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Dois dias se passaram, como uma névoa suave, na vida de Harry Potter. Nesse período apenas examinou classificados, em busca de uma casa nova; gostaria de um terreno ali mesmo, no Beco Diagonal, aonde tudo era mais próximo, sem mencionar o fato que Harry adorava a zoeira do mundo bruxo e de sua mais famosa rua de comércio. Encontrou, por fim, um pequeno sobrado, perto da loja de Poções Mágicas, que parecia construído sob medida para Harry. O jovem verificou tudo; encanamentos, móveis... tudo parecia em perfeito estado de conservação, para sua felicidade. Mudaria-se assim que conseguisse um pouco mais de dinheiro, provavelmente ganhado quando trabalhasse no Ministério da Magia. Esses pensamentos responsáveis que assolavam a cabeça de Harry o tornavam mais adulto do que era, e Harry adorava essa sensação de ser mais velho.



Então chegou o dia, finalmente entraria para o treinamento de Aurores; estava curioso, queria realmente ver o que se passava, quanto tempo ficaria estudando, o que teria que fazer. Nunca esperou tanto por alguma coisa em toda a sua vida. Acordou muito cedo naquele dia, tão cedo que o Ministério da Magia nem abrira; Mas saiu quase sem tomar café, coisa que o dono do bar-hospedaria reparou, para parar antes em uma loja de penas e pergaminhos, para comprar "material" adequado para as aulas, e dar uma olhada em sua varinha, que, depois de sete anos de uso intenso, parecia um tanto quanto desgastada. Logicamente, foi verificar o estado de sua varinha na loja em que a comprara, apesar de ter receio do seu vendedor, o sr. Olivaras, que sempre o encarava com aqueles olhos imensos e azuis. De fato, não foi muito diferente do cotidiano; o sr. Olivaras o avaliou com atenção, mas em seguida foi observar a varinha de Harry. Girou-a entre os dedos, acionou feitiços, poliu-a... em seguida devolveu-a a Harry.



– Perfeito estado de conservação – Disse o sr. Olivaras, Harry vendo-se refletido naqueles olhos azuis gigantescos e um tanto quanto assustadores.



– Ahh... que bom – Disse Harry, evitando o sr. Olivaras, principalmente aqueles olhos estranhos – Ahn.... muito obrigado – E saiu rapidamente da loja.



– Meus parabéns pela derrota do Lord. Você derrotou seu irmão de varinha. – Comentou o sr. Olivaras, quase aéreo.



Harry demorou um pouco para entender o que ele estava querendo dizer.



– Ah.. sim.. é verdade... bem, obrigado mais uma vez – E desta vez não deixou-se escutar mais qualquer ruído vindo de dentro da loja do sr. Olivaras; correu para longe, sem querer pensar mais em Voldemort.



Resolveu, então aparatar imediatamente no Ministério da Magia; dito e feito, após um rodopiar de pés e um giro de luzes e cores, Harry estava no grande Salão de teto violeta, sendo empurrado por uma grande massa de bruxos irritados que se arrastavam lentamente para o trabalho. Harry deixou-se ser empurrado pela multidão, vendo que de nada ia adiantar tentar empurrar a maré de gente que se formava, e enfim chegou ao corredor dos cubículos dos Aurores. Havia muita gente ao seu redor, provavelmente os aprovados no teste classificatório. Foi naquela multidão de gente que viu, pela primeira vez depois de um longo tempo... Neville.



– Olá, Neville! – Cumprimentou Harry, sorrindo para o amigo, que se mostrava absolutamente mudado; estava mais magro, mais forte e mais alto, e também mais moreno; tinha deixado o cabelo crescer, e agora lembrava algum cantor de rock trouxa cujas canções Duda berrava desafinadamente por todos os cantos da casa dos Dursley (Harry deu graças quando se lembrou que não morava mais lá). Pela primeira vez Harry reparou que os olhos de Neville eram claros. Também parecia mais seguro; sorria confiantemente para todos que passavam. Ao avistar Harry, deu nele um abraço de amigo.



– Hey, Harry, como vai? Tudo indo bem? Está aqui por causa do treinamento de Aurores?



