Atitudes imprevistas



A primeira coisa que Angelina fez quando acordou na quarta-feira foi trocar de uniforme, já que dormira com um e este estava todo amarrotado.
Ela olhou para o dormitório, que estava deserto, deixou escapar um longo bocejo e olhou no relógio de pulso que acabara de colocar - eram sete e vinte.
- Droga – murmurou para a cama de Alícia, ao lado da sua, como se esta fosse a culpada. – Perdi a primeira aula!
Foi de mau-humor à sala comunal da Grifinória e se deitou em um sofá, contemplando pela janela o céu nebuloso lá fora que anunciava chuva. Não queria tomar café da manhã, não queria tentar entrar despercebida na aula de Feitiços e acima de tudo não queria sair do sofá.
Sabia o que, ou melhor, quem lhe causava todo esse desânimo: Fred. Não conseguia parar de pensar nele um minuto sequer e não se perdoava por ter perdido ele. E pensar que fora ela quem o apresentara à Mariana.
A lágrima que rolou em seu rosto ao pensar isso foi seguida de muitas outras.
Sentia-se sozinha, pois achava que ninguém no mundo poderia entender o que ela sentia.
Queria esquecer Fred, mas simplesmente não conseguia fazê-lo. Talvez não fosse falta de capacidade, mas sim de vontade: ele já fazia parte dela, não se imaginava sem ele.
Por outro lado, não conseguia ter nenhum sentimento ruim com relação a ele por abandoná-la e muito menos com relação à Mariana por roubá-lo dela. Pelo contrário, achava que no fundo eles combinavam muito. Queria ver Fred feliz, por mais que isso a fizesse sofrer.
O buraco do retrato se abriu, o que a fez sentar-se depressa no sofá, e um aluno do sexto ano, ruivo e com muitas sardas entrou comendo com bolinho.
- J-J-Jorge?
- Não, Fred – disse o menino parecendo curioso e sentando-se ao seu lado. – O que está fazendo aqui?
- Perdi a hora. E você?
- Não estava com a mínima vontade de assistir aula.
Angelina fitou-o por um momento, em que Fred enfiou o resto do bolinho na boca.
- Você... Estava chorando? – ele perguntou, parecendo preocupado.
- Eu? Não, só que... Acho que entrou um cisco no meu olho - e ela tentou enxugar as lágrimas rapidamente na manga das vestes.
Fred deixou escapar uma risada rouca.
- Que desculpa esfarrapada! Me fala, por que estava chorando?
- Por nada. Bobagem!
- Me conta, vai! Eu não sou digno de confiança?
- Claro que é, mas... Esquece, está bem? Era bobagem, sério!
Ela sentiu aqueles olhos castanhos olharem bem no fundo de seus olhos negros e o ar simplesmente fugiu de seus pulmões.
- Estava chorando por minha causa?
Angelina não teve capacidade de responder. Não queria mentir para Fred, mas dizer a verdade parecia ainda mais doloroso.
- Me desculpe, Angelina... Eu não queria te machucar. Juro!
A voz dele estava estranhamente rouca. Ela mal notara isso e já sentia os lábios dele encostando nos dela. Por um momento Angelina se entregou completamente ao beijo, mas então seu cérebro voltou à realidade com um choque horrível e ela o afastou, tremendo e com o coração disparado.
- Por que você faz isso comigo, Fred?
- Eu só queria que você entendesse que eu estou sofrendo assim como você com tudo isso. Não quero que você continue triste, iludida.
- E você acha que vou ficar menos iludida se você me beijar? – perguntou exasperada.
Fred coçou a cabeça confuso. Ela não sabia se deveria sentir ódio ou carinho por ele.
- Desculpe. Achei que você ia se sentir melhor...
- Mas não me sinto.
- Eu percebi, então me desculpe por favor! Esqueça o que eu fiz, está bem? – embora parecesse perfeitamente tranqüilo, havia um quê de desespero na voz de Fred. – Agora eu... só quero... ser seu amigo... como antes!
Angelina baixou os olhos e sorriu por dentro, embora mantivesse os lábios crispados. Não conseguia ficar brava com Fred, ele estava confuso com seus sentimentos. E ela também estava.
Olhou no relógio com a esperança de que já fosse hora da aula e os dois pudessem sair dali (talvez os corredores de Hogwarts distraíssem um pouco eles). Mas eram sete e quarenta, ainda tinham cinco minutos.
- Está com pressa? – Fred perguntou em tom quase inaudível. Provavelmente percebera a expressão frustrada no rosto de Angelina ao ver as horas.
- Não, não estou – respondeu ela desconcertada. – Me desculpe se eu fui rude com você, okay?
- Feito.
Os dois contemplaram por um breve momento a mesa à sua frente.
- Está tendo sucesso com a Mari? – Angelina não se conteve.
- Decididamente não – lamentou-se Fred. – Ela acha que eu sou um rebelde qualquer curtindo a vida.
- Não, não acha! A Mariana nunca pensaria isso de você!
- E qual é a imagem que você acha que eu passo às pessoas?
- As pessoas gostam de você, Fred! Olhe à sua volta, garotinhas do primeiro e segundo ano suspiram quando você passa, garotos mais velhos querem comprar os logros que você faz e a Mari...
- ... e a Mari não é do tipo que suspira quando um garoto legal passa e nem do tipo que compra logros fabricados por um menor de idade.
Angelina não descobriu como responder. Além do mais, a sineta havia tocado e eles deveriam ir para a aula.
Eles conversaram vagamente no caminho para a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, ela ainda pensando seriamente nas verdades que Fred dissera sobre o jeito de pensar de Mariana. Lamentou profundamente que não pudesse mudar as opiniões pessoais de outros alunos.

