A Primeira da Lista



A casa de Hermione, na Eaton Square, era um refúgio. Ficava numa das áreas
mais bonitas de Londres, com velhas casas georgianas, viradas para parques
particulares com muitas árvores.


Babás em uniformes engomados empurravam carrinhos de bebés por caminhos
cobertos de cascalho, crianças brincavam. Sinto saudade de Amy, pensava.


Ela andava pelas ruas antigas, fazia compras em quitandas e na farmácia da
rua Elizabeth. Admirava a variedade de flores de cores brilhantes, vendidas nas
barracas de rua.


Sirius, que Hermione descobriu ser filho de imigrantes ingleses, cuidava para
que Hermione contribuísse para as caridades certas e conhecesse as pessoas
certas.


Saía com duques ricos e condes empobrecidos, recebia numerosos pedidos de
casamento. Era jovem, bela e rica, parecia extremamente vulnerável.


- Todos pensam que você é um alvo perfeito - comentava Sirius, rindo. - Tem
se saído de maneira esplêndida, Hermi. Está feita agora. Possui tudo o que
jamais precisará.


Era verdade. Ela tinha dinheiro em cofres em bancos por toda a Europa, a casa
em Londres e um chalé em St. Moritz. Tudo o que jamais poderia precisar. Exceto
alguém com quem partilhar.


Hermione pensava muito na vida que quase tivera, com um marido e um filho.
Isso algum dia seria possível para ela novamente? E sempre que surgia essa
pergunta, era o rosto de Harry que vinha à sua mente, coisa que ela fazia
questão de espanar rapidamente para o fundo secreto lá dentro.


Nunca poderia revelar a qualquer homem quem era realmente, também não podia
viver uma mentira ao esconder o passado. Desempenhara vários papéis, não mais
tinha certeza de quem realmente era. Mas sabia que nunca poderia retornar à vida
que outrora levara.


Está tudo bem, pensava assumindo uma atitude de desafio. Muitas pessoas são
solitárias. Sirius está certo. Eu tenho tudo.


Ela ofereceu um coquetel na primeira noite depois de sua volta de Veneza.


- Estou aguardando ansiosamente - dissera-lhe Sirius. - Suas festas são as
mais quentes de Londres.


Ao que Hermione comentara, afetuosamente:


- Com o meu patrocinador, não poderia ser de outra forma.


- Quem estará presente?


- Todo mundo.


Todo mundo incluía um convidado a mais que Hermione não previra.


Ela convidara a Baronesa Lithgow, uma jovem e atraente herdeira. Quando viu a
baronesa chegar, adiantou-se para cumprimentá-la. Mas a saudação morreu em seus
lábios. A baronesa se apresentou acompanhada por Harry Potter. - Hermione,
querida, creio que você conhece o Sr. Potter. Afinal ele é afilhado do seu
melhor amigo. Por isso achei que não haveria problema dele comparecer.


Hermione assentiu, e disse rigidamente:


- Como vai, Sr. Potter?


Harry pegou a mão de Hermione, segurando-a por uma fração de tempo a mais do
que o necessário.


- Sra. Granger. - disse ele. - Como va? Não sei sabe, mas fui amigo de seu
marido. Estivemos juntos na Índia.


- Mas que coisa emocionante! - exclamou a Baronesa Lithgow.


- É estranho - disse Hermione, friamente. - Ele nunca o mencionou.


- É mesmo? Isso me deixa surpreso. Um sujeito muito interessante. Uma pena
que tenha acabado daquela maneira.


- O que aconteceu? - indagou a Baronesa Lithgow, muito excitada.


Hermione lançou um olhar furioso para Harry.


- Não foi nada.


- Nada? - repetiu Harry, num tom de censura. - Se me lembro corretamente, ele
foi enforcado na Índia.


- Paquistão - disse Hermione, tensamente. - E creio que me lembro agora de
meu marido se referir a você, alem de Sirius é claro. Como vai sua esposa?


A Baronesa Lithgow olhou para o acompanhante.


- Nunca me disse que era casado, Harry.


- Cecily e eu estamos divorciados.


Hermione sorriu docemente.


- Eu estava me referindo a Rose.


- Ah, sim... essa esposa.


A Baronesa Lithgow estava espantada.


