Encarando a realidade



Harry alugou um quarto e pagou à um jovem de cabelos castanhos que trabalhava para o novo dono do caldeirão Furado. Após anos de guerra, muitas pessoas que desapareceram, nunca mais retornaram. Tom, o velho dono do bar, era um deles.
Harry subiu com os filhos e enquanto Gustave arrumava lentamente as coisas em um armário muito velho, Diane o olhava interrogativamente. Esperando, Harry sabia, por uma explicação. Harry aproximou-se lentamente de sua filha e sentou-se ao seu lado na cama.
- Gustave, venha aqui, por favor. – disse Harry para o filho e logo após suspirando.
Gustave andou lentamente e sentou do outro lado do pai.
- Olha, eu sei que vocês estão tristes por causa da mãe de vocês, mas verão como será bom nós três sozinhos juntos. – Disse Harry olhando para a parede a sua frente.
- Por que ela disse aquilo, pai? – perguntou Diane sem conseguir evitar as lágrimas.
Harry olhou para sua filhinha. ‘Filhinha não, uma mulher já’. Os cabelos pretos como a noite desciam em cachos exuberantes pelos ombros da garota, os olhos de um azul escuro fitavam-no em busca de uma explicação. Gustave o olhava também com seus olhos verdes vivos como os do pai.
- Não sei minha querida. Não sei
- Papai – falou Gustave numa voz fraquinha. – O senhor vai ver, nós seremos muito mais felizes assim. E vamos lutar todo dia pra que ninguém diga o contrário.
- É isso aí pai. Não vamos deixar que ela nos destrua. Somos os Potter e resistiremos a tudo. – emendou Diane
Harry olhou para os filhos e incapaz de segurar as lágrimas por mais tempo os abraçou e ficaram ali os três chorando.
Para poder se adaptar e ajudar os filhos nessa mesma adaptação, Harry tirou umas férias, o que significava, duas semanas para combinar tudo com os filhos e colocá-los no expresso de Hogwarts. Essas duas semanas passaram como um foguete e antes que percebesse Harry se viu atravessando o átrio do Ministério da Magia em rumo à sessão dos Aurores.
Estava um pouco apreensivo, seria a primeira vez que via seu mais antigo e melhor amigo, Ronald Weasley, depois da separação. Fazia dois dias que, pelas leis trouxas, não era mais casado.
A primeira coisa que viu ao entrar em sua sala foi Rony sentado em sua cadeira com a cabeça baixa dormindo. Harry aproximou-se devagar e deu um grito no ouvido do amigo. Sentiu uma grande satisfação em vê-lo pular, e foi rindo que o expulsou de sua cadeira. Rony continuava o mesmo, ou quase, seus cabelos ainda eram ruivos, seus olhos continuavam os mesmos, algumas atitudes também, orem Ronald Weasley amadureceu muito mais do que as pessoas pensavam. Tinha ganhado alguns músculos durante o treinamento para ser Auror o que o fazia bonito, de um jeito quase cômico. Rony olhou para o amigo e soube na mesma hora que ele estava sofrendo. Harry Potter podia esconder de qualquer um o que sentia, mas Rony o conhecia quase toda a sua vida e sabia o que passava naquela cabeça dura.
- Então... – começou Rony sentando-se em outra cadeira. – Estava te esperando aqui pra gente conversar.
- Sério? Conversar sobre o que? Uma nova missão?
Rony olhou sério para Harry.
- Deixa de besteira... Para os outros você pode tentar esconder, mas eu sei que você está sofrendo, você amava aquela mulher...
Harry olhou para o amigo e sabia que podia confiar nele como não podia confiar em ninguém.
- Eu não a amava. – disse Harry e ao ver o olhar de ironia de Rony acrescentou – Pelo menos não nos últimos anos.
- Era de se esperar que ela reagisse assim. Pelo que você me contou pelas cartas, ela era quase uma cópia da sua tia.
- Mas não era assim Rony!
Harry estava nervoso, levantou-se e começou a andar pela pequena sala que dividia com Rony.
- Não era assim! – repetiu Harry – Ela mudou muito, no início ela era demais, compreensiva. Quando contei o que eu era, ela me olhou e disse que me aceitava.
Rony apenas olhava para o amigo, enquanto esse desabafava.
- O pior Rony, não é saber que eu não a fazia feliz. O pior é saber que ela não amava os próprios filhos. Meus filhos, Rony! Ela chamou MEUS filhos de aberrações.
Rony o olhou atônito.
- Isso você não tinha me contado.
- Eu estava tentando não pensar nisso.
- Você também não precisa se culpar por isso. Todo mundo que passa um minuto com você sabe que você ama aqueles dois mais do que tudo nesse mundo.
- Eu estou preocupado com Diane. Ela ouviu o que a mãe disse. Anda calada, eu a escuto chorar a noite e isso me corta o coração Rony.
Rony levantou e colocou a mão sobre o ombro de Harry
- Força amigo, não fica assim. Diane vai superar. Ela é uma gartoa inteligente. Sabe que tem o melhor pai do mundo perto dela e que ele a ama muito.
- Cara... Você sabe mesmo como acalmar um pouco a vida das pessoas né.
Rony olhou para Harry e sorriu, sentou-se na mesa e olhou para Harry.
- Sabe quem apareceu aqui semana passada?
- Quem?
- Hermione.
Harry olhou para Rony e passou a mão pelo rosto, sentou-se por fim em sua cadeira e disse baixinho.
- Vocês pelo menos se falaram?
- Não. – disse Rony com uma meia risada que não alcançou seus olhos. – Ela não me cumprimentou.
- Rony você tem que contar a ela. Pelo amor de Deus, faz mais de vinte anos que vocês estão nessa ladainha. Você já tem 34 anos, se mexa.
- Você sabe que eu já contei tudo o que sinto. Ela que não me ouviu. Preferiu fugir de mim.
Harry suspirou e olhou para o teto.
- Quando foi que tudo complicou Rony? Quando foi que perdemos a simplicidade das coisas?
Rony riu e virou-se para o amigo
- Eu creio que a quase 17 anos Harry.
Os dois ficaram em silencio até que uma voz magicamente amplificada invadiu o local.
-“Todos os aurores para o auditório imediatamente! Isso não é um treinamento! Reunião urgente! Todos os aurores para o auditório imediatamente.”
Harry e Rony se olharam e correram junto com os outros para o auditório. Mal sabiam eles que o passado voltaria com tanta pressa para afogá-los.

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