope olhando para o céu cinzento através das janelas.
Mariana ergueu as sobrancelhas para ela servindo-se de panquecas.
- Você anda desanimada, Mari, o que aconteceu?
- Não estou triste! – exclamou Mariana o mais depressa possível, deixando cair a panqueca que ia colocar no prato de Penny.
- Eu não disse que você está triste, disse que está desanimada! Mas se a carapuça serviu... Fred anda te perseguindo, não é?
Penelope sorria para Mariana, mas esta não achava graça alguma no que a amiga estava dizendo.
- Já falei que ele não me incomoda Penelope! Eu até gosto dele, mas...
- Se você gosta dele por que vocês não namoram? Poderíamos ser parentes!
- Eu gosto dele como amigo, Penny! Já disse que não vou namorar ele.
- Eu só dei uma sugestão.
As duas comeram suas panquecas, Penelope ainda olhando esperançosa para o céu. Mariana já ia puxar uma segunda panqueca para o prato quando avistou os gêmeos Weasley se sentando à mesa da Grifinória. Pensou em ir se sentar com eles.
- Vou para a mesa da Grifinória.
- Até mais, então.
- Venha comigo! – se Penelope a acompanhasse Jorge não teria como deixá-la sozinha com Fred como fizera no almoço da véspera deixando ambos os dois constrangidos.
Elas abandonaram os pratos sobre a mesa da Corvinal e foram se sentar nas cadeiras em frente aos gêmeos.
- Bom dia, meninos! – cumprimentou Penelope sorridente.
- Olá, Penelope. Ainda está tendo problemas com relação às nossas mercadorias?
- Não, já pararam com as brincadeiras, graças a Deus. Agora eu posso saber quem estava fazendo isso?
- Não – responderam os dois juntos sorrindo.
- Ah, por favor! Não vou dar detenções a ninguém.
Fred deu um espirro forçado com um som que lembrava claramente a palavra “mentira” enquanto Jorge respondia:
- A curiosidade matou o trasgo, Penny querida!
- E por falar em trasgo, – disse Fred apontando para cima – aquela coruja não é do Percy?
O correio matutino havia chegado, ao mesmo tempo em que Katie e Alícia se uniam a eles. Penelope lançou um olhar ofendido a Fred antes de estender o braço para deixar Hermes pousar nele.
Enquanto ela abria e lia a carta do namorado, Fred começava uma conversa com Mariana.
- Estudando muito para os N.I.E.M.s, Mari?
- O tempo todo – respondeu Mariana. – Se você soubesse quantos trabalhos eu tenho que fazer...
- Imagino. Eu já vi como as pessoas ficam nervosas só de prestar N.O.M.s.
- Por quê? Você não ficou nervoso?
- Um pouco. Mas nada que alterasse meu humor como aconteceu com o pessoal da Corvinal e da Lufa-Lufa.
Mariana engoliu mais algumas panquecas e seguiu com Penelope para os jardins.
- Te falei que o Percy foi promovido?
- Muitas vezes.
Já sabendo que Penelope ia falar do namorado por no mínimo quinze minutos inteiros, Mariana tentou dispersar sua atenção, mas não havia nada ali que a ajudasse a fazer isso.
- Ele agora é assistente pessoal do Sr.Crouch. Está muito feliz, mas ao mesmo tempo atarefado. Crouch está doente e ele está tendo de informá-lo sobre tudo o que acontece dentro do departamento. Hoje ele demitiu uma bruxa, sabe – comentou olhando para o gramado e sorrindo, como se o feito do garoto fosse realmente muito carinhoso. – Ah, o Percy não tem jeito mesmo...
Elas chegaram à porta da estufa de número três e encontraram-se com Rebecca e Patrick.
- E aí, Penelope, o Percy te escreveu afinal? – perguntou Patrick.
E Penelope repetiu tudo que Mariana acabara de ouvir sobre o emprego de Percy.
Mariana olhou para Rebecca e fez uma careta apontando para Penelope quando esta não estava olhando. Rebecca abafou um risinho. As duas também eram amigas de Percy, mas obviamente não trocavam tantas cartas nem falavam tanto dele quanto Penelope, que já estava começando a lhes encher a paciência.
Entrando na estufa, eles entregaram seus trabalhos para a profª Sprout – Rebecca se queixando que o seu era três vezes menor do que o de Mariana e devia ter duas vezes mais erros do que o de Penelope.
Depois de Herbologia eles tiveram aula de Feitiços. Quando esta acabou, Mariana foi sozinha para sua aula de Aritmancia.
Com toda a matéria terminada, a profª Vector passou exercícios de revisão para a sala. Mariana olhou pela janela e notou que começava a chover. Ficou imaginando qual seria a azarada turma que ela via nos jardins em frente à cabana de Hagrid, estudando Fiuuns sob a chuva.
Percebeu quem eram ao ver dois garotos ruivos lutando para que seu Fiuum não saísse da gaiola.
Esquecendo-se completamente dos exercícios, Mariana pôs-se a observar os meninos. Lino pegara a ave na mão para deixar Angelina desenhá-la, enquanto Jorge e Alícia conversavam e Fred anotava algo em um pergaminho.
Não demorou muito para que a ave se irritasse, tentando bicar a todos. Lino segurou-a firmemente e correu pelos gramados ameaçando jogá-la sobre Alícia, que Mariana supôs estar gritando para que Jorge a ajudasse. Este se levantou devagar, foi atrás de Lino e ficou lutando para tirar o Fiuum de sua mão.
Angelina estava sentada no gramado rindo, ao contrário de Fred, que sequer olhava para os amigos. Contemplava o chão, sério.
Já havia se passado cerca de vinte minutos quando Hagrid percebeu que os Fiuuns não gostavam de chuva e levou todos os alunos para dentro de sua cabana.
Mariana ficou imaginando por que Fred não estava se divertindo como seus amigos. Pensou que talvez ele estivesse mais feliz se ela não o conhecesse e ele ainda namorasse Angelina ou então se ela mesma tivesse aceitado namorar com ele.
“Não, Mariana, você não gosta do Fred!” pensou, olhando para o quadro negro e começando a copiar os exercícios.
Mas ela não conseguia mentir para si mesma. Fred era muito gentil com ela, também bonito, engraçado e compreensivo. Se ao menos ele estudasse um pouco mais e fizesse menos bagunça... Ninguém iria entender seus motivos, mas Mariana queria para ela alguém com quem se identificasse.
Ela lembrou-se de como ele fora sincero com ela na noite em que cumprira detenção. Mariana obviamente não acreditara no que Lino dissera, uma vez que não havia campeonato de quadribol naquele ano e o campo estava sendo preparado para a terceira tarefa do Torneio Tribruxo. Se Fred não houvesse lhe dito a verdade ela ia pensar que fora ele quem pedira ao amigo para mentir.
Mas por que ele fizera isso? Por que ele queria que ela soubesse que cumprira uma detenção se ela não gostava disso e ele queria conquistá-la?
Honestidade, pensou Mariana. Pura honestidade. Quem se importava se Fred fabricava logros com o irmão ou se tirava notas baixas e desrespeitava pelo menos uma regra da escola por dia? Ele era, na sua opinião, um garoto honesto, bonito, divertido, gentil e compreensivo.
“Está decidido” ela pensou quando a sineta tocou fazendo-a se dar conta de que não acabara de copiar os exercícios do quadro. “Tenho que deixar de ser orgulhosa e assumir meus sentimentos por Fred de uma vez por todas!”.

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