- Por que será que eu tinha certeza de que você estaria aqui?
Jorge soltou uma exclamação de surpresa e levou a mão ao peito, fechando os olhos e respirando com dificuldade.
- Não me assuste assim, Alícia!
Ela acabara de abrir uma passagem secreta atrás de uma estátua no quinto andar, onde ele estivera escondido (motivo pelo qual não comparecera ao jantar).
- Posso entrar aí?
- Não tem muito espaço.
- Se eu ficar aqui fora e deixar a porta aberta o Filch não vai demorar muito a te descobrir – ameaçou Alícia apoiando o braço na parede do corredor.
Ele pensou em dizer a ela que fechasse a porta e fosse embora, mas acabou por deixá-la entrar no esconderijo, onde os dois ficaram muito espremidos.
Alícia fechou a porta secreta e a única iluminação ali passou a vir da varinha acesa na mão de Jorge, que perguntou a ela confuso:
- Você estava me procurando?
- Lógico que estava! Você não aparece para jantar e nem Fred nem Lino sabem onde você está: concluí que coisa boa isso não poderia ser. Por que você está aqui?
- Queria ficar sozinho para pensar um pouco.
Alícia sentiu que estava atrapalhando o garoto, mas em seguida chegou à conclusão de que ele poderia muito bem ter ido à sala comunal, a essa hora vazia. Lá ambos estariam mais confortáveis e ela poderia mais facilmente pensar em uma desculpa para ir embora para o seu quarto naquele exato momento.
- Como me encontrou?
- Foi aqui que nós nos beijamos pela primeira vez – lembrou Alícia agradecida que a iluminação precária não mostrasse seu rosto vermelho. – Ou será que já se esqueceu que nós éramos namorados?
- Lógico que não – respondeu ele também corando e ainda com o coração disparado. – Você foi a melhor namorada que já tive.
Em outro lugar e em outra hora Jorge não haveria lhe contado isso, mas seus rostos estavam muito próximos e ele estava desesperado, não lhe custaria nada arriscar.
- E quantas namoradas você já teve?
Pela primeira vez Alícia falava das ex-namoradas de Jorge sem ficar roxa de ciúmes.
- Contando com você, quatro.
- E se nós voltássemos a namorar? Eu voltaria a ser a quarta ou seria a sua quinta namorada?
- Você está sugerindo alguma coisa, Alícia?
Alícia fechou os olhos, aproximou ainda mais o rosto de Jorge e o beijou, como na semana anterior pensara que nunca mais iria fazer.



N/A: Espero que tenham gostado desse capítulo – resenhem por favor! A primeira parte dele é dedicada à minha amiga Kássia, que tem me dado umas dicas bacanas (obrigada, Ká!). Já a segunda parte é para mim mesma (não iria agüentar deixar o Jorge sozinho!).

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