- Foi casado duas vezes?


- Uma só - respondeu ele, jovialmente - Rose e eu obtivemos uma anulação.
Éramos muito jovens.


Ele começou a se afastar, mas Hermione, sentindo um grande impulso
masoquista, perguntou:


- Mas não houve gémeos?


A Baronesa Lithgow estava mais aturdida do que nunca.


- Gémeos?


- Eles vivem com a mãe. - Harry olhou para Tracy. - Não tenho palavras para
exprimir como foi agradável lhe falar, Sra. Granger. Mas não devemos
monopolizá-la.


Ele pegou a mão da baronesa e os dois se afastaram.


No dia seguinte, Hermione deparou com Harry num elevador na Harrods. A loja
estava apinhada. Ela saltou no segundo andar. Ao deixar o elevador, virou- se
para Harry e disse, a voz alta e clara:


- Por falar nisso, Sr. Potter, como conseguiu se livrar daquele processo de
atentado ao pudor?


A porta fechou e Harry ficou encurralado dentro do elevador com um bando de
estranhos indignados.


Naquela noite, Hermione ficou deitada na cama pensando em Harry. Não pôde
deixar de rir. Ele realmente se tornara encantador. Um patife, mas cativante.


Ela se perguntou qual seria o relacionamento dele com a Baronesa Lithgow. Mas
sabia muito bem qual era. Harry eu somos da mesma espécie, pensou. Nenhum dos
dois jamais assentaria. A vida que levavam era muito excitante estimulante e
gratificante. Mas não pode deixar de lembrar de um certo garotinho que tentava a
todo custo manter uma cicatriz afastada da vista de todos.


Ela concentrou os pensamentos em seu próximo trabalho. Seria no sul da
França, um grande desafio. Sirius lhe dissera que a polícia estava à procura de
uma quadrilha. Ela adormeceu com um sorriso nos lábios.


No seu quarto de hotel, em Paris, Duda estava lendo os relatórios que o
Inspetor Trignant lhe entregara. Eram quatro horas da madrugada e Duda vinha
estudando os papéis há horas, analisando a mistura imaginativa de roubos e
fraudes, ele se familiarizara com alguns dos golpes, mas outros lhe eram
inteiramente novos. Como o Inspetor Trignant ressaltara, todas as vitimas tinham
reputações duvidosas. Esta quadrilha aparentemente pensa que é formada por Robin
Hoods, refletiu Duda.


Ele estava quase terminando. Restavam apenas três relatórios. O de cima tinha
o cabeçalho de BRUXELAS. Duda abriu-o e leu. Jóias no valor de dois milhões de
dólares haviam sido roubadas do cofre na parede de um certo Sr. Van Ruysen, um
corretor de valores belga.


Os donos se encontravam ausentes em férias e a casa se achava vazia, a não
ser... Duda descobriu alguma coisa na página que fez seu coração se acelerar.
Ele voltou à primeira página, pôs-se a reler o relatório, concentrando-se
totalmente em cada palavra. Aquele trabalho se diferenciava dos outros num
aspecto significativo. O assaltante acionara um alarme. Quando a polícia
chegara, fora recebida na porta, por uma mulher com um negligê transparente. Ela
tinha os cabelos metidos numa touca e o rosto coberto por um creme de beleza.


Alegara ser hóspede dos Van Ruysens. A polícia aceitara a história; quando
conferiu com os proprietários ausentes, a mulher e as jóias já haviam
desaparecido.


Duda largou o relatório. Lógica, lógica. Ele olhou para seu relógio. Eram 10
horas da manhã em Nova York. fez uma ligação para J. J. Reynolds.


- Quero que verifique uma coisa - pediu Duda. - Pergunte aos polícias de Long
Island que entrevistaram a mulher no roubo de Lois Bellamy se têm certeza de que
ela era americana.


Reynolds ligou-lhe uma hora depois.


- Eles confirmaram. Mas porquê...


Mas Duda já desligara.


O Inspetor Trignant estava perdendo a paciência.


- Estou lhe garantindo que é impossível para uma só mulher ser responsável
por todos esses crimes.


- Há uma maneira de verificar - disse Duda.


- Que maneira?


- Eu gostaria de passar por um computador as datas e locações dos últimos
roubos e fraudes que se enquadram nesta categoria.