– Sim, estou... – Harry sorriu para o amigo – E você?



– Também! Não é fascinante? – Exclamou Neville. Harry também achava que era fascinante, mas por motivos mais cruéis; não se lembrava de Neville como um aluno exemplar, principalmente em Poções, pois provavelmente não sabia diferenciar os lados de um caldeirão. Afastando esses pensamentos medonhos de sua mente, Harry sorriu de novo, mas dessa vez de maneira sincera.



– Sim. É realmente fascinante.



Nesse momento, uma figura subiu em uma grande caixa de madeira, provavelmente para chamar a atenção e se sobrepôr à multidão e à zoeira geral dos corredores; apontou para a própria garganta, murmurou "Sonorus!" e disse, em uma voz reboante e muito alta:



– POR FAVOR! POR FAVOR! OS APROVADOS NO TESTE DE TREINAMENTO PARA AURORES, SIGAM-ME! E PESSOAS RESTANTES NO CORREDOR, DISPERSEM-SE, POR FAVOR! – O homem desceu da caixa, a fez desaparecer com um estalo de dedos e acenou para todos que o seguissem. Harry e Neville logo se adiantaram, tentando chegar o mais rápido possível na sala de treinamento.



– A SALA... OPS! – O homem apontou novamente para a garganta, ordenou "Quietus" e voltou a falar, em tom normal e um tanto rouco – A sala de treinamento intensivo dos Aurores. – Girou a maçaneta e indicou a sala com um gesto largo, pedindo que entrassem.



Harry nunca vira nada igual, nem em sonhos, nem na Sala Precisa. Era magnífica; longa, cheia de instrumentos inacreditáveis, a sala dos Aurores era simplesmente perfeita; Harry teve uma vontade incontrolável de mexer em tudo que havia ali, mas sabia que seria uma coisa realmente idiota se o fizesse. Contentou-se em olhar tudo, com os olhos arregalados, que havia na sala. Cadeiras, mesas infinitas.. lousas, intrumentos, bonecos, tudo que era mais inacreditável. Foi então que a viu pela segunda vez; aquela mulher, belíssima, de longos cabelos negros e olhos, que somente agora Harry reparou, negros como a noite e brilhantes como as estrelas. Sorriu para Harry enquanto ajeitava uma almofada no lugar. O garoto se sentiu hipnotizado pelo seu olhar; ela parecia sugar sua alma por dentro, como se nada mais no mundo fizesse sentido senão observá-la. Seria uma neta de Veela ou coisa parecida? Muito provavelmente, pois Harry seria disposto a qualquer coisa para passar sua vida inteira observando-a arrumar aquelas almofadas... Um cutucão longo e irritável o trouxe de volta à realidade, mas Harry não deixou de olhar irritado para o lado. Era Neville que o cutucava.



– Em que mundo estava a sua cabeça? A aula já vai começar! – E apontou em direção a uma das lousas, em que se postava a frente o homem que subira na caixa e elevara a voz no corredor.



– Olá, pessoas e futuros Aurores dessa geração! Sejam bem vindos as nossas aulas de treinamento! Como alguns de vocês já devem saber, ser Auror é uma tarefa muito difícil, muito árdua, mas recompensante ao fim! Muitos de vocês desistirão do curso na metade, a maioria já estará choramingando na primeira semana, mas o que importa é os que ficam no curso até o fim! – A voz dele soava como um tambor, dura, forte, penetrante no ouvido de todos os presentes – Vocês terão múltiplas disciplinas, então hoje teremos um dia, basicamente, de introduções! Mas não pensem que podem sair da sala por causa disso, entenderam? Um verdadeiro Auror tem que viver em situações coisas boas e ruins!! Muito bem... vou me apresentar primeiro: meu nome é Andrew Lebatofsky, e apesar do sobrenome difícil e de geralmente não impôr seriedade ao subir em cadeiras e afins para que me façam ouvir – a turma deu generalizadas risadas, algumas gargalhadas ecoaram pela sala –, eu exigo respeito em minhas aulas, em que leciono Defesa Pessoal há mais de 22 anos. Espero que possamos nos lidar muito pacificamente, pois não gosto de azarar alunos em aulas, e também não vou colocá-los para fora... então, espero que aproveitem muito as minhas aulas, pois será interessante para um Auror saber se defender pessoalmente... e se alguém não souber o motivo, não sei como passou no exame! Por enquanto é tudo que tenho a dizer, e obrigada! – O professor, seguido de aplausos, assobios e mais risadas, agradeceu e sentou-se na bancada em que estava uma grande quantidade de adultos, todos aparentemente professores da profissão. Harry só não acreditava que a mulher morena, alta e bela que tinha visto há alguns minutos pudesse também ser uma professora. Ela era muito jovem (pensou Harry fervorosamente, com uma espécie de ânsia em acreditar que era verdade) para ser professora.



