Um Garoto chamado Severo



Fazia um calor anormal para um dia de primavera. Severo, inquieto com o calor e ansioso com os exames, acordou muito cedo. Olhou-se de relance no espelho, a caminho do banheiro e fez uma careta de desagrado. A imagem refletida mostrava um adolescente mirrado, pálido, meio amarelado, nariz adunco, olhos negros, cabelos oleosos. Cabelos MUITO oleosos, pensou com desgosto, seguindo em frente para o banho. Não importava o que fizesse, quantos banhos tomasse, quantas vezes lavasse a cabeça, seus cabelos pareciam sempre encharcados de óleo. Ele já tentara todo o tipo de poções e feitiços, e até mesmo vencera seu orgulho para procurar Madame Ponfrey e pedir, discretamente, uma ajuda. Ela também, usando seus conhecimentos, experimentara algumas alternativas, até bubotúberas, sem sucesso. Ele que se conformasse com essa aparência patética. A cara do pai, era o que todo mundo dizia. A não ser pelos olhos, que eram iguais aos de sua mãe, ele era idêntico, igualzinho, ao seu desprezível e detestado pai. Aquele horrível trouxa grosseiro e mal humorado, que maltratava sua mãe bruxa. Que nunca demonstrara o menor sinal de afeição pelo seu único filho. Severo odiava trouxas. Eles representavam a própria causa dos seus problemas: o seu pai abusivo, a família do pai, que tratava sua mãe e ele como duas aberrações. E, como se não bastasse, era desprezado pela família da mãe, por ter sangue trouxa, por ser mestiço. O “Prince mestiço”, o “Príncipe mestiço”, era como os primos gostavam de caçoar dele.
Azedo com esses pensamentos, ele seguiu solitário para o café da manhã. Já estava acostumado a ser sozinho. Feioso, péssimo nos esportes, CDF e seguidor das regras, não era uma combinação atraente, ele pensou com um sorriso enviesado e triste. E ele era orgulhoso demais para tomar a iniciativa e se aproximar das pessoas. E, é claro, poucas pessoas se davam ao trabalho de prestar atenção nele e tentar se aproximar. Ele franziu a testa numa expressão de raiva ao pensar nisso. Havia uma única exceção na sua vida: Lílian Evans. O que era uma coisa totalmente surpreendente para ele.
Lílian, uma garota do quinto ano de Hogwarts como ele, era da Grifinória.
Os alunos dessa Casa e os da sua, a Sonserina, tradicionalmente se detestavam. A Grifinória era conhecida por eles como a Casa dos metidos, arrogantes. Dos bonitões, dos atletas, aqueles que se achavam melhores do que todo o mundo e andavam por aí rindo, aprontando e se dando bem. Sempre. Ele odiava a Grifinória, especialmente aquele grupinho asqueroso formado por Tiago, Sirius, Remo, Pedro. Tiago e Sirius, principalmente. Só de pensar neles, sentia o sangue subir. Tão cheios de si... um pouco de talento no Quadribol e eles já achavam que estavam acima dos outros, que as regras não valiam pra eles... Como detestava Tiago Potter!! Tinha certeza de que, por trás daquela fachada alegre e popular estava um belo de um mau-caráter, egoísta, arrogante... Ah, como ele gostaria de encontrar alguma chance de mostrar a todos o que o "Potter queridinho" era na verdade!! Ele vivia espionando o grupo deles tentando descobrir o que estariam aprontando.
Bom, mas Lílian era diferente. Ela era sempre simpática com todos, educada, solícita. Ele não podia deixar de falar com a garota, rir com ela, voltar caminhando juntos depois das aulas de Poções.
Severo, às vezes, se pegava, como agora, pensando nos cabelos dela, ruivos, brilhantes e longos, balançando charmosos enquanto ela caminhava. Ou sonhando com aqueles olhos verdes, brilhantes e amendoados. Desde quando vira aqueles olhos pela primeira vez, tivera a certeza: nunca esqueceria deles.
Lílian tinha sido sua amiga desde o início. Ela era sua antítese: simples, alegre, desinibida, popular. E, assim mesmo, vinha conversar com ele realmente interessada no que ele tinha a dizer. Mesmo sem conseguir admitir nem para si próprio, era ela a luz que iluminava seus dias em Hogwarts.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.