- Isto é bastante simples. Mas...


- Em seguida, eu gostaria de obter um relatório da imigração local sobre cada
turista americana que esteve naquelas cidades nas ocasiões em que os crimes
foram cometidos. É possível que ela use passaportes falsos algumas vezes, mas as
probabilidades são de que também se apresente com sua verdadeira identidade.


O Inspetor Trignant estava pensativo.


- Percebo a sua linha de raciocínio, monsieur. Ele estudou o homenzinho à sua
frente e descobriu-se meio confuso, esperando que ele estivesse enganado. O
americano era presunçoso demais.


- Está bem. Acionarei tudo.


O primeiro roubo da série fora cometido em Estocolmo. O relatório da Interpol
Sektionen Riskpolis Styrelsen, a seção sueca da Interpol, relacionou as turistas
americanas em Estocolmo naquela semana. Os nomes das mulheres foram fornecidos a
um computador. A próxima cidade verificada foi Milão. Quando os nomes das
turistas americanas em Milão por ocasião do roubo foram conferidos com a lista
de Estocolmo, ficaram 52 nomes. Essa lista foi conferida com as americanas que
se encontravam na Irlanda por ocasião de um golpe de mestre ali executado. A
lista ficou reduzida a 15 nomes. O Inspetor Trignant entregou o resultado a
Duda.


- Começarei a conferir esses nomes com as americanas que estavam em Berlim
durante o golpe ali realizado e...


Duda levantou os olhos.


- Não precisa se incomodar.


O primeiro nome, na lista era Hermione Granger.


Dispondo finalmente de alguma coisa concreta em que se basear, a Interpol
entrou em ação. Circulações vermelhas, que significavam alta prioridade, foram
enviadas a todas as nações-membros, aconselhando-as a procurarem por Hermione
Granger.


- Também estamos teletipando avisos verdes - disse o Inspetor Trignant a
Cooper.


- Avisos verdes?


- Usamos um sistema de código de cores. Uma circulação vermelha é alta
prioridade, azul é um pedido de informação sobre um suspeito, um aviso verde põe
em alerta os departamentos de polícia para a presença de um indivíduo suspeito
que deve ser vigiado, preto é uma indagação sobre corpos não-identificados. X-D
informa que uma mensagem é muito urgente, enquanto D é urgente. Não importa qual
seja o país para onde a Senhorita Granger vá, estará sob vigilância a partir do
momento em que passar pela alfândega.


No dia seguinte, telefotos de Hermione Granger, da Penitenciária Meridional
da Louisiana Para Mulheres estavam nas mãos da Interpol.


Duda telefonou para a casa de J. J. Reynolds. A campainha tocou uma dúzia de
vezes, antes de ser atendida a ligação.


- Alô...


- Preciso de algumas informações.


- É você, Dursley? Pelo amor de Deus, são quatro horas da madrugada aqui! Eu
estava profundamente...


- Quero que me mande tudo o que puder descobrir sobre Hermione Granger.
Recortes de imprensa, videoteipes... tudo, enfim.


- Mas o que está acontecendo por...


Duda já desligara.


Um dia ainda matarei o filho da puta, jurou Reynolds.


Antes, Dudley Dursley só estava casualmente interessado em Hermione Granger.
Agora, ela era a sua missão. Ele pôs as suas fotografias nas paredes do seu
pequeno quarto de hotel em Paris, leu todas as notícias dos jornais a seu
respeito. E o relatório de Reynolds, é claro que em nehum momento suspeitou que
ela era bruxa. Alias, desde que saira de perto da convivência com Harry, Duda
simplesmente ignorava que um dia tivesse tido contato com qualquer coisa
anormal.


Alugou um aparelho de videocassete e passou várias vezes os trechos dos
serviços noticiosos de televisão em que Hermione aparecera, depois de ser
condenada e até sair da prisão.


Duda permanecia sentado no seu quarto às escuras hora após hora, olhando para
os filmes. O vislumbre inicial de suspeita acabou se transformando em certeza.


- Você é a quadrilha de mulheres, Senhorita Grager - disse Dudley Dursley, em
voz alta.


E depois, ele apertou um botão no aparelho de videocassete voltando a fita ao
começo mais uma vez.



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