Como se tivesse ouvido seus pensamentos, a próxima pessoa a se levantar da bancada foi a jovem de cabelos negros. Sorriu para todos, principalmente para Harry, e postou-se na frente dos futuros aurores, que a fitavam com assombrosa admiração.



– Olá todos! Meu nome é Marienne Langerwoof, podem me chamar de Mary e, antes que pensem que sou nova demais para ensinar vocês, que é o que eu espero que estejam pensando (sem ofensas, mestres Aurores) – novas risadas, mais etéreas porém mais numerosas, pois vinham de alunos e professores, ecoaram pela sala –, eu realmente não sou uma professora diplomada, mas fui, durante muito tempo, uma... quase bem sucedida estudante de Poções, e durante cerca de três anos estudei somente a composição mágica de cada erva, de cada folha, de cada ingrediente necessário para o sucesso de uma poção, no Departamento especializado nisso aqui no Ministério. Tanta obsessão me levou aonde estou hoje – sorriu a moça, e Harry sorriu de volta. O garoto poderia jurar que viu uma piscadinha de retorno de sua professora, mas não comentou nada. Então... ela era professora de Poções??



Pela primeira vez Harry cogitou em gostar daquela matéria.



– Então... darei para vocês o curso de “Envenenamentos e Antídotos”, é mais uma leve introdução do que algo realmente sério, pois afinal, eu também sou estudante para seu Auror – Sorriu a jovem mais uma vez, e Harry continuou encantado –, e tenho as minhas provas e treinamentos, e conheço mestres dominantes em Poções, absolutamente mais talentosos do que eu para lecionar... mas espero ser útil! Além disso, sempre estarei à disposição de qualquer dúvida que possa vir a aparecer, tanto neste ano quanto nos anos seguintes. Acredito que não tenha mais nada a dizer, então encerro por hoje. Vamos conversar bastante em nossas aulas – e terminou de falar dando um olhar lampejante para Harry, que só o jovem notou. Marienne sentou-se em sua cadeira e continuou lá, comportada, enquanto os professores falavam. Harry mal prestou atenção na fala dos outros membros do corpo docente, e tampouco parecia que seus colegas também tinham ouvido; só prestou atenção ao fim da fala de um homem alto, oval, de barba preta e cabelos idem:



– ... e então, alunos, espero que já estejam acostumados com a idéia de viver em um campo isolado da civilização e da sociedade bruxa, pois os Aurores jamais ficam expostos....



– Quer dizer que não vamos treinar aqui? – Perguntou Neville, levantando a mão e olhando para o mestre barbudo, que Harry não sabia o nome.



– Sr. Longbottom (Neville pareceu sinceramente chocado ao verificar que o homem sabia seu nome), eu acredito que isso não seja possível. Um treinamento sério de Expurgo das Artes das Trevas não deve ser feito sobre quatro paredes, ainda mais em um lugar arriscado como o Ministério da Magia, infestado de falsos Comensais. Assim que esta reunião terminar, serão imediatamente levados para o campo de treinamento dos Aurores, e lá morarão até que todo o treinamento acabe. Será.... aproximadamente seis anos de treinamento intensivo, e dois anos de conclusão do curso. A única coisa que fica no Ministério é a sala de reuniões, que é esta aqui, e os escritórios dos aurores, chamados cubículos anti-trevas– Informou o homem, e Neville ficou chocado.



– Seis anos longe de casa? E do mundo bruxo? – Perguntou novamente.



– Poderão sair nos fins de semana, logicamente. Mas não creio que possam dizer o que acontece nos treinamentos. – Disse o homem, eufemístico.



Neville olhou para Harry mortificado, e Harry, mesmo sustentando seu olhar com pavor igual, não se sentia realmente apavorado com a idéia. Na verdade, a perspectiva o agradava, de algum modo; viveria provavelmente cercado de situações interessantes, e em companhia de pessoas que tinham o mesmo interesse que o dele; pensou, por um momento, que sua vida de aventuras não tinha acabado com o fim de Hogwarts. Ela estava apenas começando.



*




E tinha toda a razão.



A excursão para o centro de treinamento, no dia seguinte, foi mais tranquila do que Harry previa; pensou, por um momento, que seria uma situação ideal para testar os alunos e futuros Aurores; mas nada aconteceu de fato. Às dez horas da manhã (Harry se levantou absurdamente cedo para poder aprontar tudo para a viagem, já que desconhecia a necessidade de fazer as malas e sair), viajaram em um transporte realmente antigo, que na opinião de muitos era uma verdadeira catástrofe em comparação às coisas do mundo bruxo moderno; porém, para Harry, o tal transporte (chamado pelos aurores de Auromóvel, e que parecia um grande bonde muito velho e imensamente colorido) tinha um verdadeiro charme. Somente quando um dos professores explicou que o veículo era invisível aos olhos dos trouxas e que possuía múltiplas funções, todos se surpreenderam com a tal máquina.



Chegaram, depois de uma longa viagem (que durou toda a manhã e toda a tarde, fazendo com que eles chegassem ao acampamento por volta das dez horas da noite), em um campo aberto, com chalés aconchegantes sobre campinas verdejantes. Harry desceu do Auromóvel bastante empolgado, e pisou com força naquele chão de grama cheirosa. Era definitivamente a realização de um sonho, de um sonho imenso, e que Harry imaginava irrealizável, até aquele momento. Então, seguiu dois mestres Aurores, que Harry agora descobrira o nome: o que caminhava bem a sua frente, que usava uma longa capa de rei medieval e parecia um porco empinado (sim, lembrava vagamente ao Duda) se chamava Alexander Pottiwitt; o segundo, que parecia um tanto mais simpático e talentoso, e que sorria para Harry sempre que podia, se chamava Benjamin Kilt. Sempre seguindo os dois, Harry logo chegou aos chalés, sempre acompanhado pela voz animada de Neville Longbottom, que caminhava feliz ao seu lado, aparentemente sem perceber os olhares interessados de diversas garotas ao seu redor.



– Finalmente chegamos! – Comentou Neville, quando pisaram enfim em uma escadinha de acesso ao primeiro chalé. Harry bocejou e jogou as suas malas no chão, mesmo que não estivessem muito pesadas. Só continham algumas vestes bruxas, que ele comprara no Beco Diagonal depois da saída de Hogwarts; sua varinha; a gaiola de Edwiges (a coruja não o acompanhou, mas sabia sua localização) e alguns livros, que Lupin e Sirius haviam lhe dado há alguns anos atrás, sobre Defesa Contra as Artes das Trevas. As páginas já estavam um tanto gastas, de tanto que Harry lera-as, mas continuavam em bom estado, na medida do possível. O garoto verificou uma pequena lista pregada em cada porta dos chalés, que continham o nome de todos os ocupantes de cada residência, bem como os professores responsáveis em “proteger” cada chalé, e ficou um tanto animado quando descobriu que quem faria o turno de segurança da noite, em seu chalé, era Marienne. Logicamente, não comentou isso com ninguém.



– Muito bem! – Exclamou Andrew Lebatofsky, que se postara sobre um banquinho surgido do nada e que já era um dos professores preferidos de Harry sem ao menos ter aulas dele – Sei que estão cansados, então, boa noite! Amanhã, às oito da manhã, começaremos os treinos!



Harry adormeceu rapidamente, muito empolgado. Mesmo exausto, não via a hora de acordar.

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